Antes que ela entrasse em algum tipo de colapso tinha avisado que nada demais tinha acontecido. Quando seus olhos junto com seus músculos foram relaxando.

– Ela está bem? –perguntou preocupada.

–Sim. Quer dizer, não. Na verdade, eu não sei... Lembra quando ela ficou muito mal?

–Mas é claro!

–Então... ela ficou um dia inteirinho na cama e no outro ela simplesmente estava toda feliz, fazendo comida e faxina.

–Minha nossa! –disse a Naomi levantando suas sobrancelhas. – Mas assim, do nada?

–Sim. Ontem ela mal comia e hoje ela come mais do que deve. –levei na brincadeira.

–Estranho... Mas talvez seja porque ela sempre está animada e não deixou que o bolinho de arroz que ela comeu fizesse tão mal assim.

–Isso são apenas hipóteses. Não tenho muita certeza, mas acho que foi com o meu caderninho.

–Que bobagem, Ay! Pode ser que você escreveu “TATSUO ♥” e ela pode ter ficado surpresa.

– O QUÊ??? Não! Eu não escrevi isso! Eu nem gosto dele! – fiquei corada.

–Hmm... você está com seu caderninho aí?

–Deixe-me ver... – fui tateando todos os meus bolsos e o encontrei no esquerdo da calça. –Aqui.

Ela pegou o caderninho e começou a olhar folha por folha.

–Aha! Foi isso sim! –disse vitoriosa.

–O quê?! Deixe-me ver isso!

DROGA! Eu, Ayumi Yang, tapada de nascença, escreveu: “♥Tatsuo♥” bem em cima do nome da Emi. Agora senti o inferno se mudar para minhas bochechas.

–Que bobagem, Ay. Não precisa ficar envergonhada. Eu admito que também tenho uma quedinha por ele.

SÉRIO?! Agora Satanás estava sambando em minhas bochechas e cantando “Ê Ê ÊÊÊ ÊÊ [...]”

– Podemos trocar de assunto? –pedi, mas por dentro implorei.

–Tudo bem. Mas fica só entre nós. O que aconteceu com sua mãe hoje?

–Bom... ela estava “congelada”. –disse fitando o tapete macio.

–Hã? Como assim? – virou a cabeça lentamente para a direita.

–Ela estava vidrada na janela da cozinha enquanto fazia peixes e arroz.

–Tinha alguém lá fora?

–Sim; meu novo vizinho, o sr. Jonson. Christopher Jonson.

–É isso! –Naomi deu um grito.

–Que isso, mulher?! –disse assustada levantando a cabeça rapidamente e arregalando meus olhos.

–Ela foi acertada pela flecha do cupido! E se apaixonou pelo seu vizinho!

–Isso eu já sabia... Menos a parte do “cupido”. Olha, não tem problema nenhum ela voltar a gostar de alguém. Mas que minha mãe não quer falar é de ontem.

–Eu já disse... Foi sua confissão em letras. –disse confiante. Naquele momento aposto que ela se imaginou uma Super Detetive, como um Sherlock Holmes da vida. ‘-‘

–Tenho certeza que um nome não vai deixar alguém de cama por um dia inteirinho.

–Hmm... Isso é complicado demais... Já sei! Amanhã falaremos com o Tatsuo.

–E o que ele sabe sobre essas “voltas” todas? –perguntei.

–Nada. Mas ele é muito esperto, tem uma cabeça entanto! Talvez ele possa nos ajudar.

No final acabei concordando. Disse que eu precisava ir para casa. Terminei o resto do chá e agradeci pela bebida. Descemos as escadas e a Naomi me levou até a porta.

–Visite-me mais vezes. –disse com um enorme sorriso no rosto.

–Claro. Nos vemos amanhã, então. Tchau, mordomo da Naomi! –disse acenando para ele da rua.

Ele apenas se curvou fechando os olhos de uma forma respeitosa. Voltei para casa e vi um bilhete em cima da mesa de centro. Ele dizia:

“Filha, fui até o mercado buscar algumas coisas. Espero não demorar. Já fiz o jantar e está na geladeira, é só se servir. Mil beijos, mamãe.”

Fui até a cozinha e me servi. Depois de jantar, subi para meu quarto arrumar meu material e uniforme. Infelizmente, o primeiro dia de aula sem uniforme passou ;--;

Então conferi tudo: Blusa, ok; Meia, ok; sapatos, ok; gravata, ok; saia, o... Espera... cadê minha saia? AI CRISTO, CADÊ A MALDITA SAIA????? Desci as escadas voando, tropeçando no segundo degrau. Cai de joelhos, fazendo um machucado feio. Fui até a lavanderia e minha saia estava para lavar. Droga, mãe! E agora? Agora era ir de calcinha para o colégio ou pedir a ajuda da Naomi. Liguei para seu celular.

–Alô? –uma voz rouca e adormecida saiu do aparelho. Era a Naomi.

–Naomi! Perdão te acordar, mas preciso de sua ajuda urgente!

– O que houve? –disse bocejando na última palavra.

–Minha mãe não lavou minha saia escolar e preciso que você me empreste uma. Prometo devolver lavado e passado.

– Ah, claro; sem problemas. Amanhã antes do colégio passe aqui, certo?

–Certo!- agradeci a ajuda e desliguei.

Arrumei meu material e escutei a porta da frente abrir.

–Ayumi! Cheguei! –grita mamãe.

–Demorou ein mãe? Já estava me arrumando para dormir.

–Perdão querida. Acabei tendo que ir a outro lugar...

–Hmm... O que é isso? – disse apontando para uma caixa embrulhada. –É para mim? –comecei a ficar eufórica.

–Não.

Então lá se vai minha pequena esperança de ganhar algum presente.

–Para quem é então? É para nosso vizinho? Ein? Ein? Ein? Ein? –fiz uma voz provocadora.

–É sim. Ele foi muito gentil em ter me dado todo o conjunto de chá que eu quero retribuir.

–E o que é?

–Um mini kit de jardinagem.

–Bacana... -disse eu entediada. –Irei tomar banho e dormir. Boa noite, mãe. –disse dando um beijo em sua bochecha.

Meu machucado no joelho ainda doía muito. Antes de subir para meu quarto, eu peguei a caixinha de primeiros socorros e procurei esparadrapo, antisséptico e gaze. Tive sorte, pois havia só uma gaze. Quando espirrei o antisséptico aquilo ardeu mais do que shampoo nos olhos. Depois de limpar bem, coloquei a gaze e para segurar coloquei um esparadrapo. Ao dormir, me ajeitei fazendo com que eu não batesse o joelho em lugar nenhum, até o sangramento passar e ele melhorar. Mas foi bem na hora em que eu fui deitar, acabei deitando muito na ponta da cama caindo no chão e batendo meu joelho num puff que tinha para eu apoiar minha perna. Então, depois daquela batida, dei um grito de dor fazendo minha mãe perguntar se estava bem. Disse que sim e que apenas tinha batido o joelho, nada de mais... Mas logo adormeci e esqueci-me da dor.