No fim, acabei não conseguindo dormir de noite. Fiquei revirando na cama como se fosse um peixe na frigideira. Decidi me levantar e descer para tomar um copo de leite ou algo parecido. Ao chegar na cozinha, peguei um copo no armário e o leite na geladeira. Decidi esquentar e colocar um pouco de mel no leite puro. Enquanto eu mexia a colher para dissolver o mel, sinto uma presença atrás de mim. Viro-me e vejo o sr. Jonson de pijama – calças de flanela vermelha e uma regata deixando seus músculos definidos do braço à mostra – coçando a nuca.

– Ai, que susto senhor Jonson!

– O que está fazendo aqui – ele bocejou – esse horário? São 03:00 da manhã...

– Eu sei, desculpa te acordar. Não consegui dormir e decidi tomar um leite com mel.

Ele acabou pegando uns pacotes de pães de mel que ele mesmo havia feito e jogou em cima da mesa.

– Senta aí – disse ele se sentando na almofada também.

Obedeci e sentei-me à mesa junto com ele. Peguei uns pães de mel e dei uma mordida grande, saboreando o doce gosto do chocolate e mel.

– Então... o senhor não estava de pijama, estava? – perguntei eu.

– Não mesmo. Quando eu acordei, estava eu e a sua mãe no sofá da sala. Eu acabei levando-a no colo para o quarto. Aí eu aproveitei e tomei um banho. Não sei como sua mãe conseguiu dormir como uma pedra depois de toda dança. Eu ainda estou dolorido... Ahh, e eu agradeço a coberta.

– Não foi nada.

Quando eu terminei o meu leite, levantei-me e coloquei o copo na pia. Disse ao sr. Jonson que estaria indo para a cama, e se ele não iria também. Ele disse que sim e nós subimos juntos para os quartos. Disse boa noite a ele e ele fez a mesma coisa. Fechei a porta e corri para debaixo das cobertas. Fechei meus olhos e aguardei o sono chegar.

Acordei com a luz do sol batendo em meu rosto. Peguei o relógio e olhei as horas. AI MINHA NOSSA! ERAM 10:26! ESTOU MAIS QUE ATRASADA! Levantei em um pulo só, só sei que eu vesti meu uniforme por cima do pijama só retirando minha calça (porque usamos saia). Calcei rapidamente os sapatos quase caindo. Desci as escadas como um furacão e encontro com mamãe e o sr. Jonson na cozinha – ainda de pijama – tomando o café da manhã. Eu peguei um pacote de cookies de chocolate e enfiei três na boca de uma vez só.

– Bom dia, Ayumi! – disse o sr. Jonson. Como estava com a boca cheia, só acenei para ele rapidamente.

– Ayumi, estou fazendo panquecas. Sei que você ama isso! O sr. Jonson disse que os EUA tem costume de comer panquecas de café da ma... Ayumi?

– Natentemp – disse eu misturando os cookies com um leite tudo na boca, deixando derramar um pouco na lateral da minha boca.

– Ein? – perguntou mamãe. Eu engoli o amido que havia formado em minha boca.

– Não tenho tempo! – saí correndo puxando minhas meias até as coxas.

– Tempo para quê, filha? Você está de férias, esqueceu-se foi?

Nesse momento meu corpo inteiro travou, fazendo-me beijar o chão. Sem sentir dor, eu virei a cabeça e olhei para mamãe e ela estava com uma expressão de dúvida, eu acho. É automático, quando escuto “férias”, meu corpo se desliga. Nesse momento eu escutei o sr. Jonson dar umas risadinhas na cozinha. Eu lentamente levantei-me do chão e comecei a subir as escadas.

– Não vai tomar café agora? – perguntou mamãe.

– Não mesmo.

Subi para meu quarto e dormir mais um pouco, acordando às 13:43 da tarde. Nunca havia dormido tão bem assim. Dessa vez, eu não me lembro de ter tido algum sonho “estranho” dessa vez. Olhei meu celular e tinha uma mensagem do Hayato. O que ele quer? Abri a mensagem e li o texto.

“Boa tarde, Ay-chan! Às 15:00 eu irei levar o Tatsuo para o parque de diversões para comemorar o seu aniversário. E eu queria que você viesse junto conosco, mas lembre-se de manter segredo ;)”

Que horas ele mandou isso? 13:12. Ai, caramba! O que eu vou fazer?! Hoje é o aniversário do meu amigo e não comprei nada para ele. Mandei uma mensagem para o Hayato falando que eu iria participar. Falei para ele marcar um ponto de encontro. Minutos depois ele me mandou com tudo certinho. No caminho, pensei em quê poderia dar a ele. Passei em frente a uma loja de música. Isso! Eu entrei e acabei falando com o vendedor o que havia para violino. Ele me mostrou várias coisas que eu não conhecia, mas o que dava apenas para comprar era um arranjo de cordas novas.

Falei para embrulhar de presente e enfiei em meu bolso da jaqueta. Ao chegar ao parque avistei o Tatsuo de costas com o Hayato falando alguma coisa, bem animado por sinal. Ele acenou para mim e o Tatsou se virou, arregalando os olhos. Juntei-me a eles.

– Ok, que palhaçada é essa, Kazumi?! – o Tatsou virou sério para ele.

– Feliz... ANIVERSÁRIO, TAT-SENPAI! – ele pulou dando um enorme abraço no Tatsuo, dando uns tapinhas nas costas.

– Feliz... Aniversário – disse eu um pouco envergonhada entregando-lhe as cordas. – Isso não é grande coisa, mas...

– Mas como...

– Eu disse para ela – o Hayato empinou o nariz orgulhoso.

O Tatsuo hesitou um pouco ao pegar o presente, depois ao puxar o presente, ele puxou minha mão também dando-me um abraço. Senti seu coração palpitar nervoso no peito. Fiquei sem reação.

– T-Tat...

– Obrigado... – disse ele, mais como um cochicho em meu ouvido – Por se importar.

– Ai que momento lindo do casal... - escutei um barulho de flash e vi o Hayato mexendo no celular e depois colocando no bolso da calça. - Odeio interromper, mas agora vamos aproveitar logo de uma vez antes que o tempo voe e o parque feche? – disse Hayato. Ele realmente parecia uma criança.

No fim, o Hayato decidiu comer cachorro quente e ir à montanha russa. Previsão do tempo? Chuva de vômito. Então, é bom abrir os guarda-chuvas mesmo com um sol de tarde. No fim da tarde, sentamos em um banco com o Hayato entre nós. Sua cabeça acabava pesando ele ia para um lado e para o outro até encostar-se a meu ombro. Assustei-me.

– Ah, perdão, Ayumi. – disse Tatsuo retirando a cabeça do amigo e encostando-se a seu ombro.

O Hayato realmente parecia uma criança...

– Oh, sem problemas... – nesse momento vi que ele estava abrindo o presente. Corei – N-n-não repara! E-eu não tinha muitos yens para comprar um presente descente para você...

– Por mim, você está aqui já é um grande presente... – ele disse olhando para mim com uns olhos carinhosos e depois voltou a abrir o presente. Com certeza que corei na hora, desviando meu olhar e fitar uma formiguinha que estava andando no chão. – Ayumi! – olhei para ele na hora – Essas cordas são de aço! Quanto você pagou? Irei reembolsá-la.

– Não mesmo! Não foi tão caro assim. E isso é presente.

Ele sorriu para mim com sua pele do rosto corada. Houve um silêncio por um tempo. Um assunto que eu não queria lembrar havia tomado conta da minha mente: Emi. Depois de muito tempo, reuni coragem para tocar no assunto com ele, mas acabei deixando o assunto ser apagado. Não queria deixa-lo tenso em seu aniversário...

No final das contas, o Hayato quis ir em uma casa de jogos e nós o seguimos. Ele jogou Guitar Hero com o Tatsuo e perdeu de lavada. Ele quis jogar comigo, e mesmo assim perdeu também. Ficou choramingando o caminho inteiro, até o Tatsuo jogar em uma máquina de bichinhos de pelúcia e o brinde dar ao Hayato. Como uma criança, ele ficou mais feliz do que um cãozinho ao ver seu dono.

Já em casa, recebo uma mensagem do Tatsuo:

"Ayumi, amanhã você poderia me encontrar na pracinha perto da sua casa, por favor?" Mandei uma mensagem de volta assentindo o pedido.