Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 24
Capítulo 23: O Rubro Que Trás Poder.


Notas iniciais do capítulo

A invasão a fortaleza de Hecate Chronus continuava. O grupo de Hiero havia provado não poupar qualquer vida que lhe impedisse de realizar seu objetivo. Estava claro que lutas sangrentas e cruéis se iniciariam. Uma destas lutas estava prestes a acontecer entre um descendente da família Leviathan, conhecidos pelas suas habilidades mortais conduzidas pelo elemento água e um membro da família Locus, uma família não tão famosa, mas que de certa forma seus membros possuíam habilidades bastante curiosas que também poderiam ser mortais se bem utilizadas. Enquanto todos esses acontecimentos tomavam seu rumo natural, Vladimir se encontrava em uma situação bastante desafiadora. Algo extraordinário havia acontecido, após iniciar os preparativos para o contrato que seria realizado com o humano Daisuke Hiro. Sua vida corria perigo.



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O sol estava escaldante. Pressionando as vistas era possível notar as ondulações dos raios ultravioletas pela paisagem campina. O tapete esverdeado parecia seduzir com um convite para que se deitasse e se entregasse a morte. Tal chamado deveria ser ignorado, portanto os soldados prosseguiam se agarrando no orgulho e enxotando o medo para longe. O silêncio sonoro não parecia tão desagradável quanto o silêncio sensorial porque não se sentia qualquer vestígio de aliquid de violação. O comandante daquela primeira horda estava começando a sentir ansiedade. Sua armadura era pesada e sua capa longa e azulada com um símbolo de um relógio parecia apenas contribuir para aumentar o calor. Era um senhor experiente, seus cabelos grisalhos não se deixavam mostrar pelo elmo, nem mesmo sua barba branca. Após alguns passos a mais, apertou a bainha onde se encontrava guardada sua espada, o peso da mesma parecia estar aumentando ao longo da caminhada. Praguejou em um sussurro e sua mente foi tomada por pensamentos sobre sua idade. Parecia que o fracasso sempre o rondava. Não eram muitos os devatãs que haviam se graduado até pertencerem a classe A, mas o fato de acabar de tê-la alcançado mesmo possuindo 62 décadas de idade era preocupante. O seu problema era poder, sua linhagem não era tão poderosa e o seu cargo de comandante de uma parcela do exército de Hecate Chronus não lhe permitia desenvolver seu aliquid pela forma mais bruta que era pela batalha que eram tão escassas naquele lugar.

“Como demorou! Tudo graças a este lugar. De certa forma sou apenas um guarda-costas”.

– Senhor comandante. – chamou seu jovem escudeiro ao lado.

– O que foi? – respondeu Ayemon Locus, fitando a face nova que possuía apenas 13 décadas de existência.

– Este calor está aumentando ou é impressão minha? – respondeu o garoto, limpando suor de sua testa após retirar seu meio elmo. Vestia apenas uma cota de malha surrada e algumas tiras de couro que cobriam seu corpo, com bolsas que transportavam o que poderiam ser suas armas.

– Se estiver aumentando eu estou perdido. – sorriu para o jovem e passou a mão em um cafuné enroscando os dedos nos cabelos loiros. – Precisamos ficar alerta rapaz, vista seu meio elmo.

– Sim senhor. – respondeu o garoto, sorrindo, logo depois diminuiu os passos.

Ayemon prosseguiu, seguindo em frente com a cabeça fitando as gramíneas, não saberia se voltaria vivo. Após alguns segundos, ouviu um tilintar de metais e algo caindo sobre a grama. Olhou para trás e pôde notar que seu escudeiro havia deixado cair seus dardos de metais, componentes necessários para realizar seus cantios. A pele branca do garoto estava se tornando vermelha e ele estava coçando todo seu corpo, parecia estar ardendo por dentro. Algo estava visivelmente errado.

– Spinos! Efflari! – gritou o garoto, e vários espinhos metálicos se projetaram de seu corpo, mas o calor não cessou.

– O que está acontecendo!? – Locus se virou para observar a cena, e os soldados que estavam próximos logo se dispersaram para tomar uma boa distância do garoto e analisar o estranho fenômeno.

O pequeno escudeiro começou a gritar e se contorcer furiosamente. Neste exato momento, para Locus foi como uma pancada. Um aliquid intenso e fumegante pareceu percorrer toda a área em que se encontravam. Como se fosse um cavalo galopando entre os soldados e vinha em sua direção. O comandante apalpou o ar, como se pudesse tocar algo ali.

“O calor está se apoderando dele. Coitado do pequeno Guilherme, eu disse para ele ficar na fortaleza, mas ele insistiu em vir. Disse que não poderia se tornar um guerreiro completo sem uma batalha. Eu o vingarei! Maldito seja o demônio nefasto que fez isto a uma criança! Ele já está morto, porque isto é...“

Foi instintivo. Os eventos foram simultâneos.

– Animus Ambulandi! – gritou Locus, saltando em seguida, seu corpo desapareceu.

Nullitatis! Nullitatis! Nullitatis! – gritava o garoto, se contorcendo, os soldados ao redor não sabiam o que fazer, alguns sentiam uma rajada de aliquid ao redor e a pressão os paralisava. – Ahhhh! – gritou, seus olhos sangraram, a dor era imensa, os espinhos derreteram, seu corpo se ergueu alguns centímetros.

Os soldados ao redor assistiam tudo aquilo perplexos. A situação fugiu totalmente da lógica quando o jovem escudeiro, erguido no ar, com sangramentos no corpo e emitindo um vapor com cheiro ferroso começou a gargalhar. Um lanceiro imperitus e inexperiente notou uma linha negra traçada na vertical e interceptada por mais duas nas diagonais que surgiu na testa do jovem devatã.

– Olhe aquilo! Olhe a testa dele! – gritou um.

– Será que ele é uma insídia? – perguntou outro.

– Não seja burro! Os espinhos eram um cantio, ele é da família ericii!

– O que fazemos com ele?

Furor Igneus ”

Era tarde demais, o fogo o dominou por completo. Houve uma explosão, o fogo correu por todo o campo pulverizando tudo que tocava. Alguns soldados tentavam fugir, mas as labaredas logo os alcançavam. Quando alguns devatãs acharam que conseguiriam refúgio no céu, saltando para o mais alto possível, as labaredas mais altas se desfiguraram projetando sobre suas vítimas centenas de almas vermifóides. Para não haver qualquer sucesso na fuga, uma calefação incomum projetou uma neblina densa que se estendeu por boa parte do território, impedindo uma visualização detalhada dos perigos eminentes. De dentro da neblina provinham os gritos das vítimas que eram devoradas tanto pelo fogo, quanto pelas almas sedentas de ectoplasma, o nutriente essencial para suas existências temporárias.

Após alguns minutos, os gritos sessavam gradativamente, o cheiro no local era insuportável, porém um devatã no centro da neblina vociferou uma ordem.

Actio Nullitatis!

O vapor se dissipou instantaneamente, revelando a figura de Zero Leviathan, acompanhado do Krypsimo, Margery, Godard e Sorrow. O restos mortais ao redor, permaneciam imóveis e encharcados.

– Combinação prodigiosa. – elogiou Hiero, caminhando logo a frente de Zero. – Confesso que estou impressionado com o sincronismo que tivemos, foi a forma mais eficiente de...

Um lâmina surgiu do nada se direcionando ao pescoço do Krypsimo, o movimento do Leviathan foi instantâneo, seu tridente se materializou após retirar sua capa e a lâmina do mesmo se chocou com a lâmina da espada fantasma. A pressão no ar fez Hiero fechar seus olhos e virar seu rosto.

“Sobrou alguém. “

A lâmina fantasma desapareceu novamente. Zero puxou seu tridente e saltou para trás, mas antes que seus pés pudessem tocar o solo sentiu um impacto tremendo em todo o corpo, como se fosse prensado. Fechou os olhos rapidamente, quando os abriu o Krypsimo e os demais haviam desaparecido. Seu corpo viajava de encontro ao nada. Fincou o seu tridente no chão e a lâmina do centro que era maior que as outras contribuiu para reduzir sua velocidade até conseguir pôr os pés em solo firme.

– Revele-se. – disse Zero para o nada. – Charta aqualitis! – o Leviathan fez um corte no ar e uma lâmina de água se dirigiu ao nada. Após percorrer uma curta distância, desapareceu. Ressurgiu atrás de si se dirigindo em sua direção. Zero sem olhar para trás, pronunciou algumas palavras calmamente. – Nullitatis. – a lâmina em seguida se desmanchou e desapareceu. – Entendo. Então foi isso.

– Recebi ordens de capturar um dos invasores e levá-lo para uma área isolada dos demais. – respondeu Locus, surgindo a alguns metros de distância de seu adversário.

Zero se virou para confrontá-lo.

– Fez muito mal em me escolher. – disse o Leviathan, fitando seriamente o comandante em sua armadura metálica com sua espada desembainhada.

– Não fiz mal. Eu recebi ordens específicas para capturar justamente você. – respondeu Ayemon.

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A sensação de incerteza pairava no ar, o barulho do vento parecia dizer que algo não estava certo. Não era possível sentir nenhum vestígio de aliquid. O líquido esverdeado havia deixado de emanar qualquer energia. Ele havia escapado isto era certeza, mas quem havia feito tamanho disparate? Como haviam conseguido destruir a barreira que havia construído naquele local? A defesa era absoluta tinha certeza que a barreira era intransponível. A fúria começava a emergir. Charles Chronus não podia acreditar no que estava acontecendo.

– William, seu tolo. Me fez prometer manter este louco vivo e aprisionado. Não creio na sua morte, mas seja lá onde estiver espero que tenha tomado conhecimento de tal fato e agora esteja sentindo remorso. – os punhos estavam serrados, os dedos eram pressionados fortemente contra a palma da mão. – Sinto muito, mas desta vez irei destruí-lo com minhas próprias mãos. – o juiz sussurrou para o vento que respondia ruidosamente.

“ Desta vez fiquei mesmo muito irritado. “

Charles ergueu uma de suas mãos abrindo-a como se fosse cravar seus dedos em alguma presa invisível.

Dezintegrare adâncime. – disse o Chronus, uma irradiação de energia azul começou a ser emanada de seu corpo. O chão logo abaixo rachou, como se algo muito pesado estivesse sobre ele. Em seguida, tudo se silenciou. De longe era possível avistar a floresta de árvores com folhas vermelhas, o céu continuava escuro, com fortes trovoadas. De repente, um filete de energia azul emergiu de algum ponto da floresta. O filete de energia acumulou em um ponto distante, de repente explodiu em uma violenta expansão que pareceu engolir tudo que tocava. O estrondo, a violenta pressão, tudo era tomado e se desmanchava com uma ferocidade tenebrosa. O rio de plasma esverdeado, o chão, a floresta, tudo foi dizimado em questão de segundos, o céu mergulhou numa redoma espectral azulada e tudo foi tragado.

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A floresta estava calma, de longe podia se avistar os grandes prédios da cidade de Osaka. Um clarão verde surgiu em algum ponto. Um pequeno esquilo se escondeu dentro de um buraco. Pequenos pássaros curiosos com suas pequenas garras se apoiavam em um tronco inclinando o rosto para observar os visitantes.

– Aqui poderei lhe explicar melhor e se necessário conjurar algum cantio. – respondeu o Chernobog, correndo os olhos pela vegetação. Uma brisa tocou seu rosto.

– É verdade mesmo que poderei me tornar um devatã? – perguntou Hiro, lutando para segurar sua ansiedade.

– Sim. É preciso realizar um contrato. – respondeu o chernobog, inclinando seu corpo para se sentar. – Me desculpe, estou um pouco cansado. Enquanto eu lhe explicar todo o procedimento, espero que não se importe de eu me sentar aqui.

– Não tem problema. – respondeu Hiro, se sentando também. Estava vestindo uma calça jeans e uma camiseta azul sem estampa, calçava tênis e seus olhos brilhavam de interesse no indivíduo vestido com um robe negro logo a sua frente. – Estou pronto.

Vladimir Chernobog fitou por alguns segundos os cabelos negros e olhos brilhantes daquele garoto, escondidos atrás de um óculos de armação circular e discreta. Refletiu se aquele fenômeno não se tratava do mesmo descrito pelos mais velhos devatãs, aqueles que viviam idades superiores a 70 décadas. Frequentemente, tais devatãs descreviam uma curiosidade intrigante, a de que ao longo do tempo algumas características físicas de certos humanos se repetiam em outros indivíduos. Isto é, literalmente surgiam “gêmeos” em épocas diferentes, pessoas que apresentavam as mesmas características físicas, porém sem apresentar qualquer ligação e viviam em períodos diferentes. As lembranças vinham fácil.

" – Isto é verdade? É possível isto? Por que isto acontece, pai?– indagou a criança de cabelos prateados, enquanto erguia os olhos escarlates de cima de um grosso livro aberto sobre a mesa.

Um homem de cabelos também prateados, porém longos e que caiam até as costas, retirou um relógio de bolso e fitou os ponteiros se movendo lentamente. Os olhos rubros do homem que trajava um robe negro com detalhes dourados se encontraram com os da criança. A sensação de conforto era inesquecível para Vlad, o olhar com uma presença forte, transmitiam uma calma contagiante.

– Você está perguntando sobre os doppelgängers? – indagou o homem.

– Não é sobre o aliquid, pai. – respondeu o pequeno devatã, balançando a cabeça negativamente. – Estou perguntando sobre esta nota aqui embaixo. Deixe-me ver. – Os olhos escarlates se pressionaram para ler as palavras. – Doppelgänger naturais e intertemporais de humanos. – Logo depois de ler o pequeno trecho pausadamente, ergueu o rosto para ouvir a resposta.

– Hum. Este é um assunto complicado Vladimir. – disse o homem que após caminhar um pouco se sentou em uma cadeira frente a grande mesa, fitando a criança curiosa. – Digamos que a natureza age de uma forma curiosa com os humanos, alguns pesquisadores devatãs dizem que ocorrem limitações na variedade de formas que um humano pode tomar. É como se as características físicas de um humano fosse um baralho com cinquenta e duas cartas. – Notou o esforço do garoto em prestar atenção e compreender tudo que era dito, nesse momento o professor deixou escapar um sorriso. – E este baralho fosse embaralhado e formasse uma sequência, a sequência formaria um humano qualquer. Depois, o baralho seria embaralhado novamente e uma nova sequência se definiria, esta nova sequência seria outro humano qualquer, diferente do primeiro e assim sucessivamente. Com o tempo, como o número de cartas é limitado, em algum momento depois de o baralho ser embaralhado, seria formada uma sequência igual a outra qualquer e assim por diante. Entendeu?

O garoto ficou paralisado, tentando absorver as informações, permanecia sério e compenetrado.

– Sim. – respondeu, com um tom meio impositivo.

O devatã de cabelos longos e prateados gargalhou por um instante, logo em seguida fez um cafuné na criança.

– Estou certo que sim. – disse, enquanto o pequeno Chernobog enrubescia.

Três batidas na porta foram ouvidas.

– Entre. – disse o devatã que se erguia da cadeira.

A porta se abriu.

– Com licença. – respondeu um homem com vestimentas nobres de um burguês, enquanto retirava o chapéu para adentrar o cômodo. – Boa noite, Bóris Chernobog.

– Já é noite? – indagou o devatã distraído, enquanto direcionava o olhar para a grande janela que revelava um céu anoitecido. Foi como se as velas de repente surgissem na sua vista ao seu redor. - Entre William, para quê tanta cerimônia? Não precisa me chamar pelo sobrenome. – respondeu, sorrindo para seu amigo enquanto se direcionava ao mesmo para cumprimentá-lo.

– Ora, é assim que devemos nos direcionar a um knez¹. – respondeu o homem, enquanto cumprimentava o Chernobog com uma de suas mãos, logo depois colocou o chapéu no cabideiro ao lado da porta.

– Não exerço mais funções da realeza para receber tal título, você sabe muito bem. – respondeu o devatã de cabelos prateados, enquanto fitava a expressão serena de William e observava seu cabelo ondulado e loiro.

– Sim e seu pai Vlastimir Chernobog, ficaria muito chateado, ele foi um grande devatã. Merecia com todas as letras o título de tsar². – respondeu William, com um olhar amistoso transparecendo em seus olhos verdes. – Ora! Vejam só! – sorriu para a criança que observava os dois conversarem silenciosamente. – Vlad, venha cá e me dê um abraço. – Se agachou e estendeu os braços.

O garoto suspirou.

– Boa noite, mestre William.

Bóris riu.

– Você sabe que ele não é dessas coisas William, não sei a razão de você insistir. – comentou o Chernobog.

– É mesmo, puxou o avô, esse garoto. – riu, enquanto se erguia e coçava sua nuca, demonstrando certo tipo de embaraço.

– Mestre?

– Diga Vlad. – respondeu o devatã de vestimentas burguesas enquanto avançava para o garoto que acariciava as páginas do grande livro.

– O senhor já viu algum doppelganger de um humano?

– Hum...Deixe eu pensar... – disse William, parando em frente a cadeira e permanecendo em pé, enquanto apertava os pêlos de seu cavanhaque e olhava para baixo. – Não, eu não me lembro de ter visto nenhum. Talvez pelo fato de eu não prestar muita atenção nas feições humanas eu posso ter acabado deixando algum passar despercebido. É sobre isto que você está lendo aí? – indagou William, dando a volta na mesa e se aproximando de Vlad. Com o dedo indicador apontou para a nota, depois em seguida observou o título do capítulo. – Família Doppelganger. – Ergueu a capa do livro e leu. – Conhecimentos gerais sobre as famílias devatãs. Este livro ainda é apenas um resumo, não é? – indagou o mestre.

– Sim. O exemplar de “História das famílias devatãs” é bem raro, este é um resumo com notas e comentários do autor sobre aquele livro. Temos um exemplar aqui no castelo, mas meu pai disse para eu ler este primeiro. Minha irmã já leu os dois, preciso alcançar ela. – respondeu o garoto, demonstrando uma determinação inocente em seus olhos escarlates.

– Não se apresse tanto Vlad, a compreensão é muito mais importante do que a agilidade. – comentou Bóris, que fitava a lua cheia em frente a grande janela.

– Tenho certeza que logo você irá alcançá-la. Não está achando a linguagem um pouco complicada? – indagou William, sorrindo para o garoto.

– Confesso que as vezes fico perdido, mas sempre que tenho alguma dúvida que me impede de prosseguir eu procuro alguém para me responder.

– Entendo. Bom, boa leitura garoto. – Fez um cafuné de leve na cabeça do garoto, enquanto o mesmo tentava se esquivar. – sorriu e direcionou o olhar a Bóris. – Precisamos conversar, não é mesmo?

– A missão foi bem sucedida? – indagou Bóris, ainda focando sua atenção no céu estrelado pela janela, colocando suas mãos nos bolsos.

– Sim, mas foi fatigante, Bóris. Confesso que senti muita pena daqueles pobres humanos, ou melhor, imperitus não é? Pelo menos morreram como tal. E até agora não consigo entender como você foi capaz de rejeitar uma ordem como aquela. Não concluir aquela missão te fez perder muito crédito, não sei como você foi capaz de ter tanta ousadia. – Caminhou para mais próximo da janela, aonde seu amigo se encontrava.

O Chernobog suspirou.

– Não tive coragem, ela estava grávida William e além disto era somente uma imperitus. Quem foi requisitado no meu lugar?

– O Belobog. – respondeu William, com um tom vacilante.

– Quanta crueldade. – respondeu Bóris. – Ele, o matou com as próprias mãos? – indagou, virando o rosto para observar seu amigo.

– Sim. Não hesitou. – respondeu, em um tom triste.

– Eu quase sinto pena dele. – comentou o Chernobog, observando seu filho que estava imerso na leitura, logo depois retornou o olhar para a lua. – Entendo que as ordens do senhor são soberanas, mas exterminar um nome é muito difícil, até mesmo para assassinos profissionais. As vezes o nome se torna uma ideia e algo que pode ser quase invencível neste mundo são as ideias.

– Por que não se torna um de nós? – indagou William, sabia que essa questão era muito delicada.

– Não. Eu ainda posso cometer alguns atos de desobediência por não fazer parte disto ativamente. Essa pequena liberdade me faz acreditar ainda que meu coração não é mercenário.

– Isso é muito perigoso, Bóris. Se ele se cansar dessa desobediência, ou se de certa forma você incomodá-lo sabe do que ele é capaz. Você é poderoso o suficiente para fazer parte, por que não se submete? É preciso ter a confiança dele.

– Não insista William, já conversamos sobre isto. – pediu o Chernobog, fitando seriamente a face de seu colega.

– Está bem. – suspirou.

– Qual foi a recompensa do Belobog? Creio que tenha sido algo a altura.

– Se tornou um de nós.

– Entendo. Espero que essa possibilidade não tenha sido revelada antes da confiada a ele.

– Isso eu não sei. Se aconteceu, podemos deduzir que ele é mais corrupto do que imaginávamos.

– Prefiro acreditar que não. – disse o Chernobog, retirando as mãos dos bolsos. – Venha William, desejo que me conte todos os detalhes. – pediu, caminhando até a saída.

– Está bem. – respondeu. – Até mais Vlad, boa leitura. – Acenou para o garoto.

– Até. – respondeu Vlad, sem retirar os olhos do livro. “

– Vlad? Ei! – gritou Hiro. Se inclinando para o devatã de cabelos prateados que estava de olhos fechados, apoiando-se com as duas mãos na grama e com o corpo inclinado para trás.

– Estou ouvindo, Daisuke. Estava apenas pensando por onde devo começar.

– Ah...Puxa!...Você me chamou de Daisuke.

– E você me chamou de Vlad. – respondeu o Chernobog, abrindo os olhos e encarando o jovem estudante. Bom, levante-se. – pediu, levantando em seguida, o garoto logo o acompanhou. – Para você se tornar um imperitus que se trata de um humano com permissão de utilizar a solemnia verba e seus derivados, eu preciso contratá-lo com meu aliquid. – explicou, colocando a mão na cabeça do garoto. – Vou irradiar o meu aliquid, termo este que se refere ao tipo de energia que utilizamos para alterar as leis naturais do universo momentaneamente. Depois irei transferir parte desta energia para você, apenas o suficiente para iniciar o treinamento inicial.

O corpo do Chernobog irradiou uma áurea esverdeada que aos poucos se tornou mais densa e agitada. Hiro estava com os olhos fechados, seu coração batia rapidamente. Vlad notou algo estranho assim que começou a transferir seu aliquid, por um momento achou que algum devatã estava próximo querendo atacá-los, mas quando analisou melhor o que sentia, percebeu que um aliquid extremamente familiar estava sendo emanado do garoto. De repente, sentiu uma forte pressão, seus olhos se abriram imediatamente, mas já era tarde demais. A transfiguração dimensional aconteceu levando-o para outro lugar. Daisuke Hiro, emitia uma áurea azulada ao seu redor, Vlad o largou imediatamente e se afastou. O corpo do menino foi tomado por uma energia azulada e desapareceu dentro de uma esfera brilhante. Alguns instantes depois, a esfera se desintegrou, revelando em seu interior algo chocante para o Chernobog.

O manto azul com detalhes dourados, a pequena mitra, a barba branca, os olhos brancos sem íris, a rem em formato de bastão com anéis dourados. O poder sinistro e pesado, era impossível observar aquele ser sem se surpreender. Charles Chronus surgia no lugar onde Daisuke Hiro se encontrava até alguns segundos atrás. O Chernobog estava bastante confuso, se perguntava se tratava de uma ilusão.

– O que o senhor faz aqui? – disse Chernobog, surpreso.

– Você, devatã das sombras, acaba de violar o selo absoluto de um juiz da trindade reguladora. A sua punição é a morte. – respondeu Charles, apontando seu bastão para o último Chernobog.

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– Senhor Charles Chronus, excelentíssimo juiz da trindade reguladora, permita-me humildemente lhe fazer uma pergunta? – indagou o Chernobog, apertando seus joelhos ansiosamente.

– Lhe concederei este direito, invasor. – respondeu Charles, retornando seu bastão para uma posição de descanso.

– O senhor não me reconhece? – indagou o Chernobog, direcionando seu olhar rubro seriamente para o Chronus.

– Não. – respondeu pausadamente, aumentando a ansiedade do devatã de cabelos prateados. – Reconheço sua penitência, desta forma o nomearei invasor e nas piores das condições um criminoso. – respondeu, com um tom severo.

– Qual seria esta penitência? – indagou Vlad, percebendo que uma áurea azulada começava a ser emanada do corpo do juiz como se fosse vapor.

– Rompestes o selo magistral nível 3 de contenção Animus de biogenia do sexto juiz da trindade reguladora, Charles Chronus.

Próximo Capítulo: Mostre Seu Valor.


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Notas finais do capítulo

Por favor, quem ainda acompanhe a fic continue comentando.

1 - príncipe

2 - imperador



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