A Sombra e a Escuridão escrita por Cris Turner


Capítulo 16
Capítulo 15




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Capítulo 15

 

Lentos passos, cabeça erguida. Quase como um corajoso prisioneiro caminhando para seu ultimo destino, eu cheguei até o centro da sala. No segundo seguinte, Edward estava bem na minha frente.

 

- Olá Bella – ele abaixou e deu um demorado beijo em minha bochecha.

 

Meu nível de nervosismo, o qual já estava em um nível perigosamente alto para alguém saudável, triplicou.

 

- Edward – um tanto quanto sem fôlego, respondi o cumprimento.

 

- Vem Bella, vamos sentar um pouco.

 

A mão gelada de Alice segurou a minha e me empurrou para  o bonito sofá branco. Meu ex-namorado ainda sorria ao se acomodar no sofá que ficava a poucos metros de onde nós duas estávamos.

 

- Você quer comer alguma coisa? Beber alguma coisa? – a baixinha falava animada quase quicando no sofá.

 

- Não obrigada. Eu acho melhor nós fazermos... fazermos o... – qual é mesmo a droga da palavra? – trabalho! Isso! Acho melhor nós fazermos o trabalho.

 

 Eu odeio perder a linha de raciocínio. E isso só acontece quando Edward me olhava exatamente daquele jeito... como se tudo de importante estivesse ali com ele. Exatamente como ele me olhava agora.

 

- Ah! Sim. Claro. – o sorriso murchou um pouco – Vou pegar o meu material. Já volto. – dizendo isso, sumiu completamente da minha vista.

 

- Como você está, Bella? – a voz rouca soou em meu ouvido, me arrepiando inteira.

 

 Virei rapidamente, quase caindo do sofá ao encontrar os olhos dourados a apenas alguns centímetros de mim. Tentei me endireitar, indo um pouco para trás, mas meu corpo se recusava a obedecer. Cada célula sentia saudades de Edward, cada célula queria acabar com aquela mísera distância entre nós. Contudo, minha razão lutava bravamente contra todo o resto, impedindo-me de fazer uma grande besteira.

 

- E-estou bem e você? – minha voz estava trêmula.

 

- Agora eu estou ótimo. – deslizou cada palavra, fazendo seu hálito de menta bater suavemente em meu rosto.

 

 Oh Deus! Onde Alice estava? Eu não agüentaria aquela tortura por mais tempo. Como se ouvisse minhas súplicas, a morena começou a descer as escadas.

 

- Desculpe a demora, Bella. Não estava achando meu estojo. – cantarolou, depositando suas coisas na mesinha de centro.

 

 Edward voltou a se sentar no outro sofá. Virei na direção oposta a ele e fechei os olhos, contando até dez mentalmente, procurando meu autocontrole. Ao levantar as pálpebras, encontrei Alice me analisando atentamente. Por um momento, achei que ela fosse fazer um comentário que eu não gostaria de ouvir, mas ela fingiu que nada estava acontecendo, voltando à atenção ao seu próprio material. Fiquei tão agradecida por esse gesto que deixei de lado  a frustração que senti ao ouvir a desculpa esfarrapada usada para justificar sua demora. Alice sentou-se ao meu lado, com um maço de folhas em uma  mão e uma caneta na outra. Revirei minha mochila a procura do trabalho idiota, entregando-o a Alice para que ela desse uma olhada, pois eu já lera grande parte dele.

 

- Ok. A primeira pergunta é “Como deve ser o relacionamento do adolescente com sua família?” – Alice leu.

 

 Apesar de já saber o conteúdo do trabalho, ainda me surpreendi com tamanha idiotice.  

 

- Isso é algum tipo de piada? – resmunguei sozinha.

 

- Pior que não é. – ela também parecia um tanto quando inconformada com o que lia.

 

- Que seja então. – suspirei – Vamos fazer de uma vez.

 

- É o jeito. Hey Edward, você vai ficar aqui? – falou, o tom risonho.

 

As belas faces dele se contorceram em uma careta raivosa ao olhar para irmã.

 

- Vou sim, Alice. Você se importa? – falou entre dentes.

 

- Claro que não. – falou, parecendo tentar controlar uma gargalhada.

 

- Você se importa, Bella? – a expressão voltara ao normal ao se dirigir a mim, a voz suave.

 

- Não. Tudo bem. – respondi.

 

Afinal, eu não poderia mandá-lo sair da própria casa, não é?!

 

 Respondemos aquela e outras catorze perguntas - absolutamente ridículas - terminando metade do trabalho. Foi exatamente na décima sexta pergunta que as coisas começaram a desandar.

 

- “O que é a amizade?” – mais uma vez a vampira leu.

 

Minhas costas ficaram eretas, cada músculo do meu corpo ficou tenso. Que coincidência, não? O tema mais delicado que poderia aparecer, apareceu. Senti um gosto amargo subir por minha garganta junto com a resposta que eu gostaria de dar. Porém engoli as palavras cruéis. Não valia a pena. Aquilo tudo já era bem difícil. Eu não precisava piorar ainda mais a situação dizendo – mais uma vez - a Alice o que eu pensava sobre a amizade... ou o que ela poderia causar as pessoas quando é “praticada” de maneira errada. Contudo, eu não fui a única que teve as  emoções alteradas ao som da ultima frase pronunciada. Um barulho estridente de metal poderia ser ouvido se alguém pegasse uma faca e a deslizasse pelo ar, tamanha a tensão que tomara conta daquele cômodo. Alice lançava olhares raivosos ao irmão, o qual parecia estar sofrendo um grave conflito interno.

 

Mais alguns segundos daquele silencio e eu sufocaria.

 

- Eu acho que a amizade é uma coisa muito valiosa, mas terrivelmente difícil de ser encontrada. - minha voz estava rouca. – Afinal, o mundo está cheio de estranhos que se passam por nossos amigos e depois nos apunhalam pelas costas, não é mesmo? – ironizei, arqueando a sobrancelha.

 

 Dessa vez nem mesmo um rolo compressor conseguiria comprimir a atmosfera ali formada. Cada canto da sala foi preenchido pelas palavras não ditas por mim. Afinal, não precisa ser um gênio para entender as entrelinhas. Alice ofegou e Edward contorceu as lindas feições em uma careta de tristeza. Porém ela se recuperou mais rápido e disse:

 

- Em minha opinião, a amizade é a coisa mais importante do mundo. Por isso é extremamente complicado escolher entre dois amigos, principalmente quando você não quer abandonar nenhum deles.

 

- Hipócrita! - sussurrei entre dentes.

 

 Eu nem mesmo sabia se queria que ela ouvisse. Parecia tão sem importância apontar culpados agora. Eu só desejava sair dali o mais rápido possível, pois aqueles últimos minutos fizeram o que mais de uma hora não conseguiu: ultrapassou meu limite. Agarrei meu casaco com a mão direita, amassando-o com força. Já estava em pé, preparada para me despedir, quando meu corpo foi tomado por uma tranqüilidade imensa. Virando a cabeça para o lado encontrei os outros cinco Cullen me olhando atentamente.

 

 Ótimo! Simplesmente perfeito! Como se isso já não estivesse embaraçoso o suficiente, resmunguei mentalmente antes de forçar um sorriso e murmurar:

 

- Boa tarde. É bom revê-los – e desta vez eu falava sinceramente – Mas eu já estava de saída. Obrigada pela hospitalidade, Sr. e Sra. Cullen. Nós terminamos isso outro dia, Alice.

 

 Puxei a alça da minha mochila com a mão que estava livre, não me importando nem um pouco se metade do meu material estava espalhado sobre a mesa. Por certo, alguém me levaria amanhã na escola. Tinha dado exatamente dois passos quando uma mão se fechou sobre meu pulso.

 

- Ah Bella. Por favor, coma alguma coisa primeiro. Já está tarde e tenho certeza que nenhum dos meus filhos se lembrou de lhe oferecer algo. – Esme Cullen falava, parecendo preocupada.

 

- Não precisa se incomodar, senhora Cullen. Eu não estou com fome. – neguei suavemente com a cabeça.

 

- Por favor, Bella. Eu ficaria muito chateada se você recusasse o convite. – os olhos dela murcharam.

 

Era nessas horas que eu achava que Alice poderia mesmo ser filha de Esme. Elas faziam exatamente a mesma expressão ao tentar convencer alguém. Titubeie por um instante e isso pareceu ser a deixa para Carlisle entrar na conversa a fim de apoiar a esposa:

 

- Nos sentiríamos ofendidos se você fosse embora agora. Teríamos a impressão de que sua partida repentina se deve ao fato de nossa chegada.

 

- O quê? – eu estava verdadeiramente surpresa com aquilo – Não foi por isso!

 

- Então não há problema algum em você ficar mais alguns minutos conosco.

 

Esme sentenciou já me puxando pelo pulso – que ela não havia soltado em nenhum momento da conversa – para a cozinha. Em outra situação eu protestaria, mas a calma que eu sentia no momento, devido ao poder de Jasper, era muito agradável. E se eu me afastasse dali, perderia essa sensação. Covarde, eu sei. Mas naquele momento, fugir da aflição foi tentador demais para resistir.

 

 De alguma maneira me descobrir sentada em uma cadeira em volta da grande mesa da cozinha. Edward estava ao meu lado enquanto os outros se acomodavam em qualquer lugar com exceção de Esme que colocava vários pratos recheados de diferentes tipos de comida bem a minha frente; e Emmett que permanecia encostado em um balcão de mármore, os braços cruzados e a expressão cansada. Durante alguns segundo eu apenas observei tanta comida, então timidamente levantei a mão e alcancei um bolinho que parecia especialmente apetitoso.

 

- Obrigada, senhora Cullen. – falei antes de dar a primeira mordida na guloseima, a qual era tão deliciosa quanto aparentava.

 

 A mulher mais velha abriu um pequeno sorriso, mas este não chegou nem perto de seus olhos. Peguei mais um bolinho, apesar de não estar com nenhuma vontade de comer, não queria fazer desfeita. Afinal, já estava lá mesmo. Porém era muito constrangedor tentar mastigar algo com sete pares de olhos lhe observando atentamente. E o pior de tudo era o silêncio pesado que, mais uma vez, havia se instalado no ambiente.

 

- Como está na escola, Bella? – Carlisle tentou contornar a situação embaraçadora.

 

- Tudo bem.

 

- E Jack?

 

- Ótimo. O senhor fez um ótimo trabalho, como sempre, senhor Cullen. Ele até já voltou a torrar minha paciência. – dessa vez meu sorriso foi verdadeiro.

 

 Carlisle abriu a boca para, provavelmente, me fazer outra pergunta neutra, mas foi interrompido por outra voz:

 

- Para mim já chega! – Emmett parecia furioso com algo.

 

- Emmett, não. – rosnou Edward.

 

 Olhei de um irmão para o outro, completamente confusa. Emmett bufava e Edward segurava um pedaço da mesa com força - o que me fez imaginar, de maneira não relevante, que aquele pobre pedaço de mármore não duraria muito tempo.

 

O que estava acontecendo?

 

- Se você não contar para ela, Edward, eu conto.

 

- Filho, isso é assunto do seu irmão apenas. – Esme usou seu tom de poder-de-mãe.

 

- Não. Isso deixou de ser assunto dele quando todos nós fomos envolvidos. Deixou de ser assunto dele quando a razão não foi explicada a ela. Deixou de ser assunto dele quando nós voltamos e mesmo assim nada foi esclarecido.

 

Tinha certeza de que meu rosto era o vivo retrato da mais pura confusão. As palavras de Emmett e as expressões de pânico nos rostos dos outros não fazia sentido algum. A única que parecia a vontade com toda situação era Rosalie, suas belas feições demonstravam quase alivio, como se um peso enorme estivesse sendo tirado de suas costas.

 

 Edward parecia prestes a se levantar e atacar o irmão quando eu finalmente recuperei minha voz – ou uma sombra pálida dela – e sussurrei:

 

- Do que você está falando?

 

Meu ex-namorado desviou toda atenção do irmão para mim.

 

- Não é nada, Isabella. Ele não está raciocinando direito. Não é nada.

 

- Você é quem há muito tempo não está raciocinando direito. Faz uma estupidez atrás da outra! Pois eu me cansei disso! Eu quero minha irmã de volta! – rugiu o grandalhão. – Então, é a última vez que eu aviso, conte a verdade ou contarei eu.

 

- Que verdade? Contar o quê? – um tom estridente escapou por meus lábios.

 

Era como se todo o resto estivesse desaparecido, naquele momento só havia nós três naquela cozinha.

 

- Conta para ela por que nós fomos embora! – a frase explodiu na cozinha.

 

Como se uma bigorna tivesse acertado meu cérebro, eu entendi o que se passava. Um zumbido ensurdecedor preencheu meus ouvidos e cambaleante eu me levantei da cadeira. Ninguém tentou me impedir, pois aparentemente ninguém sabia o que fazer. Tropecei algumas vezes ao sair da cozinha e correr para porta da frente. Não me importava se me achassem patética, não me importava com nada exceto fugir o mais rápido possível daquela casa e de todas as verdades que havia nela. Por que Emmett achava que precisava me lembrar que Edward não me amava e nem nunca me amou?! Eu podia ser patética e um tanto quanto idiota quando meu ex estava na equação, mas eu nunca fui burra. E qualquer um poderia perceber que a falta de amor o fez partir.

 

Corri pelo enorme jardim. As lágrimas acumuladas em meus olhos me impediam de enxergar direito, mas nem isso importava. Eu só precisava chegar ao meu porshe e tudo ficaria bem, pois estaria longe dali. Todo meu material ficou em algum lugar sobre a mesa dos Cullen e isso era completamente insignificante. A única coisa que eu precisava estava em meu bolso – a chave do porshe. Não diminuiu a velocidade nem mesmo quando chegava ao carro. Só quando minhas mãos espalmadas se chocaram contra  a porta do motorista foi que parei. Enfiei minha trêmula mão no bolso e funguei ao achar o que procurava. Faltava pouco agora. Destravei a porta e a abri. No instante seguinte uma mão estava lá, fechando-a novamente.

 

Não! Por favor, não! Sem desviar os olhos da porta, puxei a maçaneta, tentando abri-la novamente. Foi em vão.

 

- Saia! – ordenei, a voz embargada.

 

- Nós precisamos conversar, Bella.

 

Ele não precisava ter falado, eu sabia que aquilo seria dito. Ele não precisava ter falado porque eu já sabia que era ele desde o momento em que seu perfume magnífico chegou até meus pulmões. Porém saber daquilo tudo não me faria curvar diante de sua vontade. Eu iria embora.

 

- Não quero conversar. Quero que você se afaste do meu carro. – as lágrimas já corriam por meu rosto, não consegui detê-las por mais tempo.

 

 - Eu não vou sair. – a voz dele era firme e decisiva.

 

- Ótimo! – bati minha mão com força na janela do carro – Sejam muito felizes juntos! – gritei, finalmente olhando para ele.

 

 Então dei as costas e fui marchando com muita raiva em direção a saída que dava para a estrada. Não andei nem três metros quando Edward apareceu na minha frente.

 

- Qual parte do “não quero conversar com você” você não entendeu?

 

- Eu também não queria ter essa conversa. Talvez se eu não tivesse sido tão idiota, não precisaríamos estar aqui agora.

 

- Que bom que nós concordamos em não ter essa conversa e também concordamos que você é um idiota. Agora desapareça da minha frente. – a lágrimas não cessavam.

 

- Isso não vai acontecer, Isabella.

 

- Droga Cullen! Por que você não pode simplesmente me deixar em paz?! Já não conseguiu o que queria?! Já me tirou da sua vida. O que mais você quer de mim?! – bati meu punho cerrado de leve em seu peito.

 

- Desculpe, amor. Desculpe-me, por favor. – ele segurou minha mão e me puxou delicadamente para si.

 

Não sei se me desequilibrei ou se deixei ele me puxar, só tive ciência de que estava com a cabeça afundada no peito de Edward, os braços em volta de sua cintura enquanto chorava aos soluços. Ele me apertava de leve, passando as mãos por meus cabelos enquanto sussurrava:

 

- Por favor, Bella, por favor, não chore. Eu vou lhe explicar tudo. Não chore.

 

Aos poucos, fui me acalmando. As lágrimas perderam a freqüência e o ar se tornou respirável mais uma vez.

Lentamente soltei-o, mas os braços dele continuaram firmes em minha cintura.

 

Respirei profundamente duas vezes, torcendo para ter tomado a decisão certa, então falei:

 

- Diga o que você precisa dizer.

 

 Seus olhos dourados demonstraram surpresa e desconfiança. Eu não poderia culpá-lo por isso já que uma mudança totalmente drástica de atitude sempre confunde as pessoas. Porém não havia nenhum motivo oculto para eu ter decidido ouvi-lo. Eu apenas queria ver se assim conseguia encerrar esse assunto de uma vez por todas para finalmente poder seguir minha vida sem sentir tanta raiva do passado. Edward, ainda hesitante, tirou as mãos de minha cintura, talvez achando que eu já cooperara o suficiente por hora e que não era bom abusar de minha generosidade.

 

- Eu quero...não, eu preciso lhe explicar... – franziu os lábios – Eu sou um covarde!

 

Era para aquilo ter algum nexo?

 

- Nós fomos embora porque eu sou um covarde! – retomou – Eu amava... eu amo tanto você que fiquei com medo de machucá-la ou ser o culpado por alguém da minha espécie lhe machucar.

 

Meu queixo caiu e ultrapassou o chão. Pura incredulidade me preenchia.

 

- Ninguém queria ir. Nem mesmo Rosalie parecia inclinada a lhe deixar aqui. Mas eu implorei que entendessem meu ponto de vista até convencê-los a irem comigo. Foi difícil. Principalmente quando souberam que eu não lhe contaria o verdadeiro motivo. Deixá-la aqui só não foi pior do que mentir que não a amava. Cada palavra que eu obrigava minha boca falar naquele nosso ultimo encontro foi um enorme tormento para mim. Porque eu sabia que elas lhe atingiriam, destruindo sua confiança em mim, destruindo o que nós tínhamos. Mas eu precisava fazer aquilo. Por favor, ao menos tente entender. Eu achava que estava lhe protegendo.

“Então, nos mudamos para um lugar que eu nem ao menos sei ao certo onde era. Aquilo era irrelevante demais para mim. Tudo se tornara irrelevante demais, pois minha existência já não tinha qualquer tipo de significado. – Edward falava de forma tão vazia quanto uma máquina programada para uma gravação – E o pior era carregar toda minha família para o buraco junto comigo. Não que eu estivesse fazendo isso de maneira intencional. Nem eu sou tão baixo assim. – dessa vez ele falou olhando para o alto, como se ponderasse consigo mesmo sobre essa ultima afirmação – Mas era inevitável. Contudo, você não precisa saber esse tipo de detalhe. E eu também não queria ter que lhe dizer o quão insuportável foram os primeiros dias ou o inferno que se sucedeu a estes. Não quero despertar compaixão para chegar a sua compreensão. Até porque nada disso foi sua culpa. Eu pensei que não fosse necessário lhe explicar o quão excruciante foi esse tempo sem você, Bella. Mas você parece acreditar fielmente nas inverdades que eu lhe disse antes de ir embora. – levou a mão esquerda aos cabelos e puxou-os com força – Como você pode acreditar naquilo depois de todas as inúmeras vezes que eu lhe disse o quanto a amava? Você acredita mesmo que eu sou algum tipo um mentiroso compulsório que lhe enganou durante todo o nosso namoro? – ele sacudiu a cabeça de maneira inconformada.

“Cada hora se arrastava. Cada segundo se arrastava. Até que se tornou pesado demais para ser suportado. Eu achei que fosse forte. Achei que pudesse ficar longe de você para deixá-la ter uma vida normal, uma vida segura. Mas eu sou fraco demais para lutar contra o que sinto por você. Sou egoísta demais para ficar longe de você. Eu simplesmente não conseguia mais. Falei para minha família que decidira voltar para cá e eles ficaram exultantes. Carlisle ajeitou tudo o mais rápido que pode e assim retornamos. Eu estava tão ansioso para vê-la! Então nos reencontramos no estacionamento e... – a voz falhou – e você estava tão machucada. Deus! Não havia nem mesmo uma pálida recordação da luz você sempre carregava em seus olhos. Aquilo me matou um pouco mais. Você não queria falar conosco, não queria nem mesmo nos olhar. E quem poderia culpá-la por isso? Eu havia sugado a sua vida ao invés de melhorá-la, como achei que estaria fazendo ao me afastar. Mas eu juro que essa não foi minha intenção. Eu realmente acreditei que você ficaria melhor sem nós... sem mim. Na semana que sucedeu ao nosso retorno, pensei em fazer o certo e ir embora de vez, mas meus pés não se moviam. Eu realmente precisava tentar ter você de volta. Sei que é pretensioso da minha parte me sentir assim, mas preciso confessar que ainda restava uma pequena fagulha de esperança me dizendo que existia uma pequena possibilidade de conseguir seu perdão.

 

 Ele parou, passando as mãos no rosto repetidamente.

Tudo estava quieto demais enquanto eu absorvia cada sílaba que ele havia dito.

 

A calmaria antes da tempestade.

 

Meu queixo não se escancarou, meus olhos não se arregalaram, lágrimas não me assaltaram. Eu não tinha força para mover um único músculo. Aliás, estes se tornaram pesados demais para serem sustentados e foi por isso que meus joelhos cederam. Caí no chão, sentada, encarando o vazio. Não sei quanto tempo se passou até eu finalmente superar o estado de letargia. Mas em algum momento, o vazio aqui dentro foi substituído por puro frio. Meus dentes começaram a tremer e meus braços se arrepiaram. Não fiz qualquer movimento para tentar me aquecer, sabia que seria completamente inútil. Aquela sensação térmica nada tinha a ver com o clima, era diretamente relacionada ao homem do meu lado.

 

- Por que você fica fazendo isso?

 

Sussurrei com o fiapo de voz que ainda me restava, sem levantar a vista, pois, de algum modo, sabia que Edward estava sentado ao meu lado também imóvel. Ele estivera lá durante todo o tempo que sucedeu ao final de seu discurso.

 

- Por que fica mentindo para mim?

 

- Eu sinto tanto, Bella. Você não faz nem idéia de como me arrependo do que eu disse aquele dia na floresta. Pulverizei o que nós tínhamos devido ao medo. Entretanto, naquele momento eu tinha tanta certeza de que estava fazendo a coisa certa...

 

- Estou me referindo ao que você acabou de dizer. – o interrompi -  Por que você simplesmente não chega e diz na minha cara e com todas as palavras que nunca me amou? Por que fica inventando desculpas? Eu não preciso disso, sabe. Não sou de porcelana, consigo suportar. – falei, a voz monótona, como se estivesse comentando sobre o quão chato geografia poderia ser. - A verdade dói, mas as mentiras são piores.

 

- Oh! Não Bella! Olha pra mim, por favor. – segurou meus braços, virando-me em sua direção – Por favor, acredite. Eu estou falando a verdade agora. Toda verdade. Olha pra mim.

 

 Senti-me tentada em dizer que olhá-lo não faria nenhuma diferença, pois ele também me olhou nos olhos ao dizer adeus. Contudo, o que seria mais uma exceção frente a todas as outras que eu já havia feito hoje?! Suspirando, levantei a vista até me chocar com os orbes dourados. Ele estava tão perto que seu hálito foi de encontro a minha boca quando murmurou:

 

- Eu estou falando a verdade agora, Isabella. Eu amo você e nunca deixei de amar.

 

 Então me senti grata por não ter dito nada sobre como o olhara no fatídico dia. Porque, diferentemente de como se mostrara há seis meses, seus olhos não estavam vazios, mas cheios de uma emoção forte e cálida. Senti todo ar ser expulso de meus pulmões ao reconhecer a certeza em seus olhos.

 

- Deus! Você está falando sério. – o som que escalpou por meus lábios nem de longe se parecia com minha voz.

 

 Ele balançou a cabeça afirmativamente.

 

 Então tudo o que eu passei durante meses foi baseado em uma mentira?

 

O lugar pareceu girar e a náusea subiu por minha garganta. Com muita força de vontade, consegui controlar as  sensações desagradáveis. Eu precisava me manter acordada e sã para balancear o que estava acontecendo.

Edward me amava e me abandou porque pensava estar fazendo o melhor por mim. Contudo, esse pensamento equivocado me transformou em um fiapo de gente durante semanas.  Entretanto, ele não mentira para mim e nem me fez de idiota durante todo o nosso namoro.

 

Eu não sabia se estava extremamente furiosa por Edward ter mentido ou se estava exultante por tudo ter sido uma mentira. Durante um longo tempo uma batalha interna foi travada: Orgulho versus Amor. Um deles venceu, mas foi por muito, muito pouco. Voltando minha atenção ao mundo exterior, falei, com a voz embargada:

 

- Você é um cretino, filho da mãe. Se você voltar a mentir assim pra mim outra vez... eu mesma vou cortá-lo em pedaços e jogá-lo em uma fogueira. Entendeu?

 

 Edward pareceu perplexo, mas se recuperou logo. Puxando-me para seu colo e me abraçando firme enquanto outra rodada de minhas lágrimas molhava sua blusa. Francamente, eu não sabia o porquê de estar chorando, mas não conseguia detê-las.

 

Minutos - ou talvez horas – se passaram antes de um novo movimento ser feito. Levantei a cabeça devagar e encontrei Edward me olhando atentamente.

 

- Será que fui perdoado? – murmurou, rouco.

 

- Acho que podemos chamar assim. – passei a mão esquerda pelo rosto, tentando limpá-lo.

 

 O meu sorriso torto favorito iluminou seu rosto. Ele se aproximou. Percebendo suas intenções, coloquei as mãos espalmadas em seu peito, em um gesto simbólico para detê-lo – já que eu nunca seria forte o suficiente para pará-lo caso ele não quisesse. Seus olhos fizeram todas as perguntas que entalaram em sua garganta.

 

- Edward, eu perdoei você. Mas não sei se consigo... – faltava uma palavra certa – não sei se consigo voltar ao que éramos.

 

 A dor brilhou por todo seu rosto enquanto ele se afastava.

 

- Isso é muito justo. – a voz estrangulada – Agora que você sabe a verdade, eu vou tentar compreender que você quer seguir a vida sem mim. Você é capaz de superar...

 

- Oh! Faça-me o favor, Edward. Eu não disse que deixei de amar você. Mas como eu posso voltar a acreditar no nosso relacionamento se ainda há o medo de a cada nova desculpa você sair correndo daqui?!

 

 Não sei se deveria ter dito aquilo. Porém meu cérebro e minha Razão resolveram entrar em greve depois que o aliado deles, o Orgulho, perdeu a batalha. E já que não existia ninguém para me impedir de fazer coisas estúpidas, os Sentimentos resolveram fazer a festa e destravar minha língua.

 

- Eu não seria capaz de ir nem à Port Angeles sem você, Bella. Não mais. Nunca mais. – murmurou, emocionado – Eu prometo que nada irá nos manter separado novamente, amor. Por favor, me dê uma nova oportunidade e passarei o resto da eternidade tentando reparar o mal que lhe fiz e demonstrando todo o amor que sinto por você. Por favor, não desista de nós.

 

 Tive sorte por estar sentada senão teria caído. Indecisão corria por todas as minhas veias.

 

- Você pode me responder depois, Bella. Não quero pressioná-la a nada.

 

- Não. Vamos terminar esse assunto hoje! – respondi.

 

 Ele compreendeu que precisava de espaço para pensar, por isso se limitou a ficar quieto apenas me observando. Outra batalha acontecia em meu interior. Pelo jeito, a razão resolvera voltar e agora se envolvia em uma discussão acalorada com meu coração. Os argumentos da primeira eram realmente muito bons, mas o segundo contava com o apoio de todo resto do corpo. Cada um dos meus órgãos se opunha a idéia de perder a oportunidade de voltar para Edward. Era quase como se nenhum deles pudesse voltar a funcionar completamente se aquela chance fosse desperdiçada.

 

A voz da razão foi se tornando cada vez mais fraca enquanto o frio em meu peito era substituído por um calor crescente.

 

Minha atenção se voltou para ele. E quando nossos olhares se encontraram, Edward sorriu. Sabia que eu tomara uma decisão. Vagarosamente, como se tivesse medo que eu fugisse, se aproximou. Seus lábios se curvaram em um sorriso pouco antes de se chocarem com os meus.

 

Correspondi o beijo, aceitando o quão inevitável para mim era amar aquele homem e quão impossível era viver – no sentido total da palavra - sem ele.

 


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Notas finais do capítulo

Heeeey amores

por favor, não me matem pela demora do capítulo e não me odeiem se o capítulo ficou muito ruim. Eu juro que me esforcei para qe ele ficasse apresentável. Foram TRÊS dias escrevendo o capítulo z Acho que esse é o maior capítulo que já escrevi :O
Espero que vcs gostem. E, segundo meus calculos, esse é o antepenultimo capítulo. -cry

Ah! Claro que há uns pedaços da reconciliação que se parecem com LN já qe essa fic é baseada nos acontecimentos daquele livro (Y) E há diferenças na maneira como eu imagino a casa dos Cullen e como ea é apresentada no filme/livro.

Atendendo a pedidos muito fofos :
Se alguém quiser ver como eu imagino o Jack Swan:
http://tinypic.com/view.php?pic=2w395dv&s=3

Sim, eu amo o Damon Salvatore.

Estou aguardado a opinião de vcs sobre o capítulo. Love you all ;*