Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 29
Capítulo 28: Trevas.


Notas iniciais do capítulo

O último Chernobog estava enfrentando uma ameaça curiosa. Lutava contra o reflexo de sua própria existência. A incerteza da vitória começava a tomar conta de seu íntimo e até mesmo as razões em permanecer naquela batalha começavam a se tornar nebulosas. Sem dúvidas, era uma guerra travada contra si mesmo.



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Tudo estava escuro, os olhos não podiam enxergar, mas a sensação de que a energia ainda explodia violentamente se apoderava do corpo. O aliquid intenso, emitido de seu cantio, ainda causava destruição. A pressão no ar se chocava com as penas negras recobrindo o casulo de proteção em que Vlad Chernobog se encontrava. Era necessário se concentrar, a presença de seu inimigo não poderia mais ser detectada. Teria vencido? A incerteza se apoderava de seu consciente, ou seria apenas uma incapacidade sensorial momentânea, originada pela sombra do poder que fora emitido? De certa forma, não podia pensar muito, se a criatura ainda estivesse viva, estaria sondando seu diálogo mental. Uma vontade foi o suficiente, para as asas negras revelarem o cenário a sua frente. Os olhos sem íris, brancos como leite, se abriram. A visão revelou um local dominado por muita fumaça. Seu poder havia queimado o oxigênio daquele lugar, originando uma combustão de longo alcance. O formato da área onde a fumaça ainda se dissipava se encontrava distante, transmitindo a ideia de que a esfera havia percorrido um longo caminho até se chocar com o solo, sem nem mesmo sofrer algum tipo de desvio. O projétil deveria ter assumido uma proporção colossal, a julgar pela área que o subproduto do cantio recobria. E onde estava o inimigo? A cópia do último Chernobog?

A experiência não deixava Vlad se convencer de que havia vencido. Toda a atenção era mínima. Os olhos estavam bem atentos na cortina de fumaça. O coração começava a sofrer alterações no ritmo das batidas. Aquilo era apenas nervosismo, tentou se convencer, o medo jamais deveria apossá-lo. Foi de súbito que uma corrente de energia trespassou o seu corpo. O arrepio veio em seguida.

A emissão de energia dispersou a fumaça bruscamente, revelando a materialização do poder de Charles Chronus. A expressão no rosto do último Chernobog revelou o desamparo que se apoderou de seu íntimo. O inimigo não havia sofrido qualquer dano considerável, suas roupas se encontravam um pouco sujas apenas. Como ele havia minimizado a força daquele ataque? Vlad pensou em como teria feito para concretizar tal tarefa. Sua cópia soltou um riso alto.

– Não é possível que você não tenha percebido. Se tivesse prestado mais atenção nas oscilações de energia do ambiente, poderia ter percebido o que aconteceu. – disse o Chernobog de cabelos escuros. – É deprimente perceber o quanto você decaiu em astúcia – continuou, enquanto a energia azulada condensava-se em um fluído que serpenteava ao seu redor. – Irei lhe mostrar como um assassino de verdade deve se comportar.

Vlad perdeu a visão do clone. O sussurro de seu inimigo lhe causou um gélido sentimento. Quando o Chernobog original se virou, recebeu um soco ligeiro e poderoso. A defesa veio depressa, o antebraço bloqueou. Sabia muito bem o que viria. Uma sequência de golpes bastante familiares se sucedeu, todos eram bloqueados agilmente, um soco vinha por baixo, a palma da mão defensora batia no mesmo repelindo-o. Aqueles golpes foram como um gatilho que disparou lembranças inapropriadas pro momento. Sem dúvidas, era nostálgico.

“O jovem deva ainda tossia muito, inclinado contra o chão. Seu kimono negro estava todo amarrotado e empoeirado. Ao redor, se encontrava uma floresta calma, iluminada com os raios solares que resplandeciam no orvalho. O riacho estava próximo, sendo assoprado por uma ventania discreta. Um homem de cabelos loiros encaracolados e uma barba cerrada se aproximou sorrateiramente, vestia um kimono negro semelhante ao do jovem de cabelos prateados que ainda se recompunha. No fundo, a figura de um imenso castelo se projetava não muito distante dali.

– Levante-se rapaz. – disse o homem de cabelos loiros, se aproximando. – Essa é a décima vez que você morre. – explicou, enquanto balançava a cabeça negativamente.

– O que estou errando? – indagou o jovem deva, enquanto terminando de se inclinar assumia uma posição de luta. – Estou seguindo todos os movimentos das artes marciais que podem contra atacar os seus golpes. Jiu jitsu, karatê, etc. Tudo está de acordo, tenho certeza – comentou, enquanto seu olhar escarlate permanecia fixo em seu professor. – Me diga o que estou errando, mestre William.

Os olhos esverdeados responderam com o mesmo olhar sério.

– Não, não está – respondeu, assumindo uma posição similar de luta. – Você precisa aprender a essência das técnicas do Ansatsuken. Quando você livrar seu coração de sentimentos que fazem pesar o seu punho, você terá a agilidade necessária para concluir o treinamento. O que te deixa lento são esses sentimentos pesados em seu coração, livre-se deles.

O ataque veio de repente, bateu contra o antebraço do filho de Bóris com uma força que estalou no corpo inteiro. A sequência de golpes variava entre vários estilos de artes marciais, a palma aberta que antes de bater em seu peito foi desviada com um tapa de fora pra dentro, veio do Kung fu. O raciocínio tinha que ser rápido, cada golpe tinha seu contra ataque ideal. Como sobraria tempo para se concentrar no novo estilo que deveria desenvolver? O que seria exatamente o Ansatsuken? William dizia apenas que era a arte dos punhos assassinos, mas não havia repassado nenhuma técnica específica. Como ele poderia desenvolver algo que nunca viu? Não tinha nenhuma base do que vinha a ser essa nova arte marcial. Seu treinamento estava focado apenas nos outros estilos e de repente seu professor veio com essa de aprender uma nova maneira de lutar tão nebulosa. Foi num descuido incerto que um soco atingiu o rosto de Vlad jogando-o contra uma rocha que estava próxima. O sangue escorreu da lateral da boca.

– Levante-se, isso não foi nada. – disse William, com um olhar frio. – Você é um Chernobog, tem o sangue de uma família de assassinos profissionais. É uma tradição os Chernobogs não utilizarem armas para aniquilar seus alvos, por isso você precisa aprender o Ansatsuken.

– Como eu posso aprender algo sem visualizar o que é isto primeiro!? – gritou o Chernobog, perdendo a paciência. – Você é um péssimo professor! – continuou, se erguendo furiosamente. – Me livrar de sentimentos? Quais sentimentos? O que é o Ansatsuken? Eu não estou entendendo nada!

– Silêncio – disse calmamente o professor, emanando uma energia sombria que paralisou Vlad. – Vou ser bastante direto e em seguida irei lhe mostrar o que é o Ansatsuken. Estou vendo que da maneira como está não irá aprender nada mesmo – continuou, cessando a liberação daquele aliquid. – Para dominá-lo você precisa livrar seu coração de sentimentos, e limpar sua mente da análise consciente. Apenas a vontade de matar deve prevalecer. Fazendo isto, você permitirá que seu corpo realize os movimentos gravados na sua memória muscular pelo treinamento dos vários tipos de artes marciais de uma forma única, forma esta que será guiada pelo seu inconsciente. A finalidade de seus golpes será unicamente a de matar seu oponente. – explicou William, enquanto assumia lentamente uma posição de luta ofensiva. – Essa vontade assassina, deverá imperar e será tamanha que mudará a natureza de seu aliquid momentaneamente. E já que você deseja visualizar a técnica...

– Espere! – gritou Vlad, sentindo um calafrio.

– Não tenho escolha a não ser lhe mostrar. Como a mente inconsciente domina seus movimentos, fica praticamente impossível de se defender dos golpes, pois eles não terão um padrão e focarão nos pontos vitais do oponente. A única forma de escapar dos golpes, será responder na mesma moeda, utilizando a vontade assassina. Sendo assim, o vencedor será aquele que tiver a maior vontade.

Um poder sombrio, escuro, começou a ser emanado de William, com uma intensidade que pareceu escurecer o ambiente que antes estava tão bem iluminado. Poderia ser apenas impressão, mas o instinto alertava que aquela era uma situação perigosa. O medo se apoderou do jovem Chernobog que rapidamente emanou seu aliquid ao máximo. Sua energia esverdeada parecia uma pequena lamparina em um mar de escuridão. Vlad notou que os olhos de William haviam perdido o brilho, como se tivesse entrado em transe. Era preciso lutar com todas as forças, ele havia pedido por isto. Se não dominasse esse novo estilo de luta seria morto. Tratou de silenciar a mente e o coração, sentiu seu corpo mais leve, mas o ataque já estava muito próximo. ‘’

Os golpes eram precisos. A mente deveria ser silenciada naquele momento, os sentimentos deveriam ser desprezados e somente assim poderia vencer o inimigo. Foi após defender um soco que um lampejo veio na mente, o último pensamento foi esclarecedor. Havia uma ideia. Havia uma solução e logo depois tudo se apagou. A explosão sombria despertou o instinto do inimigo fazendo-o se afastar e cessar o ataque.

Entendo. – disse o clone. – Ansa...

A palavra não foi dita, pois um soco atingiu o rosto do clone. Antes que o impacto jogasse o corpo para longe, Vlad segurou um dos braços trazendo o corpo do inimigo para si e lhe deu uma ajoelhada no abdômen. O sangue esguichou da boca do adversário. As unhas do Chernobog original se tornaram afiadas novamente, a mão se dirigiu contra o pescoço com a intenção de rasga-lo. Uma das asas brancas reagiu batendo em Vlad, tentando afastá-lo mas as garras fincaram nela. A mão se fechou segurando a asa e a apertou violentamente. A costa da outra mão bateu no rosto do inimigo, com tamanha força que o fez ser jogado contra o nada enquanto a asa branca se despregava do corpo sendo banhada de jatos de sangue.

Vlad não perdeu tempo, seu corpo desapareceu ao adquirir uma alta velocidade perseguindo o inimigo que caia do céu. Logo pôde visualizar a energia sombria do clone se dispersando, era mais do que óbvio que o mesmo também entraria naquele estado. Quando finalmente alcançou o adversário este já se encontrava soerguido aguardando-o, e a sequência de golpes se iniciou. Porém, dessa vez seria muito mais perigoso se deixar acertar por meio de algum erro no contra-ataque. O soco superior colidiu com um antebraço, as unhas se projetaram e rasgaram um braço, o joelho que procurou atingir novamente o abdômen do adversário colidiu com a palma das duas mãos sobrepostas. Tanto a cópia quanto o deva original, pareciam estar mergulhados em algum transe, a energia sombria de ambos serpenteava ao redor como se também lutassem. Para cada golpe de Vlad, havia uma resposta autônoma que vinha em um ataque mortal. Os corpos de ambos começaram a sangrar bastante devido aos ferimentos de proporções preocupantes. Parecia não haver fim, o Chernobog já estava entregando a luta. Havia tentado de tudo para vencer aquele inimigo que era o espelho de sua alma.

O medo começou a se apoderar do mínimo vestígio de consciência que ainda resplandecia em seu interior. Por um momento foi como se o tempo parasse, sentia muita dor, mas não se importava. Se pegou indagando por qual razão ainda lutava. Seu mestre havia sido assassinado, o último vestígio de algo que poderia chamar de família. O garoto que ele havia se comprometido a proteger e ensinar, havia desaparecido de maneira misteriosa, provavelmente seu corpo havia servido de receptáculo para armazenar o poder de Charles Chronus de uma maneira também misteriosa. Seria ele o tempo todo algum tipo de insidia? Se fosse, isso só provava a enorme fraqueza do último Chernobog. Não havia mais razão nenhuma para lutar. Até mesmo a sua vontade de proteger aquele garoto, parecia ter origem na necessidade de inserir algum valor em sua própria vida que julgava ser miserável. Estava desistindo, desistindo de tudo. Ele era o último, o último que possuía o aliquid único da extinta família Chernobog, e isso poderia ser uma razão para lutar? Lutaria para preservar a herança desse poder, das memórias dessa linhagem que foi silenciada? Parecia uma razão muito pobre em essência. Não era forte o suficiente para fazê-lo prosseguir. E a vingança? A vingança pela morte de seu mestre? Ele estava longe do assassino, longe em décadas, distante do tempo certo, não saberia dizer se conseguiria voltar para sua época. De fato, não havia motivos fortes para prosseguir, deveria se entregar ali mesmo a morte. A morte...Ali estava a resposta, agora tudo fazia sentido, o Ansatsuken era só uma fagulha.

Foi em um instante quando chegaram ao chão que tudo foi decidido, a energia sombria ao redor de Vlad se dispersou bruscamente. O clone que até o momento atacava sem hesitar sentiu seu corpo paralisar. A lâmina se projetou de repente, saindo da energia sombria, tomando uma curvatura típica de gadanha. O Chernobog desapareceu em um mar de escuridão que envolveu seu corpo e ressurgiu alguns metros adiante. O cabo da imensa gadanha estava totalmente estendido. Pela primeira vez, ele utilizava uma arma que se projetou de seu poder. Mas seria sensato considerar aquele objeto fruto de seu próprio aliquid? Havia algo estranho, parecia que aquela energia não pertencia a ele. Seria um cantio? Não, ele não havia pensado nem dito qualquer palavra em latim, apenas havia deixado sua vontade assassina agir sobre seu consciente. Era algo novo, imprevisível, o clone não poderia ter evitado aquele golpe. A consciência retornou ao seu eu, porém dessa vez algo estava diferente, parecia ter renascido. A mente estava serena, agora tudo começava a fazer sentido. A lâmina se inclinou para baixo, Vlad ergueu o torço enquanto o clone se encontrava paralisado, ambos de costas um para o outro.

– Você bloqueou aquele ataque utilizando várias nulificações em camadas, reduzindo a velocidade da esfera que iria atingi-lo. No momento final, utilizou a intensão de matar, o cantio de expansão de energia, “animus necandi” para frear a esfera e expandir seu poder ao limite por um instante. Logo depois, se cobriu com as asas e utilizou o Ansatsuken para envolve-lo com uma energia sombria protegendo-o e desligando seus sentimentos, pois você sabia que a fraqueza daquele meu cantio se encontrava no fato de que ele se alimentava da incerteza do inimigo, princípio similar ao poder de Lilith que se alimenta da insegurança e medo dos inimigos. – explicava o Chernobog, até se dar conta de algo importante. – Estou falando sozinho, você não pode mais me ouvir, não é? – indagou, virando o rosto e olhando por cima dos ombros o seu adversário.

Os jatos de sangue surgiram em uma onda massiva do imenso corte que apareceu no pescoço do clone. A cabeça se desprendeu e caiu no chão, junto com o corpo que despencou pesadamente. O último Chernobog se virou e bateu suas asas, tentando analisar se aquela energia sombria que o envolvia iria reagir a sua vontade consciente. Não houve nenhuma reação, ela continuou o envolvendo e serpenteando ao redor como se tivesse vontade própria. O filho de Bóris direcionou o olhar para a gadanha que segurava em uma das mãos, em seu cabo pôde enxergar uma escrita na língua antiga do hinduísmo. Aquele era um objeto sagrado, de antes do confinamento de Lótus. Como ele havia se manifestado ali? O que era aquele poder e como William o conhecia? Antes que pudesse ler o que estava escrito, o objeto se desintegrou, junto com a energia sombria. Só teve tempo de ler duas palavras: “Yama” e “morte”.

Preview:....

– Onde está Zero? – perguntou a Pyromorphisis, mantendo um semblante sério e concentrado em qualquer movimento do inimigo.

– Zero? – indagou o general, com um meio sorriso. – Ora, está morto. – continuou, endireitando seu corpo em uma posição de descanso.

– Isso não é verdade, ele não seria derrotado tão facilmente.

– Eu não sinto mais a presença daquele Leviathan. Só pode ter sido morto por Ayemon. – explicou o general, se perguntando mentalmente a razão de continuar a dialogar com seu alvo.

– E onde ele está? – perguntou a Pyromorphisis, erguendo o punho em chamas.

“Se eu responder a verdade ela tentará fugir para se encontrar com Ayemon. Com isso, acabarei desperdiçando minha energia perseguindo ela.”

– Me derrote e eu lhe direi onde ele está. – disse Gordon, emanando sua energia rubra que fez pressão no ar.

– Você me subestima, general. – disse Margery, com um sorriso sarcástico e um olhar penetrante. – Sei muito bem que esse Ayemon se encontra dentro da fortaleza. Por ser protegida por uma barreira é impossível sentir qualquer aliquid que venha de lá. Se ele estivesse morto você não teria dito apenas que ele assassinou Zero.

“Ela tem mais astúcia do que aparenta.”

Próximo Capítulo: Um Demônio Entre as Chamas.


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Notas finais do capítulo

Desculpe a demora em postar, por favor comente. ^^



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