Riverside escrita por Ephemeral


Capítulo 2
Má Sorte


Notas iniciais do capítulo

Agradeço o review de:

❁ Reet
❁ Danna
❁ Haidy
* Capítulo betado pela Queen Bitch (/u/76294/).
* Capítulo betado por Ganimedes (/u/181998/).

Enjoy!



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Terminamos de levar minhas coisas para o meu covil. O cômodo havia quase desaparecido debaixo de tanta tralha. Não que eu me importasse, afinal, me sentia bem em meio a bagunça. Talvez porque eu gostasse assim, talvez porque a bagunça era um reflexo físico de mim mesma, só talvez.

— Julis! — gritou meu pai da cozinha. — Eu vou dar uma saidinha e já volto.

— O.K. — respondi no mesmo tom.

Enquanto Jack estava fora dei início à organização. Comecei pelos livros, não suportava tê-los encaixotados. Quando meu pai voltou, em torno de uma hora depois, eu já havia terminado as quatro primeiras prateleiras.

Ouvi a porta abrindo e logo em seguida o som de duas vozes conversando baixo. Intrigada, me dirigi até a entrada e encontrei meu pai e Maria, ela trazia nos braços uma presença inusitada, um gato. O animal tinha pelagem negra e olhos verdes penetrantes.

— O que ser isso? — questionei com uma expressão confusa.

— Isso ser um gato — respondeu Maria —, e ele é seu.

Fiquei surpresa com a iniciativa deles. Eu já havia comentado diversas vezes a minha vontade de ter um felino, e o quanto me irritava meu avô não permitir.

— Creio que a ideia tenha sido da Maria — disse enquanto pegava o gato de seus braços.

Ela sorriu e deu de ombros.

— Culpada — declarou. — Já sabe que nome dar a ele?

Era um macho. Olhei para o animal em meus braços. Acariciei desde as bochechas até a parte de trás das orelhas. Logo o bichano já estava ronronando. Eu adorava aquele som, era como um calmante natural.

— Não sei... Mas depois eu resolvo isso, tenho uma cama soterrada de tralhas que eu quero me livrar antes de anoitecer.

Maria bagunçou meu cabelo, beijou minha testa e foi em direção à cozinha, meu pai para a sala, e eu e meu novo cúmplice para o meu covil.

Soltei o gato no chão e voltei a desfazer as malas. Depois de meia hora, o quarto estava ficando abafado. Abri a pequena e única janela do cômodo, que exibia a maravilhosa vista das escadas de incêndio. Respirei fundo o “ar fresco” — levemente poluído — que entrava.

Um vulto preto passou ao meu lado e pulou a janela.

— Não! — gritei.

Mas era tarde demais, o gato já estava subindo as escadas. Passei pela janela e segui o animal pelas escadas de ferro, ele já estava quase no topo delas. Assim que cheguei ao telhado estranhei a presença de algumas coisas lá em cima. Por exemplo, o sofá em que o bichano estava deitado. Por que raio de motivo tinha um sofá no telhado?! Tentei ignorar o fato e me concentrar no bendito felino sem nome.

Aproximei-me dele com cautela, tentando evitar assustá-lo. E tudo estava indo bem até que a droga de uma buzina extremamente alta tocou. O animal disparou do sofá para as escadas novamente. Parei no primeiro degrau e olhei para baixo. Pude ver o felino entrando no que eu esperava que fosse minha janela. Desci as escadas correndo e estava tudo indo muito bem, quando no terceiro andar, escorreguei em um resquício da chuva que havia ocorrido mais cedo. Saí rolando escadaria abaixo. Mas ao final dela surgiu repentinamente uma criatura, provavelmente vinda do Mundo Inferior, que acabei por derrubar.

Meu corpo havia parado de girar, mas minha cabeça não. Ainda estava estirada no chão enquanto a outra pessoa se levantou.

— Sua mãe não te ensinou que não se deve correr em escadas molhadas, pirralha?! — disse ele. — Me agradeça por amortecer a sua queda!

Olhei para cima. O cara vestia jaqueta de couro preta, calça jeans e tênis. Pele clara, cabelos negros e jeitinho de quem botava banca de bad boy mimado.

Ele revirou os olhos e estendeu a mão.

— Quer ajuda? — perguntou.

Senti a raiva subir a cabeça. Dei um tapa em sua mão e me pus de pé rapidamente. A diferença entre alturas era vergonhosa. O cara devia ter em torno de 1,77 e eu com meus míseros 1,60. Mas isso não me intimidou.

— Pirralha é o caralho! — respondi. — E não, eu não preciso da sua ajuda!

Ele franziu as sobrancelhas e em seguida as ergueu.

— Pirralha, — ele começou a contar nos dedos —, desastrada, enfezada, mal agradecida e ainda por cima, grossa!

— Se você for listar os meus defeitos, nós vamos ficar aqui o dia inteiro e eu tenho mais o que fazer — eu disse.

— Aposto que sim, pirralha.

Lancei-lhe um olhar feroz. Estava me preparando para pular em seu pescoço quando ouvi um miado. Vinha da janela ao lado da minha. O felino entrou na janela errada.

— Maldito! — praguejei.

Passei pela janela, ignorando a pessoa ainda de pé ao meu lado.

— Ei, você não pode invadir a casa alheia assim! — protestou ele do lado de fora.

— Eu posso fazer o que eu quiser — respondi analisando o lugar. — E você não tem nada a ver com isso.

— Tenho, quando a casa é minha!

— Sua? — ouvi outro miado — Você não se importa, não é? — disse distraída.

O bichano saiu de debaixo da cama. Peguei-o no colo e passei pela janela novamente, parando em frente ao cara.

— Sim, eu me importo. — respondeu tarde demais. Ele revirou os olhos e bufou. — O que diabos uma pirralha como você está fazendo aqui?!

— Não é da sua conta.

Virei-me de costas e apresentei-lhe meu dedo favorito, o do meio. Ignorei completamente os argumentos e protestos que se seguiram. Pulei pela janela, soltei o gato e fechei-a. O garoto ficou falando sozinho. Pouco me interessava o que ele tinha a dizer.

O gato subiu em cima da cama e se ajeitou em meio às sacolas e caixas. Deitou, fechou os olhos, e começou a ronronar. Como se nada tivesse acontecido.

— A culpa de tudo isso é sua! — disse a ele.

O felino me ignorou.

— Já sei qual vai ser o seu nome: Má Sorte.

Desta vez, ele levantou as orelhas, ergueu a cabeça e miou. Em seguida, deitou a cabeça e de olhos fechado tornou a ronronar. Considerei isso como um sim. Afinal o nome combinava com ele. Gato preto, má sorte, até que fazia sentido.

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