Medo da Liberdade escrita por Nim


Capítulo 1
Capítulo Único




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A cela era um retângulo úmido e desprovido da luz natural do mundo afora. As paredes estavam cobertas de palavras ininteligíveis que carregavam o passado misterioso de cada pessoa que ficou ali. As pequenas veias de água enegrecida que sangravam pelas paredes de pedra tornava o ambiente em um lugar mais inóspito do que qualquer outro em qualquer mundo.

Eleutério aspirava fugir daquelas grades que pareciam inexpugnáveis, e, o desejo, inverossímil. Aquilo parecia se encontrar longe de suas mãos manchadas por sujeiras.

Não sabia que horas eram. Não sabia que dia era. Não sabia que ano era.

Estava perdido em meditações sobre liberdade durante os anos que ficou preso àquela jaula. Àquele lugar longínquo da civilização.

Eleutério queria a liberdade e tentaria de tudo para consegui-la novamente. Estaria livre daquela jaula que nem um animal se daria o direito de permanecer lá e ser tratado da pior forma que até as bactérias se sentiriam ofendidas.

O homem de aparências velhas, no entanto cuja alma conservava desejos de uma criança de oito anos, estava com a expressão estoica, perdido em um consternado presente. Encontrava-se sentado, de costas à jaula e ignorava o movimento atrás de si, tendo a sua atenção no desenho irregular das pedras.

Portanto uma pesada chave e um murmúrio de lamúria alcançou seus ouvidos quase surdos, em seguida, acordou de seu entorpecimento e viu uma figura longilínea desenhar-se sobre as sombras. Um olhar penetrante e afiado cortou a cortina do véu da escuridão e Eleutério sentiu os últimos pelos eriçarem.

Entretanto uma alegria desconhecida até então emergiu de seu interior e ele sentiu que poderia explodir.

O homem à sua frente somente fez um sinal para que Eleutério o seguisse em um silêncio impassível e, acima de tudo, inexpugnável.

Ambos andaram pelo corredor coberto de fuligem até encontrarem a paisagem em que Eleutério tanto queria. Era o mundo real. O mundo que ele havia se esquecido como era.

O cenário não era bonito. Era somente um céu azul coberto por nuvens escuras e construções suntuosas perfurando o véu daquela imensidão majestosa.

Alguns instantes depois escutou a porta para o mundo cinza e inexorável fechar-se às suas costas. Eleutério virou-se por um momento, analisando as grades finas e de ferro oxidado, que deixava um véu de ferrugem preso às mãos.

No entanto o que deveria ser um mar infinito de felicidade, tornou-se uma corrente turbulenta e escura de medo, de desespero.

Ali, no mundo afora, ele não era ninguém senão uma pessoa livre, como as outras, porém se tornaria prisioneira de uma sociedade impassível, assim como a prisão às suas costas. No entanto, dentro da prisão, Eleutério era conhecido por alguma coisa, e lá — onde os pássaros cantam e pessoas trabalham — ele seria ninguém. Se morresse, ninguém daria o trabalho de coloca-lo em uma cova para dormir em paz; se machucasse, ninguém cuidaria dele.

Eleutério voltou-se à prisão, aclamando que o colocasse dentro dela novamente, pois o mundo afora acabou por ser seu maior medo, não sua maior ambição.


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