"Muitos são os que acreditam em sonhos, porém poucos são o que buscam em si."
Anotei a frase na última página _porém não menos importante_ da minha agenda, a fechei, e coloquei dentro da caixa de papelão sobre minha cama, entre outras agendas.Entre todas, uma me chamou atenção, na capa "2003" com meu nome um pouco já desgastado pelo tempo, a peguei, me sentei na poltrona e comecei a folhear.Algumas fotos minhas, músicas antigas, poemas, meus pensamentos (..) tudo escrito ali era o que passava na minha mente, como qualquer outra garota com 12 anos, sonhos sem noções, desejos inacreditáveis, planos insasiavéis e medos bobos.Sorria ao ler cada linha ali, cada parte minha ali.Como era bom relembrar os velhos tempos, folhei mas duas páginas de versos, e cheguei a uma foto da minha turma do colégio, foi impossível não sorrir, _mas uma vez_ passei o dedo por cada rosto, havia sido tirada em uma festinha, meu último ano na Argentina.Parei quando encontrei um menino , alto, forte, com franja, sorrindo e segurando um violão, suspirei.E eu, como qualquer outra menina de 12 anos, também tive aquela "paixão impossível", Leon, meu Lê, meu melhor amigo, meu irmão.Me apeguei sorrindo mas uma vez.Ouvi uma voz distante, mas não me importei.
_ Filha, estou falando com você!
_ Ah! - Suspirei.- Desculpe mãe, o que houve? - Ela se aproximou de mim, colocou a pilha de roupas em cima da minha cama. -
_ Vai querer levar essas também? - Apontou para as roupas, com a voz meia chorosa. -
_ Sim mãe, todas!
_ Não tem nada que eu possa fazer para mudar seu pensamento?
_ Não mãe..eu vou para a Argentina, eu vou atrás do meu sonho.
_ Filha, é loucura, você tem uma vida aqui!
_ Mãe, a gente já conversou sobre isso, lembra?
_ Eu sei..é só que.. - Ela se sentou na cama derrotada, me levantei e sentei ao seu lado. - Acho que não estou pronta pra te soltar.
_ Eu já estou pronta a muito tempo mãe..por favor! - Escorei a cabeça em seu ombro. -
_ Eu e seu irmão, vamos sentir sua falta!
_ Eu também vou, muito, mas vocês vão me visitar não é mesmo? - Enchuguei suas lágrimas. -
_ Sim.. - Ela se levantou e foi rumo a porta. - Vou deixar você terminar suas malas! - Ela se virou e pareceu lembrar de algo. - Ah! - Pós a mão na testa. - Consegui falar com a Esmeralda. -
_ Es..Esmeralda? a mãe do Lê e da Ludmila?
_ Ela mesmo, já que você quer começa a trabalhar logo e seu apartamento não ficou pronto, ela permitiu que você ficasse na casa dela por uns tempos.
_ Ah! - Respirei aliviada por não perder meu tempo mas preocupada quando iria começar trabalhar. - Filha, mas você nem conseguiu seu emprego ainda.
_ Mãe! - Sorri. - Eu consigo!
_ Você não tem precisão disso meu amor, fica!
_ A senhora sabe que tenho vontade de me manter só, de crescer na vida, não só financeiramente, mas..em pessoa, em luta!
_ Você é que nem seu pai sabia? - Sorrio de lado. - Ele faz falta.. - Respirei fundo._É..meu pai fazia muita falta.Ele havia falecido, a 7 anos atrás, o motivo de term-os nos mudado para Flórida - EUA, amenizar a ausência do meu pai, já que ele parecia estar em cada canto da Argentina, por gostar de viajar muito._Sai do transe, com minha agenda em meu colo, folheando as páginas pelo vento que corria na minha janela, parou exatamente na foto do Leon, do meu Lê.Uma foto nossa, ele me carregava nas costas, enquanto eu sorria feito uma boba, apertando seu pescoço com medo de cair.Em baixo um recadinho dele. "Vai fazer falta baixinha." - "Baixinha", ele sempre fazendo de tudo para me enfezar.Além de meu amigo, era meu irmão, estudam-os juntos cinco anos, além disso, moravam-os no mesmo bairro, nossos pais se conheciam, sempre saiam-os juntos para passeios em familia, emfim.. tudo parecia ser a favor de estamos sempre junto, o que fortalecia nossa amizade.No último ano que passei ao seu lado, por um momento se quer, me vi apaixonada por ele. _Sorri._ Como eu era boba meu Deus! "paixão de adolescente", lógico que não era apaixonada por ele, eu nem sabia se quer o que era isso, nessa idade, na verdade, nunca soube, amei três meninos, pelo qual namorei.. mas paixão.. nunca! Fechei a agenda e a abracei.-
– Estou chegando Lê.