T. P. M. escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oláá!
Esse é o presente da minha outra gêmea preferida, Cella Black, que fez aniversário em Junho.
Com muuuuito atraso, e com a mesma quantidade de amor.
=]
Enjoy!



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Meu celular estava tocando dentro da bolsa, mas eu já sabia quem era e nem me preocupei em atender ou silenciar o aparelho, embora o toque estivesse me irritando ainda mais. Nessas horas era que eu pensava por que mesmo eu tinha comprado mais um desses aparelhos trouxa sem muita utilidade.

-Aah, mas deve ser muita eficiência mesmo! – Murmurei pela milionésima vez enquanto segurava o volante com a mão direita e limpava minhas lágrimas de raiva com a esquerda. – Ai, porra! – Praguejei quando a pulseira do relógio arranhou minha bochecha.

Enquanto olhava pelo retrovisor se havia me machucado muito, ouvi uma buzinada e reparei assustada que havia entrado na contra mão acidentalmente. Não me preocupei em pedir desculpas, porque eu não estava assim tão simpática, mas freei apressada, bati as duas mãos no volante e gritei comigo mesma quando o veículo estava completamente parado em sua devida faixa:

–Pra que mesmo você comprou um carro, Gina? Você é uma bruxa, cacete, e pode aparatar! – Baixei o tom de voz quando a criança do carro ao lado me olhou assustada, e murmurei me olhando novamente no espelho, apenas para me sentir mais tapada: – Ah, claro! Porque ele disse uma vez que achava sexy mulheres ao volante.

O sinal abriu e eu pisei fundo no acelerador para cruzar o mais rápido possível os três quarteirões que faltavam para chegar à casa que até hoje pela manhã era nossa, mas que a partir de amanhã seria apenas minha.

Não que ele tenha me dito algo, mas eu quase sempre deduzo muito bem as coisas. E em algumas vezes costumo exagerar um pouco nessas deduções.

–Mas pelo visto ele anda preferindo cabelos pretos em jalecos brancos. – Resmunguei tristonha, ainda me referindo ao seu antigo gosto por mulheres de carro, e sentindo novamente algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto ao estacionar o carro na pequena garagem à frente do jardim de entrada.

Tirei minha bolsa do banco de trás, bati a porta mais forte do que o necessário, limpei o rosto outra vez e mais delicadamente, e caminhei a passos largos até a porta de entrada. Após olhar ao redor e constatar a rua vazia, tirei discretamente a varinha da bolsa e sussurrei: “Alohomora!”.

A porta se abriu com um clique abafado e eu dei um passo a frente antes de que a luz se acendesse sem que eu tocasse o interruptor. Olhei desanimada para frente, já sabendo que eu iria gostar e odiar saber que ele já estava aqui.

–Dirigindo pela contra mão, é? – Perguntou meio divertido, meio sem graça.

Alguns diriam que ele escolheu uma péssima hora para tentar ser engraçado, mas depois de anos eu afirmo com toda certeza que ele só está tentando quebrar o clima gelado do meu olhar.

–Me seguindo de novo, é? Pelo visto você está ficando cada vez melhor em fazer coisas que eu não gosto. – Argumentei acidamente.

–Você está nervosa, eu estava preocupado. – Deu de ombros, falando simplesmente enquanto arrumava a atadura envolta no ombro direito e sentado em sua poltrona de sempre.

Eu reprimi a vontade de arrumá–la para ele, como tantas e tantas vezes já fiz, passei direto por seu olhar avaliador e subi as escadas sem responder as duas vezes que ele falou “Amor, vem cá”.

Tranquei a porta do quarto, deixei minha bolsa e a varinha sobre a cômoda e antes de me dirigir ao closet tirei minhas roupas e as deixei em cima da cama. Procurei nas gavetas o pijama verde que queria usar e tranquei também a porta do banheiro.

Eu tinha plena consciência de que isso não resolvia muito em uma casa onde todos tem poderes mágicos, mas pelo menos daria a entender que não quero ser incomodada.

Saí do banheiro já vestida e com os cabelos secos, para encontrá–lo sentado na cama e cheirando a camiseta que eu estava usando até então. Ele fazia isso as vezes, mas dessa vez eu não demonstrei o quanto me sentia bem com essa atitude.

–Eu adoro o cheiro da sua roupa. – Tentou descontrair novamente.

–É o mesmo cheiro das suas, elas são lavadas juntas. – Retruquei sem olhar em sua direção e parando em frente ao espelho com a escova de cabelos nas mãos.

Não me preocupei em quebrar o silêncio enquanto me penteava, e me forcei a não olhar para ele pelo reflexo a minha frente, embora eu soubesse que ele estava me olhando.

–Gina, eu estava só querendo consertar meu ombro! – Falou sem que eu perguntasse nada.

–Então deveria ter ido a um hospital, e procurado um médico! – Aconselhei ainda de costas.

–Mas aquilo era um hospital, e ela era uma médica! – Se defendeu aproximando–se de mim e acariciando levemente meu braço esquerdo.

–Um hospital de verdade, e uma médica de verdade, Harry. – Me virei para ele de braços cruzados.

–Gi, eu estava machucado. Aquele é o melhor hospital de Londres e era o mais perto de onde a chave de portal nos deixou. – Argumentou me olhando.

–Era a melhor médica de Londres, também? – Perguntei sarcástica e ele cobriu os olhos com as mãos.

–Eu não falei nada disso, só disse que era o melhor hospital. – Respondeu ainda sem me olhar.

–Não é melhor que o St. Mungus! – Retruquei.

–Eu sei que não, mas você viu como meu braço estava sangrando e eu não poderia atravessar a cidade em um taxi para chegar a ele, e nem podia aparatar. – Se explicou.

–Na verdade, quando cheguei lá só vi a melhor médica de Londres sorrindo graciosamente, te olhando muito indiscretamente e quase esfregando os peitos na sua cara. Ela deve ser tão eficiente que você nem sentia mais o machucado, não é? Estava sorrindo tão feliz enquanto dizia: “Melhor você não saber no que eu trabalho!”. – Lancei mão de toda minha ironia ao longo dessa frase.

–Amor, ela estava fazendo um curativo no meu ombro, e tinha perguntado no que eu trabalho que me machuco com certa frequência, eu não poderia dizer que combato bruxos das trevas. E eu nem reparei no decote dela.– Falou resignado.

–Eu não me lembro de ter dito que ela estava de decote, mas fico feliz em saber que você não reparou! – Esbravejei saindo de sua frente e cruzando a porta do quarto em direção às escadas que me levariam à cozinha. – Na verdade, quase tão feliz quanto eu fico com a coincidência de que nas últimas duas vezes que você se feriu aquele também era o hospital mais próximo e ela também era a única médica disponível.

Ouvi seus passos me acompanhando com pressa seguindo o ritmo dos meus, e no meio da sala de jantar ele se chocou contra minhas costas quando eu parei de repente. Harry segurou forte minha cintura com a mão esquerda para amenizar nosso impacto e aproveitou o movimento para me fazer um carinho que em situações normais eu gostava muito.

–Ai! – Murmurou baixinho quando minha cabeça bateu em seu ombro machucado.

–Aliás, ainda não entendi pra que você me ligou se já estava sendo tão bem cuidado pela excessivamente atenciosa Dra. Commins. – Finalizei me livrando de sua mão e continuando meu trajeto.

–Porque você é minha esposa, e ninguém cuida melhor de mim. – Respondeu se encostando na bancada ao lado da geladeira enquanto eu pegava a jarra de água e ignorava sua presença.

–Então saiba que esposa nenhuma fica feliz quando o marido fica uma semana fora de casa, liga no fim do dia avisando que voltou mas está no hospital, e quando chega lá o encontra sendo assediado por uma médica gostosa que usa um decote indecente. – Argumentei pegando uma lasanha congelada e colocando no microondas, um dos raríssimos objetos trouxa que eu considerava de muitíssima utilidade.

–Você é muito mais gostosa que ela, amor. – Elogiou, desviando o foco do assunto.

–O que quer dizer que ela também é gostosa, não é? – Expus minha interpretação de sua frase, de costas para ele e olhando o microondas aquecer o jantar.

–Aaah Gi, pelo amor de Deus, se eu falar que ela era feia você sabe que é mentira, mas isso não quer dizer que eu me interesse. – Retrucou parando entre mim e o forno ligado à minha frente.

Eu não respondi nada, apenas cruzei os braços e esperei que ele continuasse.

– Eu e você somos assediados todos os dias, ou você vai me dizer que ninguém faz isso com você? As pessoas não são cegas e eu sei que elas enxergam tanto quanto eu como você é linda, gostosa e sexy com aquelas saias justas e os saltos altos com os quais vai ao trabalho. – Continuou e eu segurei meu ego, que ameaçou crescer um pouco a cada elogio. – Nós sabíamos disso quando nos casamos, somos conhecidos no mundo bruxo.

–No mundo bruxo sim, mas agora entre os trouxas também? – Argumentei, mais por teimosia do que por raiva.

–Ei, o que é que está acontecendo? Eu é que sou o ciumento aqui. – Brincou colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

–Quem disse que só você é o ciumento? – Questionei ainda de braços cruzados, mas sem me livrar da mão que ele apoiou novamente na minha cintura. – E duvido que você ficaria feliz no meu lugar. Alem de estar com os peitos em cima de você, aquela vaca me olha quando eu chego e fala: “uhnn, meu paciente preferido ainda está casado?”. Como assim, “ainda”?

–Ela não sabe o que está dizendo, porque todas as vezes que eu voltar lá ainda estarei casado com a mesma mulher. – Falou galanteador.

–Eu ouvi direito que você ainda vai voltar lá? – Falei pausadamente apreciando a sensação da raiva voltando lentamente.

–Não ouviu direito não, eu nunca mais voltarei lá. – Corrigiu rapidamente, se dando conta do que havia dito. – Você não deveria ter ido embora, te chamei porque queria que você ficasse lá comigo.

–Pra quê? Pra ver ela se jogar em cima de você como se eu não estivesse ali? Ou pra esperar vocês dois saírem da sala onde “acompanhantes não podem entrar”? – Perguntei imitando sua voz irritante. – No St. Mungus eu poderia ter ido em qualquer lugar. Aliás, o que era tinha naquela sala? – Completei ameaçadora.

–Uma maca de raio–x. Eu nunca tinha feito isso antes, mas reconheci o que era depois que ela trouxe o papel com a foto dos meus ossos. Duda fazia sempre que caía. – Explicou me deixando ainda mais confusa, mas não pedi mais detalhes. – Quando saímos de lá esperei tempo suficiente para ela me dizer que não quebrou nada e saí correndo, depois de falar que precisava encontrar minha esposa rápido para irmos para casa.

–Quem te trouxe? – Questionei ainda enciumada.

–Peguei um táxi e pedi para ele pegar um atalho para chegar aqui rápido. – Respondeu focando minha bochecha com a testa levemente franzida. – O que foi isso no seu rosto? – Perguntou passando a mão sobre o arranhão que fiz pouco tempo atrás.

–Arranhei com a pulseira do relógio. – Falei um pouco sem graça, porque do mesmo jeito que eu sabia que suas piadas eram para aliviar a tensão, ele saberia que passei a mão forte demais para secar as lágrimas, típico de quando eu chorava.

Harry me olhou um pouco culpado, mas antes que falasse qualquer coisa a respeito o sinal sonoro indicou que já poderíamos comer e eu achei o pretexto certo para sair de sua frente. Enquanto eu retirava a bandeja quente de dentro do aparelho ele pegou pratos, talheres e copos, mesmo com um pouco de dificuldade pelo braço ferido, e os organizou sobre a bancada da cozinha onde fazemos as refeições diariamente, pois a mesa de jantar é grande demais só para nós dois.

–Conseguiram pegar o bruxo responsável por esses ataques? – Perguntei após uns minutos de silêncio.

–Não. No fim ele só tinha armado uma emboscada para nós. – Respondeu rapidamente, como quem não deseja perder o assunto.

–E todos voltaram bem? – Questionei olhando para o meu prato, mas preocupada com o que havia acontecido na missão.

–Sim. Só eu que fui atingido por um estilhaço grande demais da explosão que eles causaram.

–Machucou muito? – Quis saber, olhando a atadura bem enrolada em seu ombro.

–Um pouco. Levei alguns pontos apenas para parar de sair sangue, amanhã passarei no St. Mungus cedo para que eles consertem para mim. – Falou, visivelmente satisfeito com meu interesse em seu estado de saúde.

Após um breve aceno de cabeça da minha parte nada mais foi dito. Terminamos de jantar em silêncio e eu tirei os pratos da mesa para que ele não sentisse mais dores no ombro, e ele me esperou para que fossemos juntos até a sala.

Eu não estava mais realmente brava com ele, agora predominava a saudade desses dias de ausência e a mágoa pela situação chata e constrangedora de horas atrás, que relutantemente eu reconhecia que ele nem tinha assim tanta culpa.

Quando chegamos no cômodo ao lado eu peguei o controle do nosso aparelho de TV para assistirmos a um filme qualquer juntos, como sempre fazemos nas tardes de inverno e quando ele chega de suas viagens de trabalho.

Eu adorava ficar assim, porque mesmo que do filme quase nada fosse visto, ele me contava tudo o que tinha acontecido enquanto esteve fora e eu fazia o mesmo. No fim, a gente também quase sempre terminava sem roupa, o que era outro ponto positivo para esse nosso momento.

Antes mesmo que eu apertasse o botão de ligar, ele me chamou um tanto sem graça e com as mãos enfiadas nos cabelos, típico de quando estava nervoso ou envergonhado.

–Gi. – Começou e eu me virei para ele. – Preciso terminar o relatório da expedição para o Sr. Thompson, ele quer que envie ainda hoje.

Seu tom era visivelmente de quem se desculpa, mas eu não me preocupei em disfarçar o desconforto com mais essa distância entre nós.

–Uma semana inteira e o Sr. Thompson ainda não teve tudo o que precisa de você? – Perguntei irônica e jogando o controle novamente sobre o sofá. Quando ele abriu a boca para responder eu o interrompi. – Tudo bem, já vou dormir. Bom trabalho pra você.

Finalizei já na metade das escadas, e não ouvi se ele respondeu ou não.

Fiquei bastante tempo acordada, rolando de um lado para o outro e remoendo as piores situações do dia, até que consegui adormecer. Pouco tempo depois de dormir fui despertada pelo barulho da porta se abrindo lentamente e Harry indo direto para o banheiro.

Ouvi em silêncio enquanto ele tomava banho e pude imaginar com precisão todos seus movimentos: sair do chuveiro ainda molhado e encharcando o chão do banheiro, parar em frente ao espelho e usar a toalha para tirar o excesso de água dos cabelos, usar a varinha para seca–lo por completo, enxugar–se mais ou menos, passar no closet e vestir uma cueca boxer provavelmente preta, e se deitar com cuidado para não me acordar.

Fui orgulhosa o suficiente para não me virar ou falar com ele quando se deitou, mas me aconcheguei de bom grado em seu corpo quando ele se acomodou atrás de mim e me abraçou, e dormi mais facilmente depois que ele beijou minha bochecha.

Acordei na manhã seguinte sem nem lembrar muito bem de toda a raiva do dia anterior. Abri os olhos lentamente e me virei na cama para dar bom dia ao meu marido com o abraço que normalmente trocamos todas as manhãs, mas quando o fiz o outro lado estava vazio, exceto por um bilhete:

Bom dia, amor.

Não quis te acordar muito cedo, você parecia cansada.

Saí antes para dar tempo de passar no St. Mungus, espero que não fique chateada.

Nos vemos a noite.
Estou com saudades.

Te amo.

H.P.


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Notas finais do capítulo

Estou louca para saber a opinião de vocês *---*
A continuação vem rapidinho, prometo!
Comentem, opinem, critiquem, recomendem...
Amo vê-los aqui!
Até o próximo capítulo
Beijinhos.



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