Acordei num rompante desesperador, como se eu não estivesse respirando há algum tempo, me apavorei com essa sensação, erguendo o corpo com urgência, com o movimento abrupto que fiz minha cabeça pendeu para trás o quarto girou de um jeito muito desagradável, logo me obrigando a fechar os olhos com força e abaixar a cabeça, quase a encostando em minhas pernas esticadas.

Por alguma razão que me era desconhecida não sabia dizer onde estava ou o que havia acontecido comigo. Tudo que eu sabia é que a ligação havia me puxado para dentro de Lissa, ela não estava bem, estava usando o Espírito de modo agressivo e... Era isso! O Espírito havia manchado minha aura quando puxei a parte ruim que envolvia Lissa e isso acabou me deixado fora de controle, havia rostos tentando me conter, Lissa, Christian, Alberta e... Dimitri? Eu não tinha certeza, mas acho que ele havia me imobilizado e... E então apaguei, eu acho.

Já que não consegui obter grandes respostas de mim mesma numa atitude que me pareceu completamente idiota, imatura e necessária vasculhei minha cabeça atrás de algo que fosse coerente no meio de toda aquela confusão, buscando alguma coisa sólida. Vendo que não teria grande sucesso com isso falei a primeira palavra que me veio à cabeça.

– Dimitri. –Chamei baixinho e ouvi passos se formarem e mãos tocarem meus ombros, como se tentassem me acalmar. –Dimitri me ajuda, por favor. Eu não estou conseguindo respirar! –Constatei colocando as duas mãos na garganta.

– Estou aqui, está tudo bem. Se conseguir, quero que levante a cabeça e respire bem devagar, mas não abra os olhos ainda, por favor. –Instruiu Dimitri ainda com as mãos segurando meus ombros, bem firme.

Tentei fazer o que ele pediu e me ajudou há melhorar um pouco, logo senti que podia abrir os olhos, nada estava girando ou algo do gênero. Os olhos de Dimitri encontraram os meus, havia preocupação estampando os dele.

– Como se sente agora Rose? –Perguntou ele preocupado, estava com os joelhos dobrados sobre o colchão e o corpo bem próximo ao meu.

– Muito melhor, obrigada. Dessa vez foi pior que as outras. Não consegui controlar sozinha. –Respondi fazendo movimentos lentos com medo de desmaiar.

– Ao que parece cuidar de você está se tornando quase um hábito constante para mim mocinha. –Disse ele me soltando e afastando-se repentinamente. –Preciso leva-la de volta ao seu dormitório, acha que consegue andar sozinha?

– Sim, eu estou bem. –Respondi me colocando de pé, surpresa por ter recuperado o controle sobre meu equilíbrio tão rápido. – Onde está a Lissa?

– Está no quarto dela com o Sr. Ozera. Graças a você ela vai ficar bem, não se preocupe. –Respondeu ele quando estávamos no corredor e então percebi que aquele não era o prédio dos aprendizes. –Os alunos que a atacaram estão sendo punidos nesse momento pelos membros do Conselho Estudantil.

– Aquele quarto que estávamos era de quem? –Perguntei franzindo a testa.

– O meu, é novo. Mudei-me pra lá faz alguns dias. –Respondeu Dimitri sem me olhar para mim um só momento, mais eu percebi sua postura ficar mais rígida.

– Por quê? –Perguntei após alguns segundos de silêncio.

– Por que o quê? –Perguntou ele ainda evitando me olhar diretamente.

– Porque me trouxe para o seu quarto ao invés do meu ou para a enfermaria? –Perguntei revirando os olhos, impaciente para a pose de Guardião dele, as habilidades dele em fugir de assuntos não era muito boa.

– O meu estava mais perto e Jesse estava na enfermaria, não queria ariscar a você perder o controle novamente e ataca-lo. Sei que vocês não estão mais se falando desde o que aconteceu com Ray. –Respondeu ele finalmente me encarando.

Naquele momento olhando para dentro dos olhos dele entendi porque Dimitri estava evitando fazer contado visual e estava áspero. Estava angustiado, não gostava de me ver vulnerável, isso o atingia e ele não suportava se sentir impotente perto de mim. Droga. Era estúpido, mas ele sempre queria me proteger de tudo e todos e o machucava perceber que nem sempre isso poderia funcionar.

– Dimitri, eu sinto muito. –Falei abaixando a cabeça congelando onde estava.

– Do que está falando Rose? –Perguntou ele parando no meio de um passo e voltando para trás, parando bem na minha frente.

Eu pretendia me desculpar por todas as vezes que o havia confrontado como uma criança birrenta, por ele ter me ficar cuidando tanto de mim quando eu estava sendo treinada justamente para cuidar de uma pessoa, queria me desculpar por nosso amor o machucar, queria me desculpar por ama-lo com tanta intensidade. Queria me desculpar por existir e ter entrado no caminho dele. Queria me desculpar por pedir tantas desculpas o tempo todo.

Duas sombras se pronunciaram no corredor que nós estávamos ambas do meu tamanho apareceram na nossa frente e como eu já esperava que fosse acontecer Dimitri automaticamente se colocou a minha frente para me esconder pensando que poderia ser algum Guardião, felizmente eram apenas Christian e Lissa.

– Rose. Guardião Belikov. –Christian nos cumprimentou educadamente como um respeitável membro de realeza faria. E de fato ele era mesmo da realeza.

– Sr. Ozera. Princesa Vasilisa. Desculpem, se puderem me dar licença. –Dimitri respondeu ficando rígido ao virar de costas e ir embora sem me olhar.

Nenhum de nos sabia como reagir naquele momento, então ficamos os três parados no corredor sem dizer nada, senti Lissa tentar me decifrar através do laço, mas a bloqueei sutilmente. Não era hora para aquilo, não ali.

– Ficou sabendo da excursão para a Estação Real de esqui amanhã? –Perguntou Lissa cortando o silêncio que agora começava a ficar incomodo.

– Ouvi falar, mas não sabia quando seria. –Admiti incapaz de mentir para ela.

– A Rainha Tatiana mandou uma carta para Lissa essa manhã, ela deve selecionar alguns alunos e outros serão escolhidos por ela. –Disse Christian com um sorriso educado nada típico dele, mas Lissa o fazia entrar na linha às vezes. –E adivinha? Vamos você, eu, Mia, Lissa, Mason, e o Eddie.

– Selecionaram algum Guardião que conhecemos? –Perguntei de má vontade, eu não queria muita informação, mas ao mesmo tempo precisava saber de tudo.

– Sim, Alberta, Belikov, Selly, uma Guardiã chamada Janine que estará lá para dar uma força extra e mais alguns outros por causa de mim e Lissa que somos da realeza. –Respondeu Christian dando de ombros, ele não gostava de ter tantas pessoas rondando ele e Lissa, mas sabia que era necessário para protegê-los.

– Espera ai fogaréu, você acabou de dizer Guardiã Janine ou não limpei bem minhas orelhas durante o banho? –Perguntei surpresa com as palavras dele. Não pode ser verdade, não podia ser minha mãe. Eu tinha que ter ouvido errado.

– Sim, foi exatamente o que eu disse. Porque a surpresa por uma Guardiã mulher estar vindo junto com a gente para a excursão? –Perguntou ele sem entender.

– Janine Hathaway é a mãe dela seu tonto. –Explicou Lissa revirando os olhos.

Era domingo, não tinha nenhuma atividade obrigatória para fazer, fiquei trancada o dia todo em meu quarto, nem mesmo sai para o jantar ou quando Mason veio tentar me arrastar para participar de uma festa em seu quarto. Eu recusei com tanta convicção que ate o assustou, mas felizmente não houve resistência.

Janine Hathaway. Minha mãe era uma lenda entre os maiores e, mais respeitáveis Guardiões de todo o nosso mundo, quando em ação contra os Strigoi lutava excelentemente bem, mas por outro lado era péssima quando o assunto eram suas responsabilidades como mãe.

Eu não a odiava de verdade é claro, mas carregava certa magoa por ela ter me deixado por conta da Academia desde os oito anos para se dedicar a ser Guardiã de uma Moroi que vivia no Canadá. Nunca consegui aceitar seus motivos para escolher aquela vida ao invés de mim. No entanto era o que ela havia feito. E agora depois de tanto tempo eu a veria de novo. Era muito estranho para mim.

No dia seguinte bem cedo todos que iriam para a excursão foram convocados por Dimitri, Alberta e Kirova para uma reunião instrutiva no salão principal da Academia, para os Dhampiros como eu, Mason e o desastrado do Eddie a excursão na Estação Real de Esqui seria mais do que só diversão, aquela viagem faria parte de nossas provas iniciais de graduação para futuros Guardiões e isso contaria pontos valiosos em nossas fichas, com isso boa parte de nossa estadia lá na funcionaria durante um período de tempo como uma espécie de prova de campo. Estaríamos responsáveis em proteger um Moroi selecionado pelos mentores e a Diretora da Academia.

No meu caso durante a excursão do dia seguinte e pelas próximas seis semanas à frente eu seria responsável por ninguém menos que o Moroi Real irritante e sem graça Christian Ozera, eu até poderia engolir numa boa, teoricamente nos dávamos bem e ele vivia grudado em Lissa. Tecnicamente era moleza.

Eddie não era um Dhampir tão ruim assim em combate, só não era um dos melhores ainda, mesmo assim ele por sua vez tomaria de Vasilisa Dragomir – a minha Lissa ficaria nas mãos daquele irresponsável? Fala sério, era provável que Lissa tomaria conta dele e não o contrario. Bem, não que eu fosse uma pessoa devotamente religiosa, mas ainda assim seja o que Deus quiser.

De qualquer forma estava obvio demais que eu seria a melhor opção para cuidar da segurança de Lisa, tanto na experiência de campo quanto depois de formada e não eles dois – em especial quando nos duas dividíamos uma ligação psíquica tão forte por conta do Espírito, mas nós aprendizes não tínhamos escolha enquanto estivéssemos em treinamento e pelo jeito isso se estendia na experiência de campo era pegar o que nos fora designado e fechar o bico.