Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 27
Vinte e Quatro - Matheus


Notas iniciais do capítulo

Hey! Caramba, que saudade disso aqui ♥
Como vocês estão? O que andam fazendo? Ainda estão aí...? Bom, independente das respostas, espero que esteja tudo bem e, caso não esteja, estou torcendo muuuuuito para que fique, viu? Eu sei que não é muito significativo, mas as vezes a gente só precisa falar com alguém ou ouvir uma palavra amiga do lado de fora da bolha, então lá vai: "Pode está tudo um caos (sua vida, o Brasil, a vida de quem tu gosta), mas não se esquece de ver o quão forte você é e o quão importante é preservar sua saúde mental, tá? Resiliência, gente ♥"

Sabe, existem vários tipos de bloqueios e eu denominei de "Bloqueio de fim de história" para o caso do meu. Nada a declarar a não ser os sintomas clássicos: desestímulo, frustração e nunca achar que está tudo bom o suficiente. Para quem acha que escrever é fácil, bem... Pra mim não é tão assim, AMO isso aqui, mas tem vezes que fico semanas em um mesmo capítulo, lendo e relendo, trocando e editando... Sou uma autora complicada e perfeccionista, quero terminar do jeito certo. E sinceramente as vezes realmente bate a bad e não rola. E está tudo bem. Então espero que me perdoem tanto pela demora quanto pela sinceridade.

Anyway, capítulo novinho pra vocês! Tenho muuuuita coisa a falar lá embaixo, mas vou deixar vocês lerem primeiro. Boa leitura!

AVISO DE GATILHO: cenas com menção a crimes digitais, como revenge porn e cyberbullying. Pesquisei bastante antes de escrever esse capítulo (mais um motivo da demora), porém mesmo com a teoria, na prática as vezes acontece muito diferente. Então peço perdão se não fui muito coerente ou verossimilhante (se notar isso, fala comigo ♥ críticas construtivas são maravilhosas)



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R E V O L T A

(s.f. definição na narração)

 

Revolta.

É um sentimento peculiar, eu diria. Uma coisa forte que dá dentro do peito quando nos sentimos insatisfeitos com algo ou alguém. As vezes a revolta é tão grande que você se sente mal: as mãos coçam pra fazer algo, a pele se arrepia e você não consegue falar porque lhe faltam palavras para expressar alguma coisa. Revolta é o que a gente sente com as injustiças sociais, com a morte de gente inocente, com os projetos estúpidos de alguns parlamentares... E, óbvio, quando desrespeitam a morte de uma vítima de estupro e divulgam fotos dela nua.

Puta merda. As palavras de Anna ainda ecoam na minha mente enquanto eu me levanto apressado e me controlo pra não esmurrar a primeira parede que vejo.

Controle-se, Matheus.

— Eu tenho vontade de encontrar Theo agora e...

— Nem pense nisso. - a voz feminina me interrompe como se fosse uma maldita consciência - Se você der uma surra nele agora vai atrapalhar todo o processo judicial, Matheus. E pior: não vai resolver porra nenhuma.

Sinto dedos tocarem delicadamente minhas costas e descerem pela linha da minha coluna cervical. Eu estou encostado com a cabeça na parede, os punhos cerrados, mas só o movimento vagaroso que ela executa pacientemente me faz respirar fundo outra vez.

— Não acredito que ele foi capaz de fazer isso - falo baixinho, ainda sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo.

Penso nas fotos de Helena, nas posições desumanas que ela se encontrava, no corpo nu contraído... Deus, aquelas fotos deveriam ser queimadas e não divulgadas em grupos de gente fútil no WhatsApp!

— Theo é um babaca. Há uma falta de humanidade gritante em uma pessoa que comete uma violência sexual tão premeditada como o que ele fez com Helena- responde Anna e fica em silêncio por um minuto - Mas... Bom, também temos que pensar que pode não ter sido ele.

Ergo as sobrancelhas para sua fala e viro-me para olhá-la. As mãos agora na cintura, o queixo erguido e a expressão petrificada em determinação. Uma heroína pronta pra defender a todos.

— Como assim? - pergunto.

— Tinha mais três pessoas envolvidas, Matheus. Duas ligadas indiretamente ao ocorrido e uma que provavelmente fotografou Helena. Estamos focando totalmente em Theo por tudo que ele fez... Mas não temos nada sobre essas outras pessoas! Apenas sabemos que é um homem e duas mulheres.

Penso sobre o assunto e assinto em concordância. Porém, mesmo assim, a vontade de esganar Theo continua viva dentro de mim.

— Vou falar com Rodríguez. Contar o que aconteceu e comentar sobre essas pessoas. O que eu não entendo é porquê postar isso agora...

— Eles também podem querer incriminar você - interrompe Anna com os olhos arregalados. A mente maquinando em possíveis suposições - Era o que Theo queria no começo, não era? Que você divulgasse as fotos e levasse a culpa. Tudo isso em troca de uma maldita proteção pra mim. A aposta pode ter acabado, mas talvez ele ou outra pessoa queira culpabilizar você. Isso provavelmente até deixaria o processo instável, já que somos nós que estamos auxiliando nas investigações.

Franzo a testa com sua constatação porque eu contei tudo à Rodriguez sobre meu envolvimento com as fotos e lhe entreguei o pen-drive que me incriminava. Porém, infelizmente a palavra ainda era apenas minha porque as outras pessoas, além de Theo, que estavam naquela festa e viram eu fazendo a aposta não quiseram testemunhar sobre o ocorrido. 

Mas que merda! Penso nos planos pra hoje e como eu absolutamente não queria que aquilo acontecesse.

— Sabe, isso não era pra acontecer - murmuro - Eu planejava ficar aqui com você até um pouco mais tarde, dançar mais um pouco, esquecer a loucura que está acontecendo e te beijar até seus lábios ficarem vermelhos sem ser de batom.

Sorrio porque a vejo corar levemente e morder o lábio logo em seguida. Ah, Anna Clara Bennet.

— Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades - ela fala com um dar de ombros, fazendo-me rir.

— Você acabou de citar Homem-Aranha pra mim?

— Na verdade, eu acabei de citar o Tio Ben pra você. Mas sim - ela sorri - E essa frase é verdadeira. Eu adoraria fingir que essa bagunça toda não existe e acreditar que vivemos em um mundo utópico e ideal, mas...

— Mas isso seria se iludir - concluo.

E ela está certa.

Seria muito legal se realmente pudéssemos ligar o foda-se e acreditar em um planeta perfeito. Em momentos assim, muitas vezes o que mais queremos é uma maldita válvula de escape ilusória. Porém, pior do que viver em um mundo problemático e presenciar barbaridades como a cometida com Helena, é ser ignorante em relação às problemáticas que estão acontecendo e não fazer porra nenhuma pra ajudar de alguma forma.

— Você está certa - digo - Como sempre.

E eu sinto isso. Porque, independente da minha vontade de esquecer de tudo e ficar com ela aqui, sei o que é prioridade e fico satisfeito de ter, pelo menos, um pouco de poder para efetivar a justiça por Helena.

Anna sorri tristemente e olha pra trás, visualizando o lençol, os travesseiros e todas as coisas que eu arrumei para estar ali com ela hoje. Ela se vira novamente e me encara, como se já tivesse absorvido todas as lembranças daquele ambiente e as guardado pra si.

— Precisamos ir - comunica, estendendo a mão e puxando meu rosto pra baixo a fim de que meus lábios se alinhassem com os seus - Mas antes... Bom, deixe-me te agradecer por tudo que fez hoje, namorado.

Namorada.

Porra, essa garota se tornou minha namorada. Depois de tudo, ainda era meio inacreditável.

Antes que eu possa piscar, seus braços já se encaixaram ao redor do meu pescoço e seus lábios sorriem ao se encostarem nos meus. O beijo de Anna ainda tem o gosto doce das uvas que comemos e eu chupo seu lábio inferior... Querendo provar mais daquilo que ela oferece. Sinto sua pele arrepiada quando toco sua cintura, o suspiro saindo pela primeira de vez de mim quando ela desvia da minha boca para percorrer minha bochecha, queixo e pescoço. Anna Clara Bennet nunca se contentou com pouco e se ela quer mais... Bem, ela pega.

— Anna...

Sinto ela apertar mais forte o abraço em torno de mim, os dedos deslizando pela minha nuca, arrepiando-me com seu carinho.  Assim, minhas mãos se movem de sua cintura para o seu quadril, toco a textura dos bolsos do seu jeans com os dedos e respiro fundo porque sei que provavelmente estamos indo mais longe do que o previsto. Longe demais para aquele momento.

— Pronto - ela sopra as palavras no meu ouvido, depois de beijar novamente minha bochecha - Agora podemos ir.

Franzo a testa quando ela se afasta um passo. Agora? Depois disso tudo ela quer se afastar agora?

— Você é horrível.

Ela ri, cruzando os braços e dando de ombros, uma expressão inocente emoldurando o rosto.

— Eu já te agradeci, Matheus - sorriu - E convenhamos que foi um ótimo agradecimento.

Tento tocar novamente sua cintura, mas ela se afasta pegando suas coisas no chão e me entregando a cesta de piquenique com o resto dos alimentos. Ela sorri ainda mais com a minha careta, estendendo o braço pra dar dois tapinhas em minha bochecha, como se eu fosse uma criança birrenta.

— Temos trabalho a fazer, bebê.

Reviro os olhos, pegando a cesta e passando meu braço em torno do seu ombro.

— Precisamos estabelecer alguns critérios a respeito de apelidos? - questiono enquanto andamos e ela ri- Porque se formos continuar com bebê ou neném, aí...

Ela mostra a língua e tranca a porta com a chave.

— Aí o namoro vai acabar antes mesmo de ter começado. - conclui, fazendo-me gargalhar - Sério, Matheus...

— Tá, tudo bem. - dou de ombros - Prefiro Branca de Neve.

Ela ri e enquanto caminhamos para fora da instituição sinto seu suspiro baixo e seu sussurro final:

— Eu também.

***

Fomos direto pra casa de Rodriguez depois disso. O delegado nos olhou notadamente surpreso com a visita de última hora, mas logo tratou de nos servir o habitual café e nos ouvir atentamente. A verdade é que infelizmente a divulgação de vídeos íntimos nas redes sociais não é tão incomum no Brasil, tanto é que hoje existe especialistas em Direito Digital, área específica para orientação sobre crimes cibernéticos.

— Primeiro de tudo, tem que se abrir um boletim de ocorrência - ele comunica, após ficar alguns minutos pensando e alisando a barba - Geralmente é a vítima que faz isso, mas nesse caso vamos precisar nos comunicar com os parentes de Helena.

Anna arregala os olhos ao meu lado.

— Você acha mesmo que eles vão fazer alguma coisa? Depois de tudo que Helena disse na carta aquelas pessoas são tão...

— Anna. - interrompo, apertando sua mão - É o procedimento habitual.

— Mas...

— Ela era de menor, uma completa vítima. Eu os comuniquei do processo judicial envolvendo Theo Gonzalez e eles concordaram em seguir com a acusação  - complementa Rodríguez com um olhar sensato- Eles estão ao lado da justiça, Anna.

Ela o encara chocada,  uma expressão semelhante a minha própria. Depois da hipocrisia e conservadorismo dos pais de Helena, citados por ela em sua carta, não imaginei que eles um dia se envolveriam com o processo. Ergo as sobrancelhas para a expressão paciente de Javier.

— Você precisou disso, não foi? Da autorização - falei.

Ele assentiu brevemente.

— Mesmo com todo o relato que Helena fez, sua carta-denúncia ainda assim poderia ser contestada por algum advogado idiota que gosta de ganhar dinheiro desmoralizando  a vítima. Eu quis garantir a denúncia - respondeu com um dar de ombros - Foi uma conversa difícil, mas com uma ajudinha eu consegui aprovação para continuar a investigação de maneira discreta.

— Discreta? - questiono, rindo ironicamente - Com tudo que está acontecendo, não tem como ter discrição, Javier. Ainda mais depois das fotos...

Um sorriso amargo é exposto em seus lábios, uma marca de alguém que já estava acostumado tanto com o sistema de justiça defeituoso quanto com as falhas humanas.

— Bem, eles vão ter que lidar com isso.

Balanço a cabeça em reprovação, sem acreditar que, depois de tudo, aquelas pessoas se preocupavam mais com a discrição da investigação do que com a verdadeira punição do culpado. Era a filha deles, caramba!

— Mas e se demorar pra criar o boletim de ocorrência? As fotos ainda continuarão rodando soltas por aí? - pergunta Anna, franzindo a testa - Porque primeiro eu recebi de um número privado, mas  gora já está até circulando nos grupos do WhatsApp! E os comentários...

Fecho os olhos com força e me contenho pra não aplicar a mesma intensidade na mão que segura a de Anna. Nos poucos minutos do caminho entre a instituição pra cá, as fotos praticamente viralizaram. Helena já era motivo de repercussão desde o suicídio, mas com as imagens as coisas ficaram mil vezes pior. Comentários como "Tão gostosa, pena que morreu" ou ainda piores sobre seu corpo, me faziam querer esmurrar alguma coisa.

Encaro Javier franzir o cenho e tomar mais uns dois goles de café. Os olhos atentos não escondem as olheiras e as marcas de cansaço de quem provavelmente tem noites insones pensando em casos de investigação.

— O quanto antes tomarmos as providências, melhor. - declara - Amanhã mesmo contatarei os parentes de Helena, mas irei mandar alguns peritos averiguarem esse número privado pra agilizar o processo. O que eu acho estranho é trazerem isso a tona agora, já que essas fotos estão suspensas na mão de alguém já faz algum tempo.

— Você acha que também teve um motivo por trás disso - concluo.

— Sempre tem - ele ri, irônico - Só temos que descobrir qual é.

Encaro o relógio pendurado na parede, marcando quase uma da madrugada e depois olho pra Anna, a qual contém um bocejo com a mão, claramente cansada e frustrada com a situação. Passo um braço por seu ombro de maneira discreta, notando a sobrancelha erguida de Javier pelo gesto.

— Anna acha que pode ter a ver com as outras pessoas envolvidas - falo - Estamos focando em Theo, mas não verificamos os outros.

Rodriguez ainda olha mais uma vez para meu braço sobre Anna antes de franzir a testa.

— Fui até o motel quando estava investigando, não achei nada sobre as duas mulheres que apareceram no quarto. Mas peguei algumas filmagens da entrada, talvez consigamos identificar o motorista. - ele encara Anna - Por que acha que essas pessoas estão envolvidas com essas fotos?

Ela dá de ombros.

— Não sei se todas elas estão envolvidas, mas talvez uma delas - responde, encarando-o com determinação - Acho que podem estar tentando fazer a mesma coisa que Theo quis fazer no início, sabe? Incriminar Matheus com as fotos. Isso faria com que o processo atual se tornasse instável, já que o próprio Matheus está ajudando com as investigações.

Os olhos negros reluzem com conhecimento e Javier balança a cabeça.

— Mas como? Todas as fotos que estavam com Matt se encontravam naquele  pen-drive, não é? - assinto em concordância e ele continua: - Só haveria a possibilidade de incriminar Matheus se a pessoa tivesse posse dessas fotos e se conseguisse ligar ele com esse número privado que enviou as mensagens.

Penso por alguns segundos em suas palavras e então... Meus olhos se arregalam instantaneamente com a percepção. Ah, não. Minha mente rapidamente relembra a última pessoa que teve acesso às minhas coisas e que me conhecia o suficiente para saber esse detalhe. Puta merda. A imagem da garota com um sorriso falso deitada em minha cama em uma noite entre esses últimos dias aparece em meus pensamentos.

— Você sabe que Theo vai escapar dessa e provavelmente vai acabar com você no processo. - ela disse antes de ir embora - Boa sorte, Matt. Você vai precisar.

— Filha da mãe - interrompo Rodriguez com meu xingamento. Tanto ele quanto Anna se viram surpresos pra mim, mas antes disso eu já estou pegando o celular no bolso e abrindo para verificar o chip. Eu tenho dois chips com números diferentes, mas na verdade praticamente só uso um porque o outro é de uma antiga linha que minha mãe pagava. Uma linha que eu usava muito na época em que estava com Larissa.

O chip está ali, intacto. Porém, Larissa estava comigo quando o peguei na loja da operadora, uma de suas primas era atendente e me ajudou com todo o procedimento. Me lembro de uma conversa que tive com ela na época, uma coisa criminosa que sua prima fazia...

— O que foi? - Anna questiona, segurando meus braços - O que você descobriu?

Viro o celular na palma da mão, verificando que a mensagem que eu recebi veio apenas no número atual e sabendo, no fundo, que se eu verificar os gastos da linha antiga provavelmente encontrarei cobranças pelo envio de vários SMS. Merda. Meus olhos encaram os de Javier porque sei que ele percebeu que tem alguma coisa errada.

— Como eu faço para provar que clonaram meu chip? - pergunto, balançando a cabeça - Porque se realmente alguém quis me incriminar, eu sei quem foi e sei como fez isso.

— Clonagem de chip? Como diabos... - Javier balança a cabeça sem acreditar - Você quer dizer que provavelmente se eu colocar meus peritos para verificarem esse número privado, ele pode ser o seu?

Respiro fundo, antes de concordar.

— Quem foi? - Anna pergunta, apesar de que sei por sua expressão que ela desconfia de quem seja.

A noite em que Larissa chegou de surpresa na minha casa... Eu não contei a Anna, percebo, nem mesmo mencionei a visita inesperada. Puta merda.

— Larissa Medina. - falo, fitando profundamente seus olhos antes de me virar para Rodriguez - Ela veio uma noite na minha casa, praticamente para me ameaçar. Ela tem contato com Theo para conseguir as fotos, talvez até mesmo tenha as tirado. E Larissa... Bom, ela tem alguém que pode ter feito essa clonagem, alguém de dentro de uma operadora e que me conhece.

— Inacreditável - o sussurro de Anna é dito em um tom baixo um minuto depois, mas eu ouço. 

Droga.

Desde o começo dessa investigação, contei tudo à ela do que acontecia em relação a isso. Tanto das discussões com o pessoal do colégio quanto com as conversas difíceis com minha mãe acerca de eu ter me envolvido em um processo judicial. Deus, quando eu soube que Theo poderia fazer alguma coisa... Pedi que ela me contasse tudo que acontecesse com ela também! Mesmo que fosse insignificante. Porém, não contei sobre Larissa, nem mesmo pensei em contar... E sei que não tínhamos uma relação tão clara quando temos agora, mas sinto que que a magoei com meu comentário. Com minha omissão.

Javier anota o nome de Larissa e nos olha com uma sobrancelha arqueada, sacando logo que alguma coisa tinha acontecido.

— Vou investigar Larissa Medina e quero que você me dê todas as informações que souber, Matheus - comunica - Além disso, vou colocar alguns peritos no caso para verificar esse número privado e conversar com os pais de Helena.

— E quanto as fotos? Estão circulando em grupos do WhatsApp, passando de pessoa para pessoa. - questiona Anna, revoltada - O modo que Helena está exposta...

Dessa vez quem segura a mão dela é Javier. Um aperto firme  para passar uma força necessária.

— Eu posso tentar fazer alguma coisa em parceria com o pessoal que cuida dessa parte, mas Anna... Aqui não é só mais área jurídica, mas social também. Eu queria poder excluir todas essas imagens, apagar essa merda toda que apenas mancha o descanso de uma menina! Dio mio, uma simples niña! - exclama e lhe dá um sorriso triste - Mas eu não posso, infelizmente. Todas essa gente que compartilha fotos desse tipo são criminosas, querida. Compartilhar qualquer coisa  sem o consentimento da pessoa exposta é crime. É desrespeito! Ainda mais em um caso como esse. Mas a justiça não pode prender todo mundo, entende? E a educação consciente que se deveria ter... Infelizmente não se tem. Então, eu vou fazer minha parte para tirar essas fotos do ar, cabe a vocês e aos outros denunciarem os grupos que essas fotos aparecerem e, se descobrirem, denunciar o desgraçado que colocou essa droga no WhatsApp!

Vejo a garota ao meu lado assentir com determinação, os olhos cansados e a expressão de desgaste sendo substituída por um foco  extremo para fazer as denúncias acontecerem. Quando enfim pego minhas coisas e nos despedimos de Rodriguez, noto uma leve frieza que se esvai do seu olhar quando pego sua mão e a trago pra mim.

— Anna...

Os olhos cinzentos estão sérios, um mar calmo por fora e agitado por dentro.

— Tudo bem. Você não precisava ter me contado.

— Mas...

Sua mão aperta a minha de volta. Uma vez.

— Temos coisas maiores para nos preocuparmos - responde, seu lábio se repuxa para o lado em um quase sorriso - Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, lembra?

Concordo com ela e, por fim, levo-a para casa. Sei que a tentativa de conversa não vai dar em nada agora quando ambos temos tanta coisa para fazer e pensar. Na manhã seguinte, quando chego morto de cansaço para minha última semana de aula, sou surpreendido pelos cartazes espalhados pelos corredores, todos com as definições das seguintes palavras:

SORORIDADE

EMPATIA

RESPEITO

A descrição marcada embaixo com tinta vermelha:

Por Helena Sanchez e todas as garotas que foram vítimas e tiveram arquivos íntimos divulgados.

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Notas finais do capítulo

"Revenge Porn" é uma expressão que remete ao ato de expor publicamente, na Internet, fotos ou vídeos íntimos de terceiros, sem o consentimento dos mesmos, mesmo que estes tenham se deixado filmar ou fotografar no âmbito privado. É crime, atinge principalmente as mulheres (escancara-se aqui o machismo) e é muito difícil a vítima ter coragem de denunciar ou conseguir tirar todos os arquivos da rede (dependendo do site em que foram divulgados, claro). É horrível, gente! Eu pesquisei sobre esse crime e o constrangimento da vítima, independente se foi com consentimento ou não, é gritante e abala o psicológico! Então o alerta do final do capítulo, é geral. Denunciem, não julguem e nunca compartilhem, viu? Precisamos REALMENTE construir uma sociedade mais empática.

Bom, agora que já falamos sobre isso, eu preciso realmente de um retorno de coerência nesse capítulo. Tipo, eu dei uma louca ou realmente deu pra entender essa coisa todo do Matheus? Se ficou totalmente fora da casinha e sem nexo, me falem, tá? Eu fiquei tão encucada com isso hahahaha parecia uma louca editando.Só que, como já falei, isso aqui é construído com e para vocês, então eu não poderia ficar segurando esse capítulo pra sempre.

Além disso, para melhorar essa comunicação criei um instagram para poder ter um canal aberto entre leitor/escritora. Não sei se todos tem conta, mas o perfil é apenas para divulgar algumas coisas, colocar alguns quotes, curiosidades e conversar sobre as atualizações. Já ficou nítido que eu tô meio conturbada pra escrever hahahaha mas eu quero terminar isso, então lá eu vou poder dizer como está sendo o processo de escrita, a previsão de postagem (vai que vocês me incentivem a postar mais rápido hahaha) e posso liberar uns trechos antecipados... É só seguir @escritosdali, tá? Vou estar quase sempre por lá.

Acho que é isto. Ainda estou em um processo de responder todos os comentários, maaaas preciso deixar aqui meu MUITO OBRIGADA as maravilhosas Alex, Geo, Teen Spirit, Rafa, Lauriana, Sun e Bella ♥ não sei se vocês ainda estão por aí, mas saibam que mesmo eu demorando éons pra responder, os comentários de vocês me fizeram tentar escrever o capítulo de novo e de novo, mesmo frustrada. Vocês me dão inspiração e isso é tudo que um autor pode desejar de melhor. Vou responder os comentários das que faltam daqui a pouquinho no ônibus, viu? Aqui é cada coisa em um lugar diferente hahahaha

Beijão e até,






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