Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 9
Capítulo 8: Belobog.


Notas iniciais do capítulo

Um devatã mergulhado em seus pensamentos repousava seu corpo numa poltrona no centro de uma sala presa ao passado. Era tudo ilusão. A ilusão de seu mundo. Descansar seu corpo naquele local após uma sequência de eventos desoladores parecia ser o melhor a fazer. Mas seu sossego estava próximo de ser roubado. A luz se infiltrava em qualquer lugar instantaneamente. E até mesmo mergulhado nas trevas, tal devatã não era capaz de fugir da presença daquele ser que o repugnava. Pois bastava apenas uma cetelha luminosa, para a escuridão se esvair.



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Finalmente, após a batalha, o conforto de uma poltrona macia parecia ser mais agradável que de costume. Reconfortando-se em seus aposentos, Hiero Krýpsimo refletia sobre todos os acontecimentos anteriores a sua chegada em seu esconderijo, dentro de uma dimensão paralela. Dirigindo seu olhar á imensa janela ao seu lado, enxergou escuridão, com ofuscamentos de cores escuras, borradas e palpitantes. Decidiu alterar a paisagem e imediatamente balançou sua mão com seu dedo indicador e médio esticados criando um jardim coberto por flores com pétalas brancas que se tornaram possíveis de serem avistadas pela imensa janela. Sorriu e logo depois assumiu uma expressão séria subitamente. Realizou em seguida o mesmo movimento com sua mão direita e a imagem de Vlad foi projetada sobre o jardim.


‘’ Preciso me livrar de você o mais rápido possível. ‘’


Rapidamente movimentou seus dois dedos esticando-os para baixo e a ilusão foi dominada por um mar de chamas que pulverizou as plantas floridas a medida que avançava contra o deva de cabelos prateados. O fogo o dominou, destruiu seu corpo, desfragmentando-o até desaparecer por completo. Hiero virou seu rosto para frente se recostando na poltrona. Suspirou.


‘’ Não vou ser livre enquanto você existir. ‘’


– E o meu breve momento de paz se esvairá a qualquer momento. – sussurrou, colocando as duas mãos e antebraços sobre os braços da poltrona, erguendo-se conseqüentemente.


Uma pequena incidência de luz branca se formou no centro do grande cômodo aonde Hiero se encontrava, próximo do mesmo, em seguida se expandiu clareando todo o local. O imenso clarão fez desaparecer as mobílias européias do período moderno, tudo foi tomado por um branco imponente. O Krýpsimo percebeu que se encontrava de pé e que sua poltrona havia desaparecido.


‘’ Odeio quando ele faz isto. ‘’


Hiero olhou para cima, enxergou uma fonte de luz que brilhou de forma intensa.


– Tu me fizeste esperar. – tais palavras foram ditas por uma voz grave, de forte presença, que ecoou pelo infinito branco e se originou da fonte luminosa.


– Me perdoe senhor. – se desculpou Hiero, ajoelhando-se perante a fonte de luz.


– Erga-te e defina a porcentagem de sucesso.


– 70%. – respondeu, correspondendo a ordem, ajeitando os óculos durante o ato.


– Prossiga. – ordenou a voz eminente.


– Vlad Chernobog teve seus poderes retirados. Não foi possível destruí-lo devido a resistência de Hecate Chronus aos meus poderes. Hecate adquiriu domínio sobre seu corpo no exato momento em que conjurava uma magia que aniquilaria o alvo e consciente de seus atos decidiu lançá-lo ao futuro. Somente foi possível retirar os poderes do Chernobog. – relatou Hiero, apressadamente, sentindo-se desconfortável por contar sobre seu fracasso ao seu senhor.


– Sua imprudência é intolerável! – exclamou a voz que foi emitida da fonte luminosa.


Um soco invisível atingiu o abdômen do devatã, fazendo-o cuspir sangue e cair de joelhos no chão. A dor foi tamanha que fez o Krýpsimo serrar os dentes, enquanto permanecia com os olhos fixos em seus óculos que haviam caído a sua frente e que para sua felicidade não haviam quebrado.


– Me desculpe senhor.– sussurrou, pausadamente, tentando controlar a inspiração.


– Tu mereces este castigo. Todavia, sei que conseguistes realizar uma façanha, portanto seja breve.


‘’ Será que sabe por eu ter mencionado 70%? Restando 30% de informação deplorável? Ora, o senhor não me parece ser tão grande assim. ‘’


Hiero com certa dificuldade conseguiu se erguer.


– William, ex-mestre de Vlad está morto. Finalmente consegui matá-lo.


– Prodigioso. – elogia a voz. – Porém, é preciso estar alerta. William não é um oponente fácil de derrotar. Não creio que tenha sido destruído tão facilmente.


– O senhor acha que ele está vivo? Zero ergueu a cabeça daquele maldito bem na minha frente! E Margery tratou de pulverizá-la logo depois! Não há vestígios! De maneira alguma ele poderia ter sobrevivido. – exclamou Hiero, enfurecido e influenciado pela dor que ainda era imensa.


– Não se exaltes. – alertou a voz, silenciando o rapaz imediatamente, fazendo-o assumir uma expressão de ansiedade.


– Perdão.


– É preciso destruir o último Chernobog. Tu terás que destruí-lo o mais rápido possível.


– Sim senhor. – disse, desviando o olhar da luz.


‘’ Quando isto terá fim? ’’


– Hecate Chronus ainda esta sobre seu domínio?


Um calafrio correu o corpo de Hiero, fazendo-o arregalar os olhos.


– Não senhor. Escapou com a ajuda do Shoal. – respondeu, direcionando o olhar seriamente para a luz, decidido a suportar qualquer agressão.


– Este erro lhe retira o privilégio que adquiriras devido ao último relato. – observou a voz.


‘’ Isto aqui não é um jogo.Definitivamente não me importo. ‘’


– Senhor, desculpe a ousadia... – com um sorriso no rosto, Hiero decidiu arriscar uma pergunta. – William pertence a qual família? Qual seu sobrenome?


– Não seja indiscreto. Esta informação não lhe é útil.


– Sinto muito, senhor, mas discordo. Se William ainda estiver vivo, preciso saber de qual família pertence, para que possa evitar futuros equívocos, por não conhecer suas habilidades. – insistiu, caminhando alguns passos á frente.


– Não me provoque, Krýpsimo!


‘’ Como eu imaginava. Existe uma ligação entre ambos. ’’


– Bom... – balbuciou, retirando seus óculos para limpá-lo em sua camisa, porém desistiu ao perceber que a mesma estava suja de sangue. – Não tenho mais nenhuma informação relevante.


– Somente com o amuleto de Chronus poderás encontrar o Chernobog. Se não conseguires capturá-la novamente.


– Sim.


‘’ Eu sei. ‘’


– Sem falhas desta vez Krýpsimo! Se cometeres, pagaras á altura de sua incompetência.


– Irei até o futuro e eliminarei o Chernobog com minhas próprias mãos se for preciso.


– Não se esqueças de que o objetivo prioritário é encontrar o Yggdrasil. Utilize seu poder para obter duplo sucesso. Não lhe escolhi como meu discípulo por solidariedade, tu me deves lealdade. Seu poder de manipulação lhe garante a capacidade de realizar múltiplas tarefas.


Subitamente um clarão ofuscou a visão de Hiero. O Krýpsimo percebeu que logo depois da massiva dispersão de luminosidade desaparecer se encontrava em seu cômodo novamente, tudo estava no mesmo lugar de antes. Sentou-se em sua poltrona, notou que suas roupas já não estavam mais sujas de sangue. Percebeu também que a dor do soco havia passado. Não sentia mais nenhuma dor, apenas cansaço mental. Sorriu, sentiu uma tristeza gélida que dominou seu peito subitamente. Riu, sentiu o ódio se misturando com a tristeza, mas não foi capaz de fazer nada para impedir que este sentimento lhe dominasse, lhe corroesse aos poucos. Silenciou-se após alguns instantes. Observou a janela.


‘’ Maldito Belobog! Um dia você também sofrerá em minhas mãos. ’’


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Um banho delicioso parecia recompensar a jovem domadora do fogo. Após uma batalha árdua e cheia de contratempos, o melhor que poderia fazer e mais sensato, seria se afundar nas espumas sobre a superfície da água. Margery estava adorando aquilo, apesar dos inúmeros assassinatos, estava realmente adorando sua nova posição. Era curioso o fato de o pesar das almas ceifadas não lhe afetar de forma alguma. O pensamento estava longe, rememorando o passado em que era uma garota inocente que desejava proteger os humanos a todo custo. Nutria antigamente um sentimento de compaixão pelos desengonçados humanos e suas paixões descontroladas. Por alguma razão que a própria desconhecia, acreditava poder com seus poderes, proteger aqueles que necessitavam de ajuda imediata, mesmo sabendo que existia uma regra mortal sobre um devatã utilizar seus poderes ao léu. Uma risada borbulhante preencheu o banheiro nobre, um auto-insulto se fixou nas paredes.


– Como eu era idiota!


Aquele conforto, cedido por seu novo superior, não seria abandonado tão facilmente. Preferia morrer lutando com um adversário poderoso ao invés de retornar a Ilha do Fogo, sua antiga casa. Os devatãs que possuíam a mesma linhagem sanguínea provavelmente não queriam seu retorno, por ter fugido da ilha no passado, com o objetivo egoísta de se tornar forte. Pelo menos, este era o raciocínio da jovem. Não tinha como saber, pois havia perdido sua principal fonte de informações, devido a um erro de cálculo de seu informante em desafiar Vlad Chernobog. Como o mesmo havia explicado anteriormente, fora obrigado a vencê-lo, pois o Pyromorphisis havia caído no domínio da técnica de Hiero. Neste momento, a ruiva jurou silenciosamente que nunca deixaria o Krypsimo utilizar tal técnica para controlá-la e se isto acontecesse com certeza o mataria sem hesitar, pelo menos tentaria, morreria tentando. Tivera que derrotar vários subordinados de seu atual mandante, para chegar nesta posição. Sofreu treinamentos intensos e desgastantes para atingir um nível considerável entre os devatãs. Havia uma minoria pertencendo a classe A, mas mesmo assim eram indivíduos demais para impedir que Margery continuasse com o seu desejo de poder. Queria mais, queria um dia se tornar uma integrante dos 13 aliados. Sabia que não seria fácil.


Após mais uma pequena porção de minutos, a jovem se ergueu da banheira e enxugou seu corpo com a toalha que estava próxima. Deslizou a toalha pelo seu corpo esguio, sentindo o atrito conjunto do ar e do tecido que roubava energia de sua pele diminuindo a temperatura. A água estava quente, era óbvio, não suportava a baixa temperatura e o motivo era bastante lógico. Seu sangue não era frio, definitivamente esta era uma assassina de sangue quente. Uma contradição curiosa.


Esvaziou a banheira e logo depois se enrolou na toalha para se retirar do cantinho de conforto. Após alguns passos estava do lado de fora. Correu os olhos pelo seu quarto extenso e com um suspiro profundo se sentou em sua aconchegante cama.


– Isto é uma ilusão? Parece tão real. – disse, tocando o móvel, deslizando sua mão sobre o lençol macio.


– Não exatamente, mademoiselle.


Respondeu uma voz infantil e masculina. Esta voz pertencia a uma criaturinha estranha que surgiu de uma parede próxima de Margery e se dirigiu flutuando no ar até a jovem. Não tinha mais do que um metro de altura, e se assemelhava a um pequeno mago, vestindo uma longa túnica roxa que cobria boa parte de seu corpo, deixando a mostra seus sapatos castanhos. O pequeno ser não tinha face, era um rosto circular e totalmente negro e seus olhos eram perfeitamente redondos, amarelos e brilhantes.


Segurando um bastão de madeira que possuía a ponta enrolada como a casca de um caracol e tinha um comprimento quase da mesma medida de seu corpo se dirigiu à ruiva. Quando se aproximou, percebeu finalmente que a jovem acabara de sair do banho, neste momento ficou apreensivo.


– Ah! Me Desculpe! Eu não sabia! – gritou, se sacudindo no ar, balançando seus pequenos braços e pernas.


Margery estava com o punho fechado, erguido a frente de seu rosto e tremia de ódio. Em um impulso de fúria, deu um tremendo soco no pequeno mago lançando-o contra a parede.


– Godard! Seu idiota!!!!!! – levantou-se rapidamente, segurando a toalha para não cair, fazendo uma cara medonha. – O que você está fazendo aqui!!!!!! Eu vou acabar com você! – segurou com uma de suas mãos o seu braço, em seguida caminhou com pisadas fortes em direção ao mensageiro.


– Désolé! Foi sem querer! – gritava, tentando impedir que a fúria de Margery lhe caísse sobre seu pequeno corpo.


Godard voou por todo o quarto pedindo desculpas, na esperança de fazer a garota se acalmar. Com o tempo, obteve sucesso e Margery sem paciência dirigiu a palavra ao mensageiro.


– Vamos logo! Diz o que você veio fazer aqui! Maldita criatura!


O pequeno mago soltou o ar de seus pulmões esbanjando uma satisfação exagerada. Após ajeitar sua roupa, suspirou, tomou a palavra:


– Estou aqui devido às ordens do mestre Hiero. O mestre me pediu para avisá-la de que deseja realizar uma reunião com você e o ninja de elite Zero Leviathan imediatamente.


– Mas já? O que será que ele quer tão cedo?


– Je ne sais pas.


– O quê?


– Não sei o que é. – respondeu a criatura.


‘’ Ela não deve ter menos de 20 décadas de idade e não conhece o idioma francês? Porque o mestre desejou seus serviços? ‘’


– Godard!


– Pardon!? - distraidamente perguntou.


– Deixe que eu mesma aviso o Zero. Agora saia daqui! Você está me atrapalhando!


– Está bem. Au revoir. – atravessando uma parede, Godard se retirou do aposento.


‘’ O que será que ele pretende? Vlad neste momento está inalcançável. Puxa! Porque será que ele simplesmente não desiste?’’


Margery logo depois se arrumou, vestindo seu traje usual. Uma jaqueta vermelha sobre uma camiseta preta. Calça também vermelha, porém de pigmento escuro acompanhado de um cinto com uma fivela triangular prateada. Prendeu seus cabelos em um rabo de cavalo, cobriu suas mãos com luvas de tecido fino que deixavam os dedos descobertos parcialmente. Sua jaqueta tinha o contorno de um diamante nas costas e de chamas ao redor, na frente havia contornos de chamas que alternavam entre alaranjado e vermelho, preenchendo as bordas da vestimenta em algumas regiões avulsas. Eram notáveis os contrastes entre o interior do quarto com suas roupas, ambos pertencentes a épocas bastante diferentes.


Logo após se arrumar, a Pyromorphisis caminhou até a porta para a abrir, ajeitando sua luva da mão direita mais uma vez em seguida. Seguiu pelo vasto corredor, refletindo sobre quais seriam as ordens de seu novo senhor.


‘’ Aquele insano. O que será que está tramando? ‘’


Preview:...


– O amu... – antes que Margery conseguisse dar outro grito, Hiero apertou seus dedos no ar como se fosse capturar uma mosca e neste momento a ruiva sentiu seu corpo preso por uma energia estranha.

– Você não está se comportando, Margery. Tenho que fazer algo em relação a isto. – anunciou o Krypsimo, abrindo sua mão contra a moça, a mesma utilizada no ato anterior.

A ruiva expressou um semblante de espanto e sentiu um calafrio intenso correndo seu corpo. Logo depois, não conseguia se mover. Sentia a energia do Krypsimo por todo seu corpo, mesmo esta não estando visível, como se estivesse acorrentando seus músculos.

– Mesme...

– Nullitatis.

Sentindo uma pulsação após a pronúncia desta palavra, a jovem se libertou do feitiço. Demorou alguns segundos para se recuperar.

– Por que fez isto, Zero? – indagou Hiero, em tom de acusação.


Próximo capítulo: Assim como desejo. Que assim se faça.


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Notas finais do capítulo

Quem ainda acompanha deixe comentários por favor. ^^