Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 6
Cinco - Anna


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente bonita!
Estou aumentando o fluxo de postagens em razão de que quero finalizar a história ainda esse mês, ok?
Esse capítulo talvez esteja meio dramático no começo, ele mexeu bastante comigo e é uma parte importante da história pois conta o que realmente aconteceu com Matheus e Anna no passado. Obviamente ainda tem algumas pontas soltas que irão ser respondidas ao longo da história, mas acho que isso explica muito do ''ódio'' da Anna pelo Matheus.
Espero que gostem e boa leitura!



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M E N T I R A

{s.f. Ato de mentir, enganar, iludir e ludibriar}

— Ei, tudo bem contigo?

Lembro-me muito bem da primeira pergunta que Matheus me fez. Ergui o olhar achando estranho aquele garoto falar comigo sem nenhuma explicação aparente, ele estava cada vez mais ganhando destaque nos torneios de natação e ganhava atenção das meninas por causa do seu corpo de atleta juntamente com a sua aparência de bad boy.

Naquele tempo ele tinha adotado um estilo meio gótico e a maioria das suas roupas eram pretas, assim como seus tênis. Seu cabelo estava mais curto e ele tinha raspado os lados ficando um tufo no centro que, falando com sinceridade, estava uma coisa bastante ridícula. Porém, era moda antigamente e ele era descrito como o mais novo deus das novinhas.

Esse nosso primeiro diálogo depois de apenas colegas de sala da infância não poderia ter sido pior. Foi no mesmo dia em que minha mãe havia tido um desmaio e fora levada ao hospital com falta de ar, logo depois de ter passado quase um mês com tosse seca e começo de pneumonia. Era o câncer chegando, mas eu tentava não desconfiar disso naquela época.

— Por que a pergunta?

— Não posso está preocupado contigo, guria? – respondeu no mesmo tom e sentou-se ao meu lado em um dos bancos do colégio.

Era fim de tarde e quase ninguém se encontrava no local.

— Está tudo bem – respondi.

— Acho que não está não.

Virei-me para encarar seus olhos verdes.

— Matheus, você não sabe nada sobre mim.

Um sorriso se abriu em seu rosto bronzeado.

— Mas você sabe o meu nome, já é um avanço. – ele ponderou por um instante – Vamos ver... É Carolina, certo?

Franzi a testa e ri.

— Uau, nem parece que estudamos juntos desde a educação infantil.

— Carina? – chutou.

Neguei.

— Espera, é com 'A' certo? Que tal Annie?

Mordi o lábio.

— Por que está fazendo isso?

— Também não é Annie? Eu jurava que era esse!

— Deixe de ser idiota, por que está aqui falando comigo?

— Porque eu quero falar. - respondeu -  Eu quis falar contigo e voilà aqui estou eu.

— Não acredito muito nisso – respondi.

— Então me deixe fazê-la acreditar.

Depois dessa fala ele começou a fazer perguntas estranhas e conversar comigo sobre coisas banais .Era uma coisa louca, mas eu não tinha notícias da minha mãe e meu pai não me deixou ir com ele para o hospital, então eu só fiquei ali conversando com o Matheus versão gótico por um bom tempo, até ele me dar uma carona para casa.

Era como se de uma hora pra outra ele tivesse virado meu amigo. E, meus caros, isso era bastante esquisito.

— Vou te chamar de Branca de Neve – foi assim que ele começou nossa segunda conversa no outro dia.

— Como é que é?

— Você não me diz seu nome – falou – E tem esse cabelo preto com franja, além de ser curto. Sua pele é tão branca que você tem sardas nas bochechas e seus lábios ficam meio rosados quando você cora, você é tão Branca de Neve que a Disney podia te contratar para atuar nos parques em Orlando.

Ri de seu comentário enquanto caminhava pelo corredor do colégio.

— Garoto, isso é muito sem noção.

— Branca de Neve! – exclamou – É perfeito!

Revirei os olhos.

— Você sabe o meu nome, Matheus. Ontem talvez você tenha esquecido, mas hoje com certeza você já sabe.

— Talvez – deu de ombros – Mas gostei do apelido, fica até melhor que seu nome original.

— Deixa de ser ridículo – ri.

— Estou falando sério, Branca! Combina!

Seus passos eram rápidos para acompanhar os meus, porém ele me interrompeu quando segurou meu braço.

— Ei, topa sair comigo hoje?

Quê?

— Sair, sabe? Tomar um refrigerante...

— Não tomo refrigerante.

— Ou um café.

— Agora melhorou – pisquei e depois neguei o convite – Tenho que ir visitar minha mãe no hospital hoje.

— Eu posso ir contigo, lá também tem café.

— Você quer ir comigo para um hospital? – Eu não achei que ele estava falando sério.

— Claro – respondeu de prontidão – Você vai estar lá, eu vou estar lá e bom... Isso é sair, uma saída diferente.

Lembro-me que naquele instante pensei em recusar, pois eu conhecia Matheus e sua fama. Ainda desconfiava daquela amizade rápida que nós estávamos tendo. Porém, eu nunca tive muitos amigos além de Ibi – que estava ocupado organizando seu intercâmbio para a Flórida – e eu queria que alguém estivesse comigo naquele momento, tirando a minha família emotiva e que iria reclamar de tudo no hospital.

Então eu aceitei.

E eu nunca imaginaria no que aquilo iria dar.

— Senhoras e senhores, eu lhes apresento o maior e melhor vulcão que vocês irão ver em uma feira de ciências! – grita Larissa para o aglomerado de pessoas em volta do seu stand. A maioria pais com a obrigatoriedade de ver seus filhos.

Era começo de outubro e já fazia um mês desde que Matheus e eu começamos a conversar, na maioria dos dias ele me cumprimentava ou íamos tomar café na lanchonete do hospital. Era estranho, pois ele não conheceu meu pai nem minha mãe, mas acompanhou comigo cada notícia que chegava. Minha mãe apresentou diagnóstico de carcinoma de pulmão de pequenas células, é o câncer que se espalha mais rápido pelo pulmão e tem a forma mais agressiva.

Larissa estava de jeans naquele dia e a camisa azul da feira tinha sido customizada para virar um top em que um laço se amarrava em seu abdômen e podia-se observar seu umbigo. Os cabelos tingidos de ruivo presos e um óculos, que eu tinha certeza que não tinha grau, encontrava-se em seu rosto, tudo isso para parecer ''intelectual''.

— Para inaugurar essa beleza da ciência – tentei não rir de como ela falava do vulcão de vinagre e bicarbonato de sódio que toda criança faz – Chamo ao palco minha querida amiga Anna Clara Bennet!

Ergui os olhos surpresa e me deparei com toda a multidão virada para mim.

— Venha cá, querida amiga – chamou – Preciso de você.

Uma mão pegou meu braço e eu vi Cristina me empurrar em direção ao vulcão de Larissa. Os pais abriram um corredor para eu passar e vi as outras pessoas do grupo ao lado dela: Matheus, Theo Gonzalez e até mesmo Gustavo Narcoli.

— O que é isso, Larissa? Não sou sua amiga – respondi quando cheguei ao stand e fiquei de frente para o vulcão gigante que tinha metade da minha altura.

Desde que eu era pequena Larissa não ia com a minha cara. Eu nunca fiz nada com a garota, mas tenho sérias desconfianças que ela mostra um ego gigante para esconder a autoestima baixa que tem. Ela simplesmente quer ser a melhor em tudo! Eu não sou lá essas coisas em beleza e não ligo de ser quase invisível para todos na minha escola, porém sempre achei que Larissa assistiu muito filme de adolescente americana e queria achar aquela menina pra depositar seu ódio mortal. Simplesmente ela me abomina e me transformou no terror da sua vida.

Seu braço me puxou pra mais perto e ela abriu um sorriso gigantesco quando pôs o microfone perto dos lábios e disse:

— Chegou a hora, pessoal! 1, 2, 3 e...

Ela apertou o botão no mesmo momento em que Cristina me mandou sorrir e com uma grande explosão eu e mais algumas pessoas que estavam próximas ficamos todos cobertos de vinagre e tinta.

Depois de um momento de surpresa, limpo meus olhos pra encarar o grupinho que começou a rir da bagunça que fizeram.

— É só isso? Acabou? – rio também – Isso é tão patético!

Larissa gargalhou, aquela menina devia fazer um curso de teatro pra ser vilã de novela.

— Se acabamos, Anna? Não, ainda não acabamos – falou com o microfone nos lábios – Minha gente, essa aqui é Anna Clara Bennet, a nerdizinha querida pelos professores, a preferida nas reuniões, o orgulho do colégio!

Um silêncio pairou pelo recinto e eu ergui as sobrancelhas para o que estava por vir.

— Sabem por que ela é tudo isso? Sabem por que ela recebe tanta atenção da equipe docente dessa escola? – questionou e sorriu – Ah, sim! É por pena! Peninha da garotinha com a mãe doente, a coitadinha que vive indo da escola para o hospital, ai gente!

Ela fez um bico de tristeza, mas eu imediatamente virei meu rosto para o cara de olhos verdes ao seu lado. Só ele sabia.

— E a mãe dela tem câncer, gente! Câncer de pulmão ainda, tão trágico! – continuou Larissa – Parece até aquela menininha daquele filme das estrelas, não é? Sua mãe fuma, Anna? Ela fumou tanto que agora está assim desse jeito? Isso é consequência de muito tabaco, hein.

— Larissa, chega! – interrompeu Gustavo que estava com os olhos arregalados para a cena.

— Ela vai morrer, não vai? Coitadinha da vagabunda. Que peninha da filha dela, hum? Ah, espera aí, acho que ela já morreu – virei-me abismada e ela balançou o celular na minha frente – Já falei que meu pai é médico, Anna? É fácil conseguir informações das enfermeiras. Se quiser eu te ajudo a pagar o enterro e...

Dou-lhe um tapa. O estralo ecoando por todo o pátio do colégio. Larrisa olha pra mim com ira,  preparando-se para avançar. Mas a raiva emana de mim, o pulso quente da revolta reinando em todo meu ser e a vontade de meter a mão mais uma vez em seu rosto é forte.

— Olha aqui, sua desgraçada!– braços a seguram e antes que eu possa bater mais um pouco, uma mão pressiona a minha e vejo Ibi.Seus olhos me passam a racionalidade que se esvaiu de mim. Pego o celular que caiu no chão com o meu tapa e leio a mensagem uma dúzia de vezes antes de fuzilar a dona dele.

— Isso aqui é verdade? – perguntei com minha voz se tornando cada vez mais alta – Essa informação é verdadeira, Larissa?

— Anna, se acalme – meu olhar se voltou para a voz que falou comigo.

Ah, não. Ele não teria a cara de pau de falar agora. Não nesse momento.

— Parece que eu estava certa, não é? – rio pro nada – Não era um completo acaso você ter vindo falar comigo naquela tarde, Matheus.

Virei e dei as costas para a grande confusão que começou, já que os pais compreenderam a tamanha babaquice que estava acontecendo. Abracei-me a Ibi que me ajudou a chegar ao hospital, ainda com tinta e vinagre nas roupas e cabelo. Quando cheguei lá, meu pai ainda não tinha tido coragem de ligar pra mim.

Minha mãe havia morrido uma hora atrás. Teve parada cardíaca durante uma biópsia pulmonar, um dos procedimentos de acompanhamento do câncer.

— Anna? – uma voz grossa chama. – Anna, tudo bem?

Abro os olhos por um instante e vejo meu professor de história franzir a testa para mim e sorrir.

— Olá.

Levanto-me na mesma hora, ainda meio grogue e observo que todos os alunos já haviam saído da sala.

— Ah, meu Deus – murmuro e encaro Daniel com um arregalar de olhos – Eu dormi a aula inteira? Sério?

Ele ri e encosta-se ao seu birô.

— Não se preocupe com isso, eu dei Revolução Francesa – comenta – E você é ótima nesse assunto.

— Ah, caramba! – exclamo – E ainda por cima perdi uma das minhas aulas preferidas?

— Você só estava cansada, Anna – responde e começa a pegar suas coisas – Tente descansar mais, ok? Senti falta de seus comentários criticando que eu esqueci alguma coisa.

Avermelho e concordo, já colocando a mochila em meus ombros.

— Desculpe-me, professor. Não vai mais acontecer, prometo.

Saio da sala e a primeira coisa que faço é esbarrar em ombros largos que me seguram antes que eu perca o equilíbrio.

— Ei, Anna – chama Matheus e ergue as sobrancelhas pra mim - Tudo bem?

Pisco por um momento para que minha mente não se recorde daquela mesma pergunta que ele me fez na nossa primeira tarde juntos.

— Tudo ótimo – respondo com um sorriso e solto suas mãos dos meus ombros – Completamente maravilhoso!

Ele ainda parece desconfiado.

— Ok, então quer almoçar comigo hoje? – pergunta – Assim podemos pegar o ônibus juntos e teríamos tempo de...

— Claro! – respondo na mesma hora, talvez rápido demais – Mas eu preciso ir ao banheiro primeiro.

Ele pondera por um instante e assente.

— Quer que eu segure suas coisas?

— Não, está tudo bem.

— Então...

— Me espera na saída – falo e viro-me no mesmo instante para entrar na porta do banheiro.Assim que entro enfio a mão em um dos bolsos da mochila e digito com rapidez o número da Flórida.

Hey, garota linda da minha vida! – Ibi exclama – O que houve?

Merda, eu ia acabar com a conta do telefone.

— Ibi, acho que eu fiz uma besteira.

— Adoro quando você diz isso – responde ele – Transou com alguém? Diz que foi com aquele gostosão do seu vizinho!

— Ai, meu Deus! Não!

— Que triste – lamenta e suspira – Tem certeza que ele não é gay, Clara?

— Ele é casado, Ibi.

— Mas podia ser gay, oras! Tem muito homossexual incumbido em casamento, gatinha.

— Eu sei disso, mas o nosso assunto definitivamente não vai ser esse.

— Certo. Diga para o tio Ibi que tipo de besteira estamos falando?

— Aceitei um acordo com o Matheus. – respondo – E não sei se isso foi uma boa ideia.

— Você vai transar com o Matheus?! – ele quase grita e eu tiro o celular do ouvido por um instante – Tudo bem que ele foi um imbecil no passado, mas se ele pediu desculpas... Ai ai, aquele corpo!

— Eu não vou transar com ninguém, Ibi Gabriel! – ralho.

— Acabou com minha alegria – responde – Mas vamos lá, fale-me do tal acordo.

Conto tudo que tinha acertado com Matheus ontem e ele ouve com atenção enquanto falo. Quando termino, ouço uma risada do outro lado da linha.

— Não foi melhor do que ter transado com o gostosão, mas chegou perto! Adorei!

— Menos brincadeira e mais sinceridade, por favor.

— Desculpe, é que aqui às vezes fica tão chato, Clarinha. Acho que estou com saudades do Brasil – reviro os olhos para seu drama, já que eu queria estar no lugar dele curtindo as praias da Flórida – Porém, para não fugir do assunto, digo-lhe: Faz três anos que tudo aconteceu e eu sei que ele ainda faz babaquices, mas ele amadureceu também, Clara.  Pelo menos um pouco.

— Acha mesmo?

— As pessoas precisam amadurecer, faz parte da vida. E você tem um coração tão bom por ter ajudado ele mesmo depois de tudo, então não acho que você fez uma besteira. Pense em todas as coisas boas que poderão vir disso.

— Ajudar os dependentes – falo.

— E tirar uma casquinha daquele abdômen tanquinho colado ao seu em uma aula de dança.

Rio.

— Você não tem jeito.

— Faça como se fosse um presente para mim! Assim você pode escrever cada ondulação daquele tanquinho e caramba... Clear, acho que estou ficando excitado em plena praia.

— Ibi!

Ele ri.

— É brincadeira, mas bem que poderia ser verdade. Vai lá pro seu acordo que eu vou ficar aqui tomando bronze – fala – Beijos de luz.

— Beijos – despeço-me e faço uma careta quando olho pro espelho.

— Muito bem, Anna – digo para o reflexo – Você consegue fazer isso.

***

— Caramba, jurava que você tinha morrido no banheiro.

— Ah, você ia adorar que isso acontecesse, certo? – sorrio e o encaro – Vamos logo.

Ele está jogado na área gramada do colégio com o moletom sobre os olhos.

— Estou sem coragem de levantar.

— Sério? Vamos ver se sua coragem aparece quando eu chutar o meio das suas pernas.

Ele imediatamente tira o casaco do rosto e me fita.

— Garota, o que aconteceu com você e aquele banheiro?

— Só estou dizendo que sua posição está maravilhosa para um belo chute naquele lugar – respondo e pisco-lhe – Levanta, Matheus.

Ele revira os olhos e se levanta colocando a mochila nas costas.

— Já que perdemos um bom tempo iremos pegar alguma coisa lá perto mesmo, ok? – falo e começo a caminhar em direção ao ponto de ônibus – Algum problema pra você?

— Sem problemas.

— Certo.

Pegamos o ônibus ambos calados e, logo após comprarmos sanduíches no subway, começamos a andar em direção à instituição. Só quando chegamos ao primeiro andar de um dos prédios velhos e ele se joga no sofá que ergo as sobrancelhas para o silêncio.

— Perdeu a voz? – questiono.

Ele me olha por um momento.

— Não. Mas se quer saber – lança-me uma piscadela – Você está bonita hoje. Se a camisa fosse mais decotada poderia até dar uma de professora sexy.

Suspiro e ignoro.

— Alguma dificuldade específica? – ele se senta ao meu lado, arrastando a mochila junto.

— 'Tudo' pode?

Ergui as sobrancelhas.

— Não pode não ter aprendido nada o ano inteiro! É impossível!

Ele sorri.

— Nada é impossível, contanto que acredite. Não é isso que dizem?

— Então acho bom que você acredite muito nesse mantra, porque passar você de ano vai ser missão impossível.

E respirei fundo antes de começar.

Não que eu fosse acostumada a dar aulas, mas depois que passei a gabaritar quase todas as provas... Era mais ou menos conhecida como uma milagreira. Não dá pra contar quantas pessoas já  me pediram para passar cola durante as provas ou as outras que me imploravam por uma revisão de véspera .Às vezes eu me perguntava o que essas pessoas fazem em casa, se nem pelo menos pegam os livros antes das provas.

Matheus era um caso á parte. Era visível que tentava se esforçar – fazendo acordos e aparecendo para a aula que eu daria – mas ele simplesmente não conseguia! Sério, o cara tinha alguma coisa que atrapalhava sua mente. Eu já o flagrei olhando para o céu, para o chão, para o teto... Ou até mesmo no meu rosto, sem parecer me enxergar. O garoto se perdia em pensamentos!

— Ei? – falo, já que estava esperando por uns dez minutos a resposta de uma pergunta.

— Oi?

Faço uma careta.

— A resposta é...?

— Ah – ele pareceu coçar a cabeça por um cinco segundos. Os cabelos castanhos ficando mais rebeldes do que já estavam – Desculpe, pode repetir?

— O. Que. Foi. O. Macartismo. Na. Guerra. Fria? – repeti pela segunda vez, pausando em cada palavra.

— Sei lá – sua testa se franziu – Uma feira de macarrão? Sabe, Macartismo... Macarrão...?

Fechei o livro e me levantei. Fazia uma hora que estávamos ali e ele não tinha ouvido se quer uma sílaba. Daqui a pouco teríamos que começar o serviço comunitário.

— Não vou ficar aqui pagando de palhaça enquanto você me faz de idiota.

Ele se levanta também. A camiseta do uniforme estava tão amassada que parecia que ele estivera dormindo. Tento andar, mas ele agarra meu braço.

— Não estou te fazendo de idiota, Branca. Estou tentando ouvir, é sério!

— Sei disso – murmuro e elevo a voz – Só que estou aqui há mais de uma hora tentando colocar algo na sua cabeça e você presta mais atenção no vento!

Seus olhos se fecham.

— Está tão na cara assim?

Solto suas mãos do meu braço e espero uma resposta. Ele franze a testa, ponderando o que vai falar.

— Estou com alguns problemas em casa, só isso. Minha mãe quase não para de trabalhar e quando para é pra me dar bronca, minha prima está irritada comigo desde que meu boletim chegou e Larissa... Larissa está sendo a garota mimada de sempre. E tem outra coisa também, algo mais sério.

— O que quer que eu faça? – indaguei - Ficou carente? Precisa de mais atenção do que já tem? Quer que eu cante uma música de ninar e fale frases de efeito?

Ele ri com minhas perguntas e toca minha cintura de leve.

Franzo a testa.

— Uma dança e eu faço de tudo para passar em uma prova. Que tal?

— Matheus... – sussurro.

— Está na hora de você deixar de ser tímida, Branca.

 


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Notas finais do capítulo

Quem leu a versão anterior lembra desse final? Hahaha dessa vez não tivemos a querida Helô que foi tão adorada por vocês (Principalmente a Doreen), porém prometo que logo ela e outros personagens que não estão tendo muito destaque irão voltar! Esse é apenas o começo de tudo, pessoas.
Agradeço novamente o apoio de todos vocês ♥ vocês são uns lindos, de verdade!
PS: Grata as pessoas que comentaram no capítulo 5 da primeira versão: Narelly Fell, Fanfic Sagas, Karine Gonçalves, Lari, Blue, Daughter of Sun e Duda!