Pedro POV

Tomtom me lança um olhar desconfiado assim que entro no Perfeitão, mas não diz nada, vou direto para o quarto.

Assim que deito na cama meu celular toca, é João, com certeza pra dizer o quão infeliz está.

_Fala moleque, como ta ai? – pergunto.

_Um saco, acredita que dona Dandara me fez vestir uma sunga e ir a praia hoje a tarde?

Eu ri imaginando a cena, esse magrelo de sunga, essa até eu queria ter visto.

_Não acredito que perdi isso. – digo rindo.

_haha isso mesmo, ria de minha infelicidade.

_Relaxa cara, pelo menos cê ta ai.

_O problema é que eu não queria estar né, você devia ter vindo no meu lugar isso sim.

_Ah, sei lá cara até que as coisas não estão tão ruins por aqui.

_Ah é? Bem que notei que você ta bem felizinho hoje o que ta rolando?

_Nada, só to feliz não pode?

_Tem alguma mina na parada que eu sei. Quem é? Eu conheço?

_Talvez... – digo com uma certa relutância, não sei se deveria falar com o João sobre isso, ele ia me infernizar pro resto da vida, mas ele é amigo certo? Ah que se dane.

_É a esquentadinha não é? – ele pergunta antes que eu pudesse falar qualquer coisa.

Fico em silêncio.

_Sabia, é claro que é ela, cara cê ta gamado na mina, cê é louco, não gosta de viver não?

_Pelo contrário, eu gosto e muito de viver, por isso mesmo que não perco meu tempo me privando de certos prazeres da vida.

_Filosofando? Quem é você e o que fez com meu amigo?

_Cala a boca moleque. – eu rio.

_Minha mãe ta me chamando, tenho que ir lá, merda de vida, cara eu preferiria ficar sozinho com a esquentadinha por uma semana do que ter de assistir mais um draminha desses que estão me fazendo assistir.

_haha, ela não é tão ruim assim.

_Ta apaixonado... fui.

O idiota desligou na minha cara.

Karina POV

Sem coragem pra entrar fiquei andando de um lado pro outro em frente de casa. O que eu ia dizer para meu pai? Ai meu Deus eu acho que dessa vez eu fico de castigo pro resto da vida.

Como adiar não era evitar resolvi entrar logo.

_FINALMENTE NÉ KARINA.

_Oi?

_Oi? É ISSO QUE VAI ME DIZER? – Cara ele ta puto.

_O que mais eu poderia dizer pai?

_AH NÃO SEI QUE TAL ONDE É QUE A SENHORA ESTAVA?

_Só sai um pouco.

_KARINA! VOCÊ PASSOU DOS LIMITES!

_Pô, não fiz nada de mais.

_NADA DEMAIS, SÓ SE TRANCOU NO QUARTO E SAIU PELA JANELA? CÊ SABE COMO EU DESCOBRI QUE VOCÊ TINHA SAIDO? ARROMBEI A PORTA DO TEU QUARTO QUANDO UMA CERTA FILHA MINHA NÃO RESPONDEU QUANDO EU CHAMAVA, ACHEI QUE TINHA TE ACONTECIDO ALGUMA COISA, QUASE MORRI DO CORAÇÃO.

_A BIANCA JÁ FEZ ISSO E VOCÊ NÃO FALOU NADA! – começo a gritar também.

_BAIXA O TOM PRA FALAR COMIGO GAROTA, EU SOU TEU PAI! RESPEITA.

_EU TO FALANDO COM VOCÊ COMO VOCÊ TÁ FALANDO COMIGO!

_Garota...

_GAROTA O QUE? ÃN? O QUE CÊ VAI FAZER? ME BOTAR DE CASTIGO? ME TRANCAR EM CASA? AH ESPERA, VOCÊ JÁ FEZ ISSO!

_EU NÃO VOU FAZER NADA DISSO, SABE DE UMA COISA? VOCÊ ACABOU DE ME DAR UMA EXCELENTE IDEIA! QUER SAIR? VÁ, QUER TREINAR? TREINE.

_Pera, eu não to mais de castigo? – Okay, por essa eu não esperava.

_Não. – respondeu ele. – Mas já que você quer ser a senhorita independente, vai ter que trabalhar.

Espera o que?

_Eu trabalhar?

_Você. Trabalhar. Quer sair? Não me peça dinheiro. Quer treinar? Vai ter que pagar a academia.

_Cê ficou louco pai? Quem é que vai me dar emprego?

_Não sei, procura, afinal não é você que é dona do próprio nariz? Então, se vira.

E ele vira as costas pra mim. Fico de boca aberta. Cara onde é que eu vou arrumar emprego? Puta que pariu, dessa vez ele pegou pesado.

Pedro POV

_Pedro? Pedro vem aqui meu filho. – Grita a minha mãe.

_O que foi? – digo descendo as escadas.

_Faz um favor pra mim?

Ah sério isso? Lá vem.

_Eu fiquei de regar as plantas da Dandara enquanto ela ta em SP mas hoje o restaurante ta muito movimentado, não sei se vou poder sair daqui tão cedo, vai lá e faz isso pra mim?

Eu regar de plantas? Meu Deus a que ponto cheguei.

_Ta né.

Ela me entregou as chaves e eu fui, quando passei perto da casa da esquentadinha tava tudo quieto, pelo visto a bronca não foi tão ruim, ou talvez ela tenha dado um jeito de enrolar o Gael. Acho meio difícil, esse cara parece sentir quando há algo errado de longe.

_Eai guitarrista? Perdeu alguma coisa na casa da novinha?

Nem tinha percebido que estava encarando a casa da Karina até esse cretino do Cobra falar comigo, nunca fui com a cara dele, já o vi com várias garotas aqui no bairro e nenhuma delas parecia muito feliz com a companhia.

_Eai. – é tudo o que respondo e já vou saindo de perto quando ele segura meu braço.

_Gatinha ela não é?

_Quem? – finjo que não sei de quem ele ta falando.

_A Karina. Ela não é de se jogar fora, sabe ela tem aquele jeito de mulher-macho, mas no fundo é igual as outras, se tu quiser pegar, cê pega. Ela vai facinho, escuta o que eu to te falando.

Não acredito no que estou ouvindo.

_Ei, isso lá é jeito de falar cara?

_Que foi? Se você não quiser, eu quero.

Ah não, esse babaca ta pedindo pra morrer.

_Nunca mais fala dela desse jeito, senão...

_Senão o que? Cê vai me bater? – ele começa a gargalhar. Infelizmente não tenho uma resposta, se fosse qualquer outro cara eu falaria que iria matar e não bater, mas com esse ai, eu sei que não tenho chance, sei que ele luta bem, cansei de ouvir o povo do bairro falando dele, e de como ele botava medo em todo mundo.

_Que foi? Não vai responder? Mas é um frouxo mesmo.

_A vai se fuder. – digo e saio antes que eu perca a cabeça e avance no pescoço dele.

NO DIA SEGUINTE

Karina POV

Espero que meu pai não tenha falado sério ontem, não tem como eu arrumar um emprego tão rápido e eu preciso treinar.

_Bom dia. – digo a Bete.

_Bom dia minha menina, dormiu bem?

_Surpreendentemente sim, e você como ta?

_To bem. Saudades da minha Solzinha, mas bem.

_Ela foi pra SP?

_Foi, quando aquela lá quer uma coisa...

_Como ela conseguiu o dinheiro?

_Fez hora extra cuidando da Dona Dalva, na verdade eu acho é que a senhora pagou foi é muito por essas horas extras, mas quando eu fui reclamar ela defendeu a Sol com unhas e dentes.

Espera, se a Sol ta viajando quem é que ta com a Dona Dalva? O Duca também foi viajar... Será que ela me contrataria?

_E quem ta com a Dona Dalva agora? – pergunto esperançosa.

_A Paty.

_Quem? – Nunca vi essa garota.

_Ah é só uma amiga da escola da Sol.

Droga.

Depois de tomar café, decido ir treinar.

Quando chego na academia meu pai vem ao meu encontro.

_Já arrumou emprego pra pagar a mensalidade?

Então ele estava falando sério mesmo.

_Não.

_Então ta fazendo o que aqui?

_Mas pai...

_Nada de mas pai.

Dou meia volta emburrada. Que raivaaaaaa. Preciso dar umas porradas. Preciso bater em alguma coisa. Mas ao invés disso vou até a praça e fico pensando onde é que eu poderia conseguir um emprego.

Pensa, Karina, pensa, pensa, pensa.

Pedro POV

Quando vejo a Karina sozinha parada no meio da praça meu único instinto é ir implicar com ela.

_Eai esquentadinha. Virou uma estátua? – Quando ela me vê faz uma careta mas não diz nada. – Ta fazendo o que parada ai?

_To tentando pensar, da licença? – faz um sinal pra eu sair dali, é óbvio que não saio.

_Você pensando? – Faço uma expressão de chocado.

_Mas é um mala mesmo viu. – ela diz enquanto se senta num banco.

_Sou o seu mala, eai o que ta rolando?

_Meu nada.

_Seu e só seu. – eu pisco pra ela.

_Preciso de um emprego. – ela me informa.

_Por quê?

_Porque preciso de dinheiro. Por que mais?

_Sei, mas sabe ficar parada ai não vai te dar emprego.

_Ai cara me deixa vai.

_Sabe eu até poderia te ajudar se você me pedisse com jeitinho.

_Como assim me ajudar?

_Talvez, eu poderia pedir aos meus pais pra te contratarem no Perfeitão por meio período, o restaurante ta sempre movimentado e a gente mal da conta. Mas eles vivem dizendo que não tem dinheiro pra contratar alguém, mas se for só por meio período talvez eles aceitem.

_Sério? Cara, cê faria mesmo isso? – Ela pergunta toda agitada.

_Só se você pedir com jeitinho, já te falei.

_Por favor?!!!!!!!!!!!!!

_Ta bom, vamos lá falar com eles.