Assim como acontecia com Lissa, quando a Escuridão do Espírito atingisse minha aura, eu perderia completamente toda e qualquer autoridade que eu possuía sobre mim mesma em segundos, com isso estaria fora de controle, seria dominada pela Escuridão que o Espírito jogava para mim toda vez que eu puxava sua energia negativa da aura de Lissa, era uma coisa imprevisível e perigosa de se fazer com frequência, mas o que acontecia comigo não era importante desde que isso ajudasse Lissa a ficar bem. – Os Moroi vêm primeiro.

Meio segundo de silêncio que me pareceu infinito se instalou no ambiente a minha volta e depois num rompante inesperado senti aquela escuridão chegar até mim como um soco no centro do corpo, minha visão tornou-se completamente vermelha sangue, eu estava fervendo de ódio por aqueles garotos, isso começou a crescer rapidamente, até que senti irradiar por cada célula de meu corpo.

Eu não fazia a menor ideia de que podia realmente sentir tanto ódio de uma vez só por pessoas que eu havia sido treinada a vida inteira para proteger e ainda assim conseguir ter uma reflexão de sensações. Eu queria sair quebrando tudo a minha volta, podia até mesmo sentir grande parte de meus músculos se pronunciarem com vários movimentos agressivos, porém antes que pudesse acertar algo sólido ou machucar alguém e senti algo pesado me conter; os braços de Dimitri estavam fechados em torno de meu tronco com uma força quase tão grande quanto a do Espírito, travando meus braços nas laterais de meu corpo.

– Me solta Dimitri! –Gritei furiosa me debatendo contra aquele aperto irredutível.

– Não, pode esquecer. Estou falando muito sério com você, isso não vai acontecer Rose então desiste. – Disse Dimitri asperamente ao me apertar ainda mais.

– Eu vou bater em você até quebrar seus ossos se não me soltar e deixar ir atrás daqueles dois Morois idiotas! –Ameacei aos gritos sentindo o ódio me consumir.

– Se você conseguir mover os braços do lugar vai mesmo merecer me acertar pelo menos um bom soco. No rosto. Prometo. –Rebateu ele sério, porém quase pude visualizar o ar de sorriso dançar em seus lábios.

– Dimitri, eu sinto muito mesmo. Eu sabia que estava forte, mas não desse jeito, ela está muito mais abalada do que eu. –Lissa estava de volta ao normal, porem sua voz estava completamente apavorada.

– Está tudo bem Princesa, não é culpa sua. Agora saia daqui, por favor. –Ordenou Dimitri ainda me imobilizando com quase nenhum esforço pessoal.

– Princesa Vasilisa? Belikov? Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui, por favor? O que há de errado com a Srta. Hathaway? –Questionou uma Guardiã cuja face eu não conseguia reconhecer, por mais que ouvisse a voz.

– Tire a Princesa daqui Alberta, por favor. –Ordenou Dimitri sem dificuldades, embora tivesse que impor muita força para me conter tamanho era meu descontrole induzido pelo Espírito. –Depois chame outro Guardião até aqui.

– Me solta Dimitri! –Gritei me debatendo ferozmente querendo me libertar e ao mesmo tempo torcendo para que ele fosse forte o bastante para me conter.

– Desista de lutar contra mim Rose, eu não vou soltá-la até se acalmar de verdade e sabe muito bem disso para querer bancar a teimosa agora! –Gritou ele de volta com a voz áspera apertando-me ainda mais contra seu corpo e se não estivesse não descontrolada provavelmente teria me derretido com tal contato tentador.

– Eu vou acabar com aqueles Morois idiotas! Eu vou matá-los! – Esperneei ainda totalmente fora de controle, dessa vez a escuridão estava muito intensa e iria demorar um tempo para se dissipar.

– Não vai fazer nada dessas insanidades Rose, porque eu não vou permitir até se acalmar! –Protestou Dimitri ainda me segurando e vi alguém entrar.

– Chamou ajuda Belikov? –Perguntou o uma Guardiã que eu vagamente conhecia, era alguns centímetros mais baixa que Dimitri.

– Monte Guarda na frente dos aposentos da Princesa Vasilisa até segunda ordem Selly, ninguém pode entrar além do Sr. Christian Ozera. –Ordenou Dimitri ainda tendo sucesso em me conter, ele era forte. – Quero também que pegue informações com a Princesa e localize dois alunos Moroi que tentaram machucá-la e leve ambos para a Diretora Kirova tomar providências.

– Certo, pode deixar Belikov. –Disse Selly acenando com a cabeça e saindo.

Agora estávamos oficialmente completamente sozinhos, então meio segundo depois dessa constatação vi grande parte do perfeito muro de Guardião que Dimitri sempre dispunha desmontar gradativamente à medida que ele percebia que não conseguiria me trazer de volta facilmente sem ajuda como eu fiz com Lissa, ainda assim a fúria esmagadora que eu sentia queimar em meu peito era forte demais para que eu dissesse a ele que estava tudo bem de novo, eu não poderia fazer nada. Ele teria que agir sem mim dessa vez.

– Dimitri, por favor! –Falei um sussurro fraco e completamente desesperado, que com certeza ele não ouviria. Ainda assim dizer o nome dele era a única reação que me mantinha parcialmente controlada.

Era uma reação bastante idiota de mim parte, principalmente considerando o fato de que muito em breve eu seria oficialmente uma Guardiã formada, com isso não podia ficar agindo como uma menininha que se perdeu da mamãe no mercado. Ainda assim eu não conseguia evitar, precisava de ajuda. Só ele saberia como me ajudar a sair daquela escuridão. Ele poderia me salvar de mim mesma.

O Espírito deu uma fisgada pavorosa em meu peito e sem conseguir evitar o choque me joguei contra a parede mais próxima, no entanto como Dimitri envolvia grande parte de meu corpo ele recebeu todo o impacto, mas não esboçara qualquer coisa que revelasse dor ou desconforto com a pancada.

– Roza, por favor, volta ao normal! Volta para mim, por favor! –Implorou Dimitri com a voz doce e desesperada ao mesmo tempo. Droga até mesmo ele não estava mais tão controlado. –Roza, apenas escute a minha voz, por favor, sou eu que estou pedindo. Seu mentor... Camarada... O seu Dimka!

Graças aos céus as últimas palavras de Dimitri finalmente atingiram alguma parede mais frágil de minha aura manchada. A Escuridão recebeu o golpe como quem recebe um belo chute no meio das pernas e isso realmente doía e doía muito. Meu ar havia ido dar uma volta por ai sem nem ao menos perguntar se eu ainda precisava dele, eu congelei como se um botão tivesse sido desligado em algum lugar dentro de mim, meu corpo desabou com força no piso gelado com uma intensidade incrível, meus joelhos cederam de encontro ao chão num baque barulhento e provavelmente doloroso. Eu não conseguia sentir nada agora, porém iria ser bem diferente pela manhã ou até mesmo mais tarde. Ainda assim depois de todos esses processos para me manter estabilizada não estava totalmente controlada, um segundo de descuido e tudo iria pelos ares.

– Me ajuda! –Implorei dessa vez conseguindo impor mais volume a minha voz.

– Calma você não está sozinha, eu estou bem aqui e vou ajudar você Roza. Vai ficar tudo bem de novo – Garantiu-me ele mantendo-me em seus braços.

Eu podia sentir duas forças me rondando lentamente, quase podia visualizá-las dançando a minha volta como numa espécie de jogo doentio nenhum pouco engraçado ou divertido. Uma força esperando a outra falhar para tomar posição; uma dessas era a Escuridão do Espírito tentando chegar até mim e a outra se resumia em Dimitri, me apertando, implorando para eu ser apenas a Roza dele... Nada disso estava funcionando.

– Desculpe Roza, mais você realmente não me dá escolhas melhores nesse momento. –Disse Dimitri com certo pesar na voz, deixando-me confusa.

– O que você pensa que vai f... –Tentei dizer mais fui interrompida por uma dor aguda na parte de traz da cabeça e provavelmente desmaiei.