Riverside escrita por Ephemeral


Capítulo 3
A Culpa é do Gato!


Notas iniciais do capítulo

Tá, tá, eu não posto desde 2014. Eu, contrariando meu ideal de não dar desculpas, vou explicar o motivo. 1) Falta de criatividade, 2) insegurança, 3) tô sem internet desde dezembro, então mesmo que quisesse não tinha como postar e 4) viajei muito, para lugares igualmente sem conexão.
Bem, passando toda a explicação... Desde a última vez que postei as coisas mudaram um pouco - muito, diga-se de passagem. Graças a uma certa anja que me indicou em sua estória mais recente e perfeita (See The Halo), e que provavelmente muitos de vocês conhecem, chamada Reet (/u/35105/). Que é minha escritora favorita e que eu só comecei a escrever por causa dela *-*. Enfim, ela me ajudou com esse capítulo e me deu várias ideias super legais, então se estamos aqui agora, agradeçamos à ela.

Bem, gostaria de agradecer os comentários de:
❁ Reet;
❁ laurel
❁ Julia
❁ Cherry
❁ Ermie
❁ Vivianne
❁ Tâmina Mel
❁ Laíne scarlet
❁ ClaryUnicorn

E gostaria de agradecer à recomendação da Julie e a todas as pessoas que favoritaram e as que estão acompanham a estória, cês são as existências mais lindas que o universo possui.
Kisses, Ephemeral.

* Capítulo betado pela Queen Bitch (/u/76294/).
* Capítulo betado pela Reet (/u/35105/).
* Capítulo betado por Ganimedes (/u/181998/).

Enjoy!



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A primeira noite no inferno não tinha sido tão perturbadora quanto eu esperava que fosse. A insônia costumeira fora vencida pelo cansaço e caí na cama logo cedo. Mas o estranhamento veio na manhã seguinte, quando acordei sem saber onde estava.

Abri os olhos e me encontrei na penumbra de um cômodo que não demorei muito para perceber que era meu novo covil. Novo, eu estava satisfeita com o antigo e não fazia questão de mudar, mas meus avós não concordavam. Eu odiava quando alguém tomava decisões por mim, e odiava, ainda mais, fazer algo contra a minha vontade. É, eu odiava muitas coisas. Será que ainda havia alguma chance de uma fuga para o México? Provavelmente não.

Levantei-me da cama e notei uma bola de pelos negros aos pés dela. Pelo visto, a cama que Jack comprou de nada adiantou. Pelo menos, os gatos têm o poder da escolha. Poder esse que andava faltando na minha vida.

Fui até o banheiro, utilizei o sanitário e enquanto lavava as mãos, encarei o espelho. Observei a garota no reflexo. Dezesseis anos, sobrancelhas grossas, sardas e olheiras tão profundas que achei pré-sal debaixo dos olhos verdes claros — olhos esses que possuíam um olhar melancólico —, sem falar nas marcas do travesseiro. Meu cabelo castanho e encaracolado formava uma juba embaraçada pela manhã. Desviei minha atenção da imagem deplorável. Segui até a cozinha na tentativa de controlar meu cabelo amarrando-o firmemente em um coque.

Abri a geladeira e na falta de uma bebida alcoólica qualquer, me consolei com o suco de laranja. Vasculhei os armários e geladeira para arrecadação de dados e em seguida me joguei no sofá. Até que eu estava de bom humor, considerando o fato que eu havia acordado cedo. Peguei o controle e liguei a televisão, logo apertei os números do Discovery Channel. Estava passando uma das minhas séries favoritas: O Universo.

Lá pelo meio do episódio, ouvi a porta do quarto do meu pai abrir. Maria surgiu na sala completamente descabelada, vestindo uma camisola vermelha de cetim.

— Hum, qual foi o motivo da comemoração esta noite? — provoquei.

Buenos días para você também! — respondeu ela meio sonolenta — E para sua informação, as outras camisolas estão para lavar. Eu não tenho tido tempo para "comemorações".

— Que graça tem ter um marido e não fazer dele seu escravo sexual?!

— Nisso eu concordo com você, filha! — disse Jack entrando na sala.

Maria revirou os olhos e deu as costas, indo para a cozinha preparar o café da manhã. Eles saíram logo depois de terminar a refeição e não demorou muito eu já havia montado um acampamento no sofá. Já era quase meio-dia quando, durante o tédio, sem razão nenhuma, resolvi acender fósforos. Era um velho hábito que eu tinha, acendia tanto pela chama, quanto pelo cheiro que produziam ao queimar.

Havia visto uma caixa de fósforos na segunda gaveta do balcão. Acendi o primeiro, e deixei-o queimar até a chama quase tocar meus dedos. Um sopro fraco e ela morreu. Fiz o mesmo com o segundo, terceiro e quarto. Eram poucos segundos para se apreciar uma beleza tão fascinante quanto a do fogo. Então decidi acender uma vela, assim a chama se manteria viva por mais tempo.

Fixei a vela acesa em um pires através da cera quente e voltei à sala. Coloquei sobre a pilha de revistas de decoração que havia na mesinha de centro. Sentei-me novamente no sofá e fiquei observando enquanto a pequena chama queimava. Estava tão distraída, que nem havia notado que Má Sorte estava na sala, até me assustar com o miado do felino. Imaginei que pudesse ser fome, então me dirigi até o banheiro onde ficava a ração, no armário da pia.

Peguei o pacote, mas no caminho de volta à sala, senti um cheiro estranho, característico de vela, fogo e afins. Mas o que?! Entrei em pânico. Corri os dois metros restantes e me deparei com uma parede de fumaça enquanto a pilha de revistas era consumida pelo fogo. Hesitei alguns segundos antes de lembrar do pequeno extintor de incêndio pendurado na parede da cozinha. Deixei cair o saco com a ração e disparei em direção ao objeto vermelho. Girei o pino de segurança para romper o lacre, em seguida puxei-o. Tornei à sala e apontando a ponta da mangueira para as chamas, acionei a válvula, cobrindo de espuma branca não só a mesa de centro como a sala inteira também.

A porta da frente se abriu pouco antes de eu conseguir apagar a última centelha. Meu pai e Maria congelaram na entrada. A expressão de choque estava paralisada em seus rostos. E aqui, plateia, vocês podem presenciar o meu primeiro “pega em flagrante".

— Hã, eu posso explicar...

❁❁❁

Mas eu não podia. Eu estava sentada à mesa de jantar, enquanto os dois permaneciam de pé em volta dela. Fazendo com que os dois parecessem superiores, o que eu detestava.

— Mas que droga é essa que aconteceu aqui?! — disse Jack indignado, afinal foram as revistas dele que pegaram fogo.

— Não foi minha culpa — comecei minha defesa.

— Ah, não foi?! E de quem é a culpa então? Só tinha você aqui! — falou meu pai.

— Não se esqueça de que tinha o Má Sorte também, O.K.? — procurei falar mais rápido, na tentativa de distraí-los — Ele estava pedindo comida, eu fui pegar, quando voltei, ele já tinha derrubado a vela que estava sobre a pilha de revistas...

— Vela? Por que tinha uma vela acesa sobre as revistas da mesa de centro?! — desta vez foi Maria que se manifestou, me interrompendo.

— Não se apegue a detalhes, isso não vem ao caso. O fato é que... —

— Não vem ao caso?! Você poderia ter morrido! — disse meu pai gesticulando.

— Não seja dramático! Eu não morri! O.K.? Eu apaguei o fogo, tô sã e salva, isso é o que importa, caceta! — disse em um tom mais alto. Meu bom humor havia queimado junto com aquelas páginas.

— Dramático, eu? — ele fez uma pausa, e então seu tom de voz passou a ser terno — Eu só estou preocupado com você, meu amor, você sabe disso.

Não preciso da sua preocupação, pensei.

— Tanto faz — dei de ombros.

Ele balançou a cabeça decepcionado. Não que eu me importasse com como ele se sentia sobre o que acabara de acontecer. Não foram grandes perdas, afinal, quem se importa? Quem paga a conta, talvez, debati comigo mesma mentalmente. Eu fazia isso com frequência. Contanto que não seja eu, não vai fazer diferença.

❁❁❁

O resto da semana estava correndo bem até que eu tomei a péssima decisão de dar banho no gato. Má Sorte e eu estávamos dentro da banheira, com o box fechado. Liguei o chuveiro e o ser das profundezas ficou desesperado com a água caindo sobre ele, e claro, decidiu enfiar as unhas na minha perna. Maldita hora, em que coloquei shorts. Não foi muito esperto da minha parte. Arranquei a bola de pelos grudada na minha panturrilha e ele correu para o canto oposto à “cachoeira da desolação”, chamada assim de acordo com o ponto de vista felino. Regulei a temperatura para morno e me ajoelhei.

Armada apenas com luvas de borracha e muita determinação, peguei o shampoo próprio para gatos e passei um pouco no felino. Agarrei-o no colo e entrei debaixo do chuveiro. O bichano miava e esperneava como se aquilo fosse ácido em vez de água.

No transcorrer do banho, o chuveiro produziu aquele odor típico de quando se tem problemas. Acontece que eu já havia me acostumado com isso – sem falar a fumaça que com toda incerteza, devia ser de vapor de água, não de fogo. Não. Ele estava assim desde que cheguei. Mas dessa vez o odor estava mais forte. De repente, houve uma pequena explosão. Tudo o que vi foi um clarão e quando olhei para cima, o chuveiro estava em chamas. Só tive tempo de pensar: "De novo não..." antes de pegar o gato e sair correndo.

Sem o extintor que meu pai levara embora porque estava com a pressão baixa — e não, isso não era uma piada —, minha reação seguinte foi ligar para os bombeiros. Pelos menos, era o que dizia a palestra que eu tive na escola. Enquanto corria pela casa quase derrapando com os pés molhados e arranhada devido ao gato desesperado que eu levava no colo, via a fumaça sair do banheiro e vir na minha direção. Tentei digitar o número no celular, porém, a luva infeliz, não permitiu. Joguei-a longe apressadamente, e com a mão livre disquei.

— Alô? Eu to sozinha com meu gat...

— Onde você mora, senhora?

— ...De repente meu chuveiro começou a pegar f...

— Senhora, por favor, o endereço?

— MAS EU AINDA NEM TE CONTEI A EMERGÊNCIA!

Se havia como ficar pior? Havia. Corri para o corredor com o Má Sorte pendurado pelo meu braço. Eu estava completamente encharcada e com um animal raivoso no colo, quando a porta de um dos apartamentos vizinhos abriu e por ela passou um garoto que eu havia visto uma vez e que reconheci como sendo o filho de Maria.

— Que cheiro é esse? — ele era alto, muito alto, pelo menos comparado a mim. Cabelos castanhos cacheados que o faziam parecer ter um cogumelo na cabeça. Magro, olhos verde escuro e gostava de bancar o palhaço — Opa! Tá rolando um concurso de camiseta molhada e eu não fiquei sabendo?!

Para a minha desgraça, o único dia em que eu resolvera optar usar branco ao invés do habitual preto, minha roupa tinha que ficar molhada e transparente, mostrando o sutiã escuro.

— Vá se foder, Leo. E pode ir parando de ficar exibindo os dentes de forma maliciosa ou eu vou quebrá-los e fazer você engolir um por um! — cobri meu peito com o Má Sorte.

Um pouco de fumaça começou a sair pela porta da frente.

— Mas o quê?! — murmurou ele. — O apartamento da mãe tá pegando fogo!

— Tá, agora me diz uma novidade. Vai lá machão, apaga — indiquei com a cabeça em direção à porta.

— Eu?! Por que eu?! — ele apontava o indicador para o próprio peito. Então, sacou o telefone do bolso e começou a digitar.

— Deixa, eu já chamei os bombeiros.

— Quem disse que eu tô ligando para os bombeiros?... Alô, mãe?

Agora sim, o circo estava armado. Já tínhamos a brigada de incêndios e o palhaço, e eu que não seria a bailarina.

❁❁❁

Mas eu dancei, dancei como só alguém que põe fogo duas vezes num apartamento pode dançar. Alguém que teve seu segundo “pega em flagrante”. E novamente não era minha culpa. Mas ali estava eu mais uma vez, sentada à mesa de jantar aguardando meu julgamento.

— Você tem noção de que as únicas DUAS VEZES que te deixamos completamente sozinha, você causou DOIS INCÊNDIOS?! — tentei me manifestar, mas meu pai levantou o dedo fazendo com que eu permanecesse calada. — Nós temos que trabalhar com a certeza de que o prédio vai estar de pé quando voltarmos! — ele fez uma pausa, momento que eu fiz uma careta tão monótona quanto seu drama. — Nós tomamos uma decisão.

— Oh, céus, adivinha? Vocês também tomaram uma decisão quando me deram um gato que só faz merda! Quem derrubou a vela? Má Sorte. Em quem eu estava dando banho quando o chuveiro pegou fogo? Má Sorte. E outra, você não consertou o chuveiro, podia ter acontecido com qualquer um!

— Mas não foi qualquer um, foi você! Julis, não tem nem como uma bola de pelos causar dois incêndios. Vamos pedir para alguém ficar com você enquanto estivermos fora.

— Uma babá?! Para o gato, né?! — eles reviraram os olhos — Vão colocar uma estranha dentro de casa, é isso? Pode ser perigoso, uma ladra, assassina, há muita gente doida solta por Nova Iorque!

— Aí que tá, não vai ser uma estranha, será alguém de confiança — disse Maria.

— Ah, então vocês já têm alguém em mente! Digam, quem é esse ser digno de tamanha responsabilidade, para cuidar de alguém com dezesseis anos e um metro e sessenta. Sem falar no gato.

— Não temos alguém em mente, já está tudo certo. Ele começa segunda, e você não tem direito de se manifestar sobre isso — falou meu pai rigidamente.

Ele? — questionei.

— É, ele. Leo garantirá a sua segurança.

Ah, que ótimo! A irresponsabilidade encarnada em 1,85 metros de altura iria garantir minha segurança... Aham, era só o que me faltava.

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Notas finais do capítulo

Hey de novo minha existências prediletas! Gostaram? Odiaram? Sugestões? Críticas (construtivas)? Como gostei da ideia, resolvi que vou fazer perguntas à vocês ashuahsu.

1# Nome e idade?
2# Dia ou noite?
3# Doce ou salgado?



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