Riverside escrita por Ephemeral


Capítulo 6
As Luzes


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de agradecer a uma leitora em especial, a Haidy(/u/566978/). Ela me deu ideias para este capítulo, que apesar de não terem sido usadas, me inspiraram para escrever esse troçinho que lhes apresento, então muito obrigada Haidy ♥

Agradeço o review de:
❁ Karol
❁ laurel
❁ Bruna Teixeira
❁ Reet

Ah, e neste capítulo há um pequeno crossover com outra fic. Leia as notas finais para descobrir qual.

* Capítulo betado por Ganimedes (/u/181998/).



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Pulei a janela. Encostei-a cautelosamente, a fim de evitar que Jack e Maria despertassem. O vento soprava gélido nas escadas de incêndio do segundo andar. Postei-me diante da janela do capeta, que supostamente me daria a visão do inferno, porém era a do céu. A figura de costas tinha seu torso despido e a luz amarelada que o iluminava, refletia e formava sombras. Eu observava a cena com um olhar puramente artístico, é claro, estudando volume e sombra. No entanto, não sabia dizer de onde vinha o arrepio que se seguiu e se era, de fato, do vento. De repente, Nick virou-se e assim que identificou minhas feições através da vidraça abriu um sorriso malicioso.

­— Você pode assistir aqui dentro, é mais quente — sugeriu, abrindo a janela.

— Vá para o Inferno! — disse enquanto entrava no cômodo. — Aposto que você toma o trono do Diabo.

— Provavelmente — Nick deu de ombros, concordando.

O aspirante a bad boy vestiu uma regata branca que estava entrouxada no chão e pôs a sua já conhecida jaqueta de couro. Deu uma ajeitada no cabelo, colocou perfume e pronto! Homem arrumado. Porém, passou longos minutos posicionando cuidadosamente cada mecha de sua franja sobre a testa e, já irritada com a demora, arrastei ele para fora do quarto. Eli, Tycho e Leo, que estavam na sala, tiveram um sobressalto quando escancarei a porta do quarto com a mesma delicadeza que uma mula coiceia.

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Era possível ouvir (I Can´t Get No) Satisfaction a meio quarteirão de distância. Volume obviamente não era uma preocupação, já que a mansão era afastada do centro da cidade e não possuía nenhum vizinho a quem incomodar. Nós quatro descemos da Hilux de Tycho, a.k.a. Tina, enquanto Nick desmontava de sua moto sem nome.

A casa de Terrence era moderna e cara. Podia-se ver através das janelas de vidro, que iam do chão ao teto da sala, pessoas dançando e socializando. Foi então que subiu um arrepio pela minha coluna espinal. Festas me assustavam, pessoas me assustavam, ambientes sociais em geral. Senti uma pequena descarga de adrenalina que aumentou minha frequência cardíaca imediatamente. Minha respiração ficou mais pesada, a necessidade de encher meus pulmões toda vez que inalasse. Eu conhecia aquelas sensações, era o início de uma crise de pânico.

Comecei a ficar ansiosa com a ideia de estar em público, outra paranoia minha, mas respirei fundo e segui os rapazes pelo gramado até o retângulo de concreto e vidro que era a sala de estar. Uma moça passou com bandeja cheia de copos, entornei o primeiro que vi de uma vez só sem nem perguntar o que era. Vodca com refrigerante, reconheci. Tanto a moça que carregava a bandeja quanto os rapazes me encararam.

— Essa é das minhas! — comentou Eli.

— Cala a boca! — falou Nick com o cenho franzido, parecendo irritado.

A tontura fraca me atingiu assim que abaixei a cabeça pra devolver o copo a bandeja. Pisquei a fim de espantar a vertigem. Os garotos pegaram um copo cada, com exceção de Nick. Peguei outro copo para mim, desta vez era vodca com energético, particularmente minha bebida favorita.

— Vá com calma — disse Leo. — Temos que te levar viva para casa.

Cinco copos mais tarde Eli e Leo estavam dançando loucamente juntos, Tycho estava dando em cima de um cara, Nick conversando em uma rodinha e eu estava sentada analisando o comportamento humano. Um homem sentou-se ao meu lado.

— Você acredita em carma? — perguntou ele.

— Tá falando comigo?!

Você acredita em carma? — repetiu.

— Sim, embora acredite mais em efeito borboleta... Por quê? — respondi intrigada.

— O filme?

— Não, a teoria. Afinal, porque a pergunta?!

— Não, é que eu conheço ótimas posições do carma-sutra — falou abrindo um sorriso malicioso.

— Kama-Sutra — corrigi. — Eu também conheço, e não vou usar nenhuma delas com você!

Levantei-me do sofá, mas o cara meu puxou de volta pelo braço.

— Ei! — Nick surgiu de pé em frente ao sofá. — Larga ela, agora — ordenou.

O cara apertou ainda mais meu pulso. Enterrei as unhas em sua mão. Ele urrou e recolheu o braço em seguida. Levantei-me depressa, mas o homem também. Nick desferiu um soco no queixo do infeliz que caiu sentado no sofá.

Nunca mais encoste nela de novo, entendeu?! — ameaçou Nick.

Ninguém em volta pareceu perceber o que aconteceu ali. Todos conversavam, riam e dançavam ignorando completamente o pequeno conflito que acabara de acontecer. Atravessei a multidão, tentando ficar o mais longe possível do homem e de Nick, mas não demorou muito o garoto me alcançou.

— Espera! — Nick segurou meu braço. — Você está bem? — indagou.

— Eu não precisava da sua ajuda! — gritei, desvencilhando meu braço e dando as costas para ele.

— O cara estava te agarrando! — exclamou.

 — Eu sei muito bem cuidar de mim mesma! Não sou a donzela no alto da torre a ser salva pelo primeiro macho que passar! — esbravejei.

Ele não tinha o direito de se meter. Eu poderia muito bem lidar com a situação sozinha. Sabia como me virar, sabia me defender, havia aprendido há muito tempo. Quem ele pensa que é?!

Uma garota que assistia a cena se aproximou e pôs a mão no ombro de Nick.

— Está tudo bem aqui? Ele está te incomodando? — perguntou ela.

A moça era baixinha (quase minha altura), seus olhos azuis pareciam esconder uma imensidão por de trás deles ainda que seu olhar fosse penetrante e selvagem. Tinha cabelos castanhos que caiam sobre os ombros. Seus traços eram bem marcados e seu tom de voz reconfortante.

— Não! — respondi. — Mas vai ficar!

Fui em sua direção e a beijei. A garota correspondeu o beijo assim que se recuperou do susto. Ela puxou minha cintura contra a dela. Seu beijo era excitante. Ela desceu sua mão lentamente até minha bunda e a agarrou com vontade. Passei minha mão da cintura para o peito da garota. Ela mordeu de leve meu lábio inferior.

— Nick, são duas e meia, tá na hora — reconheci a voz que era de Tycho sem abrir os olhos. — Vamos!

Minha próxima memória depois disso foi de encontrar-me sentada em uma espreguiçadeira perto da piscina com uma garrafa de vinho na mão e com várias latinhas de cerveja amassadas em volta. Não sabia onde estava Grace, a garota que eu estava beijando, não fazia ideia de como sabia o nome dela, não sabia como tinha ido parar ali, nem o que fizera na última hora. Nunca acreditei em amnésia alcoólica, mas por mais que forçasse a memória tudo o que conseguia era dor de cabeça.

Começou a tocar Arctic Monkeys então fiz esforço máximo para ficar de pé ainda que zonza. Abracei a garrafa de vinho e me embalei de um lado para o outro no ritmo de R U Mine?. Meus olhos pesados se fixaram em umas luzinhas coloridas que iam de um lado para o outro e formam desenhos. Lindo, tão lindo. Tentei acompanhar a letra, mas minha língua se enrolava nela mesma. Eu estava realmente grogue.

— Oi — murmurou uma voz conhecida atrás de mim.

Virei-me, me dependurando em seu pescoço enquanto reproduzia bebadamente os passos de uma dança lenta. Nick mais sustentava meu peso do que dançava, de fato.

— Eu ganhei — declarou num tom calmo.

Gemi alguma coisa que nem eu mesma fui capaz de compreender.

— A corrida, eu ganhei a corrida.

— Hum, quer um biscoito? — caçoei.

Nick sorriu.

— Como essas luzes podem ser tão lindas? — comentei.

— O quê?

Apontei para a parede pela qual elas dançavam formando figuras e padrões.

— Veja como elas formam uma coisa num segundo e no próximo, outra. Assim como nós somos alguém num segundo e no próximo, outra pessoa. Estamos em constante mutação, somos várias coisas e ao mesmo tempo, não somos nada. Formamos algo, depois desformamos, juntamos o que sobrou e transformamos em outra coisa, exatamente como as luzes. 

— Você está muito bêbada — afirmou ele.

Abri um meio sorriso e deitei a cabeça em seu peito. Continuei dançando os últimos acordes de R U Mine? até que tropecei em meus próprios pés e caí na piscina, trazendo Nick comigo.

O tempo passa de forma diferente debaixo d’água, mais lento, acho. Uma eternidade condensada em segundos. Direcionei meu olhar para superfície, onde ainda pude ver as luzes piscando. Não tentei emergir, apenas fiquei lá, naquele universo a parte. Sem nenhum vestígio da existência de outro além dele. Passou-me pela cabeça aquela sensação pudesse ser comparada à de estar flutuando no vácuo, fora do Sistema Solar. De repente, minha viagem foi interrompida abruptamente por um par de braços me arrastando de volta para a realidade.

Enchi meus pulmões com o ar terrestre. Nick ainda me segurava, talvez por temer que eu pudesse voltar lá para baixo.

— D-desculpa — gaguejei sem olhar em seus olhos.

— Você está bem?!

— Por que você não para de me perguntar isso?! — questionei olhando em seus olhos desta vez.

— Por que você só faz merda! — exclamou Nick, seu semblante era de preocupação.

Essas palavras me atingiram com um soco no estomago, e o pior é que elas estavam certas, e eu o odiei por isso. Odiei por ter razão, odiei por dizê-la, odiei por me fazer reconhecer e o odiei por estar odiando a mim mesma naquele momento.

— Não é sua função arrumá-las, então pare de tentar! — declarei.

— Desculpe se... Não foi isso que eu... Não foi minha intenção — explicou-se Nick.

Ele parecia frustrado de alguma maneira, o que me deixou levemente mais confusa do que eu já estava por causa da bebida.

— Foda-se — falei desviando o olhar novamente.

Minha cabeça começou a latejar e meus olhos ficaram pesados repentinamente. Franzi a testa e fechei os olhos.

— Você está... — começou Nick. — O que tá você está sentindo?

— Nada, não é nada — menti. — Só estou me sentindo meio tonta.

Assim que abri os olhos minha tontura se agravou e minha visão ficou turva. Demorou um pouco para o foco voltar e eu me deparar com um Nick me encarando de cenho franzido. O encarei de volta. Seus olhos azuis eram da cor da água da piscina. O cabelo escuro grudado na testa. A respiração alterada por causa do frio.

Fui atingida por uma fraqueza repentina. Eu teria submergido se Nick ainda não estivesse me segurando. Apoiei-me em seus ombros e voltei a observá-lo. Ficamos assim por quase um minuto, em silêncio, trocando olhares, analisando a face um do outro. Então, percebi o espaço entre nós havia diminuído. De primeira culpei o frio, é claro, mas de repente, nossos rostos estavam a pouquíssimos centímetros de distância. Porém, minha visão escureceu e eu apaguei.

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Notas finais do capítulo

A Grace tem uma fic própria (que é escrita pelo EchoesOfShadow (/u/630168/)). A história está recém no início, então o capítulo com o ponto de vista da Grace ainda não foi postado, mas assim que for prometo que aviso vocês. O link da história da Grace: https://fanfiction.com.br/historia/669051/Lost_Feeling

Perguntas do capítulo:

1# Você tem alguma banda/cantor que goste para poderia me indicar?
2# Você já bebeu alguma bebida alcoólica? Qual sua preferida?
3# Me conte algum micão que você passou (de preferência sob efeito de álcool ashuasahsu):