Ao abrir o caderno havia caído uma fotografia.

– Quem é essa? – perguntou Naomi pegando a foto.

– Emi... – disse eu um pouco chocada.

– Uou, ela era uma deusa grega?! – disse Hayato, mas dessa vez que meteu um tapa na sua nuca foi a Naomi – Ai, foi mal...

– Por que colocou uma foto aqui também? – perguntou-me Tatsuo.

– Eu não coloquei – respondi.

Ficamos em silêncio por um minuto quando o garçom nos trás a bebida.

– Se não foi você que colocou, foi... – disse Naomi.

– Minha mãe – disse eu ainda não acreditando nas minhas próprias palavras.

– Por que sua mãe teria uma foto da Emi? – perguntou Hayato.

– Disso já sabemos: a mãe da Ayumi está envolvida com o que aconteceu com a Emi – respondeu Tatsuo encostando-se ao sofá com os olhos fechados e cruzando os braços.

– Não diga isso, Tat-kun! – disse Naomi batendo as mãos na mesa – Você pode estar totalmente errado!

– Não... – disse eu – Tatsuo pode estar certo. Pensem comigo: primeiramente, por que mamãe iria pegar e esconder o caderno de mim? Segundo, por que quando ela viu o caderno ela ficou uma semana de cama? Ela deve estar escondendo algo. Mas... o que eu não sei... É o motivo de ela estar fazendo tudo isso escondido de mim... – disse eu sentindo a ponta do meu nariz ficar quente.

Novamente um silêncio surgiu entre nós quatro. Só ouvia-se o barulho de xícaras batendo nos pires, de café sendo feito e de bolos sendo cortados. Quando aquele silêncio foi quebrado pelo celular do Tatsuo.

– Alô. Ok. Não. Aham. Tá. Tchau.

– Algum problema sério? – perguntei.

– Não... Minha mãe disse que preciso ir para casa pois terei que cuidar do meu priminho. Esqueci que hoje a tia e a mãe vão sair. Pessoal, perdoem-me. Estarei pensando mais sobre isso e, se eu chegar à uma conclusão, eu falo com vocês. Com licença.

Ele levantou-se, pegou o dinheiro no bolso e deixou em cima da mesa. Ele saiu colocando o capuz na cabeça e as mãos dentro do bolso do seu moletom canguru.

– Ay-chan... – disse a Naomi com uma voz angelical. Acho que ela estava querendo me confortar.

– Acho que também estarei indo para casa... Sabe...? Talvez, eu possa descobrir mais alguma coisa. Mas não se preocupem, eu ficarei bem. Então... até mais!

Levantei-me, deixei o meu dinheiro também em cima da mesa e sai do café. Eu em vez de ter ido para casa eu acabei indo para o velho e antigo parquinho que tinha. Não sei por que, mas ele sempre me acalmava, então por isso que sempre escolhia aquele lugar para pensar. Quando pequena, também me lembro de ter ido até o parque para derramar minhas lágrimas. Enquanto eu estava sentada em um dos bancos de madeira, vi a Naomi e o Hayato caminhando juntos. Aposto que o Kazumi estava fazendo uma de suas piadas ruins para a Naomi, às vezes ela ria e outras ela o olhava seriamente. Eu corri e me escondi atrás do escorregador e fiquei espionando.

Eles andaram uma boa parte quando o Hayato apontou para o balanço do parquinho. Essa não! Eles vão me ver! Rapidamente eu corri para trás de uma árvore que havia próximo ao escorregador. A Naomi falou alguma coisa, acho que era um “não”. Ele pegou em seu punho e levou até o balanço. Ele sentou-se e disse para ela sentar-se no banco ao lado. Ela obedeceu e novamente, ele fala alguma coisa e ela ri. Ficaram um bom tempo conversando, onde já estava de tardinha. Eu estava louca para fazer xixi, mas não podia sair, se não, caso contrário, eles iriam me ver. Mas as coisas no balanço foram ficando tensas. Eles ficaram se olhando e vi o Hayato colocar sua mão direita em seu rosto. A Naomi parecia estar surpresa, mas também muito corada. MEU DEUS! NÃO ACREDITO NISSO! MEUS MELHORES AMIGOS VÃO SE BEIJAR! Eu atrapalhada peguei meu celular e procurei “câmera”. Eu precisava filmar isso!

– Droga! Cadê a câmera?! – disse eu bem baixinho mexendo em tudo que havia no celular – Merda! Aqui! Achei! Abre, coisa! Aí, foi!

Eu coloquei no modo de filme e cliquei no botão “filmar”. Era agora! A Naomi fechou os olhos e o Hayato também, se aproximando lentamente de seus lábios. AI MINHA OTP! Está se realizando! O Hayato disse alguma coisa à Naomi e ela arregalou seus olhos azuis, corando ainda mais. Acho que ele disse um “Te amo”? Ah, cara! Queria ser minha mãe agora para ler lábios ;~;

– Mamãe! Uma suspeita! Uma suspeita! – gritou um garotinho apontando para mim com uma das mãos e a outra segurando a mão da sua mãe.

– Shhh!! Não! Não é o que você está pensando! – disse eu tentando fazer com que a criança ficasse quieta.

Nesse momento o Hayato e a Naomi viraram para a criança com sua mãe. DROGA! Nesse momento eu me joguei no chão escondendo-me no arbusto que havia separando a calçada da praça. Nesse momento a mãe da criança o puxou e pediu perdão para mim. Pedi para que ela não falasse comigo e nem fizesse contado visual. Apenas continuar caminhando. Tenho certeza que ela achou que eu fosse uma louca. Dei uma rápida espiadinha no casal e eles se levantaram, envergonhados. Eu aproveitei que eles estavam distraídos e saí correndo agachada. Eu não tive dúvida de passar na casa do Tatsuo. Cheguei lá e toquei a campainha. Uma criança, que deveria ter uns cinco anos de idade atendeu a porta.

– Sim?

– Ah, oi pequeno – disse eu bufando um pouco. – O Tatsuo está em casa?

– Itouko-kun! Tem uma moça bonita na porta querendo falar com você! – disse o garotinho gritando sem tirar os olhos de mim.

Em seguida, o Tatsuo apareceu na porta.

– Afz, Mamoru. Você sabe o que significa "bonita"?

– EI! – disse eu um pouco nervosa. Tatsuo rio.

– Então... o que foi? – perguntou ele.

– Pode sair aqui para falarmos a sós?

– Vocês vão namorar aí fora? – perguntou o garotinho.

Naturalmente, o Tatsuo pegou o garoto pela cintura, virou o garoto e colocou-o em baixo do braço, como se fosse uma pasta e levou para dentro de casa. Lá dentro dava para escutar o garotinho gritando palavras como: “Me deixa sair Itouko-kun!”, “Vou contar para a tia!” ou “Vou chamar a polícia e falar que você está mantendo-me em cativeiro!”. Depois de um tempo o Tatsuo apareceu na porta.

– Desculpe-me pelo Mamoru. Ele ama me provocar, mas é um bom menino.

– É seu priminho? – perguntei.

– Sim – respondeu. – Agora que a tia está em um emprego em outra cidade, eu cuido dele. Até que é divertido, ele joga videogame comigo.

– Muito fofo... Enfim, olhe isso! – disse eu abrindo a galeria de vídeos do meu celular e coloquei o vídeo para rodar.

– O quê? Do passarinho Piyo-chan?

– O QUÊ?? – disse eu envergonhada – Desculpe! A minha priminha havia me visitado tempos atrás e salvou esse vídeo, mas esqueci de apagar. É esse vídeo! – dessa vez eu vi antes de mostrá-lo.

Depois que o vídeo terminou ele apenas deu de ombros.

– E... – ele fez um sinal com a mão circular.

– MINHA OTP! Ela está confirmada!

– Sua o quê? – perguntou-me.

– OTP! Ah, deixe para lá. Mas você não acha isso tão fofo! Será que eles estão saindo a muito tempo?

– Sim – ele respondeu naturalmente. Tão direto '-'

– Como você sabe?

– Ué, a Naomi não falou para você que eles meio que estão quase juntos? Pela sua expressão, acho que não '-'

– Como eles puderam esconder de mim? ;^;

– Talvez porque se você soubesse, iriam incomoda-los até a morte dos dois – respondeu. Tão direto, novamente! ;-;

– Você é tão direto comigo... ;-;

– Bem que poderíamos ser próximos assim um do outro como eles dois – o Tatsuo disse bem baixinho, mas dei uma de inocente.

– Oi?

– Nada não! – ele corou.

No final das contas, eu me despedi do Tatsuo porque estava morta de fome e esperava que não tinha perdido minha janta. Falei para o Tatsuo não esquecer de soltar o priminho dele. Curvei-me, virei as costas e senti meu pulso direito ser segurado com força.

–T-Tatsuo? - disse eu virando.

Assim que eu virei, o Tatsuo encostou puxou-me para si e colocou sua testa encostada na minha. Se eu corei? Não... Imagina! Eu virei um pimentão. Não pude fazer ou falar nada e ele já colocou as duas mãos nas laterias da minha cabeça e beijou-me. Um beijo tão quente, tão calmo... Parecia que tudo e que todos que haviam na Terra tinham desaparecidos. Estavam apenas eu e Tatsuo. Seu beijo, uma droga viciante. Não queria nem pensar em sair de perto dele. Quando os nossos lábios se distanciaram, não poderia acreditar. O Tatsuo me abraçou. Não falei nada, só fiquei ali imobilizada.

–T-Tatsuo... - cochichei.

Ele rapidamente me largou, se afastou um pouco, colocou a lateral da mão direita na boca e olhou para o chão corado.

– D-d-desculpe-me! E-e-eu não sei no que deu em mim! Ai bosta... D-desculpe pelo palavreado! Ai, santo Mamoru...

– T-tasuo? T-tudo bem? Está fazendo uma oração ao seu priminho?

Vi o quanto ele estava muito corado. Eu sorri com os olhos fechados e disse:

– Não se preocupe. Também tenho esse sentimento por você!

***

No caminho fiquei pensando e tentando fazer com que meu coração entrasse em acordo com minha mente. Será que... somos um casal?