Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 13
Capítulo 12: Interrogatório Solene.


Notas iniciais do capítulo

O encontro de Vlad com o jovem estudante finalmente acontece para a felicidade de Daisuke Hiro. O garoto não se contém com as perguntas. Deseja saber de tudo que tenha direito, direito este cedido pelo Chernobog. O devatã decide corresponder explicando um pouco de sua natureza tão complexa. É moderado nas explicações, pois sabe que oferecer conhecimento incondicionalmente exige tempo. Informação demais para um humano pode afetá-lo de uma maneira chocante. E a história de uma raça incomum de milhares de anos começa a fazer sentido.



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Os óculos fitaram seriamente o ninja de elite. Zero percebeu imediatamente que deixou transparecer parte de suas emoções através de seu olhar ríspido somado ao seu tom de sua voz que soou anormal. Com toda a sensatez, não procurou disfarçar seu equívoco, permaneceu com o mesmo semblante aguardando a resposta de seu mestre. Este, por sua vez, caminhou dois passos em sua direção e parando com as mãos nos bolsos continuou retribuindo o olhar sério.



Hiero retirou sua mão direita de seu bolso vagarosamente e a movimentou na vertical, trazendo-a para seu rosto. Este movimento fez Zero franzir a testa e serrar o punho, chamando a atenção do Krypsimo. Por fim, o devatã de trajes brancos terminou seu movimento ajeitando seus óculos tomando a palavra logo em seguida:



– Seu interesse neste assunto é bastante peculiar, Zero. – disse, observando seu subordinado que estava a poucos metros de distância. – Não posso revelar quem é a pessoa, porém posso lhe garantir que esta revelação não beneficiará em nada esta missão. – acrescentou, retornando sua mão direita para seu bolso.


- Desculpe mestre.


Mesmo se desculpando, Hiero continuou desconfiado. Retornou para seu trono e após se sentar decidiu tomar a palavra mais uma vez.


- Preciso que você e Margery se retirem. É necessário passar algumas instruções para Godard. – ordenou o Krypsimo.


Em meio a alguns resmungos, Margery atendeu ao pedido e logo depois Zero a acompanhou. Godard voou alguns metros á frente, para ouvir melhor seu mestre, passando pelos dois devatãs. Após a ruiva e o ninja caminharem alguns passos, ambos desapareceram após consolidar a magia de tele transporte e desta forma restaram apenas o Krypsimo com seu pequeno servente.


- Espero que você, quando se encontrar com Sorrow, faça tudo que irei orientar agora. Precisamos muito dos poderes daquele indivíduo.


- Sim senhor. – disse Godard, acenando com a cabeça.


- Existe outro motivo pelo qual estou recorrendo aos poderes deste devatã foragido e agora irei lhe contar. Preste muita atenção.


Godard, após se aproximar, ouviu atentamente as palavras de seu mestre. Ficou chocado com algumas hipóteses que pôde ouvir. Neste momento ele compreendeu que não deveria falhar em convencer Sorrow e também percebeu o motivo de ter sido chamado para realizar esta missão. Somente ele seria capaz de obter sucesso na mesma.



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Hiro se aproximou vagarosamente em direção aos olhos escarlates que o observavam. A seriedade do estranho Vlad fez seu coração disparar. Algo muito perturbador parecia ser transmitido daqueles olhos. O jovem estudante não sabia se tratava de ódio ou apenas uma concentração notória. Apesar disso, mesmo um pouco hesitante, continuou seus passos, preferindo contar com a sorte mais uma vez. Pôs-se frente o rapaz que estava sentado em uma espécie de caixote, era a primeira vez que o enxergava por cima. Vlad sem erguer sua cabeça, disse algumas palavras:



Animus Ambulandi.



E após a pronúncia das palavras corretas, levantou-se rapidamente, assustando o estudante que por instinto deu alguns passos para trás. O círculo verde se projetou no chão e logo depois desapareceu junto com os dois corpos acima. Alguns segundos depois, Vlad e Hiro surgiram por meio da projeção do círculo, acima do mesmo prédio em que o Chernobog por fim decidiu seguir com o combinado. Já havia anoitecido, desta vez o outdoor se encontrava iluminado. O devatã caminhou alguns passos com as mãos no bolso parando á frente de uma das bordas do topo do prédio. Correu os olhos atentamente pela cidade que mostrava uma porção de luzes.



“ Fascinante.“



– Nossa! Você fez de novo! Como você faz isso? Afinal, o que é isto que você fez? Eu não consigo entender.


Vlad virou seu rosto e observou Hiro com sua visão periférica, podia notar as expressões e gestos de euforia do mesmo.


- Você não entende? – indagou o devatã, com um tom sério.


O estudante detectou a seriedade do rapaz assim como o tom melancólico imediatamente, em resposta a isto procurou se controlar.


O garoto adquiriu um semblante sério. Olhou ao redor e notou um discreto monte metálico que parecia ser a extensão de alguma máquina no interior do prédio, algo como a saída de uma tubulação de ar. Caminhou em direção á mesma e se sentou. Apoiou seu queixo em sua mão e o cotovelo na perna. Nesta posição aguardou as palavras de Vlad. Notou o tremular das roupas negras, com isto percebeu que permaneciam sujas.


- Você precisa de roupas novas e de um banho também. – observou Hiro.


O Chernobog permaneceu em silêncio, com sua atenção voltada para a cidade. Após alguns instantes, virou-se para o aluno e caminhou alguns passos em sua direção. Seus olhos escarlates fitaram o jovem estudante. Com um tom sério tomou a fala:


– Sim. Um banho seria agradável, mas sobre as roupas não precisa se preocupar.


– Por que não? – indagou Hiro, com um semblante confuso.


– Responda minha pergunta. O cheiro lhe incomoda?


– Um pouco. Mas não precisa se preocupar. Isto não irá me fazer ir embora e deixar de lhe fazer as perguntas que tanto quero fazer. – disse Hiro.


– Verei o que posso fazer em relação a este incômodo.


“ É uma magia primária. Talvez seja possível realizá-la.”


– Oris: Yasmin. Efflari! – exclamou Vlad, subitamente.


Hiro ouviu atentamente as palavras e elas lhe soaram muito atrativas. Ficou fascinado por aquela língua estrangeira e nunca havia ouvido tais pronúncias. Sua curiosidade aumentou ainda mais enquanto o misterioso indivíduo que estava próximo permaneceu estático, olhando-o seriamente. Quando o estudante decidiu finalmente dizer algo, sentiu um aroma bastante agradável, um aroma de uma flor e este odor não lhe era nem um pouco familiar.


– O que é isto? Que cheiro é este?


Vlad sorriu e decidiu explicar:


– Este é o odor de uma flor de Yasmin ou também conhecida como Jasmin.


– Mas de onde vem este cheiro? Não há nenhuma planta aqui por perto.


– Isto é um cantio. Ou melhor, uma magia.


– Magia!? – se espantou Hiro. – Então você é mesmo um bruxo?


O devatã sorriu. Logo tomou a palavra:


– Não sou um bruxo. Nem Deus, nem vampiro, nem nada disto. Sou um devatã garoto. Não sou humano como você. – riu o Chernobog e após recolocar as mãos nos bolsos continuou a fala. – Não sei qual seria o melhor procedimento. Não sei se seria melhor esperar suas perguntas para respondê-las em seguida ou se eu deveria lhe narrar toda a minha história.


– Hum... – Hiro colocou uma de suas mãos na ponta de seu queixo e refletiu. – Talvez seja melhor eu fazer as perguntas e você respondê-las. – sorriu em seguida para seu aparente novo amigo.


“ Interessante. Este humano trata-se então de um questionador e não de um simples ouvinte. Isto me leva a crer que talvez seja também um estrategista. Quem sabe um investigador. “


– Ótima escolha. Prossiga. Pergunte o que quiser. Irei lhe responder qualquer coisa. – disse Vlad e logo depois se sentou no chão, cruzando suas pernas e colocando suas mãos sobre seus joelhos. Desta forma, podia avistar o estudante que se encontrava acima. Estava testando-o.


– Primeiro. Por que esta espontaneidade em se submeter as minhas perguntas? Segundo. Existe um limite para minhas perguntas? Estes dois questionamentos precisam ser respondidos para que eu possa prosseguir.


“ Realmente não é um garoto comum. A julgar pela alteração no tom de voz e em seu próprio vocabulário creio que não se trata de um simples adolescente como os outros. E me surpreende o fato de conseguir controlar seus impulsos. Mesmo com a minha confissão de que sou um devatã, conseguiu dominar o impulso de realizar a pergunta esperada por mim sobre o que vinha a ser tal coisa.Provavelmente já percebeu que estou testando-o. Talvez este garoto possa se tornar um...”


– A resposta da segunda pergunta é negativa. Não há limitações. – disse Vlad, fechando os olhos.


– E a resposta da primeira?


O devatã sorriu.


– Você é interessante. Apenas isto. Estou disposto a lhe oferecer a verdade incondicionalmente.


– Bom saber disto.


Vlad aguardou alguns instantes até poder ouvir novamente a voz do garoto, neste meio tempo reabriu os olhos para enxergá-lo novamente.


– Por que você consegue realizar magias? Eu, como humano, posso também conjurar alguma?


“ Eu não esperava tais perguntas. Por que não me pergunta sobre os devatãs? Por que sua atenção está focada nas magias? E o mais intrigante, por que não me indagou sobre o motivo de me interessar por ele, um simples humano? Sim. Definitivamente ele é um investigador por colocar a investigação ao lado da satisfação de seu ego. E também deseja o poder para si.Isto está ficando realmente muito interessante. “


– Eu consigo realizar magias porque sou um devatã. Possuo “permissão” para realizá-las. Na sua condição de humano você não é capaz de materializar cantios.


– Na minha condição de humano?


– Sim. Para conjurá-las você deveria se tornar um devatã.


– Permissão? Quem lhe concede esta permissão?


“As perguntas dele são precisas. Ele questiona justamente os pontos mais importantes, aqueles que nem mesmo devatãs de classe inferior possuem conhecimento. Não sei se está havendo apenas lances de sorte aqui, mas o assunto está se desviando para pontos dos quais ainda não posso lhe revelar muita coisa. É preciso saber o básico primeiro, para depois avançar para os próximos estágios de conhecimento. Está na hora de reassumir o controle.”


O devatã de olhos escarlates se levantou e fitou o jovem estudante seriamente. Neste breve momento, uma brisa gélida pareceu silenciar os pensamentos de ambos. Logo depois, o Chernobog tomou a palavra:


– Um devatã extremamente poderoso. Pertencente a mais alta classe de nossa hierarquia. De qualquer forma, você precisa se tornar um devatã para adquirir tal direito de criar e também de materializar cantios.


– Então existe mesmo uma hierarquia. – suspirou Hiro e logo depois se ajeitou assumindo outra posição mais confortável. – Você citou várias vezes a palavra “devatã”. Isto é um indicativo de que você possivelmente deseja que eu lhe pergunte sobre o que é um devatã. Não sei qual é o seu grau de sinceridade em responder minhas perguntas, mas tudo indica que você está tentando me levar para um outro ponto da discussão. Está querendo esconder algumas verdades de mim? Não, esta não é a pergunta apropriada. Está bem. Vou lhe fazer a pergunta que deseja. Porém, irei reformulá-la em duas perguntas. Diga-me exatamente o que você é. Que tipo de devatã você é? Qual classe pertence?


“ Você supôs até mesmo isto? Fascinante! Fui descuidado. Eu não esperava isto. Subestimei sua inteligência pelo simples fato de aparentar ser um jovem ingênuo. Interessante. Devido a este meu erro, não poderei mentir. Definitivamente você poderá se tornar aquilo que eu almejo a partir deste momento.”


O rapaz de cabelos prateados riu durante alguns segundos.


– Fabuloso. Você tem toda a razão. Existem algumas verdades que não posso lhe revelar neste momento. Peço paciência. Tudo há de acontecer no seu devido tempo. – disse Vlad. – Meu nome é Vladimir Chernobog, último membro da família de assassinos Chernobog. Minha família ofereceu seus serviços ao rei dos devatãs há séculos. Porém, devido a um massacre inexplicável, todos os membros foram exterminados, exceto eu. – descruzando os braços, colocou as mãos nos bolsos após suspirar profundamente. – Pertenço a classe A, antepenúltimo nível da hierarquia de poderes. Acima da minha classe existe a S e depois a mais poderosa, a SS.


– Que confissão intrigante. – disse Hiro, fascinado por ter encontrado algo completamente diferente daquilo que o mundo lhe apresentava até aquele momento. – Posso lhe fazer um pedido? – indagou o jovem.


– Sim.


– Gostaria de tentar realizar um cantio, poderia me ensinar como fazer isto? – o jovem estudante se levantou de onde estava sentado e caminhou alguns passos a frente.


– Posso sim. Mas será impossível você conseguir conjurar um cantio. Um simples humano não seria capaz de conjurar se não descendesse de uma linhagem de devatãs. – explicou Vlad, calmamente.


– Não importa. Gostaria de tentar mesmo assim.


“ Será inútil criança. Isto está além de sua compreensão.“


– Está bem. Mas repito, será inútil. – disse o devatã de cabelos prateados, após soltar um suspiro de reprovação. – Oris significa odor em latim e Efflari significa liberar. A língua latina poderá ser difícil de ser pronunciada por aqueles que estão acostumados com a semântica oriental. Seria bom você treinar um pouco até conseguir pronunciar as palavras corretamente. – aconselhou o devatã.


– Não será preciso. Ensine-me como dar a ordem. Não sou tão tolo quanto pensa. – disse Hiro, assumindo um semblante sério e impositivo.


“ Quanta ousadia! Como um simples humano pode ser impor desta forma a uma criatura que possui quase o quíntuplo de sua idade? “


Vlad soltou uma gargalhada que perdurou durante alguns segundos, incomodando o estudante que se manteve com o mesmo semblante. Assim que se recompôs, explicou:


– Basta dizer odor em latim e logo depois dizer o nome da origem da essência que deseja. Também em latim. E depois dizer a palavra de liberação.


– Certo. – disse Hiro e logo depois refletiu por um tempo. – Como se diz “enxofre” em latim? - indagou o estudante.


“ Que vontade curiosa. Por que a escolha da palavra “enxofre” ? Poderia ser tantas outras.”


– Você me deixou bastante curioso agora com este tipo de pergunta. Se importaria em dizer qual o motivo do seu desejo de sentir o cheiro de enxofre? – indagou o devatã de olhos escarlates fixos no jovem garoto.


– Nada de mais. Apenas escolhi este por acreditar que seu odor será de fácil identificação e também será de melhor percepção. – explicou o garoto.


Vlad devido aos seus vários anos de experiência sabia identificar uma mentira imediatamente. Conseguiu enxergá-la entre aquelas palavras, porém com bom senso decidiu respeitar a privacidade de seu novo amigo.


– Você pode dizer súlfur.


– Sufru, sufuru.. shufuru? – se esforçava o garoto em dizer as palavras corretamente.


– Súlfur. – disse Vlad, sorrindo.


– Efrari... - Efflari. - Ok! Agora vou tentar o cantio. Lá vai.. – disse o estudante, com uma leve irritação em seu tom. - Oris..


“Isto é inútil criança tola. Você não irá conseguir.”



Preview:...



– Não é que eu não tenha emoções. Mas sinto um vazio indefinido, sem precedentes. Pelo menos que eu conheça. – explicou Hiro.



– Isto me parece dramático demais. Você viveu pouco para ter certeza disto.



– Posso ter vivido apenas 16 anos, mas parece que vivi 10 décadas.



“ Tenho certeza que você não faz idéia do que seja viver tanto tempo.”



– Que absurdo. Não diga isto. Você não tem idéia.



– Mas o que vale na vida de um ser vivo é a quantidade de tempo que ele sobrevive ou a qualidade do que se acumula extraindo informações desta vida? Eu posso ter vivido apenas 16 anos, mas eu possuo uma interpretação que atinge a qualidade da de um homem velho.



– Hum..



– Isto não é narcisismo. Apenas estou sendo claro em explicar o que julgo ser verdadeiro.



“Até que ponto vale viver uma vida preso no casulo da ignorância? Se há essa extração de informações. Se ele realmente faz isso, trata-se de um investigador astuto. Buscando respostas e acrescentando qualidade em sua vida.”



Ambos permaneceram em silêncio por um breve momento, até que Vlad tomou a palavra:



– Está bem. Irei lhe ajudar. Existe uma forma de você conseguir conjurar cantios.



Próximo Capítulo: A Revelação Sutil.


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Notas finais do capítulo

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