The Seventh Zone escrita por Isa Chaan


Capítulo 20
II - O garoto do capuz negro - parte 1


Notas iniciais do capítulo

YOOO MINNA-SAAAN!
DEPOIS DE MAIS UM ANO EU VOLTEEEI!
É, caros leitores, parece que vai ser assim mesmo, postagens só em épocas de férias... E acabou que nem nas férias passadas postei, perdooem-meee~ ;-;
Mas trago capítulo duplo dessa vez! Sinopse nova e capa também! Espero que gostem!
Bianca: Quando acabar a fic eles já vão estar velhinhos!
Isa-cha: ._.
Bianca: Qual é a dessa cara de bicho morto?
Isa-chan: Que que tu tá fazendo AQUI?!
Bianca: Querida *joga cabelo* Voltei de férias, Monamour! Agora vai ter que dividir os holofotes
Isa-chan: NOOOOOOOOOO~ R.I.P
Bianca: Porque depois dessas férias I-N-C-R-Í-V-E-I-S me sinto totalmente revigorada!
Isa-chan (ressuscitada): *murmura* E isso é bom ou ruim...?
Bianca: O que você disse??
Isa-chan: Nada, nada. ~hehe E então... como foram essas suas férias incríveis?
Bianca: Ah, sim. Eu e o Michael fomos para um cruzeiro pra Acapulco, né? Daí-
Isa-chan: DESUMILDE!
Bianca? Quieta! Daí-
*Michael aparece do além*
Bianca: Eita, de onde você surgiu, assombração?!
Michael: Meu detector me diz que eu não vou gostar do rumo dessa conversa.
Bianca: Do que você tá fa-Ah!É mesmo! Vocês não acreditam no que aconteceu!
Michael: Não ouse!
Bianca: O Michael pegou trauma de batatinhas!
Isa-chan: Trauma de batatinhas? O.õ
Michael: Bianca!Ah! Por que eu fui falar...
Bianca: Nem vem Mic, é tudo culpa sua e você sabe!
Michael: :<
Isa-chan: Mic...~fufu QUE APELIDO MAIS FOFINHO MICHAEL
*Michael se enfia no buraco*
Bianca: Tudo começou no maravilhoso buffet do navio...
—---------- Flashback on -----------
*Michael e Bianca estavam pegando o almoço da mesa do buffet*
Bianca: E eu vou querer essa macarronada, e essa pizza de quatro queijos, hm upa, esse strogonoff de frango também, ah olha, tem lasanha de beringela...
Michael: Jesus credo, pra onde vai essa comida toda?
Bianca: Pra essa barriguinha fitness, é claro ;]
Michael: Fitness, sim, claro ¬¬ *passa pelas batatinhas, o contato visual acontece*
Batatinhas: Coma-nos, coma-nos~
Michael: Óh batatinhas*o*
Bianca: Gente, mas tem feijoada também! Desse jeito não sobra espaço pra sobremesa!... Mentira, sobra sim :>
Michael: Bianca.
Bianca: Olha que manjar de coco...
Michael: Bianca, ajuda.
Bianca: Que foi desgraça, não tá vendo que eu to no meio de um negócio importante aqui?? Venha, lindo mousse de maracujá...
Michael: Bianca, não eram batatinhas.
Bianca: Affu, não me dá paz mesmo hein? *olha raivosa pra Michael e depois pra plaquinha ao lado das batatinhas* Mic...
Michael: Quê?
Bianca: Não me diga que você enfiou isso na boca e mordeu.
Michael: ...
*Bianca surtando em 3...2...1*
Bianca: SUA ANTA! VOCÊ NÃO SABE LER NÃO? QUE PARTE DO "PEQUI- NÃO MORDA" VOCÊ NÃO ENTENDEU?
(Obs> PEQUI: Fruto muito utilizado na culinária sertaneja. Seu caroço é dotado de muitos ESPINHOS, e há a necessidade de muito CUIDADO ao se roer o fruto. Ou seja, NUNCA MORDA UM PEQUI!)
Michael: PARECIA BATATINHAS BUDEGA!
Bianca: UMA OVA AS BATATINHAS! ME DÁ SUA PINÇA AGORA, VAMOS TER QUE ARRANCAR ESSES ESPINHOS DA SUA LÍNGUA UM A UM!
Michael: Misericórdia.
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Boa leitura!



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 II - Descortinando Passados.

Capítulo 18 – O garoto do capuz negro. - parte 1

 

11 anos atrás

Tambores soavam. A menina descia os morros, apressada, os sapatos sujos de terra. Perdera a noção do tempo ao contemplar o esplendor da lua, gigante e solitária, carregada de uma luminescência orgulhosa de quem reivindicara o céu inteiramente para si. Tal brilho porém, restringia-se a uma fagulha opaca diante da luz dourada que invadia cada canto da aldeia. Quente e intensa enquanto esmaecia até a escuridão, longe de seus domínios seguros. Um jogo contrastante do claro e escuro, do conhecido e oculto. Cenário onde histórias e lendas criavam vida.

A menina deslizou pela relva enquanto seus olhos estavam vidrados na fonte de todo aquele ardor. A Grande Chama aguardava no centro da vila, convidando todos a se juntar. Ao seu redor, as árvores da floresta apenas observavam como espectadoras pacientes. Silenciosas e negras.

A negritude do céu sem estrelas dava ainda mais espaço para as labaredas se expandirem, imponentes. Um verdadeiro espetáculo sagrado. O quinto retumbar ecoou. A menina ainda corria com suas pernas curtas e ligeiras. Sua capa vermelha flutuava pelas ruas pedregosas, em tons que se confundiam com as nuances alaranjadas. Muitas das crianças já caminhavam a frente de seus pais, animadas para o evento que estava prestes a começar.

— Lucy! – gritou uma delas, quando o borrão vermelho passou às pressas. – Você não vem?

— Não demoro! – gritou por sobre o ombro, abrindo um enorme sorriso.

Continuou desviando das pessoas pelo caminho. Seu corpo pequeno e franzino embrenhava-se facilmente pela profusão de saias e pernas. Sentiu o cheiro de ensopado de batatas e de carne sendo assada. Ela salivou com a fome que lhe roncava o estômago e apressou ainda mais o passo.

A música englobava o ar.

Talvez por música se pense, primeiramente, em um conjunto de notas e acordes executadas por dedos habilidosos de músicos, ou talvez, simplesmente num som agradável aos ouvidos. Mas a verdade é que era muito além disso.

Naquela noite, na agitada vila do Phoenix, a música estava presente nas mínimas coisas. Estava nas vozes que se sobressaltavam das discussões calorosas; no galanteio dos homens solteiros às mocinhas que suspiravam, sonhadoras; na euforia das crianças e suas mães repreensivas; no brindar dos canecos de cerveja e nas risadas dos guerreiros mais velhos e experientes depois de uma boa piada. A garota pegou-se sorrindo destas observações. Era este o espírito único da vila do Phoenix que ela tanto amava.

Ela percorreu dois longos quarteirões, e por todo tempo ficou fascinada com as luzes que lhe trilhavam o caminho, como um corredor de estrelas. Eram as estrelas caídas do céu, e por tal motivo não o preenchiam aquela noite. E jamais preencheriam, foi o que dissera sua mãe. Era a noite sagrada da Alvorada, noite em que o poderoso Phoenix ascendera e ruíra.

Em sua ruína, Phoenix abençoou seus queridos amigos com todo o seu inestimável poder e o seu símbolo sagrado se tornou a chama. Assim, lamparinas eram acesas e penduradas nas portas das casas. Elas trariam força e bravura àqueles que ali residiam. Os abençoados pelo Phoenix jamais cairiam, e nenhum inimigo poderia triunfar perante o vigor de seus protegidos.

Mas a devoção não era a única razão de se acender as lamparinas. Era difícil de ver, mas com a devida atenção, podia se notar a forma como as mães seguravam suas crianças pelo pulso. Como as esposas agarravam o braço de seus maridos, e estes, engoliam em seco com o sorriso tenso e pouco natural. O medo. Estava lá e se infiltrava mansamente nos pensamentos de todos aqueles com idade suficiente para conhecer a história completa.

Obviamente as crianças não sabiam, caso contrário já estariam escondidas entre as cobertas de seus pais há muito tempo. No entanto, aqueles com mais vinte anos já poderiam desconfiar de que algo estava errado, ou de que algo não se encaixava. Pois, de certa forma, compreendiam que a maldição deixada por Phoenix – ou pelo menos, era assim que todos chamavam – carregava mais segredos do que era contada, e por isso, não mais pulavam animados com a festividade junto aos mais jovens, mas caminhavam cautelosamente como se pisassem em ovos.

O filho do dragão do fogo, a maldição deixada por Phoenix antes de partir, nascera naquele mesmo dia.

Os aldeões não culpavam a divindade por tal. Longe disto, sabiam que ela fora uma vítima desafortunada. Ainda assim, Phoenix, para se redimir, prometera proteger quem mantivesse sua chama acesa nas noites da Alvorada. E assim fizeram os moradores da vila todos os anos: acendiam as lamparinas e as enganchavam em suas portas, rezando pela proteção de seu deus.

Após atravessar o pequeno trecho de céu, Lucy seguiu até a cerca que rodeava o jardim de uma bela construção de tijolos, seu lar. As marcas de terra e barro na pintura branca da madeira indicavam um atalho bastante familiar à menina. Com movimentos ágeis e experientes, apoiou o pé em uma das tabuletas e se impulsionou para cima. Logo em seguida, aterrissou sobre o pequeno círculo de grama, já pisoteado incontáveis vezes por seus pés e trilhou caminho adentro.

O terreno era extenso, o que permitia contemplar a mansão por alguns minutos. A vista da construção às sombras da noite assemelhava-se ao dorso de uma criatura antiga encolhida, vigiando o mundo afora através de olhos brilhantes e vermelhos. Um efeito criado pela posição das duas janelas centrais que revelavam o interior iluminado pelos castiçais. Lucy observou novamente os dois pináculos ao longe, como garras que despontam das asas de um dragão, e formou um biquinho emburrado. Um dia a menina apontara ao pai a criatura enquanto voltavam juntos para a casa e este, por sua vez, gargalhara e afagara sua cabeça, impressionado com a imaginação fértil da filha. Mas a menina sabia que, fosse quem fosse o arquiteto, tinha plena consciência do dragão espreitando em seu projeto.

A menina diminuiu o ritmo dos passos para uma caminhada distraída, deslizando a mão pelas sebes recém-podadas pelo jardineiro da família. Damas da noite e rosas preenchiam o jardim e contornavam a fonte em frente a entrada da casa. Seus olhos exploravam cada arcada e pilastra em busca de novos segredos ainda não desvendados sobre aquela construção secular – que fora tão cuidadosamente reformada de modo a manter-se autêntica. Ao chegar ao alpendre porém, deteve-se à porta de carvalho branco. Uma voz não familiar ressoou, abafada, de trás desta.

Imaginou se não seria um mensageiro que chegara recentemente de Magnólia. Apesar de ser raras às vezes em que mensageiros viessem à noite para depor – normalmente esperavam até a manhã do dia seguinte, pernoitando em alguma taberna da vila – não era incomum quando se tratava de assuntos urgentes.

No entanto, o hall de entrada estava silencioso e vazio, o chão de mármore escuro e polido reluzia as chamas dos castiçais de um modo misterioso, enquanto o tapete de estampas intrincadas e cores claras se entendia até os degraus da escadaria, como vinho espumante em cascata. Lírios ocupavam vasos de porcelana em cada canto, assim como o grande arranjo que recaía sobre a mesa de vidro central.

Um farfalhar de tecido anunciou a chegada de uma mulher elegante e de sorriso doce, os olhos um pouco mais alertas do que de costume. Sua mãe. Aparecendo sob o arco do corredor que levava a área de serviço.

— Ah, Lucy… Era você, querida. – a mulher constatou para si mesma, o peito descendo em alívio.

A menina semicerrou os olhos, desconfiada.

— Quem pensou que fosse?

— Talvez um dos mensageiros de Magnólia. – sorriu suavemente com as mãos entrelaçadas sobre o vestido longo e delicado. – A essa hora nem sempre trazem boas notícias.

Lucy olhou ao redor. Para a escadaria logo atrás, que se bifurcava para esquerda e direita depois do patamar, esperando encontrar uma figura escondida detrás do guarda-corpo. Muitas das velas estavam apagadas, permitindo que a escuridão engolisse os fundos da casa e não fosse possível ver muito além. A falta de serviçais, devido aos preparativos da festividade, também contribuía para que o silêncio sombrio habitasse aquele vazio deixado pela escuridão.

Lucy deu alguns passos adiante, estudando o ambiente e parou perto do aparador, abaixo do grande espelho emoldurado em louros de ouro.

— Pensei ter ouvido alguém com a senhora.

— Comigo? Ora, não. Quem poderia ser? – o sorriso da mulher tremulou. Tão rápido que, se Lucy não conhecesse a mãe tão bem, sequer notaria, pois Layla Heartfilia possuía a habilidade nata de se recompor rapidamente e com elegância. – Talvez você tenha ouvido Adelaide voltar à cozinha e resmungar sobre como as laranjas estão passadas. Sabe como ela é perfeccionista, não sabe? – piscou, divertida.

Apesar da voz encorpada e de timbre grave da bondosa cozinheira, Lucy sabia que a voz desconhecida, que escutara a pouco, era tudo, menos feminina.

— Mamãe.

Lucy chamou, mas a mulher não pareceu perceber.

— Ah, e eu estava me preparando para sair neste exato momento, mas não estava encontrando meu casaco. Aquele cor creme, recorda-se? Acredita que num minuto estava sobre a minha cama e no outro, puf, não estava mais? Com certeza devem ter sido os tais dos gnomos que você sempre fala!

— Mamãe.

— E falando nisso, onde está o seu casaco? A senhorita quer pegar um resfriado só com essa capa de linho? Pelo menos, ponha uma mais grossa e…

— Mamãe!

Layla, subitamente surpresa, voltou os olhos para a filha.

— Ah, sim?

Mais alguns passos e Lucy estava ao lado da mãe, encarando-a de baixo, devido à sua pequena estatura. As bochechas infladas e vermelhas.

— A senhora está mentindo. Sempre tagarela quando mente.

Por um momento Layla não disse nada, os lábios entreabertos muito surpresos para falar. Até que se agachou na mesma altura da filha, o vestido rosado em ondas ao seu redor, e soltou uma risadinha culpada.

— Tem razão, estou mentindo. – afagou os cabelos curtos de Lucy. Dourados como os seus próprios. – Perdão, minha pequena. Ah, eu acabei criando uma filha esperta demais, o que devo fazer? – apoiou as mãos contra a própria cintura, contorcendo os lábios numa careta engraçada, o que fez a menina rir.

— Lucy.

Layla segurou gentilmente os ombros de Lucy, chamando sua atenção. E apesar das orbes chocolates de Layla continuarem gentis como sempre, havia certa seriedade ali. Algo que fez Lucy concentrar-se completamente nas próximas palavras da mãe.

— Preciso que saiba que o que lhe direi agora você não poderá contar a ninguém. Nem mesmo ao seu pai, Levy ou qualquer uma de suas amigas. Pode me prometer?

 

                                                                       [. . .]

 

Seventh Zone

(Sétima Zona)

Atualmente. – Oitavo dia. – 10 da manhã

Um pouco para esquerda. Agora levemente para cima. Isso.

Meus braços já doíam por manter o arco retesado a tanto tempo. Fazem us dez minutos que rondo a corça, esperando o momento certo para que seu dorso fique mais visível por detrás da folhagem. A flecha que entalhara mais cedo já mira o alvo, pronta para o golpe certeiro.

Quando estou prestes a disparar, avisto um par de olhos azul-selvagens entre a mata. Meu corpo estanca no lugar ao observar a pelagem branca e cinzenta se esgueirar para perto da corça. Os caninos afiados amostra aguardam o momento do bote. Lobo das Neves. Abaixo o arco, sentindo as palmas das mãos suadas. Atingir a corça delatará minha posição ao lobo, então reflito sobre o que devo fazer. Deixar a presa para o animal e perder a refeição. Ou arriscar um tiro preciso no coração do predador. Engulo em seco. Errar alguns centímetros poderá ser fatal, uma vez que, se a flechada em seu flanco não trazer morte imediata, o lobo, mesmo ferido, poderá me alcançar. Mover-me para um lugar mais seguro, como em cima de um galho de árvore, também não seria uma boa opção, faria barulho demais. Então o que devo fazer?

Mordo o lábio inferior, frustrada, enquanto a fera se adianta, determinada a ganhar seu almoço. Suas patas tão fortes e ágeis não teriam problemas em me derrubar enquanto os dentes terminariam o serviço numa questão de segundos. Volto a mirar, mas desta vez, alvejo o predador. A seta está apontada e a mira, perfeita. Inspiro e expiro profundamente, buscando o equilíbrio de meu corpo. Confio em minha vitória.

Uma gota de suor escorre na lateral do rosto. Quando ela atinge o chão, disparo.

A flecha corta o ar e atravessa o olho esquerdo do lobo, como planejado. O animal gane, assustando a corça e a fazendo trotar em fuga. A fera é mais resistente do que antecipei e ao se dar conta de minha presença, rosna e avança em minha direção, enquanto a consciência ainda lhe permite. Em um movimento ágil e premeditado, puxo outra flecha da aljava, preparando o encaixe e a mira. Meu coração retumba fortemente no peito, mas não abalo minha concentração. Tempo é primordial. À medida que seu olho escorre rubro pela perfuração da seta, deixando um rastro de sangue pela terra, ele se aproxima em uma velocidade alarmante.

De repente, o imenso corpo se ergue sobre mim, em seu salto final. Não há mais tempo para hesitar. Atiro.

No entanto, a flecha não acerta o flanco do animal, mas voa longe, passando bem distante do alvo. A verdade é que o tiro fora perfeito, e teria acertado o coração do lobo não fosse o animal ser lançado brutalmente para o lado. Coloco o arco de volta às costas e cruzo os braços

— Eu tinha total controle da situação.

Encaro o rosado, que acaba de chegar em sua postura presunçosa de sempre. O fato dele ter se aproximado tão silenciosamente sem que eu notasse, incomoda-me mais do que gostaria de admitir. Natsu sorri sarcasticamente.

— Claro, assim como ser esmagada pelo peso de um lobo fazia total parte de seu plano.

Bufo, irritada. Ainda mais com o fato de ele estar com razão. Mesmo após morto, o arco do salto faria com que lobo caísse sobre mim e seria complicado sair debaixo. Em vez disso, a fera rolara até se chocar a um conjunto de pedras, e ali se assentou, morta.

O híbrido se agacha perto do corpo e o analisa. Vou até ele.

— Por que há um Lobo das Neves por aqui? Achei que vivessem em regiões geladas como Iceberg.

— E vivem. Não deveria estar aqui. – coça o queixo, pensativo. – Você fez um belo estrago nesse bichano.

— E você, que o rebateu como a uma bola de beisebol? – sento-me ao seu lado, observando o pelo, antes branco e sedoso, agora grudento de sangue.

Diferentemente do que eu esperava, ele ignora meu comentário. Está focado demais em seus próprios pensamentos. Apoio os braços sobre os joelhos, tentando ler sua expressão séria e distante.

— Deve ter começado. – disse após um tempo.

— Começado o quê? – indago, confusa.

Ele se levanta. As mãos em punho.

— O desequilíbrio. O clima em Iceberg deve ter esquentado. Agora os animais estão procurando por áreas mais frias.

Suspiro, internamente exausta.

— Você não acha que já está na hora de me deixar a par de tudo?

Ele se vira para mim.

— Para quê? Seria inútil deixá-la saber. Não poderia fazer nada.

— Ah, obrigada. – reviro os olhos, levantando-me também. – Aprecio sua sinceridade cáustica, mas quero saber mesmo assim.

O rosado semicerra os olhos em minha direção.

— E o que eu poderia ganhar com isso?

— Bem…

— Não há nada que você possa me dar agora. Você já me deve. Jurou fazer qualquer coisa que eu quisesse, está lembrada?

Mordisco o lábio inferior, visivelmente transtornada.

— Bom, eu posso ser mais útil do que você pensa, e conseguir te ajudar.

— Me ajudar? – debochou. – Por que você se importaria em me ajudar?

— Minha vida depende disso, afinal, não? Se formos pegos e você bater as botas, certa Lucy baterá as dela também!

Dragneel não rebate de imediato, como eu suponha que fizesse, em vez disso, permanece quieto, pensativo por um instante – causando-me estranheza.

Até que a ficha cai.

Fecho os olhos ao perceber – tarde demais – o quão estupidamente eu revelara meu nome e sinto uma vontade irrefreável de voltar alguns segundos no tempo. Infelizmente, tal proeza estava longe do meu alcance e logo vejo as engrenagens se encaixando em sua mente e a surpresa se formar em suas orbes ônix.

Era só o que me faltava.

— Lucy? – ele testa, arqueando a sobrancelha rosada. O indício de um sorriso maroto se repuxa no canto de sua boca conforme visualiza meu rosto ficando cada vez mais frustrado. – Esse é mesmo o seu nome?

— Claro que não. Eu lá tenho cara de Lucy?

Agora posso ver claramente a fileira de dentes se apresentar, vitoriosa.

— Seus pais nunca te ensinaram que não se deve dizer o nome para estranhos, srta Lucy Heartfilia?

— Inferno. - resmungo, internamente amaldiçoando todos os deuses conhecidos e desconhecidos deste plano existencial.

Natsu se volta para perto de um arbusto e quebra um galho em suas extremidades, enquanto assobia, provocador. O júbilo em sua face me tira do sério. Tamborilo os dedos no braço, vendo-o desenhar uma série de linhas e formas na terra. Depois de terminar o quer que estivesse fazendo, e ficar e satisfeito com o resultado, volta o olhar para mim, ainda com a diversão pairando nos olhos.

— Muito bem, srta Lucy Heartfilia. Vamos ver se você pode ser útil.

— Por quanto tempo pretende me chamar assim?

— Prefere Baiacu?

— Por favor, continue. - digo, apontando ao desenho.

Ele me observa escorar em uma árvore, em agrado. Apesar de emburrada, enquanto vejo o rosado voltar o olhar ao desenho, noto algo curioso a respeito da situação. Mesmo que involuntariamente, eu o havia deixado de bom humor, e a sólida tensão que existia entre nós pareceu se afinar.

— Aqui é a floresta de Dhara, onde estamos. E aqui, é Magnólia. – ele faz dois círculos em regiões distintas e afastadas. – Estamos indo para oeste, em direção ao mar, aqui. Há dois obstáculos até lá. – aponta para uma série de triângulos em fileiras. – a cordilheira de Enova que levará dois dias para atravessarmos, e – risca um X sobre o desenho de um arco. – bem neste ponto há um portal que não teremos como evitar. Provavelmente terá uma patrulha de ronda no local, preenchendo um raio de cem metros. Precisaremos passar por ela, despercebidos. – ele eleva o olhar do desenho para me fitar. – Existem incontáveis portais a leste, então chegarmos ao mar, será nossa melhor aposta.

Analiso a esquematização de mapa improvisada. Simples, porém clara. Já estudara muitos mapas de Fiore, e inclusive já trabalhara com um dos cartógrafos do reino. Desta forma, consigo assimilar as representações com facilidade: o vulcão Phoenix, a ilha ao sul de Fiore.

— Eles não sabem que você pode voar? Talvez antecipem nosso plano enviando tropas para lá.

— Talvez. Mas teremos mais vantagem em mar aberto. Na floresta, seguindo a pé poderiam nos cercar ou plantar armadilhas. Voando, arqueiros poderiam se esconder nas copas das árvores e atirar em minhas asas. Em alto-mar, não terão como se esconderem e nos pegarem de surpresa, poderemos prever os ataques.

“Além do mais, não conseguiriam enviar um grande contingente de soldados e navios para lá em tão pouco tempo. Mesmo com os portais, só um número limitado pode passar por vez e dependendo, pode levar dias para conseguirem atravessar de novo em um mesmo portal.”

Permaneço em silêncio por alguns segundos, analisando a estratégia. No centro das linhas onduladas que representavam o mar, há o desenho das ossadas de uma caveira. Sei muito bem que aquele símbolo pouco se refere a piratas. Um arrepio eriça toda minha pele, quando compreendo seu real significado. Aquele era o mar Caríbdis¹.

— Você sabe que há um motivo para este nome, não sabe? – digo, apontando as linhas onduladas. – A região é conhecida por gigantescos redemoinhos e certas criaturas marinhas mortais.

— As Caríbdis? – ele enfia o graveto na terra e senta-se com os braços apoiados para trás, tranquilo como um gato. – Claro que sim. Será mais uma desvantagem aos nossos inimigos. Mas eles saberão evitá-las… – vislumbro um brilho selvagem dançar na negritude profunda de seus olhos quando ele completa: – Pelo menos a maior parte delas.

Suspiro, cruzando os braços. Ele está consciente da verdadeira gravidade da situação?

— E não existe a mera possibilidade de isto ser um perigo para nós?

— De fato, estas criaturas podem ser fatais, mas não são muito inteligentes.

— Elas engolem navios inteiros de guerra em um ataque só! De que me importa se têm o QI de uma minhoca?

É a vez dele suspirar.

— É o que temos pra hoje, Heartfilia. Tem solução melhor?

Ignoro seu tom displicente, e estudo nossas rotas e estratégia.

— Por quanto tempo consegue se manter em voo?

— Depende. Sozinho, por volta de duas horas. Com você… – ele coça o queixo, fingindo pensar. – Creio que uns quinze minutos.

Lanço-lhe um olhar cortante.

— Está querendo me dizer alguma coisa, Dragneel?

Natsu apoia os cotovelos nos joelhos e devolve o sorriso sarcástico.

— Uma hora e meia.

— Melhor. – respondo, de olhos estreitos. – E quanto à sua velocidade média de voo?

— Virou um interrogatório agora? – diz, irritando-se.

— Colabore. –ordeno, impaciente. Porém, diante de meu tom, ele apenas fecha a cara com os lábios cerrados e um olhar perigoso. Tento rapidamente consertar a situação, suavizando a voz. – Por favor.

Dragneel me encara desconfiado por alguns instantes até finalmente se levantar e se dirigir até onde estou sentada. Passos tranquilos e silenciosos demais. Seus pés param bem defronte de mim. Sinto o calor ardente, como o de uma fogueira, emanar de seu corpo ao se aproximar. Ergo o rosto.

De cima, vejo seus olhos, vítreos, selvagens e verdes.

— Não sou uma fera fácil de domar, loira.

A inclinação de sua cabeça não permite que a luz pálida da manhã ilumine sua face, produzindo uma sombra angulosa, que contrasta com a íris faiscante de uma maneira medonha. Mas de alguma forma, não sinto medo. Não como antes.

— Ou melhor, não posso ser domado e nunca serei. Você jamais me ditará a palavra.

Mal percebo, mas já estou de pé. Sou impulsionada por uma força desconhecida que fervilha dentro de mim. Enfrento seu olhar, seu corpo poderoso, seu calor intenso. Sem arredar o passo uma única vez.

— E eu não serei mais a corça que você vai poder afugentar cada vez que achar conveniente, Dragneel. – respondo, tão ferozmente quanto as palavras do híbrido.

Seu rosto é tomado pela surpresa, ainda que brevemente. Não esperava um contra-ataque de minha parte. A tensão entre nós é quase substancial, perigosa. Não posso estragar o mínimo da convivência tolerável que mantínhamos, mas também me recuso a continuar aceitando seus jogos viciosos, sem progressos.

— Parece muito confiante para alguém que está à minha mercê. – sibila, venenoso. O canto da boca distorcido em um sorriso não natural.

— Então, o que está esperando? Me atinja! – exclamo, furiosa. A adrenalina pulsando nas veias. – Liberte logo o seu poder indomável e acabe comigo!

Vejo seu maxilar se retesar e o sorriso cair. Sequer tenho tempo de reagir quando, em um movimento súbito, sua mão se engancha em meu pescoço. Meus ouvidos já martelam o rufar do coração, avisando-me que talvez seja a hora de parar. Todos os alarmes instintivos me dizem para parar. Mas não paro. Por mais que meu estômago se retorça e um suor frio escorra por minha pele.

Os músculos por baixo daquele braço retesado não encontrariam nenhuma dificuldade em extinguir o último ar dos meus pulmões. Busco não pensar muito nisso, para que minha compostura não falhe. Apenas mantenho a atenção diretamente em sua expressão, tão impassiva quanto a minha. Porém, nossos olhos nos incriminam.

Ele vê o medo em mim. Não há dúvidas de que deva estar tão límpido e puro quanto a face de um espelho. Mas de certa forma, isto não lhe confere vantagem. Pois minha fúria e obstinação são maiores e fazem o medo se curvar em um montinho insignificante.

Ele percebe que estou disposta a confrontá-lo, a apostar minha vida em suas mãos, sem arriar. E eu vejo que não está acostumado a lidar com uma presa que se porta de tal forma, mas com aquela que sucumbe ao medo e se dispõe aos seus caprichos. É por isso que leio em seus olhos a indecisão, o hesitar. O desespero.

— Você tem algo de que eu preciso. Mas isso não me impede de feri-la. – rosna, em uma última tentativa de me fazer desistir. – Ou de matá-la, se convier.

No entanto, persisto em minha decisão. Agarro-me àquele fragmento de hesitação que entrevi em seu olhar. De que por baixo da carcaça, há um resto de humanidade à espreita. De que esta imagem – seu rosto sombrio e olhos sinistros de pupilas verticais – não será a última que verei em vida.

— Vá em frente. Faça o que sabe fazer de melhor.

Engulo em seco. Sequer posso parar o tremor nas pernas. Ainda assim, não me atrevo a fechar as pálpebras. Seu olhar perfura meu âmago e compreendo o momento exato quando toma sua decisão final.

                                           [...]

¹ Na mitologia grega, Caríbdis era uma ninfa que se transformou em um monstro marinho ao ser atingida por um raio de Zeus e ser jogada nas profundezas do mar. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Esse capítulo ainda não acabou, a segunda parte já está quase finalizada.
Resolvi dividir a história em partes, e a partir deste capítulo se inicia a "Parte II - Descortinando Passados" e como o nome bem diz, teremos vários flashbacks e revelações importantes. Estão curiosos para conhecer o passado dos personagens? Principalmente sobre o misterioso Natsu? As peças começarão a se encaixar e espero que continuem acompanhando essa aventura! ;)
Muito ainda estar por vir, e eu mal vejo a hora de escrever algumas cenas. Inclusive teremos uma nova narração em 3ª pessoa referente a um novo personagem. Espero que gostem!
Muito obrigada a todos que leem The Seventh Zone! E fico ainda mais grata a quem comenta e apoia para que essa história continue existindo!
Um obrigado especial a Naryhyme, por nunca esquecer TSZ e sempre vir cobrar essa autora demorada por um capítulo novo Haha
Enfim, o próximo capítulo não tardará muitos dias, na verdade minha meta era trazer amanhã, mas devido alguns problemas repentinos de saúde de meu avô talvez não seja possível...
Mas não se preocupem, pois o cap já está quase terminado ;)
Bye bye Minna-san! Beijinhos ;*



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