Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 15
Catorze - Matheus


Notas iniciais do capítulo

Saudações, seres humanos! Como vão a vida de vocês? Espero que tudo certinho,
Ah, já falei que vocês são maravilhosos? Vocês SÃO maravilhosos! Sério, estou adorando o feedback que vocês estão dando, particularmente as perguntas e teorias, eu amo respondê-las! ♥ obrigada, viu? Ah, e sejam bem vindos, leitores novos! Fico feliz que tenham chegado até aqui e espero que continuem gostando.

Não pude postar semana passada, mas aqui estou eu com mais um capítulo do nosso querido Matheus. Boa leitura e espero que gostem! ♥



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C O N F I S S Õ E S

(s.f. Demonstração dos seus próprios pensamentos, sentimentos, conhecimentos.)

 

Bato na porta de madeira sucateada e espero por um momento.

— Eu sei que você está aí, Rodriguez. - resmungo - Eu preciso da sua ajuda.

Encosto a cabeça na madeira, mas nada se mexe. Ele me ignora. Mas que merda.

— Vamos lá! Abra essa maldita porta, eu sei que seu endereço não mudou - falo - Meu pai iria te esganar se soubesse que você ainda mora nessa espelunca.

A porta se escancara tão rápido que eu quase tombo pra frente. Os olhos negros e experientes de Javier Rodriguez aparecem para me encarar com irritação e um fiapo de curiosidade. Mesma coisa de sempre.

— Seu pai está morto, garoto. Enzo só irá me esganar quando eu estiver no além junto com ele - responde com grosseria, cruza os braços e ergue as sobrancelhas - Em que problema você se meteu agora, Matheus?

Tento não abrir um sorriso, mas falho miseravelmente. Rodriguez foi um grande amigo do meu pai, talvez um dos únicos amigos de verdade que meu velho teve. Apesar de ser alguns anos mais velho,  eu sempre os via juntos, mesmo com profissões tão diferentes.

— Como você sempre sabe das coisas, hein? - questiono e ele abre a porta para que eu possa despejar toda as minhas idiotices  ao som de Guns N' Roses.

Quando termino de contar a história e ouvir seus xingamentos em espanhol, seus ombros relaxam no sofá. Eu quase rio, seu jeito agressivo e pesado confundia muita gente, mas eu sempre soube que o cara que se formou em Direito e prestou o concurso para delegado era inteligente demais para ligar pras fofocas. Rodriguez era simplesmente  foda em seu trabalho, não recebia suborno de ninguém e já teve mais tentativas de morte do que eu posso contar nos dedos da mão. Seu rosto contorcido era mostra que, independente das imprudências que  cometi, Theo Gonzalez tinha seu ódio e ele queria dar um jeito naquilo.

— Cristo, moleque! É isso que os jovens fazem hoje em dia? Bebem pra porra em uma festa e vivem desrespeitando as meninas? Eu pensei que ainda estávamos na parte do vício no mundo digital, mas agora parece que vocês estão fazendo coisas mais sérias do que postar foto naquele Estagrama.

— Instagram - murmuro rindo e dou de ombros - Não me inclua tanto nesse meio, eu vou para algumas festas sim e já bebi muito, mas nunca desrespeitei uma garota, Javier.

Ele toma mais um gole do café  na caneca e permanece olhando pra mim. Ajeita a camisa azul quadriculada e ergue as sobrancelhas.

— Mas você desrespeitou a dor daquela menina, rapaz. Lembra-se disso?

Suspiro. Mas que porra de cidade é essa que todo mundo sabe do que fiz pra Anna?

— Olhe, eu ainda me culpo bastante por isso, ok? Não foi nada legal, mesmo sem intenção, eu sei. Só que agora eu quero protegê-la, Rodriguez. Eu sei que eu não posso fazer muita coisa,  muito menos jogar a segurança dela em apostas desse jeito. Mas Theo Gonzalez é um maníaco e precisa ser detido.

— Claro que esse babaca vai ser detido! - resmunga, irritado - Já me viu deixar alguém assim impune? Eu já prendi muita gente ruim nesse Brasil, Matheus. E os piores casos pra mim sempre serão  os de pedofilia e abuso sexual. Além dos preconceitos, como homofobia e racismo. Você sabe porque entrei na área, eu fico louco com cada caso desses.

— Eu sei. - confirmo.

Javier é brasileiro, mas seus pais são mexicanos, assim como sua irmã mais velha Graziela.  Ela é quem conta a história da família que migrou para os Estados Unidos em busca de melhores condições, mas sofreu tanta xenofobia, que resultou na morte do pai de Javier e no molestamento de Grazi, esta que tinha apenas sete anos na época. Ambos acontecimentos sem punição legal da justiça estadunidense. Após isso a mãe de Javier, grávida dele, veio se refugiar com uns parentes distantes aqui no Brasil junto com a menininha.

A história era triste, mas foi o motivo de Javier entrar em Direito. Além disso foi na faculdade que ele conheceu meu pai, um italiano calouro que iria fazer administração, mas que sempre sonhou com a dança. Meu pai sofria preconceito pelo seu sotaque pesado de quem não sabia falar português direito, já Javier era excluído dos grupinhos por causa de sua pele negra. Um acabou ajudando o outro.

— Eu vou ajudar você - Rodriguez comunica, tirando-me dos meus devaneios - Mas como você está falando comigo fora da delegacia, primeiro começaremos a procurar provas que te inocentem com essas fotos. Assim, tendo essas provas, eu posso denunciar a pessoa que fez isso e vasculhar tudo para excluirmos cada uma das imagens de Helena.

— Claro - confirmo - O problema é que para isso precisamos falar com Helena e ela praticamente saiu da escola. Somente ela e Theo podem testemunhar sobre aquela noite, só assim saberemos se mais alguém estava lá. Não foi dia de festa, nem nada comemorativo. E as fotos não mostram nada informativo.

— Eu chuto que tenha sido em algum motel - comenta, coçando os olhos de cansaço - Alguns tem uma fiscalização maior, porém ainda tem muitos que deixam passar menor de idade. Ainda mais se ele pagou por isso.

Ótimo! Agora contei pra todos que poderiam saber sobre essa droga de aposta e não temos nada.

— Não tem como rastrear o local pelas fotos, talvez? A polícia não tem algum mecanismo pra isso?

Dessa vez Javier realmente gargalha.

— Depende de qual polícia você está falando, filho. A brasileira com certeza não tem. Não minha delegacia, pelo menos - ri - Acho que você está assistindo muito daquelas séries norte-americanas.  Aqui a investigação é no modo antigo e infelizmente a maioria dos casos são arquivados.

Levanto-me para me despedir e ele aperta forte minha mão.

— Mas não se preocupe, Matheus. Seu pai era um cara admirável e vejo que o filho dele também herdou isso, mesmo com alguns percalços e idiotices. - sorrio com isso - Vamos fazer justiça por essa Helena e, se depender de mim, nenhuma Rita, Joana, Graziela ou mesmo a sua Anna irá sofrer nas mãos desse maníaco de novo.

Agradeço a ele com um abraço amistoso, um misto de saudade do jeito do meu pai quando era mais jovem passando por mim. Com um aceno, saio da casa e começo a pensar em como vou contatar Helena. Olhos tempestuosos com um sorriso de canto surgem em meus pensamentos no mesmo momento. Anna.

Reviro os olhos e sorrio ao pensar na garota teimosa que está me deixando louco nos últimos dias. O que eu falei no seu ouvido há alguns dias atrás era um fato verdadeiro, eu bem que queria ficar com ela. Céus. Era incrível como as pessoas julgavam pela aparência, como Larissa e os outros do colégio rotulavam Anna como chata, sem sal ou esnobe. No temível dia em que a conheci, com intenções completamente idiotas, me surpreendi com a menina sarcástica, inteligente e misteriosa que eu encontrei. Agora, alguns anos depois, o mistério é elevado ao quadrado e, mesmo que não notem, ela se tornou uma mulher forte, atraente e bonita. Uma mulher que eu realmente queria ficar. Pra caralho.

Ironicamente o pensamento descontrolado sobre Anna me leva a ficar em frente a outra porta. Esta feita de madeira mais escura e bem maior que a de Rodriguez. Era final de semana, então torço pra que tenha gente em casa.

— Já vai! - grita uma voz masculina que presumo ser do pai de Anna. Thiago. Um dos caras mais loucos e animados que já conheci.

A porta faz um ruído ao ser escancarada e um homem magricelo  aparece com um sorriso no rosto.

— Matheus, meu caro! - saúda e me puxa pelo braço pra dentro da casa - Já veio cortejar minha menina? A essa hora da manhã? Vejo alguém  compromissado aqui, hein.  Gostei disso!

Engasgo com sua frase e puxo a mochila das costas para sentar no sofá junto com ele. Como eu fui parar de um "bem que queria" para um cortejo romântico?

— Na verdade, eu vim tirar algumas dúvidas de... - ele me olha com um sorriso malicioso como se eu fosse engravidar Anna ao subir as escadas - ...Física. O assunto é gravitação universal, sabe? Não sou muito bom.

Noto o avental colorido pendurado em seu corpo e ele sorri ainda mais.

— Claro, claro - confirma - Realmente o amor mexe com a gravidade das pessoas, não é? Pelo menos é isso que dizem.

— Mas eu não quis dizer...

— Pra sua sorte, Matheus - ele me interrompe e se levanta - Eu sou um pai bastante liberal e preso pela vida sexual da minha filha. Eu li em uma revista que a liberação dos hormônios durante o coito favorece a sensação de relaxamento, sabe? E a Clarinha anda tão estressada ultimamente que talvez seria bom...

Porra.

— Senhor, eu juro que eu não... - tento interrompê-lo.

— Sem desculpas, Matheus. Eu sei o que os jovens de dezoito anos pensam nesse estágio da vida. Só quero que usem camisinha para não me dar netinhos agora. Eu os quero, mas...

— Pai, pelo amor de Deus, do que você está falando? - uma voz estridente fala da escada e imediatamente viro-me para encarar Anna Clara Bennet com sua irritação constante, olhos cinzentos e bochechas vermelhas. O corpo maravilhosamente vestido em um baby doll surpreendente e que me faz encarar suas pernas como um tarado momentâneo. Cristo. - O que diabos você está fazendo aqui,  Matheus?!

Me seguro para não encarar a pele branca de suas pernas expostas e miro seu olhar confuso.

— Eu vim para...

— Praticar o coito com você, Anna! Não é claro? Ele quer algo que tire a gravidade dele, que o faça levantar.

Eu acho que avermelho com essa. Jesus. A pior coisa da vida é ver o pai da sua parceira de dança falando frases depravadas em relação a você.

— Gravitação universal! - respondo rápido quando vejo Anna me olhar assustada - Eu vim tirar dúvidas de gravitação universal, Branca. Sabe? Física, leis de Kepler, planetas...

— Leis de Kepler? - Thiago questiona baixinho pra mim - É algum novo Kama Sutra?

Tento não rir com sua confusão, mas Anna usa as mãos para descer a barra do short um pouco mais e se esconde parcialmente perto da parede.

— Pai, eu acho que as coisas estão muito confusas. - diz e me encara meio raivosa - Matheus veio tirar dúvidas de física, gravitação universal é um dos assuntos da física. Eu vou subir pra me trocar e ficaremos estudando na mesa do quintal, tudo bem?

Ela sobe os degraus com rapidez sem ouvir a resposta.

— Ahhh - Thiago assente e dá de ombros - Tem certeza que vocês não querem mais privacidade? Eu posso fingir que tenho compras pra fazer e deixo vocês um pouco sozinhos.

Pondero minhas palavras,  apesar de querer conversar a sós com Anna sobre o caso Helena, não posso deixar escapar essa vontade. Se com um mero comentário sobre física já fomos parar em sexo, imagina isso? Ele iria começar a planejar nosso casamento.

— Não, está tudo bem, Thiago - respondo e ele confirma antes de me apontar a mesa do quintal.

Alguns minutos mais tarde vislumbro um corpo pequeno passar pela porta da cozinha e caminhar rapidamente para onde eu estou. Os cabelos alinhados e presos em um coque frouxo,  além do jeans combinando com a camisa azul folgada.

— Ah, mas você estava tão linda de roupa de dormir - comento e sorrio quando vejo suas bochechas avermelharem levemente - Tinha uns bichinhos desenhados na camiseta. Eram ovelhas?

Ela para antes de sentar na cadeira em frente a minha e sorri maquiavélicamente.

— Vá se ferrar, Stahelin - rosna, jogando os livros encima da mesa - E é melhor parar de comentar sobre isso antes que eu lhe dê uns tapas.

— Adoro sua agressividade, sabia? Você sempre acorda assim de manhã? - pergunto, adorando provocá-la.

Seus olhos cinzentos se reviram.

— Acordar com meu pai falando sobre sexo já é ruim o sufiente, agora você ainda quer brincar com a minha cara? - responde com mau humor e estende a mão pra pegar minha mochila - Qual é a dúvida?

— Algumas questões daquela lista que você passou - respondo e tento ficar mais sério - Mas na verdade, eu vim aqui também pra falar de outra coisa.

Ela levanta o olhar do livro de física e franze a testa, a expressão preocupada.

— Notícias da Gisele? - questiona.

Faço uma careta.

— Não, infelizmente. Doutor Lucas tem sido bastante sigiloso com relação a isso. Mas quando eu falei com ele ontem a tarde, ele disse que ainda estão procurando.

Ela assente e dá uma olhada nas questões marcadas no papel. O modo como ela morde o lábio com frustração demonstra o quanto está preocupada com a garota desaparecida da instituição.

— Então o que você queria falar? - pergunta.

Analiso suas expressões e coloco a mão sobre as folhas que ela passa ininterruptamente, parando-a. Apesar da irritação, seu foco recai sobre mim.

— Conversei com um delegado hoje - digo - Sobre o caso da Helena.

Ela franze a testa.

— Vocês ainda precisam que eu fale com ela, não é? - sussurra, compreendendo e com certeza não gostando.

Confirmo com a cabeça e faço o contorno da sua mão com meus dedos. Em parte para me relaxar, em parte para mantê-la calma.

— Precisamos saber o que realmente aconteceu, Anna. O bom seria uma denúncia por parte de Helena, mas o que aconteceu já faz um tempo e não sei se daria para fazer exame de corpo de delito. Além disso, o Brasil é horrível em auxiliar as vítimas desses crimes e a sociedade, até mesmo alguns policiais, prefere julgar ou culpar a mulher do que defendê-la.

— Mas as fotos provam isso - responde - Provam que ela foi forçada.

Faço uma careta ao lembrar das fotografias.

— Realmente provam, mas não mostram o agressor. Precisamos descobrir realmente o quê, como e onde aconteceu para buscarmos provas e tesmunhas. Tanto pra me inocentar, quanto para incriminar Theo e fazer justiça para Helena.

Ela fecha os olhos e assente.

— Não sei como eu vou fazer isso, nunca fui muito ligada à psicologia e não sei como está Helena desde o acontecido.

Sorrio para mostrar incentivo.

— Mas você é boa com as palavras, sabe? Quando não está irritada e batendo em mim, geralmente eu escuto e sigo o que você fala.

Ela tira a mão quando nota que eu continuo a circular os dedos e ri ironicamente.

— Bom, eu sou sua professora aqui então fico feliz que você me escute e acate minhas ordens, Stahelin.

Rio.

— Estou falando de outras coisas, Branca. Eu sinto... Sinto que você me entende, ok? É difícil sentir isso em relação a outra pessoa. - falo e fito o caderno na minha frente - Tecnicamente nos conhecemos a vida inteira, desde que você entrou pequena lá no colégio. Óbvio que nunca fomos muito amigáveis, mas isso já é uma relação bem duradoura.

Ela dá um sorriso de canto e voltar a encarar a lista de exercícios.

— Resuma o que você quer dizer,  por favor.

— Se eu tivesse mais perto de você agora, eu te beijaria. - concluo.

Seus olhos cinzentos levatam do papel imediatamente. O coque frouxo se desprende com o movimento brusco e uma cascata de cabelo castanho cai a sua volta. Sorrio com sua expressão atônita.

— Matheus...

— Eu não vou me aproximar, não se preocupe. Mas você queria um resumo, esse foi o melhor que eu pude dar. - dou de ombros e me divirto com sua falta de reação. - Mas ainda falta coisas para descobrir, não é? Você ainda esconde tanto dentro de si, Branca.

Ela morde o lábio.

— Sobre isso... Acho que chega desse lance de segredos. Sério. - A tensão exala do seu corpo e ela faz uma anotação no papel com o lápis - Está ficando estranho e eu não quero que você confunda as coisas...

Suspiro.

— Qual seu medo? - ela não levanta o olhar,  mas sei que está franzindo a testa

— O quê?

— Qual seu medo, Anna? - pergunto e ela foca os olhos acinzentados em mim - O que você não quer tanto que aconteça? Porque essa é a verdade: sim eu quero te beijar. E sim eu quero te dar um dos melhores beijos que você vai ter em toda sua vida. 

Ironicamente, ela ri. O vento constante fazendo alguns fios do seu cabelo voarem e se bagunçarem. Ela meio que parecia uma deusa selvagem.

— O melhor beijo da minha vida? A modéstia se perdeu no caminho dessa frase?

Rio também.

— Eu prometi que seria sincero com você. Prometi isso a mim mesmo. Depois daquilo tudo, isso é o mínimo. - dou de ombros - Não tenho culpa se minha sinceridade sabe da minha competência com lábios e línguas.

— Meu Deus, Matheus! - exclama, dando um  sorriso discreto  -  Você não tem jeito.

Ela suspira, a expressão se suavizando aos poucos enquanto encara os números anotados.

— Posso fazer outra pergunta? Só pra matar a curiosidade.

Seu olhar volta a encontrar o meu.

— Manda ver, Sherlock. Só não vale perguntar sobre a maior loucura que já fiz, isso já virou mantra. - ri.

Pondero sobre as palavras e volto o olhar para o pequeno quintal da casa. Uma parte aberta que ficava atrás da residência com grama macia e flores desbotadas como se não fossem cuidadas há algum tempo. A mesa ficava em uma pequena varanda com vista para uma única árvore do jardim esquecido. Provavelmente era Tereza que cuidava do local, a mãe de Anna.

— Na primeira vez que dançamos, não deu muito certo - digo, erguendo as sobrancelhas - Mas foi por causa da música, não foi? Eu coloquei This time of my life  do Dirty Dancing e você travou assim que reconheceu o toque. Qual a história por trás disso?

Sei que ela está analisando se vai me responder ou não, seus dedos se retorcem em cima da mesa e ela olha pra mim com cansaço e nostalgia.

— Você realmente quer ouvir uma história bem menininha? - ri sozinha - Na verdade, contrariando tudo que creio, a coisa toda é bem romântica. Essa música era a favorita dela, sabe? Tem... Tinha um dia na minha casa que a minha família toda marcava para assistir musicais. Sejam eles antigos ou lançamentos. Mas Dirty Dancing sempre foi o melhor filme para a minha mãe, na hora da dança ela puxava meu pai pela mão e dizia que agora ela era a sua Baby e, mesmo de maneira desengonçada, eles dançavam. E eu ficava assistindo eles dançarem. Minha mãe sempre dizia que existe um Patrick para cada garota no mundo. Essa era sua teoria do amor e mesmo sendo louca... Bem, ela também dizia que eu deveria encontrar alguém que entendesse a minha loucura e tivesse a mesma dose, assim a loucura iria se completar. Matheus, quando você me puxou pra dançar naquela hora...

— Você não gostou porque a música era especial para você, não para ser dançada apenas em um momento qualquer. – respondo.

— Era irônico que de todas as músicas que você poderia escolher,  começasse a tocar exatamente essa. Ela dizia que eu deveria dançar essa música com o meu Patrick. – sorri e faz uma careta – Que mesmo se a dança desse errado e ele caísse tentando me levantar lá no alto... Bem, se eu sentisse que a dança fora especial pra mim, eu teria certeza que eu o encontrei.

Rio também.

— Tenho certeza que aquilo não foi nada especial, não é? - pergunto - Desculpe, Anna. Estraguei a teoria do amor da sua mãe.

Ela empurra os papéis pra mim e ajeita a camiseta em seu corpo como se quisesse se esconder.

— Bom, eu já sabia que não funcionava com todos. Não se preocupe com isso - aponta para uma das questões - Já fiz essa aqui,  é bem fácil, na verdade. Posso começar a explicar?

Fito seu semblante cansado, como se contar coisas da sua mãe a deixassem mais melancólica. Quero perguntar mais. Jesus. Quero abraçar essa garota até todas as suas dores sumirem.

Mas não seria justo. Eu não sou a porra de um Patrick, nem um maldito super herói. E infelizmente, ambos temos dores demais para elas simplesmente desaparecerem. Somos um emaranhado de cicatrizes. Desenhos irregulares nos marcam por dentro e talvez pra sempre irão nos marcar.

Quando enfim terminamos os estudos e minha cabeça já lateja com fórmulas de física, combino com ela um horário na segunda e juntos vamos até a casa de Helena Sanchez para descobrir,  finalmente,  o que aconteceu com aquela garota.

O meu único medo é que a história mudasse novamente. Só que dessa vez pra pior.


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Notas finais do capítulo

As coisas finalmente estão se desenrolando! Já temos Anna, Matheus, Gustavo, Leandra e Javier na nossa liga da justiça hahaha porém, tudo ainda irá mudar e nada será fácil. Alguém desconfia de quem tirou as fotos? Quero suposições hahaha.

Bom, a partir de agora as coisas ficarão mais pesadas. Os capítulos irão tratar de temas polêmicos e importantes, logo, vamos construir esse debate em conjunto, ok? Como falei nas notas iniciais, qualquer incômodo ou problema que qualquer tiver com as coisas aqui expostas pode vim falar comigo, por MP, comentário ou até mesmo mensagem de fumaça. Mas falem, por favor. Vamos nos ajudar, meu povo!
Além disso tem uma outra questão, o próximo capítulo será o 15, um dos mais importantes da história e o maior até agora (sério gente, ele tem o tamanho de dois capítulos juntos! 6400 palavras). Inicialmente ele não foi construído pra ser dividido, já que há uma ligação direta entre o começo dele e o fim, porém o que importa aqui é vocês, então pergunto-lhes: tudo bem postar tudo em um capítulo só? Fica muito cansativo? Ou vocês preferem que eu divida esse capítulo em duas partes?
Bom, aguardarei resposta pra ficar tudo lindo pra vocês ♥

Espero que tenham gostado desse aqui!
Beijão e até,



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