Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 16
Capítulo 15: As Três Marteladas.


Notas iniciais do capítulo

É preciso requisitar reforços de ambos os lados. O Krypsimo tenta se preparar para o ataque, enquanto Hecate tenta reforçar sua defesa. Tudo indica que haverá um confronto de grandes impactos em breve. Forças monstruosas serão colocadas em confronto. Tudo por causa de um artefato.



O Krypsimo deseja o artefato para cumprir uma de suas missões. Enquanto Hecate deseja apenas impedí-lo para que o devatã criminoso seja impedido de causar o caos. A Chronus entende que com qualquer descuido Hiero conseguirá chegar até Vlad. Portanto, é preciso ter cautela.



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Um imenso deserto sombrio. O solo desgastado, o cheiro de enxofre no ar. A vasta nuvem negra cobria a área infestada de carne podre e sangue. Os gritos de terror e dor eram enlouquecedores. A cada passo que se dava um novo sentimento se apoderava da alma. Olhos tristes de súplica o olhavam. Pediam socorro. De repente as criaturas cravavam as presas e garras na carne trazendo o silêncio. O sangue jorrava se expelindo da carne dilacerada. As tripas viravam um imenso tapete lubrificado com fluídos corporais. Era preciso seguir em frente. As pernas não obedeciam. Trajava apenas a fadiga muscular. Entretanto o corpo estava nú como os outros. Mesmo com seus olhos tampados conseguia enxergar. Não queria ver, mas não tinha escolha. Pessoas morrendo, sendo devoradas por criaturas sombrias. Demônios de todas as formas riam. Abusavam dos corpos de diversas maneiras. A luxúria se misturava a carnificina. Uma criatura de asas esqueléticas bebia as ultimas gotas de sangue que escorriam de uma das orelhas de uma cabeça decapitada. A pessoa que caminhava murmurava “são todas insídias”. Dizia pra si mesmo que aquele mundo não deveria existir. Lamentava pelos pobres humanos que serviam seus corpos para as criaturas. Todos completamente confusos. Sem compreender porque estavam ali, nús, sendo mortos, violados. Não havia ordem. Era o caos que reinava.



Não sabia quem era o criador daquele mundo. Mas sabia que pertencia a aquele lugar. O rapaz não tinha escolha a não ser visitar aquele mundo mais uma vez. Fazia parte de sua sina. Sua própria maldição. Idosos, mulheres, não havia distinção, todos se uniam ao terror de formas distintas, apenas as crianças não estavam presentes, talvez por representarem apenas o rascunho de uma vida. Aquilo abalaria o mais velho dos devatãs. Mas não ele. Já havia se acostumado. Perdeu as contas de quantas vezes esteve em casa. Sentia que era a sua casa. No fim, enxergava a razão. Muitos ali mereciam. De alguma forma inexplicável sabia de todos os pecados ali, conseguia enxergá-los como se fossem palavras num imenso texto. Não via bondade. Apenas o mal. Era a condição, aliás, recolher os humanos malignos do mundo e levá-los até lá para alimentar as insídias. Mas o senhor daquele mundo havia desaparecido. Podia ouvir apenas sua respiração, vinda de muito longe. Como se dormisse em algum lugar, mas não sabia onde estava. O senhor daquele mundo adormecia. E o rapaz com a venda negra nos olhos apenas podia apreciar sua criação. O inferno existia. Era a criação de um ser bastante poderoso. Com um sorriso no rosto não tinha o que se preocupar, logo despertaria e iria sair daquele território do puro mal.



Yami despertou, o suor formava um espelho d’água em seu corpo. Seu peito despido movimentava-se ritmicamente. Estava tentando respirar. Sem muita dificuldade logo se recuperou. Sentou-se na cama. Os olhos fechados. Não queria abri-los, o motivo era lógico. Sabia que não podia e nem deveria. Com seus outros sentidos bastante aguçados logo localizou a faixa próxima. Amarrou-a vendando os olhos. Agora sim podia abri-los. Deveria se preparar. Não sabia quando o Krypsimo tomaria alguma atitude.



Após uma porção de minutos, o Shoal dirigiu-se para o grande cômodo onde estaria sua mestra. Frente à grande porta uma armadura enorme prateada reluzia de longe.



– O que ele faz aqui? – indagou a si mesmo.



Aproximando-se podia notar que a grande armadura estava vestida por um homem alto com uma aparência assustadora. Observou o capacete com fendas que revelam mínimos detalhes de seu rosto.



– General Gordon.



– Imperador Yami. – disse o devatã, mudando de posição, sua capa branca movimentou.



– O que o traz aqui? – indagou o Shoal.



– Gostaria de ter uma palavra com a princesa Hecate. Porém, recebi a informação que a mesma não se encontra. – respondeu o general.



Yami refletiu e logo depois tomou a palavra.



– Provavelmente partiu para uma reunião com a trindade reguladora.



– Entendo.



– Diga-me de que assunto se trata. Talvez eu possa ajudá-lo.



– Sim. O senhor é o mais capacitado. Apenas pretendo discutir algumas peculiaridades sobre as estratégias militares que iremos adotar para o confronto.



– Na verdade, não está comprovado que realmente iremos ter um confronto direto com Hiero.



– Me refiro então às medidas cautelares que iremos tomar.



– Creio que o Major Waldrich tenha lhe orientado sobre tais providências.



– Isto mesmo. Porém, o Major não se encontra. Acredito que tenha acompanhado Hecate.



– Entendo. Pois bem, venha por aqui. Vamos discutir em um local apropriado.



– Obrigado imperador. – agradeceu o general, com sua voz grave e intensa, como a de uma pessoa que já estava acostumada a dar ordens.



Yami seguiu pelo corredor e logo depois Gordon passou a segui-lo. Seu peso e sua altura monstruosa eram notáveis. Sua armadura se assemelhava a de um antigo soldado medieval. Porém, possuía detalhes curiosos. Como espinhos metálicos bem posicionados ao longo da armadura, como se fossem necessários para ferir em uma luta corpo a corpo. A capa era presa a uma haste com cascos arredondados em cada ponta, cada casco com um espinho metálico espesso. Logo ambos entraram por uma porta pelo corredor.




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Uma porta gigante se abriu lenta e ruidosamente. Símbolos estavam desenhados na mesma, várias linhas seguiam do topo até a região que tocava o solo realizando algumas curvas sutis. A própria porta emitia uma energia com uma influência poderosa. A jovem se apressou. Com passos ligeiros adentrou o extenso cômodo passando pela passarela esculpida com diamantes, o lugar se assemelhava a um templo em ruínas, com pilares destruídos e dominados por vegetações que se enrolavam no substrato. As mesmas linhas da porta se projetavam no solo à medida que se seguiam os passos, emitindo uma áurea azul que ora se alternava em verde e ora uma cor da textura das trevas. Um rapaz loiro com trajes militares azuis marinho e uma capa branca passou a seguir a moça tentando igualar a velocidade dos passos da mesma.



– Venha Waldrich. Precisamos nos apressar. – disse Hecate, postando-se á frente de uma espécie de fosso circular que possuía uma armação de mármore por toda a circunferência.



Três altos pilares estavam erguidos a alguns metros á frente. Todos os três possuíam as mesmas linhas tracejadas por toda a extensão.



– Estou pronto princesa. – disse Waldrich, postando-se ao lado da Chronus.



– Como de praxe, apenas diga algo se lhe dirigirem a palavra está certo? É de suma importância que não se esqueça disto.



– Sim.



– Pois bem. Vamos começar. – disse Hecate, após soltar um suspiro. - Yahōvā n'yāyādhīśōṁ dikhā'ī dētē haiṁ! [1] – esbravejou Hecate, realizando traçados no ar com suas mãos, seu vestido negro correspondia ao ato. - Mujhē apanē śabda lē ā'ō. Calō vahām̐ sahī samaya kē li'ē ēka parīkṣaṇa kiyā jānā hai. Brahmāṇḍa kī ūrjā isa adālata suvaktā kī nīnva mēṁ prakaṭa karanē kē li'ē. Aura arājakatā aura astitva kē li'ē āvaśyaka sid'dhāntōṁ kē antarvirōdha ācārabhraṣṭīkaraṇa rōkanē kē dvārā niyantrita hai. [2] – com tais palavras o fosso foi inundado com uma energia azul de forte luminosidade e as linhas que estavam esculpidas nos pilares se acenderam. Cada um com uma coloração distinta. As linhas do primeiro emitiram uma coloração azulada como a do fosso. Do segundo foi emitido uma luz esverdeada e do terceiro uma luz com um tom roxo quase negro. - Ina sabasē ūpara vahām̐ n'yāya hōnā cāhi'ē. Phrī pūrva dhāraṇā'ōṁ. Mērē pavitra śabda svīkāra karēṁ. Hē ṭriniṭī niyāmaka! [3] - finalizou.


Com o término do recito um vapor azul foi emitido do fosso e dominou todo o ambiente. Houve um estrondo em algum lugar. De repente, foi possível ouvir suspiros e vozes que o vento trazia de dentro do fosso. A névoa azulada dominou todo o ambiente. Parecia haver milhares de pessoas sussurrando.



– Eu sempre me incomodo com isto. – observou Waldrich, estava calmo, permanecia indiferente a todos os fenômenos.



– Quando eles surgem trazem consigo todo o passado das discussões que participaram. As vozes se perdem e as lembranças vagam pelo tempo. Meu avô tem o péssimo hábito de ignorar este fluxo, ele é meio desorganizado com isto. Não liga muito para o processo de discussão, no fim o que importa para ele são apenas as conclusões.



– Compreendo. Com todo o respeito princesa, mas sinto que dentre os três ele é o mais, como posso dizer?



– Cabeça dura? Sim. Digamos que ele não é muito sociável.



Três marteladas foram emitidas de algum lugar. O som reverberou pela névoa.



– Chegaram. – sussurrou Hecate.



A névoa azulada ao redor dos dois devatãs se dissipou bruscamente revelando um espaço apropriado. Era como se todo o templo tivesse sido dominado por um vapor azulado. Só era possível enxergar a silhueta dos três pilares. Até mesmo o fosso havia desaparecido.



– Hecate Chronus. – uma voz grave sussurrou.



– Fremont Chaos. – disse Hecate, como um reconhecimento a voz.



A névoa se dissipou revelando um dos pilares que sustentava um trono. Sentado no trono estava um senhor de idade com longos cabelos e bigodes grisalhos. Sua vestimenta tratava-se de um tipo de túnica de cor negra com detalhes roxos, semelhante a de antigos sacerdotes. Na cabeça repousava uma mitra discreta com detalhes semelhantes aos do restante do tecido da roupa. Alguns símbolos compunham o design do trono com detalhes góticos que lembravam os do Krypsimo. Nas mãos, repousadas nos braços do móvel, alguns anéis prateados chamavam a atenção. Outro detalhe chamativo se encontrava nos olhos que não possuíam íris, apenas a esclera embranquecida se podia enxergar como as de Sorrow, porém este devatã possuía uma forte presença que de longe superava a de Alastor e o Krypsimo, algo que fazia até mesmo Hecate estremecer. O Major sentia que o senhor no trono possuía poderes além de sua compreensão e como um animal frente o perigo eminente por meio do instinto decidiu permanecer estático, atento a qualquer reação de Fremont.



– Ora, veja só. – disse uma voz masculina e mansa.



– Óliver Cosmos. – observou a Chronus.



Os outros dois pilares finalmente surgiram por inteiro. Ambos continham tronos em suas estruturas no topo. No trono do centro estava sentado um velho com uma barba espessa grisalha não tão grande quanto a de Fremort. Seus cabelos também eram mais curtos atingindo a nuca. Sua roupa possuía um estilo semelhante ao do outro ancião, porém tinha uma coloração azulada e detalhes em dourado. Sua mitra combinava com o restante do traje. Não possuía mais nenhum acessório a não ser um bastão com um círculo dourado traçado por duas hastes no centro que se cruzavam. Duas argolas, uma de cada lado da junção das hastes na região inferior se sustentava na borda do círculo. O bastão estava inclinado logo ao lado do trono, se apoiava na lateral do mesmo. O trono tinha uma coloração acinzentada, como se fosse feito de pedra polida. Hecate observava seu avô com seriedade. Enquanto Waldrich estava mergulhado em seus pensamentos.



“ É a primeira vez que vejo uma rem de um dos três anciões. Deve ser um artefato valiosíssimo. ”



Waldrich estava analisando cada detalhe. Não era todo dia que um devatã de classe relativamente inferior podia avistar os anciões de tão perto. No terceiro trono um jovem de cabelos negros compridos estava sentado. Suas roupas eram condizentes com as dos demais, com uma coloração verde musgo e não estava usando mitra. Seus trajes tinham detalhes negros e seu trono era branco como os pilares. A semelhança com os demais consistia nos olhos sem íris. Dentre os três este era o mais chamativo de todos, devido a sua aparência. Algo que despertava a curiosidade de Waldrich, pois não era a primeira vez que via Óliver com tal aparência. O major também podia sentir uma paz vinda do juiz que lhe interessava muito, pois o mesmo não tinha a presença esmagadora que os outros dois emanavam. Também simpatizava mais com este, pois parecia ser o mais compreensível. Mesmo havendo presenciado apenas três reuniões, algo que já era muito para um devatã de sua classe, tinha tal impressão.



– Quantas vezes eu já lhe falei Óliver!? – esbravejou Charles, direcionando o olhar rispidamente para o juiz com aparência jovem.



Hecate notou que Fremort havia inclinado seu corpo para o lado e agora repousava seu queixo em uma das palmas das mãos.



– Lá vamos nós. – suspirou Óliver.



– Você precisa se apresentar de outra maneira, com outro aspecto físico, como você quer que seja respeitado durante os julgamentos com uma aparência tão mortal e medíocre? Qualquer devatã riria da sua cara se você emitisse qualquer sentença.



– Charles. Dê as boas vindas a sua neta. Guarde sua saliva para discutirmos o que a trouxe aqui. – respondeu Óliver calmamente.



O velho de túnica azul esgueirou o olhar para a Hecate que se encontrava logo abaixo, a jovem Chronus deu um aceno meio sem graça. Charles se endireitou no trono resmungando.



– Você sempre desvia o foco da atenção para algo, sempre arruma um meio de fugir da crítica. Isto é importante. Não posso tolerar você agindo como um idiota. Você hoje já não é mais o mesmo, esqueça do seu passado, da sua condição de...



– Basta. – disse Fremort, com um tom baixo, mas mesmo assim sua voz soou como um trovão, erguendo a palma de sua mão que segurava seu queixo para frente do rosto em direção ao Chronus. – Não ouse citar isto perante um devatã de classe inferior. Por céus, onde você está com a cabeça hoje Charles?



Com um suspiro profundo o Chronus tomou a palavra.



– Tem razão. Não sei onde eu estava com a cabeça. Mas você deveria concordar comigo. Ele está passando dos limites. – disse Charles.



– Temos coisas mais importantes para nos preocupar no momento. – observou Fremort.



– Esta é a minha forma natural, Charles. – explicou Óliver, despreocupado. – Agora, o que não é natural é Fremort utilizar a expressão “por céus”. Sinto que estamos todos abalados devido aos últimos acontecimentos.



Houve alguns segundos de silêncio, neste instante Hecate fez menção de abrir a boca para dizer algo, porém foi interrompida por Charles.



– Teremos uma guerra? – disse o Chronus, parecendo indagar a si mesmo, porém disse as palavras com uma sonoridade proposital para atingir seus colegas.



– Prossiga Hecate. – disse Fremort, notando a tentativa de intervenção da jovem.



“Uma guerra? Do que esses velhos estão falando? O que será que aconteceu para abalar os três desta forma?”



– Muito obrigada lorde Fremort. – agradeceu a jovem. – Como deve ser de conhecimento dos senhores, fui raptada por Hiero Krypsimo. Como podem ver consegui escapar e...



– Desculpe interrompê-la Hecate. Devo lhe avisar que qualquer devatã que deseja um encontro com a trindade deve sempre manter-se coerente e se alinhar com a verdade. Possuo muitos séculos de vida, portanto falo pela experiência. Estou lhe alertando sobre isto, pois sinto que a senhorita iria cometer um pequeno deslize.



Hecate ficou paralisada, realmente não dava para mentir para os três anciãos. A garota já desconfiava que não fosse nada fácil. Portanto, desistiu da idéia imediatamente. Era melhor ser sincera.



– Me perdoe Fremort. Estou muito agradecida mesmo, por ter sido tão compreensível comigo. Realmente eu iria cometer um deslize. Deixei-o me raptar. Para que eu pudesse me encontrar com o último Chernobog. – explicou a Chronus.



– Entendo. – disse Fremort Chaos. – Se fosse em outras circunstâncias, talvez, ou se fosse algum outro devatã eu teria sido bastante rígido neste momento. Porém, em consideração ao Charles e para satisfazer a minha pessoa, pois alimento algum tipo de simpatia pela senhorita, estou sendo bastante flexível. – explicou enquanto se recostava no trono. – O último Chernobog deve ser protegido, compreendo as razões que a levaram a isto. Mesmo tendo sido uma manobra arriscada, você agiu corretamente, mesmo que tenha agido pela emoção, pois Vladimir é um amigo de longa data da senhorita, não é mesmo? – indagou.



– Sim senhor. – respondeu Hecate.



– O Krypsimo é um criminoso foragido. Você deveria tê-lo prendido ou o aniquilado. Existe uma sentença de morte para ele. – disse Charles.



– Não seja duro com ela Charles. – disse Óliver, entrando na discussão. – O Krypsimo não é nenhum bobo, é uma raposa esperta, pois eu lembro que o primeiro mandato de prisão saiu há pelo menos meio século e ninguém conseguiu prendê-lo. Creio que não seja nada fácil tal tarefa, quanto mais aniquilá-lo. – explicou Cosmos.



– Correto. – disse Chaos. – Existe também a possibilidade de este Krypsimo estar recebendo ordens e podemos deduzir que se trata de um devatã mais forte que ele. Talvez algum pertencente à classe S. – observou.



– Ou até mesmo SS. – acrescentou Óliver.



– Seria possível um devatã de classe SS estar comandando todos os atos desse assassino? – indagou Charles, demonstrando uma incredulidade sobre a hipótese.



Os juízes se entreolharam alguns instantes. Parecia que ambos entendiam o que aqueles olhares significavam.



– Será possível? – indagou Fremort, para seus companheiros.



Óliver fez uma concha com as mãos e apoiou seu queixo nas mesmas, inclinando seu corpo para frente conseqüentemente. Logo depois tomou a palavra.



– Vocês devem estar conseguindo enxergar as possíveis conexões que podem haver aqui. Parece estar tudo interligado.



Neste momento Hecate sentiu que a discussão estava indo para outro ponto, mas antes que pudesse dizer algo, Fremort lhe chamou a atenção.



– Minha jovem. Conte-nos quais foram seus objetivos. Qual foi a conclusão afinal? – indagou o ancião.



– Está bem. O Krypsimo utilizou um tipo de cantio de domínio mental, do qual a palavra chave era “mesmerize”. Uma parte de minha consciência havia sido protegida e quando meu corpo físico foi dominado pelo cantio eu ainda podia estudar algumas de suas habilidades à medida que eram expostas. – começou a explicar Hecate.



– Certo. – disse Fremort, os outros juízes se atentaram a explicação assim como Waldrich. – Descreva-nos todos os detalhes referentes a este criminoso que lhe possam ser relevantes.



– Trata-se de um devatã com poderes de domínio dimensional. Algumas habilidades realmente me intrigaram, pois se assemelhavam as minhas. Além disto, ele possui a capacidade de manipular uma mente como bem entender com tal cantio. Não sei qual é o período, quais são as fraquezas do cantio. Eu apenas utilizei um simples artifício para fugir do domínio. Aprisionei minha consciência em uma redoma temporal e a adicionei ao fluxo do tempo. Desta forma, todas as vezes que algum tipo de distúrbio ocorria ao redor minha consciência despertava. Inclusive, pude notar que é preciso manter uma emissão de energia constante para o domínio total da mente, desta forma deduzo que possa haver uma limitação espacial para que a vítima possa ser atingida.



– Entendo. – disse Óliver, prestando atenção. – E sobre as habilidades de translação dimensional?



– Ele é capaz de abrir um tipo de fenda e se transportar pelo espaço. Algo estranho ocorria quando eu estava dentro do interior do portal que o Krypsimo abria, eu recobrava totalmente a minha consciência, porque parece haver um tipo de violação muito intensa e sombria todas as vezes que ele se transporta desta maneira.



– Interessante. – resmungou Fremort. – Talvez ele tenha conseguido escapar de todas as forças tarefas enviadas utilizando esta habilidade.



– Além disto, consta nos relatórios que ele possui cúmplices. Devatãs que o seguem como discípulos ou subordinados e o ajudam. – observou Charles.



– Sim. Não podemos nos esquecer disto. – disse Chaos. – Continue Hecate. – direcionou a palavra a jovem.



– Quando Vlad foi atacado, havia dois devatãs de classe A com ele. Um deles se chamava Zero Leviathan e a outra Margery Pyromorphisis.



– Uma Pyromorphisis e um Leviathan. – Óliver repetiu as palavras de Hecate com um sorriso. – Como eu disse não se trata de um simples baderneiro. Este rapaz está montando uma milícia poderosa, quais serão suas intenções? Devemos entrar em contato imediatamente com a Ilha do Fogo para investigarmos se houve algum devatã desaparecido ou expulso da ilha. Devemos entrar em contato com Atlântida também para termos informações sobre Zero. – acrescentou o Cosmos.



– Se não me engano este Zero trata-se do ninja espião do esquadrão de Poseidon. O mestre das lâminas aquáticas. – observou o Chronus.



Waldrich fez menção de dizer algo, porém Hecate fez sinal a ele impedindo-o.



– Isto mesmo Charles, eu estava pensando se era este mesmo devatã. Parece que ele desapareceu há mais de duas décadas. Também estou me recordando de algumas outras coisas, se não me engano, seu antecessor Agamenon Chronus teve contato com o primeiro Krypsimo em Atenas na Grécia Antiga, não é mesmo? – indagou Chaos.



– Parece que este devatã trata-se do filho de Meiying, o garoto que sobreviveu ao massacre de Pequim. – respondeu o Chronus meio apreensivo.



– Minha nossa! Isto é sério. Houve um sobrevivente! Hiero Krypsimo então é o filho de Phrynichus Krypsimo e a imperitus chinesa Meiying? – indagou Óliver se surpreendendo.



– Você foi discípulo de Agamenon, Charles. Conte-nos se houve alguma menção sobre as habilidades de Phrynichus. Conte-nos, aliás, tudo que você sabe sobre este devatã. É curioso o fato que tanto este Krypsimo quanto o Chernobog se tornaram os últimos membros de suas famílias. – pediu Fremort.



– Você também deve ter conhecimento sobre o Phrynichus, nos séculos antes dos acontecimentos em Jerusalém que os humanos catalogam como antes de Cristo o caso de Phrynichus foi bastante divulgado. Então diga você algo sobre ele. – respondeu rispidamente o Chronus.



– Sentem-se. Vocês dois devem estar cansados. – disse Óliver para Hecate e Waldrich enquanto fazia um aceno com uma das mãos. Logo depois duas poltronas do período moderno se materializaram atrás de ambos. Hecate agradeceu gentilmente e se sentou junto com Waldrich.



– Foi apenas um concurso de pouca importância. Agamenon gostava de festivais, mas não tratava de divulgá-los massivamente entre os devatãs, era bastante divulgado entre os mortais apenas. – explicou Chaos.



– Os mortais e sua ingenuidade medíocre às vezes me irritam. Em seus escritos infantis marcaram os efeitos dos poderes de Phrynichus. Bom, isto não foi a primeira vez que aconteceu. Os humanos trouxas não precisam saber da verdade. Apenas interpretam a realidade como seus olhos imaturos e ingênuos conseguem captar.



– É necessário o anonimato Charles e desta vez é você que esta se desviando do assunto. Diga-me o que sabe sobre o Phrynichus. Eu estava na América neste período, você não era vivo, mas sabe o que estava ocorrendo na América neste período. O concurso de obras dramaturgas aconteceu muito longe de mim. Era um assunto também que não me interessava. – disse Fremort, meio impaciente.



“ Então Fremort é mais velho que Charles? Interessante. “



Charles se recostou na cadeira e após um longo suspiro de indignação tomou a palavra.



– Está bem. Irei contar a história de Phrynichus Krypsimo.



Preview:...



– Deseja dizer mais algo Hecate? – indagou Fremort, dessa vez olhando para a jovem.



– Se não me engano houve um assassinato. Um devatã chamado William foi aniquilado pelo Zero Leviathan.



– William!? – indagou surpresos os três juízes quase em uníssono.



– Este era o mestre de Vlad não é? – indagou Hecate não entendendo o espanto.



– Sim, sim. – disse Fremort, porém parecia estar em outro lugar, com a mente longe.



– Isto é impossível ! – gritou Charles. – Um Leviathan destruindo um...



– Segure a língua Charles! – esbravejou Chaos se enfurecendo. – Esta reunião está encerrada! – acrescentou no mesmo tom de voz.



Até mesmo Hecate e Waldrich se assustaram com a exaltação do Chaos. Neste momento o bastão do Chronus brilhou e de repente despencou ao chão fortemente. Charles olhou para o mesmo imediatamente com uma expressão de incredulidade.



– O que houve Charles? – indagou Óliver, assustado.



– Não é possível... – sussurrou o Chronus, enquanto recolhia seu bastão do chão. – Ele foi libertado.



Próximo Capítulo: Reunião Encerrada.


Notas..:


Em hindi:


[1] - Apareçam lordes julgadores!


[2] - Tragam-me a vossa palavra. Que haja o julgamento pelo tempo correto. Que a energia do universo se desdobre no alicerce deste tribunal eloquente. E que o caos seja controlado impedindo a contradição e desmoralização dos princípios essenciais a sobrevivência.


[3]– Acima de tudo deve haver a justiça. Isenta de pré noções. Aceitem minhas palavras solenes. Ó trindade reguladora!


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Notas finais do capítulo

Comentem. Por favor. =D