POV bela

Eu estava esperando Nicholas na sala de jantar e me perguntando o que Harry queria tanto lhe contar. Será que era sobre mim?

Quis perguntar assim que Nicholas finalmente chegou, mas achei melhor não, talvez não fosse nada demais, apesar de o fato de ele ter me encarado de uma maneira um pouco incomum. Como se eu tivesse algo diferente.

Quando ele se sentou, perguntei novamente, apenas para puxar assunto:

– Afinal, você gosta de ler?

A sala foi tomada pelo silêncio, enquanto ele parecia pensar em uma resposta. De repente, Paul, que estava arrumando as cortinas, se intrometeu:

– Você gosta? Ah, então vai adorar a nossa biblioteca!

Arregalei os olhos. Como assim?

– Uma biblioteca? Porque não me contaram isso antes?

– Achamos que não se interessaria. - ele deu de ombros.

– É, temos sim uma... biblioteca. - Nicholas falou, voltando minha atenção para si. - Eu posso te mostrar, se quiser.

– Ah, eu adoraria. - respondi.

– Então iremos ao fim do jantar.

Assenti, sorridente e notei que um pequeno sorriso se formou em seu rosto. Quando terminamos, ele se levantou, veio até mim e eu estendi a mão para que ele me guiasse.

Ele a segurou delicadamente e me conduziu pelas escadas e corredores até pararmos em frente a uma grande porta, que parecia ter ficado fechada por anos. Ele fez sinal para que eu a abrisse e o fiz, obedientemente.

Ao entrarmos, tudo estava escuro, pois já era noite, então não pude visualizar nada. Porém, quando Nicholas acendeu algumas velas no local, as imagens foram surgindo.

Quando tudo se iluminou, fiquei completamente boquiaberta. Eu nunca tinha visto tantos livros! De todas as cores, de todos os tamanhos, de todos os tipos. Eu não podia acreditar. Era tudo tão lindo! Os livros estavam ligeiramente empoeirados, não pude deixar de notar, mas isso não importava.

Fiquei tão admirada com tudo ao redor, que só me lembrei da presença de Nicholas quando ele perguntou:

– Gostou?

– É claro! - respondi, ainda encarando as estantes. - Isso é maravilhoso!

– Então... - ele pareceu pensar por um tempo. - Pode vir aqui sempre que quiser. É sua.

Minha?

– Está falando sério?

Ele confirmou. Senti vontade de abraça-lo, mas me contive. Então apenas segurei suas mãos e agradeci com um enorme sorriso:

– Muito obrigada.

Ele sorriu e ficamos nos encarando por um tempo. Que gentil de sua parte. Talvez ele realmente não fosse tão malvado assim. E não tinha ideia do quanto tinha me feito feliz. Como gratidão, me dirigi até uma das estantes e falei:

– Vamos escolher um para ler então.

– Bela, não dá... - ele disse, preocupado. Estranhei.

– Não dá?

– Eu não... eu não sei ler.

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POV fera

Ela ia rir da minha cara. Ou debochar. Ou me achar um estúpido,burro, inculto. E eu não lhe tiraria razão. Se eu tivesse me interessado mais pelos livros durantes todos aqueles anos, talvez a solidão tivesse diminuído e eu fosse um pouco mais inteligente. Como ela.

Realmente, éramos completamente diferentes. Ela era linda, inteligente, amável, sorridente, gentil. E eu? Melhor nem comentar.

Depois daquilo, ela ficou um tempo em silêncio, parecendo pensar no que dizer. Eu sinceramente nem me importei. Não me surpreenderia nada se a reação dela ao saber daquele meu constrangedor segredo, fosse bem ruim. Já estava me preparando quando ela finalmente respondeu, com a maior naturalidade do mundo:

– Então eu o ensinarei.

– O que? - é, ela me surpreendeu novamente.

– Eu o ensinarei. - ela riu. - Ensinei à Anna. Porque não poderia ensinar à você? Sente- se. - pediu e eu obedeci, enquanto ela pegava um exemplar de capa vermelha e vinha até meu lado.

– Esse é o meu preferido. Romeu e Julieta. - falou, apontando as letras na capa do livro.

– Sobre o que fala? - eu quis saber.

– Amor impossível. São dois jovens que se amam, mas suas famílias são inimigas, então eles não podem ficar juntos.

– Ah...

Amor. Jamais o conheceria, portanto o abominava. Tantos casais felizes nas aldeias, nas cidades, no mundo todo. Eu nunca faria parte de um casal. Nunca encontraria alguém capaz de me amar. Estava destinado a viver solitário. Até o fim.

– O que foi? - ela perguntou, notando minha repentina tristeza, que sempre surgia quando alguém tocava no assunto " amor".

– Nada demais. - despistei. - Comece.

Ela suspirou e começou a ler. E foi me ensinando as coisas com toda a calma e paciência.

Ficamos lendo por bastante tempo, e conseguimos terminar o livro inteiro naquela noite. De repente, Charlotte veio nos avisar que já passava das onze horas da noite.

– Meu Deus, como passou rápido. - Bela exclamou, e tive de concordar. O tempo com ela passava mais rápido. Charlotte sorriu e foi com ela até o quarto. Mas antes de sair, ela se despediu:

– Até amanhã.

– Até... amanhã. - respondi, fazendo -a sorrir.

Pouco depois que elas saíram, voltei para o quarto também. Mas quando estava fechando a porta, não pude deixar de ouvir a conversa dos criados, que estavam à alguns metros dali.

– Estavam lá até agora? - Harry perguntou.

– Estavam. - Charlotte confirmou.

– Lendo? Achava que Nicholas não sabia ler. - disse Paul.

– Talvez ela tenha o ensinado.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, até que Harry falou:

– Essa menina está mudando tudo por aqui.

– Está sim. - concordou Charlotte.

– Está sim. - concordou Paul, depois de um tempo.

Fechei rapidamente a porta e fiquei pensando no diálogo que havia acabado de ouvir. E por fim, concluí que Harry estava certo. "Ela estava sim".