Palavras escrita por Lumii


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite.
Venho aqui com uma oneshot que eu tinha que escrever. Precisa, de alguma forma, passar a dor no meu coração para o papel.
E aqui está.

Enfim, boa leitura. :3



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Muitas coisas aconteceram com Liesel após aquele fatídico dia em 1943. Ela não tinha palavras para agradecer o prefeito e sua mulher por tudo o que fizeram por ela, direta e indiretamente. Não tinha palavras para dizer o que era passar o dia com Alex Steiner, na alfaiataria, e ver em seu rosto traços do seu melhor amigo. Também não tinha palavras para descrever o quão importante foi ter Max de volta à sua vida.

Justo ela, aquela que foi nomeada como A Sacudidora de Palavras. Como ela pode perdê-las?

Mas não é para menos. Em um mesmo dia ela perdeu tudo, todo seu alicerce. Papai, mamãe, Rudy.

Além disso, A Menina que Roubava Livros perdeu todo seu inventário. Seus livros ganhos, livros roubados, livros feito sob medida para si. Até mesmo o livro que ela escrevera e que lhe salvara a vida.

Com toda essa bagagem emocional perder as palavras não era uma surpresa.

Não foi fácil começar do zero após aquilo, mas ela lutaria pelos seus títulos.

Assim que começou o longo processo de recuperação da perda, meses após o trágico dia, Liesel arriscou e invadiu novamente a biblioteca do prefeito, entrando pela janela. Adentrou o local escondida, sem fazer barulho. O fato de morar lá não mudava em nada, ela apenas queria sentir o que sentia antigamente.

Ela quase podia ouvir Rudy do lado de fora. Quase podia vislumbrar a parte de cima de sua cabeça aparecendo na janela.

Pegou o livro e saiu do local. O melhor amigo não a esperava do lado de fora. Ela não teve que correr em direção à Rua Himmel. Não teve que encarar um menino tremendo de frio, com O Assobiador encharcado nas mãos, nas águas do Rio Amber.

A decepção pesou em seus ombros e ela apenas deu a volta e entrou na casa. Nada seria como antes.

Nessa ocasião, sentou em sua cama e chorou como vinha chorando todos os dias. Sua mãos tentavam escrever naquele pequeno livreto que Ilsa Hermann lhe dera, mas nada saía.

E foi a primeira vez que viu Rudy. Ele estava sentado no chão, ao lado de seu irmão, que estava agachado e exibindo o joelho eternamente curado. Ele tinha um sorriso no rosto e lhe encarava fixamente.

“Alles gut, Saumensch?” (Tudo bem, Saumensch?)

Ao vê-lo, ela descobriu que deixara de ser A Menina que Roubava Livros no dia em que o corpo frio e pálido de Rudy encontrava-se estirado em um ângulo estranho na Rua Himmel. Naquele dia essa menina morrera. Não havia como roubar algo sem ele. Não tinha glória alguma no roubo sem os sorrisos cúmplices que vinham em seguida.

A garota pode não assumir, mas tudo mudara depois daquilo.

Hoje, beirando os 19 anos, ela já recuperara as palavras. Por vezes, ainda encontrava dificuldade para utilizá-las, principalmente quando seus olhos faziam questão de transbordar sobre o que estava escrevendo. Mas recuperara a antiga destreza, fazendo jus ao título de Sacudidora de Palavras novamente. Ao menos esse ela conseguiu recuperar.

Liesel sabia que devia isso ao garoto que a visitara naquele dia e também a todos os outros que vieram vê-la. Provavelmente teria perdido as palavras pra sempre, caso eles não tivessem interferido ou não tivessem aparecido mais.

Mas eles nunca deixaram de visita-la.

Como sempre, o irmão sempre vinha vê-la.

Papai também aparecia, tocando um acordeão mudo. Apesar da falta do som ela podia ver os dedos em movimento e conseguia, com precisão, escutar a melodia que lhe acompanhou em seus anos mais felizes.

Mamãe por vezes surgia, gritando-lhe xingamentos, principalmente quando algo a fazia querer recusar um bom banho.

E para completar, mais frequente do que qualquer outra, eram as visitas de Rudy. O doador de pão e ursinhos de pelúcia agora doava sorrisos, em sua eterna jovialidade. Com seus eternos cabelos cor de limões.

Vez ou outra ele dizia alguma coisa como:

“ Que tal um beijo, Saumensch?”

Essa era a frase que ela mais odiava.

Com a idade que tinha, Liesel já beijara alguns garotos. E em todos eles ela procurou pelo gosto poeirento e adocicado que sentiu na única vez em que tocos os lábios do amigo. Aquele gosto de arrependimento por nunca ter realizado o sonho do menino, por nunca ter beijado aquele que ela amava e demorou tanto a perceber.

Quando ele vinha com esse questionamento, ela só podia responder a única coisa que lhe vinha na cabeça.

“Só em seus sonhos, seu Saukerl idiota.”

Ela poderia completar com “nos meus também” ou “nos nossos sonhos”. Mas ela nunca dizia isso. Era apenas mais um item em sua lista de arrependimentos de palavras não ditas.

E isso continuou por anos e anos.

Ela já estava velha quando a Morte a encontrou e lhe devolveu o livro que lhe salvara a vida. E estava muito velha para o garoto de riso fácil e cabelos de limões, que a encarava em sua eterna juventude.

Mas ele não parecia se importar com esse detalhe.

“Você demorou, Saumensch”

Ele se aproximou vagarosamente e selou seus lábios. Sem o sabor da poeira, ela sentia com mais facilidade o adocicado. O arrependimento que se convertia em alegria.

Naquele momento ela voltou a ser aquela garota que morava no número 33 da Rua Himmel, que não tinha marido, filhos e netos.

Era apenas ela e seu melhor amigo.

Aquele que acertou uma bola de neve com lama em seu rosto, na primeira vez que se viram. Que lhe fez rir. Que roubou maçãs consigo. Que a impediu de correr atrás de um judeu em meio à marcha. Que lhe implorou beijos. Que distribuiu pão. Que a ajudou a roubar livros. Que salvou O Assobiador nas águas congelantes. Que deu um ursinho de pelúcia a um piloto moribundo. Que invadiu a alfaiataria do pai e vestiu um terno novo.

Aquele que mesmo depois de morto lhe devolveu as palavras. E que agora, com apenas um toque, tirava-as novamente.

A verdade é: Quem ligaria para elas em um momento como aquele?


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?

Eu confesso que ela não me agradou muito. Talvez porque o livro seja perfeito demais e eu não consiga chegar nem em 1/10 daquilo D:
Mas é como eu imagino que foi. É como eu acalento meu coração que está quebrado com a morte do Rudy ;;
Enfim, espero que se alguém leu isso aqui tenha gostado.
E que possa deixar reviews também.

Obrigada, beeijos.
@lumii_uchiha.



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