Terminaram de atravessar a ponte e pegaram um táxi até Paris Nord, onde compraram os bilhetes e aguardaram a saída do trem que iria até St. Pancras.

Já dentro da cabine, eles se sentaram de frente um para o outro, o que desapontou Poseidon levemente, mas ele não daria o braço a torcer. Atena percebendo que Poseidon ficara encarando a janela depois que ela não se sentou ao seu lado, resolveu mudar de lugar.

— Espero que não fique acostumado com isso pescador – disse olhando a janela também. — Só dei o braço a torcer porque você estava com um biquinho muito fofo. – completou com um sorriso brincalhão.

— Eu sei que sou irresistível corujinha – respondeu passando o polegar no queixo dela. — Mas não tenho a esperança de fazer você ceder aos meus encantos sempre. Na maioria das vezes sou eu que peço perdão – disse dando de ombros.

— Porque na maioria das vezes é você que apronta comigo – respondeu em tom convencido.

— É porque eu adoro te ver irritada corujinha, os seus olhares ameaçadores são uma graça – disse com uma piscada. — Claro que ficar de bem com você é muito melhor, mas não acho que seu querido papai aprove a ideia de sermos amigos novamente – completou distraidamente.

— Papai teme que você consiga me afastar do Olimpo se virar meu amigo de novo – respondeu sorrindo.

— Ah isso ficou bem claro para mim quando ele disse em alto e bom som “Não aprovo sua amizade com minha filha”. Acho que essa frase é hereditária – brincou.

— Acho que Percy ficou bem aterrorizado quando eu disse aquilo – disse reprimindo uma risada.

— Você disse isso a Percy? Eu estava me referindo a Ares com o filho de Hermes – explicou.

— Bem, então acho que devemos parar de falar isso. Eles acabam namorando elas – comentou dando de ombros.

Essa frase por algum motivo desconhecido a Atena deixou Poseidon muito pensativo, e como ela estava exausta por conta das caminhadas feitas no dia resolveu deixa-lo com seus pensamentos e dormiu.

Poseidon saiu de seu pequeno transe quando sentiu Atena apoiando a cabeça em seu ombro enquanto dormia. Ele sorriu involuntariamente com isso e continuou a olhar a paisagem.

***

Saíram da estação de St. Pancras de mãos dadas e foram andando calmamente até um restaurante que havia ali perto. Jantaram em meio a risadas e clima agradável e logo depois foram para casa.

Assim que chegaram Poseidon foi tomar banho e Atena ficou esperando na cama enquanto observava o céu da mesma forma que ele fizera antes. Por mais que ela não gostasse do fato, seus pensamentos estavam sempre voltando para o que acontecera na ponte. Ela definitivamente sentira algo com aquele beijo, ou melhor, aqueles beijos. Mas o que ela estava sempre se perguntando era o porquê dela ter permitido que ele a beijasse. Será que seus sentimentos por ele estavam mudando? Ela teria que averiguar isso mais tarde, pois Poseidon tinha acabado de sair do banheiro.

Depois de um longo e relaxante banho quente ela saiu do banheiro e foi deitar ao lado de Poseidon, que observava atentamente as estrelas. Totalmente distraída, Atena começou a cantar baixinho uma música que veio a sua mente quando ela se lembrou (mais uma vez) o que aconteceu na ponte.

Lying here with you so close to me
It's hard to fight these feelings
When it feels so hard to breathe
Caught up in this moment
Caught up in your smile

[Deitada aqui com você tão perto de mim
É difícil lutar contra esses sentimentos
Quando parece tão difícil de respirar
Estou presa neste momento
Presa no seu sorriso]

Poseidon sorriu ao lembrar a letra da música e a acompanhou, fazendo com que ela olhasse em seus olhos.

I've never opened up to anyone
It's so hard to hold back
When I'm holdin' you in my arms
But we don't need to rush this
Let's just take it slow

[Eu nunca me abri para ninguém
É tão difícil me segurar
Quando estou com você em meus braços
Mas nós não precisamos apressar isso
Vamos devagar]

Atena passou a mão nos cabelos dele antes de cantar o refrão.

Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch of the fire burning so bright
No, I don't wanna mess this thing up
I don't want push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So, baby, I'm alright
With just a kiss goodnight

[Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Apenas um toque do fogo ardente
Não, eu não quero confundir as coisas
Eu não quero forçar demais
Apenas um tiro no escuro e você poderá
Ser o único que eu estive esperando por toda minha vida
Então, querido, eu estou bem
Com apenas um beijo de boa noite]

Poseidon passou a mão nos cabelos dela também, fazendo com que ela fechasse os olhos. Ele até pensou em beijá-la de novo, mas pensou melhor e achou que seria abusar da sorte dar-lhe mais um beijo naquele dia, então ele entrou em um assunto mais leve.

— Por que parou de cantar? – questionou ainda fazendo cafuné.

— O momento iria ficar muito forçado – respondeu abrindo os olhos.

— Defina forçado – pediu desta vez acariciando a bochecha.

— Provavelmente no final da música você iria tentar me beijar e eu não sei se minha razão estaria presente nesse momento para impedir que isso acontecesse – admitiu corando um pouco.

— Ah, isso seria realmente muito forçado – disse ele. — E clichê também – completou.

— Sim. E isso só aumentaria ainda mais a confusão que são meus sentimentos agora – disse desviando o olhar.

— Poderia me dizer, senhorita, qual a razão de estar confusa? – perguntou em tom brincalhão.

— Bem, cinco dias atrás você era de longe a pessoa mais odiosa do mundo para mim. Aí depois que ficamos presos aqui nessa casa você mudou totalmente de comportamento e está sempre sendo um fofo e compreensivo comigo – disse gesticulando com as mãos. — Com algumas recaídas, mas nada muito grave – comentou. — E então hoje você me beija e eu penso que você vai voltar a ser o Poseidon safado novamente, porém você mais uma vez me surpreende e fica mais fofo ainda. Agora me diga, isso é ou não é motivo para ficar completamente confusa? – perguntou sentando-se.

— Então ambos estamos confusos. Veja bem, cinco dias atrás você era a mulher mais insuportável do mundo. Era mimada, certinha e muito esnobe comigo. Então ficamos confinados aqui dentro e seu comportamento também mudou. Agora você sorri mais, não implica com meu jeito torto igual antes, e deuses! Você fica no mesmo lugar que eu sem me insultar de alguma forma na maioria das vezes! – disse sentando-se também e gesticulando com as mãos.

— O que está acontecendo com a gente Poseidon? – perguntou apoiando o queixo nos joelhos.

— Eu não sei Atena. Realmente não sei – respondeu deitando-se.

— Acho que até o fim da semana nós descobrimos – disse depois de fechar a cortina.

— Acho que sim. Boa noite corujinha – respondeu.

— Boa noite pescador – disse antes de virar para o outro lado.