Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 8
Sete - Anna


Notas iniciais do capítulo

Hey, people! Como vão vocês? Já estava com saudade do Nyah ♥
Bom, avisos e explicações estarão nas notas finais. Tem uma grande possibilidade de vocês se perderem por causa do tempo sem leitura, então recomendo voltar alguns capítulos pra refrescar a memória (até porque eles agora estão revisados e bonitos ♥). Além disso, no lugar do ''Prefácio'' que explicava meus motivos de reconstruir a história, está agora um capítulo titulado ''parte um'' que contém uma pequena nota de explicação, alguns avisos, uma epígrafe e outras coisinhas legais.

Beijão, espero que gostem e até as notas finais!



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L O U C U R A

{s.f. Qualidade de louco; desprovido de razão; insensatez; imprudência}

— Você está maluca?! – Ibi acaba de gritar comigo pelo telefone.

Era feriado e eu estava trancada no banheiro da casa da minha tia, tentando me esconder da multidão que chegava aos poucos e dos abraços que esmagavam meus pulmões. Aquela gente deveria, no mínimo, se lembrar de passar desodorante!

— A prova é amanhã. – ressalto – Ele já foi péssimo na primeira avaliação e sem estudar nada meu trato com ele vai pro lixo! É capaz de ele nem tirar um décimo da nota.

Ouço uma gargalhada rouca do outro lado da linha.

— Você não pode aparecer na casa dele em um feriado, Anna Clara! Não foi ainda essa semana que você me ligou desesperada por ter aceitado esse acordo?

— Mas ele disse que faria o que fosse preciso pra estudar! - respondo - E eu cumpro com minha palavra, Ibi, mesmo que eu ainda esteja confusa com tudo isso.

— Sim, mas tenho certeza que nessa cláusula não tinha o endereço dele incluído, tinha? – ouço um suspiro – Aliás, como você conseguiu o endereço?

Faço uma careta para a pergunta. Eu e Matheus não pegávamos o mesmo ônibus, mas ele já havia me contado que morava na área oposta ao hospital onde minha mãe foi internada. Confirmei com Gustavo as informações corretas e estava preparada para chegar na casa do meu tão odiado "aluno".

Foi fácil descobrir isso.

— Olhe, preciso ir. Daqui a pouco tia Laura pensa que estou com algum problema na barriga.

— Quem manda se esconder no banheiro – resmunga – Podia simplesmente ir cumprimentar sua família.

— Família  que parece que cresce a cada vez que eu pisco. – argumento – Tia Laura acha que a casa dela é uma mansão porque daqui a pouco esse lugar explode de tanta gente!

Ele ri.

— Pior eu que estou me preparando para ir pra aula. Se você ainda é um gênio, sabe que aqui não pega a desculpa de ser um feriado brasileiro.

— Mas tem feriado aí que a gente não tem aqui. – rebato.

— Touché! Você me venceu. – fala –  Bye, girl.

Bye. – sussurro e desligo o aparelho, guardando-o na pequena bolsa que se acomodava no meu ombro. Eu tentava me concentrar naqueles protagonistas de filme que pareciam totalmente tranquilos quando iam fazer uma loucura.

Saio do banheiro com rapidez, desço as escadas até chegar ao térreo e, quando estou prestes a sair pela porta da frente, vejo meu pai sentado em um dos sofás.

— Ei, Clarinha - chamou e estendeu a taça do pavê que estava comendo - Quer um pouco?

Sorrio e aproximo-me dele.

— Não, obrigada - falo - Na verdade pai, preciso ir até casa de um ... Colega de classe. Preciso ir para estudar com ele para um trabalho escolar.

— Ele? - suas sobrancelhas se arqueiam - É um menino?

Xingo-me mentalmente por ter revelado isso.

— Sim, pai. Mas não vai ser nada demais, é apenas um trabalho.

— Ele é gay que nem o menino Ibi?

Franzo a testa e rio.

— Na verdade... - estou prestes a falar tudo que sei sobre Matheus, quando paraliso em um sorriso - Ele é muito gay. Mais gay que o Ibi, sabe? Ele realmente é homossexual super assumido.

Ele arregala os olhos.

— Uau! - exclama - Bonito?

— Não faz meu tipo - respondo e dou de ombros - Mas ele tem um charme, sabe? Que encanta a maioria dos seus pretendentes. Ibi é tarado naqueles braços.

Ele pondera por um instante.

— Uma pena.

— Uma pena?

— Sim, sabe? - responde - Pensei que finalmente você tinha arrumado um namorado.

Gargalho na mesma hora.

— Eu namorar com Matheus? - falo ultrajada - Nunca na minha vida.

— Matheus, hum? - ele pisca pra mim e abre um sorriso malicioso - Pode ir, mas cuidado que esse cara quando olhar pra você, pode se apaixonar também pela coisa que não é um pepino.

Arregalo os olhos, horrorizada.

— Pai!

Ele ri.

— Vá logo, se sua tia te ver não deixará você ir - balanço a cabeça, ainda surpresa com seu comentário e saio da casa.
        ***

Aperto a tecla de ligar no contato e vou caminhando pela calçada do condomínio. As casas, uma maior que a outra, fazia-me parecer uma garota minúscula. No terceiro toque, a voz meio rouca fala:

— Alô? - e ouço um bocejo.

— Você acabou de acordar? - pergunto.

— Não,  acho que ainda estou dormindo, sabe? - sei que ele deve está sorrindo - Só em sonho mesmo para Anna Clara Bennet ligar pra mim.

— Por que você sempre gosta de dizer meu nome completo?

— Porque eu curto seu nome completo, Branca  - responde - E por que você está ligando pra mim? Eu só atendo pra Disk-sexo na madrugada.

Cafajeste. Encontro a casa e paro em frente a porta.

— Idiota - murmuro.

— Aliás, como você  conseguiu meu número?

— Do mesmo jeito que eu consegui seu endereço. - respondo  e aperto a campainha. - Abra pra mim.

Por um momento a linha silencia. Ouço passos chegarem mais perto da porta e, antes que eu possa dizer algo, Matheus está me encarando. Seus olhos estão arregalados e a boca parada no meio de uma frase, parecia que ele estava se deparando com um fantasma ou o esquadrão da polícia.

— Bom dia pra você também. – falo e paro um tempo para analisar a ideia estúpida.

Ali estava eu, com um vestido branco gelo da juventude da minha mãe, usando sapatilhas apertadas e uma mochila xadrez nas costas – que eu tinha escondido na mala do carro. Meus cabelos estavam armados por causa da caminhada e o suor deixou a minha testa molhada. Resumidamente? Eu estava péssima.

Matheus, por outro lado, parecia que tinha se envolvido em uma guerra de tinta. Os fios negros estavam arrepiados como se ele tivesse levado um choque e o rosto estava pincelado com tintas coloridas. A camiseta verde estava tão amassada que parecia que alguém tinha pulado encima dele a manhã toda.

Guardo o celular na bolsa.

— O que você está fazendo aqui? – pergunta por fim.

E eu dou um sorrisinho inocente. Eu, Anna Clara Bennet, tinha pegado dois ônibus pra chegar na casa do cara mais idiota do colégio somente pra estudar. Ficar perto dele estava afetando minha inteligência!

... Eu vim pra ajudar você a estudar. – respondo e suspiro– Matheus, a prova de geografia é amanhã, lembra? Seu trato é tirar uma das melhores notas e creio que você só vai conseguir tal feito estudando.

— No feriado?! – exclama e depois ergue as sobrancelhas – Como você sabe onde é minha casa? Olha, Branca...

— Matheus, quem está na porta? – a voz feminina o interrompe.

— O carteiro - ele responde alto pra quem quer que esteja atrás de si.

— O carteiro não passa no feriado - falo.

Ele me analisa por um momento.

— Ela nem vai ligar. - ele dá um passo pra frente e fecha a porta -  Hoje não é um bom dia, Anna.

— E quando será um bom dia? - respondo com raiva - Você está ferrado,  Matheus.

Ele revira os olhos.

— Incrível o quanto você adora dizer isso.

Viro-me pra rua e seguro com mais força a mochila pesada.

— Se não quer me ajuda…

Antes que eu conclua a frase, ele pega meu braço e me encara.

— Hoje não dá. Minha família toda está aqui.

— Ah, você tem que ser um garoto decente perto da sua família? - pisco e rio - Ia adorar ver essa encenação.

— Meu Deus, você é impossível!

Abro a boca pra contestar,  porém a porta se abre novamente e a mesma mulher que eu vi na delegacia nos encara. Dessa vez veste um vestido verde e os cabelos estão soltos. Luiza Stahelin parece muito melhor assim.

— O que está acontecendo aqui?

— O carteiro trouxe o pacote errado - Matheus responde olhando pra mim.

Reviro os olhos e sorrio para Luiza.

— Eu sou a Clara, nos conhecemos na delegacia. - estendo a mão e ela sorri.

— Prazer, Clara! Meu nome é  Luiza,  vocês dois vão...?

— Estudar. – respondi ao mesmo tempo em que ele dizia:

— Ela já está de saída.

A mulher olha para o filho com a testa franzida.

— Não seja mal educado, Matt!

— É sério. – o garoto responde se voltando pra mim – A Anna só veio me dar um aviso do colégio, não foi? Ela já está indo pra casa.

Luiza olha pra mim.

— Tem certeza disso, querida? Meu filho mente mais  do que o próprio  Pinóquio.

— Caramba, que confiança hein, dona Luiza! - exclama Matheus.

Ela ignora.

— Não sou uma das melhores cozinheiras, mas o almoço já está pronto. – fala com aquela conversa de mãe modesta – Por que não almoça com a gente e passa o feriado conosco?

— Mãe, a casa está cheia! – Matheus resmunga.

— Matheus Stahelin você não quer que eu puxe sua orelha na frente dos convidados! – fala alto e ele revira os olhos – E sempre tem lugar pra mais um.

Ela me fita novamente.

— Aceita?

Analiso minhas opções. Queria me beliscar, dar a volta e ir pra casa, mas minha consciência voltava ao meu trato com Matheus e minha palavra de o fazer passar de ano. Merda.

— Eu adoraria. – respondi.

E assim passamos pela porta. Matheus olhando pra mim com a incredualidade estampada no rosto e braços maternos  circundando meus ombros. Achei suspeito aquele carinho todo.

— Matt, vieni brincar de boneca! – o grito agudo e estridente ecoou.

A menininha correu até nós assim que pisei na casa. Estava usando um vestido rodado azul turquesa e os cabelos estavam presos em duas fitas no alto da cabeça. Era fofinha, apesar do visual de Maria Chiquinha.

— Cat, eu não posso agora.

— Pode sim! – a garota puxa a sua mão – Você prometeu que ia brincar comigo.

Sorrio. Ela faz um bico e cruza os braços enquanto Matheus continua no mesmo lugar. Parecia ter no máximo uns seis anos.

— Mas eu brinquei com você a manhã inteira! – ele protesta.

— Não! Eu cheguei na metade da manhã. – afirma - Como você pode ter brincado a manhã inteira se eu cheguei na metade?

— Caterina...

— Ela está certa. – interrompi – Como você pode ter brincado a manhã inteira se ela chegou na metade? É matemática!

Matheus levanta seus olhos pra mim quase soltando um palavrão. Ele tinha me lançado um olhar frio quando aceitei a proposta da sua mãe, agora parecia que estava planejando me esganar.

vendo? – Cat fala – Até a menina bonita diz que eu certa!

Corei levemente com o elogio e Matheus continua olhando pra mim mortalmente.

— Isso é uma espécie de vingança? – retruca– Já não basta virar amiguinha da minha mãe, ainda quer minha prima pra você?

Pisco.

— Você acha que se eu fosse me vingar seria assim? Eu tenho ideias melhores, Matheus! – ri.

— Você não é a santinha que todos pensam, Branca.

— Eu nunca disse que era santa. – respondi e Cat ergue as sobrancelhas.
— Seu nome é Branca? Tipo a Branca de Neve?

Abro a boca pra responder, mas sou agarrada por um abraço gigante. Se na casa da minha tia os desconhecidos pareciam velhos amigos, agora parecia que eu abraçava um urso.

A senhora usava um vestido longo e vermelho. Os cabelos eram loiros e o cheiro de perfume era tão forte que eu pensei que estava intoxicada. Eu não sei se foi um abraço ou uma tentativa de enforcamento.

— Matheus, por que não contou pra nonna da sua linda namorada?! – exclama a mulher.

Fiz uma careta na mesma hora.

— Eu e ele não somos...

— Você é tão linda, minha filha. – ela finalmente me solta e aperta as minhas bochechas – Só precisa engordar mais um pouquinho e colocar mais cor nessas bochechas.

Nonna... – Matheus tenta falar.

— VOCÊS SÃO NAMORADOS? – grita Cat com os olhos arregalados – ECAAAA!

E a menina que me achou bonita um instante atrás passou a me olhar como se eu fosse um alienígena.

— Não somos...

— Espera. – uma voz masculina com sotaque forte se eleva dentre todas as outras – Cadê a câmera? Porque só pode ser pegadinha ‘Matheus’ e ‘namorada’ na mesma frase!

— Lucca, cala essa boca! – Matheus resmunga e parecia que todos tinham se interessado pelo que estava acontecendo na sala.

O garoto – Lucca – aparece enxugando os olhos azulados de tanto rir. O cabelo loiro queimado lhe caía na testa e eu podia supor que tinha uns 14 anos.

— Gente, dá pra parar de fazer tempestade em copo d'água? – uma garota com os mesmos cabelos de Lucca fala – A menina nunca mais vai voltar aqui com uma recepção dessas.

Os olhares se voltam pra mim como se quisessem confirmar.

— Eu...

— Nós não somos namorados. – esclarece Matheus parecendo irritado – Anna só é uma amiga. Apenas.

Franzi a testa para o termo, mas não contestei. A nonna que ainda agarrava meu braço solta-o instantaneamente.

— Mas vocês formam um casal tão lindo. – lamenta.

Nonna, deixa de drama! – Lucca fala e pisca pra Matheus – Eu disse que só podia ser pegadinha!

— Retardados. – murmura a garota loira.

Matheus olha pra ela.

— Obrigado Leah, eu pensei que não iam parar de falar.

Leah abre um sorriso malicioso.

— Só interrompi tudo porque é melhor comemorarem na hora certa. – pisca – Quando for verdade.

Lucca gargalha.

— Ah, primo! – bateu nas costas de Matheus – Sempre que venho aqui tem alguma novidade. O Brasil é maravilhoso!

Matheus ia responder, mas uma voz fina e aguda falou mais alto:

Matheuuuus, vamos brincar

 

   ***

— Não ria.

Mordo o lábio.

Em toda a minha vida escolar eu nunca pensei que trocaria mais que duas palavras com Matheus Stahelin, agora eu já tinha conhecido uma parte dos seus primos e almoçado com sua família. Mas, em todas as coisas impossíveis que eu poderia pensar nunca imaginei que passaria por isso.

— Tem que ter mais brilho, Clara. – Cat reclamou me passando glitter prateado e um batom rosa choque— Ela tem que ficar bem bonita pra festa!

Hum... Realmente precisa de mais cor, né? – ri.

Matheus revira os olhos. Ele está na minha frente e os olhos verdes  miram meu rosto com ironia. Estava linda! Com o vestido vermelho colado de Leah e os saltos esverdeados. Cat estava colocando laços no seu cabelo e Leah estava sentada no chão enquanto pintava suas unhas. Eu tinha ficado com o rosto e até agora já tinha colocado sombra e delineador, além de ter exagerado no pó e blush.

Abro a tampa do batom e ele segura meu pulso.

— Não faça isso. – pede– Seja a garotinha boazinha e nerd que você sempre é, Branca.

Rio.

— E desde quando você manda em mim? - falo - Eu não sou esse arquétipo de estereótipo que você pensa de mim, Matheus.

Ele ergue as sobrancelhas.

— Então quem você é, Anna Clara Bennet? - sussurra e sinto sua mão subir pela minha cintura, apesar de seus olhos estarem extremamente focados no meu rosto. A pergunta me paralisa. E eu sorrio para sua expressão curiosa e enigmática.

— Descubra. - murmuro baixinho sem motivo nenhum.

Seu olhar desce para meu lábio inferior e ele abre a boca pra responder quando é  interrompido com um o som de uma tosse falsa. Imediatamente me desfaço do foco e mordo o lábio.

— Ei! tem criança aqui dentro. – Leah adverte com um olhar malicioso – A tensão sexual está elevada, mas não precisa tanto.

— Leah! - fala Matheus,  ainda sem parar de me olhar.

— Estou falando fatos, ora!

— O que é tensão sexual? – Cat pergunta e todos nós viramos para observar a garotinha.

...

— É tipo...

— É muito cedo pra você saber, Kit Kat. – respondo e volto a trabalhar no batom de Matheus.

Ela cruza os braços.

— Mas eu quero saber agora!

— Mas não pode. – falo.

— Pode sim!

— Cat... – paro de falar. Eu estava brigando com uma garota de seis anos. Caramba!

— Se vocês não me falarem eu vou perguntar pra nonna.

Matheus se ajoelha na sua frente.

— Priminha linda, você não faria isso, faria?

Cat sorri presunçosa. Aquele sorriso fofo de criança que pode ser tão perigoso quanto uma arma.

— Ótimo. – Matheus sorri – Daqui há alguns anos você descobre.

— Mas eu não disse que faria ou não, Matt. – a garota responde.

Ele franze a testa e um segundo depois Cat já tinha passado pela porta gritando pela avó em italiano.

— Não! Caterine! – Matheus xinga – Filha da mãe!

E corre atrás dela. Os saltos e o vestido curto tornando a corrida mais desajeitada que eu já vi na vida. Gargalho da cena junto com Leah e lembro de pegar o celular pra filmar e mostrar pra Gustavo. Depois de um tempo de gritos e risadas de criança, encosto-me na cama e observo o quarto em que estou.

Os tons nude e verde fazendo contraste com a estante abarrotada de DVDs e livros. A outra parede era revestida de recorte de jornais e fotos de todos os tamanhos. Encaro uma em específico, em que um homem semelhante a Matheus ri e toca violão, enquanto pessoas dançam a sua volta. Uma delas é uma menina com cerca de 10 anos e um garotinho de cabelos castanhos bagunçados.

— Eu adoro essa. - Leah murmura acompanhando meu olhar - Acho que era assim que ele gostaria de ser lembrado: alegre e fazendo todo mundo rodopiar.

— Foi por isso que também seguiu a carreira da dança? - pergunto quando observo a foto dela com roupa de bailarina e um grupo da companhia de teatro - Por influência dele?

— O balé sempre foi tudo pra mim. - Responde - Deixei a Itália por isso. Tio Enzo só me incentivou ainda mais.

— Sinto muito - Falo.

Os olhos de Leah viram para me encarar e eu noto o quão ela herdara a beleza da família italiana: os olhos esverdeados típicos e a pele bronzeada.

— Eu também, Anna. Por meu tio e por sua mãe. - fico surpresa com sua fala - Sinto muito por tudo que Matheus fez.

— Como sabe disso?

— Ah, isso sempre remoeu a cabeça dele - riu - Ironicamente, a coisa mais estúpida que ele fez ajudou ele a não se tornar mais idiota ainda, sabia?

Franzo a testa.

— Do que está falando?

— Ele estava andando com gente muito ruim. - Ela faz uma careta - Não que ele ainda não ande. Mas depois daquilo tudo, ele ficou mais tempo em casa. Culpa, talvez. Tem uma galera que ele não fala mais e isso é graças a você.

Estou prestes a responder, quando Matheus entra assobiando no quarto com roupas masculinas e cabelo molhado. Ele para e ergue as sobrancelhas.

achando que interrompi algo. - comenta - Quais segredos meus Leah estava contando dessa vez?

Leah ri e se ergue do chão.

— Os mais sujos, pode ter certeza disso.

Ele faz uma careta e estende a mão para me ajudar a levantar.

— Estudar? - questiono.

Ele fecha os olhos.

— Sério que mesmo sabendo meus segredos mais sujos você ainda quer estar perto de mim, Branca?

Seu olho direito pisca em minha direção e ele sorri. Devolvo-lhe um sorriso presunçoso.

— Não se preocupe, os meus são piores.

Dou um chauzinho pra Leah antes de acompanhá-lo até o quarto. Ao contrário do cômodo da sua prima, esse era um pouco menor e tinha uma parede revestida de um azul semelhante ao mar. A cama grande no centro e um guarda-roupa enorme no canto. Porém, o que me surpreendeu de verdade foi a grande bancada negra perto da varanda com um amontoado de fotos e algumas anotações penduradas por pegadores coloridos.

Encima do móvel, o livro de geografia estava aberto e grifado ao lado de algumas anotações que eu tinha feito na nossa última aula após a dança.

Porra, Anna. Ele estava estudando.

— Pela sua cara, já sei que é bastante surpreendente eu ter pegado no livro.

— Eu...

Olho para os outros livros espalhados pela mesa e sinceramente não sei o que dizer.

— Não precisa falar nada, Branca. Desculpe minha reação mais cedo quando você chegou aqui. Acho que fiquei meio irritado, meu subconsciente se animou com a ideia de te surpreender.

Sorrio e encaro-o com a sobrancelha arqueada.

— Uau. Você é realmente Matheus Stahelin? O mesmo cara que fez aquela aposta idiota na biblioteca há alguns dias atrás? Porque realmente...

Seu sorriso some e ele faz uma careta.

— Tem mais coisa sobre isso do que você sabe, Branca. E eu planejava tirar algumas dúvidas contigo mais tarde, ok? Ainda não sou expert em geografia como você.

Penso por um instante e franzo a testa enquanto olho as fotos penduradas no mural. Tem mais coisa sobre isso do que você sabe.

— Você ainda tem o livro?

— Qual livro?

Viro-me para encará-lo, enconstando meu quadril na bancada atrás de mim.

— O livro da sua tentativa de furto na biblioteca. Você realmente o roubou?

— Não. - fala pausadamente e foco em seus olhos que tentam inutilmente moldar suas emoções - Por que a pergunta?

— Nada - mudo de assunto, mas sabendo que tinha muito mais ali que eu não estava vendo - Mas eu quero saber uma coisa, Stahelin.

O canto da sua boca sobe com um indício de um sorriso.

— O quê, Bennet?

— Como você saberia meu número para tirar tais dúvidas? Eu não me lembro de ter te entregado.

Ele arregala os olhos e depois sorri de volta, aproximando-se de mim.

— Você não é a única pessoa que tem segredos, Anna Clara Bennet.

Mesmo com o tom de flerte, percebo uma coisa: não quero que ele esteja mentindo novamente.

Porra.

Por favor, Matheus. Não esteja mentindo pra mim.

De novo

 


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Notas finais do capítulo

Ahhh, espero demais que vocês tenham gostado. ♥ bom, agora vamos as explicações:

♦ Eu queria dizer que realmente sinto muito por não ter vindo aqui e obviamente que eu sinto. Eu amo essa história demais pra deixar ela parada assim ao acaso, para um autor(a) é horrível congelar suas ideias por tempo indeterminado por causa de estudos, trabalho ou mesmo problemas emocionais. Infelizmente, a maioria aqui não vive da escrita e tem uma vida cheia de cobranças e pressões. Então sim, eu parei a história novamente, meu 2017 foi uma loucura e eu fui escrevendo aos pouquinhos, sem me pressionar porque, independe do tempo que eu levasse, eu queria continuar a história com qualidade. E assim espero que eu faça.

♦ Além desse papo cabeça, reformulei (de novo) a história e agora TQENT está dividida em duas partes. A parte um (causa) contém 16 capítulos já escritos e a parte dois (consequência) já está sendo escrita aos pouquinhos, porém com metas estabelecidas para que não ocorra atrasos.

♦ Meu objetivo é postar ao menos uma vez na semana, provavelmente na terça. Porém, não prometo nada realmente periódico porque não quero decepcionar vocês, nem ficar frustrada comigo mesma.

♦ Talvez a historia fique mais pesada, por isso escrevi os avisos prévios do primeiro capítulo, porém nas notas dos capítulos beeem mais fortes, vou colocar um aviso de gatilho, ok?

♦ Mas TQENT não era uma historia de romance? Com certeza é. Anna e Matheus foi meu primeiro casal na escrita e são meus amores. Porém, nem só de romance se faz uma história, entao aqui também tem muita crítica social, piadas sugestivas (e ruins hahaua), além de personagens secundários bem maravilhosos. Aproveita essas coisas também, gente! E tentem entender os sentimentos de cada um dos protagonistas, por favorzinho.

Pronto. É isso. Quero deixar aqui meu agradecimento especial pra minha leitora/beta/amiga maravilhosa Rafaella que me ajudou e incentivou sempre que eu desanimava. Tambem agradeço aos novos leitores que começaram a acompanhar recentemente (e comentaram ♡). Para os mais antigos, acho que irão perceber que minha escrita está diferente, a partir do capitulo 8/9 ela ganha uma evoluída bem grande porque nesse período eu tinha passado meses sem escrever nada. Se notarem algo muito extremo, falem-me. Críticas construtivas são sempre bem vindas!

Prontinho. Até o próximo.

Beijo,



PS: Apesar dessas notas estarem enormes, vou continuar com a tradição e a agradecer as pessoas que comentaram no capítulo sete da versão anterior: Lari, Fanfics Sagas, Karine Gonçalves, Sra. Hunter, Taís Lovegood Scamander, Nimsay, Narelly Fell, Lara Mellark, Blue, Daughter of Sun e Duda. Obrigada, tudo isso ainda é por vocês.



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