Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 12
Capítulo 11: Um Mistério de Mil Anos.


Notas iniciais do capítulo

O silêncio preencheu o ambiente por alguns segundos, contribuindo para o clima de apreensão e curiosidade se acentuar. Zero fitou os olhos castanhos de Hiero a uma boa distância. Rememorou aquele mesmo olhar determinado. O objetivo do Leviathan era unidimensional, deveria ser cumprido o mais rápido possível. E aquela lembrança não iria impedi-lo, mesmo que não pudesse olhar com seus verdadeiros olhos para o Krypsimo.



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Hiero aguardou alguns instantes, era um dos poucos devatãs que hesitavam em falar algo impulsivo. Repassou seu plano mentalmente por alguns segundos, revisando, localizando possíveis falhas. Alguns pontos estavam desfocados, mas sabia que o tempo trataria de regularizá-los. O irônico era que contar com o tempo neste momento não era muito agradável, porém não tinha alternativa. Levantou-se da poltrona e caminhou em direção a Zero, parando a mais ou menos dois metros de distância, após descer dois degraus que se encontravam a frente do trono.



– Todos possuem conhecimento do quão seguro é o território de Chornus. O amuleto, logicamente, se encontra em seus aposentos. Portanto, teremos que invadir a dimensão de Hecate para roubá-lo.



– Meu senhor, não acha muito arriscado invadirmos diretamente? – indagou Godard.



– É arriscado. – respondeu o Krypsimo, e logo em seguida cruzou os braços. – Graças a alguns de meus espiões, fui informado de que a dimensão não possui uma estrutura muito complexa. É constituída basicamente de um imenso campo de gramíneas infinito, provavelmente com a função de ludibriar os invasores, prendendo-os eternamente na dimensão. Em algum local deste campo, encontra-se um imenso castelo medieval que está protegido por mais de 10 mil cavaleiros, arqueiros, dentre outros guerreiros.



– São uns fracotes, não será problema. – observou Margery. – Se forem humanos normais serão muito fáceis de derrotar, e talvez com apenas uma solemnia verba consiga destruí-los.



– Não se precipite. Tratam-se justamente de devatãs de classe D. – disse Hiero.



– Droga! – gritou Margery, dando um soco no chão. – Mesmo assim conseguirei destruir todos! Vou queimá-los até virarem cinzas!



– Admiro sua determinação, Margery. Não precisa se sentir impotente frente esta situação. Meu plano B inclui justamente uma possível incapacidade de nos infiltrarmos na fortaleza devido a isto. – disse o Krypsimo, descruzando os braços. – Faremos o seguinte... – apontou para Godard. – Você irá até ao cemitério das almas.



– Eu!? – exclamou Godard, se debatendo no ar.



– Sim. Fará com que ele colabore com nosso plano.



– Ele? – indagou Margery.



Zero por um momento quase se alterou. Com um resmungo fracamente audível conseguiu chamar a atenção de Hiero.



– O que foi, Zero?



– Acho que não precisamos da ajuda dele. Podemos invadir o local se o senhor ordenar que os devatãs mais poderosos deste local, sob seu comando, colaborem. – observou Zero.



– Não será preciso tanto. Devo confessar de que desejo convidá-lo a se tornar um de meus subordinados. Esta missão será um ótimo teste para sua competência.



Enquanto o Leviathan procurava argumentar contra a idéia do Krypsimo, Margery procurou buscar na memória qualquer informação referente ao local citado. Não sabia de quem falavam, mesmo já tendo ouvido falar deste lugar algumas vezes.



–De quem estão falando, Godard? – sussurrou Margery, porém Hiero ouviu e foi este que tomou a palavra.



– Não se sinta envergonhada, Margery. Esta história tem mais de mil anos. Poucos ouviram falar dele. – ajeitou os óculos. – Trata-se de um dos ex-alunos de William. Um devatã por contrato, um imperitus. Este era um humano especial, um gênio por assim dizer, e William por reconhecer suas habilidades resolveu lhe ensinar uma magia de elite. Mal sabia ele que este simples aluno iria utilizar esta magia para tentar destruir toda a humanidade e se tornar o devatã mais poderoso da época. Simplesmente foi dominado pela grandiosidade da magia. O mais impressionante é que esta não se trata de uma solemnia verba e sim de uma habilidade em que não há necessidade de encantamento. Não é nem mesmo um cantio.



– Um devatã por contrato se tornou tão poderoso assim? William era tão poderoso? – indagou Margery, surpresa. – Ele tinha mais de mil anos de idade?



– Sim. Ninguém sabe ao certo quantos anos William tinha, mas era do conhecimento de todos que este era um devatã muito poderoso, por isto ainda suspeito de sua morte. – respondeu Hiero, desviando o olhar para Zero.



– Posso garantir ao senhor que William não está vivo. – disse o Leviathan, sem virar seu rosto para o Krypsimo, com uma voz firme.



– Espero que sim. – balbuciou Hiero. – Na verdade, William trata-se de um devatã bastante misterioso. Ninguém nunca soube como era esta habilidade, pois parece que ela é discreta. Talvez seja algo que promova uma morte instantânea.



– Nossa! Não é possível! – exclamou Margery.



– São apenas hipóteses. – disse Hiero. – Continuando, este imperitus após algum tempo de utilização da habilidade, sofreu com alguns efeitos colaterais. Devido a isto, procurou William com a intenção de que o mesmo explicasse o que estava acontecendo.



– Pardon. Qual era o efeito colateral? – indagou Godard.



– Não sei. Quem me contou isto não me disse qual era o efeito.



“Quem será que lhe contou isto?”



Hiero caminhou até seu trono novamente e logo depois se sentou. Olhou seus dois subordinados ambos ainda de joelhos e disse que não era preciso se ajoelhar durante tanto tempo. Margery emitiu um ruído de satisfação após se levantar. Logo depois, Zero se levantou com os olhos fechados.



– William não revelou o segredo para corrigir a ineficácia da habilidade. Isto o deixou furioso, fazendo-o se enfurecer contra seu mestre, desafiando-o para uma batalha. Logicamente, o aluno ousado foi derrotado. Creio que ele desejava matar seu mestre para obter o aliquid original de sua própria linhagem. Todos nós sabemos que o contrato com um humano é temporário, no sentido da vida humana. Um imperitus não consegue viver tanto tempo quanto os devatãs e por isto acabam morrendo antes de seus mestres. Somente com a morte do contratador é que se tornam devatãs por completo, podendo atingir níveis que somente devatãs de sangue puro conseguem. O curioso, é que William não quis matá-lo, acabou deixando o traidor fugir. Este acabou se refugiando no cemitério das almas e lá vive até hoje.



– Então ele também possui mais de mil anos? Mas se esse imperitus não conseguiu matar William, como ele está vivo até hoje? – indagou Margery.



– Não faço idéia. Deve haver alguma relação com esta habilidade. Além disso, ainda sofre com os efeitos negativos da utilização da mesma, mas tudo indica que ele a utiliza para continuar vivo, ironicamente. Parece ser uma maldição interminável. – prosseguiu, e logo depois o Krypsimo riu de suas últimas palavras. - Está apodrecendo no cemitério das almas! – gargalhou em seguida, finalmente, não resistindo. – William provavelmente sabia que ele iria usar a habilidade para fins egoístas, portanto o deixou sem um último treinamento para fazê-lo dominar o poder. – disse, após retornar a seriedade.



– Qual o nome dele? – interrompeu Margery, novamente.



– Ninguém sabe seu nome verdadeiro. Ele se autodenominou, Sorrow, durante sua matança incessante. – respondeu. – De certa forma, não resta dúvidas de que ele possui uma grande habilidade, mesmo defeituosa, extremamente poderosa e que atinge um grande número de pessoas. – repousou seu rosto no punho direito fechado. – Teremos uma arma pesada contra Hecate quando ele estiver do nosso lado. Junto das minhas habilidades, conseguiremos invadir a fortaleza de Chronus sem problemas.



Zero tentava ao máximo não alterar sua fisionomia, pois um grande sentimento agonizante percorria todo seu corpo durante toda a conversa. Mesmo sabendo que seria Godard que iria convencer Sorrow a se unir ao grupo, sabia que o veria mais cedo ou mais tarde. Com esta certeza em mente, e uma impotência enorme o acorrentando, desejava apenas se controlar quando a hora chegasse.



– Desculpe mestre. – disse Zero. - Quem lhe contou toda esta história? – indagou, com um olhar sério, penetrante, quase de fúria para Hiero.



Hiero o observou por alguns segundos, não reconheceu seu subordinado naquele momento. Cogitou a impossibilidade da veracidade de suas suspeitas anteriores sobre o Leviathan. Havia uma desconfiança pairando no ar e neste momento o Krypsimo a agarrou bruscamente.



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Situado em um prédio qualquer de Osaka, sobre o terraço, Vlad Chernobog observava a cidade das alturas. Continuava sujo. Vestia as mesmas roupas desgastadas do dia anterior, e esta condição estava começando a lhe incomodar. Não sabia o que fazer, não tinha a menor idéia de como poderia se comunicar com Hecate ou como poderia retornar a sua época. Precisava de um lugar melhor para passar os dias, mas não sabia qual e como conseguir. Havia muitas perguntas sem respostas povoando sua mente.



Correndo os olhos pela cidade, sem uma direção específica, observou um outdoor em que se podia notar um relógio digital, revelando as horas. O horário estava próximo daquele marcado com o jovem estudante que encontrara. Um pesar na consciência se fez sentir ao olhar aqueles números. Refletiu se talvez aquele pudesse ser o único ser vivo que lhe daria atenção assim como suporte necessário, para tentar resolver grande parte dos problemas. O único humano que lhe retirou do conjunto de normalidade a que estava inserido discretamente, disfarçado de uma pessoa solitária, desprezada pelo sistema, que dormia sobre as calçadas e se alimentava do essencial quando a sorte ofertava.



“Talvez eu lhe deva algumas explicações. Parece-me ser um jovem inteligente. Possivelmente não fará escândalos quando souber de algumas verdades, como a maioria dos humanos faz quando descobrem algo que lhe foge do juízo lógico. Esses humanos presos em suas esferas existenciais acabaram ao longo das décadas extinguindo seu próprio senso de realidade que os conduzia a busca de verdades. Não importa o passar dos anos, percebo que a tendência se torna a de fechar os olhos para o mundo, para os detalhes ao redor, para as minúcias do acaso. Inevitavelmente, enquanto a mente busca respostas o corpo refuta o prazer e o prazer em última instância se torna o refúgio do imenso vazio que as dúvidas proporcionam àquelas mentes cansadas de exercer o ofício de investigar a vida. Por quanto tempo ainda permanecerei vivo? Uma pergunta que me leva ao ato do martírio da quietude, a refutação do prazer de estar vivo e novamente me conduz a investigação do indecifrável... ’’



O olhar rubro, pouco expressivo, do último descendente de uma família renomada, permanecia fixo nos números. Vlad permaneceu por mais alguns minutos mergulhado em seus pensamentos, até que finalmente deu alguns passos á frente, em direção à forte brisa que tremulava suas roupas negras. Durante a caminhada, pronunciou algumas palavras, com um tom sério, quase um sussurro.



Animus Ambulandi. – disse, e logo depois desapareceu após uma áurea verde dominá-lo e projetar um circulo de mesma coloração no chão sob seus pés, preenchido por alguns contornos que revelavam uma imagem que não podia ser identificada.



“Oferecerei meu efêmero conhecimento incondicionalmente, para aqueles que eu apontar como lídimos investigadores.”



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A última colherada em um sorvete de morango parecia demorar mil anos. Um movimento rápido com o pulso seguido de um tremular da língua libertou Hiro do compromisso a que se submetera. Não contra a vontade. Jamais havia marcado um compromisso contra sua vontade com seus amigos. Porém, neste dia, não via a hora daquilo tudo terminar. O sol já estava se pondo quando despediu de seus amigos da porta da sorveteria, alegando que precisava chegar mais cedo em casa. Houve algumas indagações que soaram desapontadas. Desta forma, Hiro respondeu tais perguntas com o mesmo tom de desapontamento.



Ele não queria admitir para si mesmo que aquilo não era desapontamento, se esforçou com audácia a convencer sua voz interior de que realmente estava desapontado. De qualquer forma, tomou o trajeto do dia anterior, passando por um local em que era possível avistar a ponte que ligava as duas cidades. O lugar era o mesmo, mas os pensamentos eram outros. A imagem de um indivíduo misterioso era a razão daquele caminhar ligeiro. Tantas perguntas para fazer, aquela sede de conhecimento parecia desidratá-lo cada vez mais a cada passo. Um cálculo discreto ao passar os olhos por seu relógio de pulso lhe fez resmungar um pouco, criticando seu desempenho em domar o tempo. Chegou até mesmo a pensar que poderia ter rido menos e ter feito menos comentários para que tudo houvesse acabado no horário pré-determinado.



Hiro era metódico, isto era notável na maioria das vezes. Procurava conciliar a razão com a emoção sempre que possível, pois sabia que as conseqüências de certo pedantismo ou indiferença acarretariam em um isolamento imediato. Já havia passado por esta fase de isolamento e por experiência própria não gostaria de retornar a mesma. Antes de se mudar de sua antiga cidade, prometeu que faria um rearranjo e uma auto-análise de seu comportamento. Era preciso se adaptar, era preciso se transformar em uma espécie de “camaleão” social, pois era assim que deveria se comportar, como mais uma engrenagem do sistema, uma que girasse no mesmo ritmo das outras. Procurou tanto por uma inovação, por algo que lhe fizesse acreditar que o mundo não era somente aquilo que se apresentava. Desejou encontrar algo que lhe fosse interessante e rompe-se com os limites a que seus sentidos haviam se prendido. Com muita sorte encontrou o que estava procurando.



Estava caminhando aflitamente para a materialização de seus anseios. Passos ligeiros, a mente turva de perguntas. Nestas condições que Hiro se posicionou frente à grande porta de metal, de uma fábrica abandonada. Com o coração disparado e o medo de ter perdido para sempre as evidências da anormalidade, abriu a grande porta que pareceu gemer de dor. Alguns passos à frente na escuridão lhe fez ter a impressão de que estava só. Antes que caísse na tristeza, notou uma luz fraca próxima a uma região ínfima da fábrica, sob ela dois olhos escarlates o observavam. Um sorriso se projetou em seu rosto.



– Olá. – disse, controlando a alegria em seu interior. – Muito obrigado, por não ter ido embora.


Preview:...



– Verei o que posso fazer em relação a este incômodo.



“ É uma magia primária. Talvez seja possível realizá-la.”



– Oris: Yasmin. Efflari! – exclamou Vlad, subitamente.



Hiro ouviu atentamente as palavras e elas lhe soaram muito atrativas. Ficou fascinado por aquela língua estrangeira e nunca havia ouvido tais pronúncias. Sua curiosidade aumentou ainda mais enquanto o misterioso indivíduo que estava próximo permaneceu estático, olhando-o seriamente. Quando o estudante decidiu finalmente dizer algo, sentiu um aroma bastante agradável, um aroma de uma flor e este odor não lhe era nem um pouco familiar.



– O que é isto? Que cheiro é este?



Vlad sorriu e decidiu explicar.



– Este é o odor de uma flor de Yasmin ou também conhecida como Jasmin.



– Mas de onde vem este cheiro? Não há nenhuma planta aqui por perto.



– Isto é um cantio. Ou melhor, uma magia.



Próximo Capítulo: Interrogatório Solene.


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Notas finais do capítulo

Comentem. *-*