POV fera

Depois daquele dia, fomos ficando cada vez mais próximos. E eu acabei conseguindo fazer o que eu queria fazer assim que a vi: conhece-la. E acabei conseguindo fazer até mais que isso: encantando-me.

Ela definitivamente era muito diferente das outras meninas bonitas. Quando eu a vi pela primeira vez, pensei que anjos como ela jamais se importariam com monstros como eu. Mas ELA não fez isso.

Quase sempre eu me perguntava como ela podia ser tão doce a ponto de querer ser minha amiga. De segurar a minha mão. De me ensinar a ler.

Ela era divertida, gentil, impulsiva, um pouco teimosa, é verdade, mas quanto a isso eu não podia dizer nada. Talvez eu fosse até mais teimoso que ela. Teimoso porque, mesmo com o fato de todos os empregados sempre me dizendo que ela era a jovem e eu sabendo que isso era praticamente impossível, eu não conseguia apagar a esperança que ela havia me feito sentir.

Cada vez que nos encontrávamos, meu coração batia acelerado cada vez que ela olhava para mim. E a cada vez que ela sorria, eu perdia o ar. E eu pensava nela com cada vez mais frequência. Aqueles olhos, aquele sorriso... " Bobagem! Pare com isso seu idiota, o amor nunca vai existir pra você" pensava, numa tentativa de libertar-me de todos aqueles devaneios ridículos.

Mas os criados viviam observando tudo e comentavam entre si o quanto eu estava diferente. E o quanto ELA também estava.

Numa noite, poucos minutos depois que ela saiu da biblioteca e foi dormir, encontrei Harry no corredor. Antes que eu pudesse lhe desejar boa noite, ele me parou, dizendo;

– Nicholas você está perdidamente apaixonado por ela.

Oi?

– Como? Harry, vá dormir, o sono está afetando seu cérebro. Ou o vinho. Boa noite! - anunciei, me afastando.

– Está sim, não tente negar. - ele insistiu, encarando-me.

– Não estou! E mesmo que eu estivesse, você realmente acha que seria recíproco? Suma daqui!

Ele recuou, deixando-me passar, mas não pude deixar de ouvi-lo sussurrar, meio cantarolando, antes descer as escadas em direção a seu quarto:

– Negação é o primeiro sintoma...

Suspirei. Esses criados loucos. Definitivamente ou ele estava bêbado, ou havia trabalhado demais. Ou talvez ele estivesse certo... Talvez isso que eu estivesse sentindo fosse mesmo amor... Meu Deus, seria assim estar apaixonado? Eu nunca havia sentido aquilo por ninguém antes...

" Ah, bobagem!" pensei antes de entrar no quarto. Esse Harry...

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POV bela

Eu já estava há um bom tempo no castelo. Ainda sentia muita falta de meu pai e de Anna, mas os criados - e principalmente Nicholas - estavam sendo todos tão amáveis comigo que a coisa toda parecia bem menos ruim.

Nicholas. Finalmente eu estava conseguindo conhece-lo. Ele era amargo, carrancudo e um pouco grosseiro às vezes. Mas também era bom, gentil... Por trás de toda aquela amargura, ele era doce como um torrão de açúcar. E apesar de todo o seu jeito sóbrio e meio cruel de ser, ele realmente se importava comigo.

E eu percebi que depois que ficamos mais próximos, ele começou a mostrar seu lado bom. E eu me encantei com esse seu lado.

Claro que ele estava longe de ser um príncipe encantado. Mas alguma coisa naquele olhar azul fazia meu coração acelerar. Alguma coisa naquele jeito frio porém coração de manteiga dele de ser realmente mexia comigo.

Meu Deus, seria assim estar apaixonada? Eu nunca tinha sentido aquilo por ninguém antes! Não, aquilo era besteira minha. Por que aquilo seria amor? E mesmo que fosse, eu nunca havia amado os cavalheiros da minha aldeia, simplesmente porque eles não passavam de idiotas. Mas Nicholas era diferente...

Um dia, quando encontrei Charlotte no corredor, aproveitei para perguntar algo a ela, que era o mais próximo que eu tinha de mãe no momento:

– Charlotte, a senhora já amou alguém?

A pergunta a fez ter um sobressalto. Eu corei. Que idiotice.

– Mas é claro querida. - ela respondeu docemente.

– E como é amar? - perguntei, ciente do quanto aquilo era bobo, mas eu precisava saber.

– Ah Bela... - ela suspirou. - É uma coisa mágica. Seu coração bate acelerado, você sorri por qualquer coisa, você se encanta com um olhar, não para de pensar em um certo alguém... Por que essa pergunta? - ela estranhou, depois de filosofar por alguns instantes.

– Por nada, pura curiosidade. Obrigada Charlotte. - despedi-me e voltei para o quarto. Charlotte estranhou, mas não pude deixar de notar que de repente, ela começou a sorrir.

Assim que entrei no quarto, sentei na cama e fiquei pensando sobre o que ela havia me dito.

Bom, então era isso o que meu pai sentia pela minha mãe. E era isso o que Anna sentia por Pierre no verão passado ( Pierre era um dos bonitões da aldeia, e já havia me pedido em casamento duas vezes. Mas ele era muito metido, por isso não aceitei nenhuma vez. Até hoje não sei o que Anna viu nele.)

Mas será que era isso que eu sentia por Nicholas?

" Ah bobagem!", pensei, enquanto pegava mais um livro para ler, na tentativa de livrar-me de meus devaneios.