Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 27
Capítulo 26: O Novo Major.


Notas iniciais do capítulo

A invasão liderada pelo Krypsimo, prosseguia de forma frenética. O ataque era direto, sem qualquer intermediário. O objetivo inicial, tratava-se de invadir a fortaleza de Chronus que se encontrava protegida por uma barreira que impedia qualquer vestígio de energia de ser percebido pelos inimigos. Hecate havia enviado um dos seus melhores soldados, para enfrentar aquele que seria para ela uma das maiores ameaças. Sabia que poderia contar com as habilidades peculiares de seu subordinado. Contudo, ela não havia percebido que estava contando com um elemento muito instável. A sorte não poderia ser domada. Logo ela perceberia que nem tudo é o que parece ser.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/53722/chapter/27

Muitos pensamentos pulsaram na mente naquele momento. O corpo reagiu com um calafrio, uma resposta autônoma do sistema nervoso que servia como um aviso para o perigo eminente. O mundo seria alterado mais uma vez. Qualquer coisa poderia acontecer. O nome da solemnia verba, muitas vezes vinha como o título para a realização de uma grande obra. E não deveria ser assim? Pois um recito que altera as leis físicas universais, não poderia deixar de ser uma grande obra de arte e uma revolução por assim dizer.

O aliquid que construía aquele recito provinha da família Locus. As informações vinham na mente do Leviathan que se encontrava em risco, como se invadissem sem permissão. Alguns segundos seriam suficientes para se debruçar na memória. Entretanto, as teorias sobre o que estaria por vir, não chegariam antes dos fatos crus que a ocasião poderia ofertar.

Houve uma época que aquela família prosperou. Uma época que se sucedeu, pouco depois do primogênito daquele nome falecer. O primeiro arquiteto: como ficou conhecido posteriormente pelas famílias. Aquele que utilizou o seu poder entre os humanos para construir algo grandioso. Não seria o primeiro a aproveitar da ingenuidade humana. Muitos devas gostavam de esbanjar seus poderes ao céu aberto, mas procurando ainda, de certa forma, seguir as regras impostas pela trindade. Seu local de ação, foi no oriente, em uma época que a lentidão do tráfego de informações pelo mundo, facilitava a exposição dos poderes dos aliquids aos humanos. Aqueles com mentes tolas, criavam histórias para justificar aquilo que não compreendiam. O primeiro arquiteto...Ninguém imaginaria que aquele devatã seria responsável pela criação de uma das ordens secretas mais influentes no mundo posteriormente.

O prestígio que a família não obteve no mundo dos detentores dos aliquids, foi conquistado no mundo dos humanos. A influência foi vasta. Desde a criação de sistemas políticos, baseados nos ensinamentos das ordens que se estabeleceram pelo nome do primeiro arquiteto, até mesmo a teorias científicas humanas sobre a origem da vida. A família Locus se tornou piada com o tempo no mundo dos devatãs, pela razão de suas ações terem influenciado tanto o mundo discriminado dos humanos. Existiam devas que faziam questão de repetir ditados com caráter discriminatório explícito que reforçavam o repúdio pela “espécie mais fraca”, como alguns chamavam.

“Os humanos venerariam até mesmo um peido de um devatã, sem nem mesmo saber de qual ânus saiu.”

“Se um deva cagar ouro, os humanos farão da merda uma estátua e a venerarão. “

“Cuidado por onde você grita seus cantios, o mundo já tem religiões demais.”

A família do inimigo de Zero, tinha uma péssima reputação entre os devas, devido as mudanças que os vestígios de seu poder realizara no mundo dos humanos. Contudo, alguns esqueciam que o poder de Locus poderia ser bastante útil se utilizado da maneira correta. Hecate era inteligente demais para cair no senso comum e ignorar o poder peculiar daquele aliquid e Zero...Bom, digamos que ele tinha conhecimento das mais profundas sutilezas daquele aliquid, de uma maneira que poucos sabiam. Eis a justificativa, daquele pequeno calafrio de outrora.

Naqueles últimos instantes, após a última palavra da solemnia verba ser emitida, o Leviathan recuou automaticamente. O movimento foi instintivo, não poderia evitá-lo, por mais estúpido que parecesse. Como era de se esperar, nada resolveu, pois assim que a insígnia do olho que tudo vê, se projetou aos pés do soldado determinado de Hecate, banhada com uma energia de cor azul e intensa, tudo que estava na vista de Zero foi tragado. O corpo de Locus se desfigurou e um buraco negro, em posição incomum, engoliu ambos os devas.

Os olhos do ninja abriram lentamente, as pupilas se dilataram, procurando reconhecer o local aonde se encontravam. Era como se estivesse no espaço, suspendido em um solo transparente, logo a frente alguns degraus revelavam uma escadaria imponente que levava até uma porta mais acima. O olhar percorreu todo o ambiente, foi possível notar várias escadas que se projetavam gradativamente, cada uma direcionada a sua porta.

– Entendo. Um aliquid que modela uma dimensão paralela. Bastante curioso. – observou o ninja, com o olhar atento.

Alguns passos à frente, foram suficientes para perceber que realmente não flutuava, era como se o solo não estivesse visível, e se encontrava erguido em alguma parte do universo, com todas as estrelas em seus devidos lugares.

– Fui tolo. Não deveria ter me aproximado tanto, estava claro que foi tudo apenas um truque, para me atrair e me sugar para dentro deste lugar. – divagava Zero.

Subitamente, o corpo de Locus surgiu em algum lugar, o mesmo direcionou o olhar para seu inimigo.

– Neste lugar, você ficará preso, até morrer de fome ou sede. Pode tentar fugir daqui. Você já deve esperar que ao entrar por uma destas portas, você retornará em algum ponto. Não existe maneira de escapar. A única maneira seria me matando, mas eu não permitirei tal coisa, pois não estarei aqui para observá-lo morrer, todo o tempo. Farei algumas visitas esporádicas, mas não terá tempo suficiente para me destruir. Portanto, aproveite seus últimos momentos de vida. Recomendo que sente-se aí e conte as estrelas, até a morte vir buscá-lo, pois antes que termine a contagem, a vida já terá partido de seu corpo. Alguns devas que ousaram enfrentar minha solemnia verba, acabaram fazendo tal coisa, quando desistiram de sair daqui. Até mais. – explicou Ayemon, logo depois desapareceu da mesma maneira como surgiu.

O Leviathan permaneceu imóvel, assimilando tudo que foi dito. Subitamente, um sorriso surgiu em seu rosto.

– Então é isto. – disse, inclinando-se para o chão lentamente. – Preciso apenas esperar o momento certo, este pobre coitado não sabe com quem está lidando. Agora entendo a razão de Hecate enviá-lo para batalhar comigo. Muito interessante. O poder do Leviathan não me tirará daqui. – Sentando-se sobre as pernas, o ninja pareceu meditar. – Tempo, é tudo que eu preciso para poder usar aquilo. É preciso acostumar o corpo. Por mais difícil que seja, é o certo a se fazer. Espero que um dia eu possa ser perdoado por todas as atrocidades cometidas. Tudo por causa de um bem maior. – disse, fechando os olhos e se concentrando.

–-------------------

Os óculos se ergueram com um toque modesto. Seja lá o que estivesse acontecendo, despertou a atenção do Krypsimo. A imobilidade se dava devido ao raciocínio concentrado. Hiero se perguntava o que estava acontecendo. Por alguns instantes foi possível sentir oscilações de aliquids distintos, a uma certa distância, porém em algum momento, as duas energias desapareceram. O cheiro dos corpos carbonizados e mutilados ainda impregnava o ar ao redor, quando esta sensação foi percebida, algumas palavras também foram ouvidas.

– Vamos sair daqui, já não aguento mais esse cheiro. – disse Margery, contorcendo o rosto.

– Quem será que foi aquele? – indagou Godard e seus olhos amarelados e redondos se tornaram finos, revelando um esforço em se prender a analisar a situação.

– Um dos soldados de Hecate. Bastante habilidoso, pois parece que o mesmo conseguiu destruir Zero. – respondeu Sorrow.

– Não! Isso não é possível! – disse Margery, fechando os punhos. – Zero nunca seria derrotado por um soldado qualquer, ainda mais um de classe C.

Um silêncio perdurou por alguns segundos.

– Não foi explicado que aqui encontraríamos somente devas de classe C, protegendo a fortaleza? – indagou Margery, perdendo a certeza de antes.

– Era o esperado. – comentou Sorrow, correndo os olhos ao redor. – Mesmo que algo tenha fugido de nossas expectativas, como o exército da Chronus ser reforçado por devas de classes superiores, ficar aqui não irá resolver nada. Vamos prosseguir com o plano. É preciso alcançar nosso objetivo.

– Me intriga bastante este seu interesse em nossos objetivos, subitamente. – disse Hiero, fitando seu mais novo aliado, seriamente. – Creio que tenha razão. Vamos nos dirigir a fortaleza. Se Zero estiver realmente morto, não podemos fazer nada.

“Como você matou William, se foi capaz de morrer para um deva tão fraco, Zero? Existe algum truque aí. Bom, estarei no aguardo.”

– Meu desejo é apenas aniquilar a Chronus. Este será o maior golpe que poderei dar em Charles. –comentou Alastor.

– Eu matarei aquele inseto com minhas próprias mãos. – disse a Pyromorphisis, ignorando o comentário de Sorrow e cerrando os dentes com uma força similar à que cerrava os punhos.

– Estes lhe serão úteis, Sorrow? – indagou o Krypsimo, ignorando o comentário da jovem.

O imperitus caminhou alguns passos em direção a um dos corpos que jaziam no solo de gramíneas que agora estava encharcado de sangue. Observou alguns cadáveres próximos e logo depois se concentrou em sentir a silenciosa brisa que tocava seu rosto.

– Outros virão e serão melhores aproveitados. – disse o ex aluno de William.

– Então vamos seguir. – disse o Krypsimo.

A mão com o dedo indicador esticado se estendeu, apontando para alguma região avulsa. A linha invisível foi traçada no ar enquanto as palavras corretas eram ditas. Um corte longitudinal negro e pulsante surgiu. A fenda se abriu revelando um interior negro, obscuro, com as características próprias do portal de teletransporte, herança bastante útil do nome Krypsimo. Após alguns instantes, todos adentraram o portal.

–------------------------

O espelho revelava a figura imponente do general. Seus cabelos negros e longos caiam sobre a armadura metálica reluzente. Não era atoa que tantos tinham medo de sua pessoa, seus quase dois metros de altura eram de intimidar. Os olhos negros estavam fixos em sua face coberta parcialmente por uma barba cerrada e estratégica para esconder suas diversas cicatrizes. Era chegada a hora. Seu corpo vibrava de empolgação. Iria enfrentar os inimigos. Locus parecia ter obtido êxito em sua missão, pois agora podia sentir seu aliquid dentro do castelo. Era agora a vez de Gordon entrar em ação e ainda contribuir para o sucesso do extermínio dos invasores.

Se retirou do confortável aposento, apoiando em um de seus braços o elmo de batalha. Caminhando pelo corredor, já chegando próximo a entrada dos aposentos da princesa que iria defender, ouviu uma conversa. A vozes foram reconhecidas, se encontravam no grande cômodo o imperador Shoal, a jovem Chronus e mais alguém. Abrindo a porta, os olhos focaram na figura de Ayemon, próximo a Hecate, praticamente sem qualquer dano físico.

– General Gordon, venha, estamos analisando quais serão os próximos passos. – disse o Shoal, fazendo um chamado com seus dedos.

O elmo foi colocado em cima de uma mesinha circular que estava próxima, os passos do gigante ecoaram no salão.

– Vejo que você já retornou de sua missão, Ayemon. Estou impressionado por ter sobrevivido. – comentou Gordon, direcionando o olhar para o seu melhor soldado.

Locus tratou de fazer uma reverência militar característica daqueles que possuíam uma patente menor.

– Sim senhor. – disse Locus, aguardando o comando.

– Descansar, soldado. – disse o general imponente. – Merece uma promoção.

– Já cuidei disto. – disse a Princesa, levantando-se de uma poltrona. – Ele será o novo major.

– Major!? – os olhos de Gordon se arregalaram. – Mas...mas...princesa... – estava atônito.

– Sim, general. A partir de hoje, este deva próximo a mim será seu superior. – disse Hecate, se aproximando de Locus.

– Sinto muito...mas ele é apenas um recém integrado à classe A, não seria prudente...quer dizer...

O silêncio foi instantâneo, não caberia a ele questionar as decisões da neta de Charles Chronus.

– O que houve com Waldrich? – indagou o general, logo depois de refletir, com o orgulho ferido.

A Chronus desviou o olhar, o silêncio foi a deixa para o Shoal tomar a palavra.

– Provavelmente morto. – respondeu finalmente, as palavras amargas que Hecate não gostaria de dizer.

– Entendo.

– Todos os soldados que foram enviados comigo foram mortos, inclusive o escudeiro Guilherme. – disse Locus, demonstrando uma tristeza profunda no semblante.

– Eles tiveram coragem de matar até mesmo um garoto como aquele? Ele não deveria ter ido. Por que o deixou ir Ayemon!? – o general estava a ponto de gritar, foi quando percebeu a tristeza e o sentimento de culpa sendo emanado do seu antigo soldado.

– Não dormirei uma noite sequer, sem pensar no maior erro de minha vida. É como se, o mundo funcionasse com uma lógica insana. Eu cometi o maior erro da minha vida, mas do outro lado da moeda, consegui uma promoção pela realização de um ato grandioso. Me desculpe pelo comentário, princesa Hecate. – comentou Locus, direcionando um olhar triste para a jovem Chronus que se encontrava ao lado. – Mas eu trocaria o sucesso desta minha missão pela vida daquele jovem promissor. – As lágrimas ameaçavam escorrer, estavam arranhando a superfície de sua pupila.

– Não seja tolo Locus. – foi o Yami Shoal que tomou a palavra. – Se você não tivesse parado o Leviathan, quem sabe quantas vidas ele não tiraria? Quando ele chegasse aqui na fortaleza, você acha que ele hesitaria em matar as crianças que temos aqui? O império é grande o suficiente, para brindar esses assassinos com toda a carnificina que estiver disponível. Com o número daquele grupo reduzido, a nossa chance de sucesso é maior. – explicou o Shoal, cruzando os braços e forçando as linhas de expressão da face, como se algo que houvesse dito lhe tivesse também despertado um tipo de preocupação. – Vocês perceberam aquele aliquid estranho? Este novo deva tem um poder que eu nunca havia sentido antes. – observou o imperador, chamando a atenção de todos.

Todos se concentraram alguns instantes e permaneceram em silêncio.

– As energias desapareceram. Estão se movendo. – comentou Hecate.

– Estou pronto para a batalha, princesa. Deixe-me ir. – pediu Gordon, erguendo o queixo como se quisesse demonstrar a determinação que havia brotado em seu ser.

“Juro que vingarei a vida daquele garoto. “

– Pode ir. Estamos contando com você Gordon. Espero que consiga isolar o teu alvo.

– Pode deixar, eu juro que terei sucesso. Ou isto, ou a morte. – respondeu o general, já próximo da mesinha e colocando o seu elmo.

O imenso guerreiro passou finalmente pela porta. Após a mesma ser fechada, a princesa caminhou para perto da janela, pôde avistar o segundo grupo de soldados já preparando-se para a batalha. Saberia que muitos ali também morreriam, se não todos. Não pôde suportar olhar por muito tempo. Fechou a cortina e direcionou o olhar para seus dois subordinados fiéis que se encontravam ainda em seus aposentos.

– Permita-me lhe fazer uma pergunta Locus. Você utilizou a sua solemnia verba, não foi mesmo? – indagou a Chronus, fitando o novo major que prendia sua atenção em um quadro qualquer.

– Sim.

– Então podemos ter toda a certeza de que ele não irá escapar, não é?

– Nunca ninguém escapou, princesa. Quando a senhorita me pediu para aniquilá-lo, eu compreendi que a única coisa que burlaria seja lá qual habilidade ele houvesse utilizado para matar William, seria este tipo de aprisionamento. – comentou Locus, observando o Shoal se aproximando de uma das janelas para avistar o pátio.

– Isto mesmo. Não importa qual o poder que um deva tenha, ele nunca poderá derrotar a morte que um dia todos os seres vivos acabam enfrentando. – explicou Hecate, caminhando para se sentar em uma de suas poltronas. – Acho que posso mesmo acreditar que Zero não será mais problema. Vlad ficaria satisfeito. – comentou a Chronus, enquanto se sentava e logo depois soltou um suspiro. – Espero que esteja tudo bem com ele. Assim que isto tudo acabar, irei trazê-lo de volta. Gostaria de me acompanhar, Ayemon? Sente-se, por favor.

– Eu? – perguntou Locus, estava processando ainda tudo que estava acontecendo. – Seria um prazer. – respondeu, enquanto se sentava, meio ansioso.

– Partiram. Os soldados de Gordon e o próprio, acabaram de atravessar o portão. – comentou o Shoal, ainda com a concentração voltada para o lado exterior.

– Sente-se Yami, agora tudo que podemos fazer é aguardar. – pediu a Chronus.

– Irei preparar mais chá, mestra. Logo estarei de volta. – recolhendo todos os utensílios, o imperador se retirou do grande cômodo com mobílias ao estilo Europeu do período moderno.

Hecate notou que Locus corria os olhos por todo o cômodo a procura de algo. Sabia muito bem o que ele estava procurando.

– Aqui está. – disse a Chronus, dando uma palmadinha de leve na ampulheta que se encontrava ao seu lado, amparada por um raque de pernas longas. – Isto é a causa de todo este transtorno. – acrescentou, notando em seguida a expressão de curiosidade de seu novo major, ao reparar o objeto curioso.

– Imaginava que seria outra coisa. – Ayemon deixou escapar o comentário.

– Algo mais imponente? Não. Escolhi o formato de ampulheta porque quando estou sozinha, olhar esta areia escorrendo me acalma. – comentou a Chronus.

– Sinto muito se fui grosseiro. – Se desculpou o major, desviando o olhar.

– Não precisa se acanhar, é natural que você desenvolva um certo grau de intimidade comigo daqui para frente, pois estará mais próximo a mim. – Tais palavras, fizeram Hecate relembrar os momentos que passou junto de Waldrich. Não sabia se sentia ódio por tudo ou tristeza.

– Desculpe a ousadia então, senhorita. – Até mesmos os vocativos confundiam Locus que ainda estava assimilando toda a situação, os eventos ocorriam mais rápido do que podia processar. – Mas não seria melhor...como posso dizer? Hum... – A incerteza lhe impedia de falar.

– Deixe-me ver. – disse Hecate, franzindo o cenho. – Não seria melhor destruir a rem para que o Krypsimo não a roubasse de mim? Uma vez que ele não pode mais me raptar?

– Isso mesmo. – respondeu o major, reclinando-se na poltrona, como se subitamente um cansaço houvesse dominado seu corpo.

– Veja bem. – disse a neta de Charles, repousando a palma de sua mão na ampulheta ao lado. – A razão de devas possuírem artefatos como esses, é a de que podemos ampliar nossos poderes, pois estamos fornecendo energia a todo o tempo para esses objetos e assim ela se acumula. - Enquanto a explicação ocorria, a areia da ampulheta caia lentamente, indiferente ao que era dito. – No momento, estamos protegidos por uma barreira gigante que cobre todo o império. Você acha que eu conseguiria gerar uma barreira dessa magnitude, por tanto tempo, de que maneira? Com a rem, os devas podem utilizar um determinado cantio por tempo indeterminado e também ampliar o poder de um cantio.

– Entendo. – disse Locus, inclinando seu corpo e repousando seu queixo sobre a concha que havia feito com as mãos. – Sei muito bem que somente devas integrados a classe A possuem autorização para utilizarem uma rem. A senhorita sabe que sou um recém integrado, portanto não possuo conhecimento de como criar um artefato. Isto também justifica o meu pouco conhecimento sobre o assunto.

– Está tudo escrito no livro com o título de Oblivion. – comentou a Chronus.

– Sim, já ouvi falar deste livro. Ele é muito caro e somente devas pertencentes a classe A ou superiores podem adquiri-lo no centro comercial de Pandora. A livraria de Pandora é uma das maiores do mundo. – observou Ayemon.

– Você é bem informado major. O meu livro se encontra em uma daquelas prateleiras, ali no canto. – apontou Hecate, para o antro de móveis que guardavam centenas de livros em um canto do cômodo. – Não posso oferecê-lo nem para empréstimo. Com a promoção de seu cargo, você será remunerado suficientemente para que no futuro possa obter um. Isto é, se você não tiver outras prioridades. – comentou a Chronus, deslizando uma de suas mechas que caiam sobre seus olhos para atrás da orelha adjacente. – Bem, não posso destruir esta rem pelo simples fato que o meu poder ampliado neste objeto é o que nos protege no momento.

– Sim, sim. Agora entendi. A barreira. – disse Locus, afirmando positivamente com a cabeça.

Yami adentrou o local, trazendo consigo a bandeja com as três xícaras de chá junto do bule. Após colocá-lo acima da mesinha, tomou seu lugar para junto de sua mestra e o novo major, para discutirem planos que preveniriam a situação do general falhar e o Krypsimo finalmente invadir o lugar. Era curioso o fato de que enquanto relaxavam, conversavam e arquitetavam, centenas de soldados morriam longe daquele lugar. O hábito de superiores enviarem os mais fracos para a morte, enquanto permaneciam seguros perdurava, até mesmo entre aqueles que possuíam o coração nobre. Infelizmente, nem mesmo entre aquela raça de seres aparentemente superiores, as leis naturais de sobrevivência frias e cruéis deixavam de imperar.

Preview:

Meio distante, Margery pôde avistar Hiero se aproximando, sua expressão estava séria e concentrada. Os soldados inimigos fizeram uma formação para impedir que o Krypsimo chegasse até ela.

– Mesmerize. – sussurrou Hiero, erguendo a palma de sua mão, em direção aos que o impediam. Uma energia violeta que se tornou negra gradativamente, se expandiu de seu corpo e um vulto trespassou os corpos dos soldados. – Corruptio Mentis. – disse, fechando seu punho em seguida. As cabeças dos inimigos explodiram e seus corpos sem vida despencaram na grama verde, os jatos de sangue ensoparam a vegetação.

Gordon não pôde deixar de notar o imenso poder que simplesmente se elevou do Krypsimo que se aproximava, no momento do cantio. O pico de energia era alto demais. Deveria seguir com o plano, não seria capaz de aniquilar o principal alvo. Portanto, tratou de impulsionar seu braço para frente, quebrando a corrente de fogo. A mão segurou a jaqueta da deva que manipulava as chamas que se extinguiam.

Próximo Capítulo: A Chave da Fortaleza.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Solemnia Verba" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.