POV bela

Já estava há alguns dias no castelo. Eu já era amiga dos criados, que eram muito gentis e estava começando a me acostumar com tudo aquilo. Mas duas coisas ainda me incomodavam: A saudade de meu pai e o mistério desse castelo. Por que eu nunca mais tinha visto seu dono desde o dia em que havia chegado, apesar de às vezes me sentir observada? Por que ele usava aquela capa negra? E por que quando eu perguntava a seu respeito para os criados, eles desconversavam?

Essas perguntas me atormentavam. E eu queria muito descobrir uma resposta para elas. Pensei em perguntar direto para o dono do castelo, já que os criados não me respondiam. Mas, do jeito que ele era, fiquei com medo de perguntar alguma coisa e ele gritar comigo ou coisa pior. Porque, acho que ele guardava uma certa mágoa de mim, já que eu havia dito que o odiava sem ao menos conhece-lo. De vez em quando eu me sentia um pouco culpada por ter feito isso, mas eu sinceramente estava com medo e raiva na hora. E também, eu simplesmente não podia falar com ele para me desculpar. Ou perguntar alguma coisa, por mais curiosa e arrependida que eu estivesse.

Por isso, fiz de tudo para evitar qualquer tipo de contato com aquele doido. Pedi para comer no quarto. Fiquei o máximo de tempo dentro dele. E quando resolvia sair, tomava o cuidado de verificar se ele não estava por ali. E eu achava que os criados já haviam percebido que eu não queria falar com ele.

Mas, quando eu estava observando o pôr do Sol pela janela, num final de tarde, Charlotte entrou no quarto. Sorri ao vê-la e corri para abraça-la. Ela retribuiu o abraço e em seguida se afastou e parou ao lado da porta. Estranhei isso, mas logo descobri o motivo dessa sua atitude quando ela avisou:

– Querida, deve se arrumar para o jantar desta noite.

– Ora, mas eu não vou jantar no quarto hoje? - perguntei confusa.

– Não, hoje não. - ela respondeu para sair andando pelo corredor logo depois antes que eu fizesse qualquer pergunta.

Como assim eu não jantaria no quarto? O que isso queria dizer? Que eu jantaria com ele? Meu Deus! Assim, sem mais nem menos, ele apenas decidia que eu iria jantar com ele e ponto? Não. Não era assim. Bom, mas talvez ele viesse me pedir para jantar com ele mais tarde... mas mesmo assim eu não ia aceitar. Eu não queria nada com ele! Ele era assustador. Sombrio, usava aquela capa escura. E parecia ser o tipo de pessoa que acha que é dono do mundo e que explode por qualquer motivo. Percebi isso em seu tom de voz, que aliás, era um pouco sombrio também. Tudo nele era sombrio. Não, não mesmo, eu não ia jantar com ele. Mesmo que ele pedisse e mesmo que eu estivesse com um pouquinho de vontade de conhece-lo, porque esse seu jeito sombrio era sinistro, porém intrigante.

Mas como eu queria agradar Charlotte, coloquei o primeiro vestido que vi no armário e prendi os cabelos, só para parecer arrumada. Então, sentei-me na cama e fiquei esperando o sombrio aparecer.

POV fera

Então, lá estava eu, parado em frente à porta do quarto de Bela, ao lado de Paul, Harry e Charlotte que me incentivavam, pensando no que eu estava fazendo ali. Sim porque, Bela me odiava, ela não queria nem me ver! Bom, confesso, também não gosto de me ver, por causa dessa aparência monstruosa. MAS EU ESTAVA USANDO A CAPA QUANDO ELA ME CONHECEU ! E mesmo assim, não queria me ver. Ficava imaginando o que se passava em sua mente. Será que ela realmente me odiava? Ou será que era só raiva momentânea? Não, provavelmente era ódio mesmo. Então, eu continuava pensando: O que eu estava fazendo ali?

Pensei em desistir, mas Harry impediu. Depois de alguns segundos olhando para a porta e pensando, finalmente resolvi perguntar:

– Você vem jantar comigo esta noite?

Todos ficaram em silêncio, esperando atentamente e esperançosamente a resposta, que foi...

– Não.

Olhei para Harry, fuzilando-o com o olhar. Então, sussurrei, sarcasticamente:

– E agora gênio?

Ele ficou parado pensando, enquanto Charlotte tenta convencer Bela, falando através da porta e eu me sentindo um completo idiota. Então, Harry sugeriu:

– Peça " por favor".

Arregalei os olhos. No início até relutei um pouco, mas acabei descobrindo que essa era a única solução. Por isso, tive que pedir:

– Bela, por favor, venha jantar comigo?

Ficamos parados um tempo, esperando a resposta, que demorou tanto a chegar, que confesso que cheguei a ter um pouco e esperança, pois se ela estava demorando a responder era porque devia estar pensando. Então, finalmente, a resposta chegou:

– Hmmm... Não, obrigada.

Quase estrangulei Harry! " Ah não, pra mim já chega, é muita humilhação para um dia só. " pensei, antes de gritar:

– AH QUER SABER? ENTÃO FIQUE AÍ PRA SEMPRE!

E saí correndo pelas escadas sem nem olhar para trás. Ouvi Charlotte me repreender, gritando meu nome, mas eu nem lhe dei ouvidos.

Assim que cheguei ao andar de baixo, entrei na sala de jantar e fiquei parado em frente a mesa de janta, que estava pronta, observando-a como um idiota. De repente Paul apareceu. Eu sabia que ele ia tentar me acalmar ou algo do tipo, mas eu não estava com paciência pra nada naquela hora. Por isso, lhe dei um empurrão antes que se aproximasse e ordenei que saísse. Ele ficou um pouco ofendido, mas acabou saindo, deixando-me sozinho. E eu continuei ali parado, observando a mesa de jantar.

POV bela

Poucos minutos depois que ele foi embora, Charlotte e Harry entraram em meu quarto e tentaram me convencer a ir jantar com ele. Como já disse, não estava com a mínima vontade, mas concordei em descer apenas para não magoá-los, já que eles haviam preparado tudo.

Então, me levantei e saí do quarto, acompanhada por Harry e Charlotte, que me abraçaram e me desejaram boa sorte. Apenas sorri, mas entrei desesperada na sala.

Como era de se esperar, ele estava lá. Mas não estava comendo. Estava parado em frente a mesa de jantar, provavelmente observando-a, de modo melancólico e arrependido. Mas ele estava tão concentrado em fazer isso que Harry precisou chamar sua atenção e dizer a ele que eu estava ali.

Ele assentiu e dispensou Harry, que me deu uma piscadela e logo se afastou.

– Sente-se. - ele disse, sem nem ao menos olhar para mim. Eu obedeci e me sentei, tremendo de medo do que iria acontecer.

Então ele se sentou também e começamos a comer. Ele ficou quase o jantar inteiro num estranho silêncio. Esse silêncio me deixou um pouco preocupada e até com um pouco de pena. Será que ele estava chateado? Porque se estava, aquela não era exatamente a minha intenção.

O clima tenso já estava começando a me irritar, então, superei o medo e a raiva e comecei a falar:

– Olha, me desculpe se eu te magoei... e se fui um pouco irredutível.

– Você não me magoou. - ele disse, seco. - E eu já esperava aquela sua resposta.

– Ah, agora é vidente. - ironizei.

– Talvez eu seja... - respondeu, fazendo-me sorrir. Talvez ele não fosse tão sombrio assim... Decidi arriscar uma outra pergunta:

– Qual o seu nome?

– Por que quer saber? - ele falou, imitando meu tom de voz. Ri e respondi, fazendo o mesmo com ele:

– Já que irei ficar no castelo por um tempo, pensei que seria bom saber ao menos o seu nome.

– Eu não falo desse jeito. - Replicou ele.

– Fala sim.

– Não falo.

– Fala.

– Não falo. E eu sou o dono desse castelo. A palavra final é minha.

Parei de comer. Não, ele não tinha dito aquilo. Que chato. Realmente, eu estava certa, ele era detestável. E é claro que eu revidei:

– É, você está certo, é o dono desse castelo... Um dono orgulhoso, arrogante, chato e ridículo!

– Ridículo é...

– É ridículo sim! - fiz questão de reforçar. - E digo mais: Quer saber? Eu só vim para esse jantar para fazer a felicidade dos criados e não a sua!

– Eu também!

– Ótimo, então, eu já vou me retirar. Se me dá licença... - já fui me levantando.

– Ótimo! - ele exclamou.

– Ótimo!

E saí pisando duro, levemente arrependida por ter brigado com ele novamente. Mas então, quando já estava na porta, não sei o que deu em mim, mas eu simplesmente perguntei:

– Mas antes de sair, eu preciso saber: Por que você sua essa capa?

Ele, que já estava se levantando também, congelou. Então me respondeu, com a voz gélida:

– Isso não é da sua conta.

Não se foi pelo fora e meu jeito impulsivo de ser e de não aceitar foras. Ou pela confiança com que eu estava naquela noite. Mas ao invés de parar e voltar para o quarto em silêncio em quis continuar:

– É sim. Responda-me, por que sempre usa essa capa?

Ele permaneceu calado.

– Responda -me - aumentei o tom de voz. - O que você tanto esconde?

Ele veio na minha direção e teria saído da sala, se eu não tivesse ficado em sua frente e repetido:

– Fale, o que você tanto esconde do mundo?

– BELA... - ele repreendeu, já começando a me assustar, mas não lhe dei ouvidos e não saí da frente. Então ele me empurrou para o lado e passou, mas antes que ele saísse pelo corredor, peguei uma ponta da capa e a puxei com força, fazendo com que esta caísse no chão. Ele se virou bruscamente e gritou:

– PRONTO! ERA ISSO O QUE ESPERAVA? AGORA ESTÁ FELIZ?

Quando vi seu rosto, quase caí no chão também. E saí correndo na mesma hora, sem conseguir segurar as lágrimas.

Pude ouvir uma confusão se formando lá embaixo quando subi as escadas. Os criados tentaram me chamar, mas eu nem me importei e entrei correndo no quarto. Bati a porta com força e me joguei na cama. Agarrei a primeira almofada que vi e continuei chorando, olhando para o teto e pensando: " Meu Deus. Ele é um monstro."