Dois dias já haviam se passado desde que eu havia sido presa após voltar de um dos melhores passeios da minha vida ao lado do homem que eu definitivamente amava mais que qualquer coisa que eu conseguia pensar, eu não havia conseguido nem ao menos tirar um cochilo ou coisa assim, já havia lido o bilhete da Rainha Tatiana pelo menos umas cinco ou seis vezes e acho que era só isso que estava mantendo a minha sanidade intacta ou quase isso.

Houve uma grande movimentação no corredor que levava a entrada do conjunto de celas onde se encontrava o ponto cego e então lá estava ele; Dimitri.

– Camarada! Graças a Deus! –Falei com um sorrido se formando imediatamente me colocando de pé num salto e grudando o corpo nas grades de metal pesado.

– Rose! Tudo bem, eu estou aqui... Não estavam permitindo a minha visita antes porque precisavam de uma força com a segurança dos alunos que vieram da São Vladimir, mas isso mudou e eu estou aqui agora. –Dimitri praticamente correu para onde eu estava e colocou sua mão sobre a minha, seus olhos encontraram os meus de transmitiram ali toda a preocupação e amor que estava sentindo. – Ah meu Deus! Olha só pra isso, não tem o menor cabimento terem te colocado nesse lugar... Juro que se soubesse que isso iria acontecer nunca teria deixado aqueles idiotas chegarem perto de você. Sinto muito mesmo Roza. Eu devia ter tirado você da Corte no momento que eles se aproximaram.

– Deixa isso pra lá camarada, você não tinha como saber o que estava acontecendo por aqui, foi tão pego de surpresa quanto eu fui. Olha isso não importa agora, mas isso aqui sim. –Falei séria, mostrando o bilhete para ele.

– O que é isso Rose? Um bilhete da Rainha... Como assim? –Dimitri franziu a testa pegando o papel que lhe estendi. –Isso não pode... Impossível.

– Ou talvez nem tanto assim. E se Eric Dragomir realmente tem outro filho escondido por ai como essa carta diz? Vale ao menos procurar por mais informações sobre isso para termos certeza, não que eu realmente levo em conta o que vem... Vinha da Rainha Tatiana, mas também acho que ela não brincaria com algo sério assim. –Falei com os olhos esperançosos.

Três guardas Reais uniformizados se aproximaram e então abriam a cela, Dimitri entrou e encarou os Guardas com ar sério.

– Me deem um minuto sozinho com ela, por favor. – Pediu Dimitri calmamente, porém era possível sentir um fundo de autoridade em sua voz.

– Desculpe Belikov, temos ordens diretas do conselho Real para não deixar ela aqui sozinha com quem quer que seja. –Respondeu o Guarda sério.

– Qual é Evans, você me conhece desde a época do Lorde Zeklos, me dê só alguns minutos, preciso ficar sozinho com a minha aluna. Sabe que sei me cuidar muito bem se algo fugir do controle. –Disse Dimitri cruzando os braços.

– Droga Belikov, um dia você ainda vai ferrar com um de nós dois se continuar com isso e honestamente espero que não seja consigo mesmo. Você tem exatos 10 minutos para conversar com ela, é só o que eu posso ceder. –Disse Evans virando-se e saindo com os outros Guardas.

Dimitri esperou pacientemente em sua postura de Guardião até os Guardas sumirem de vista e então agachou e simplesmente me puxou para os braços dele num abraço marcado por desespero e saudade.

– Roza! – O meu apelido carinhoso saiu dos lábios dele mais baixo que um sussurro, os braços dele me apertavam tanto que fiquei surpresa por não ouvir qualquer um de meus ossos estalarem em protesto. –Droga, juro que vou encontrar um jeito de tirar você dessa. Eu juro.

– Até onde eu sei o Abe parece estar trabalhando nisso também, provavelmente junto com Sidney para levantar algo que derrube essas malditas provas que sem duvidas são falsas... –Falei dando de ombros, desanimada.

Naquele momento Dimitri encarou o fundo de meus olhos como quem parece estar decifrando partes ocultas de sua alma e então quando sua expressão mudou e eu sabia que ele havia conseguido encontrar exatamente o que eu estava tentando esconder e com isso em mente, toda e qualquer postura durona que eu poderia assumir simplesmente foi para o buraco de uma só vez! E eu desabei.

– Eu não quero morrer presa aqui nessa cela fria de concreto camarada, não foi assim que eu planejei o meu fim épico. Eu não sei quanto tempo mais eu vou aguentar isso aqui... –A cada palavra que saia de meus lábios era um mar de lágrimas de saia de meus olhos no conjunto. – Meu fim não pode ser aqui Dimitri, esquecida numa cela de prisão sob uma acusação de um ato que está obvio que eu não cometi. Droga. Eu não matei a nossa Rainha, tudo bem que todo mundo sabe que nunca gostei dela, mas não a matei!

– Shhhhh, está tudo bem Rose. Eu acredito em você, vamos dar um jeito de resolver isso. –Prometeu Dimitri com a voz apavorada. –Droga, talvez tenha nos restado mais tempo do que parece Roza, nós ainda podemos conseguir isso!

– Espera ai, em quantos dias sai o meu julgamento com o conselho? –Perguntei ao perceber que ninguém havia sequer tocado nesse assunto.

Dimitri endureceu em meus braços e essa foi a primeira dica de que havia algo errado desde o começo e por alguma razão eu não havia sido informada.

– O que foi agora? O que eu não sei? –Perguntei sentindo meu peito acelerar, minha respiração travar e a visão ficar turva. – Fala alguma coisa Dimitri. Droga!

– Se provas assim continuarem surgindo nessa velocidade, como a sua estaca de prata, todas as digitais pelo quarto e o corpo, as fibras de seu uniforme e os fios cabelo... Rose é possível que não tenha julgamento e sim uma condenação direta se isso não parar de acontecer. – Disse Dimitri proferindo cada uma dessas palavras com um cuidado que não me passou despercebido.

– Ótimo, está me dizendo que vou passar o resto da minha vida presa aqui por algo que eu não fiz? –Questionei sentindo minhas pernas virarem gelatina.

Dimitri ficou ainda mais rígido do que eu achei ser possível e aquela foi a segunda dica de que eu estava mesmo ferrada até o ultimo fio de cabelo.

– Não, você não vai Rose. –Respondeu ele após um momento de silêncio.

– Eu não entendo camarada, você acabou de dizer que posso sofrer uma condenação direta. –Falei franzindo a testa me vendo completamente perdida.

– Roza, eu sinto muito... Você precisa saber a verdade para poder se preparar para o que está por vir em breve. Acontece que os crimes desse tipo de patente não tem uma condenação definida porque a sentença é a execução! Eles vão matar você, assassinato contra alguém da realeza é considerado traição. –Disse Dimitri com dificuldade em fazer as palavras saírem de seus lábios.

Todo o tipo de controle que eu tinha reservado para sobreviver naquele inferno havia ido pelos ares, aquilo foi o fósforo na pólvora para mim. Engraçado que eu não consegui ter nenhum tipo de reação mediante aquelas palavras. Eu estava mais ferrada do que imaginava. Tinha que começar a agir logo. Para ontem!

– Rose? Pelo amor de Deus, fala alguma coisa, por favor! –Senti as mãos de Dimitri sacudirem meus ombros.

– Isso não vai ficar assim camarada Belikov, sou Rosemarie Hathaway, filha de um mafioso da pesada e de uma Guardiã praticamente tão letal quanto você e então eu não vou me entregar fácil de novo para esses idiotas daqui. Não vou morrer assim como uma Dhampir comum, não sem lutar até onde for preciso. –Falei com determinação tomando conta de cada uma das células de meu corpo numa velocidade assustadora. – Eu não sou assim, sou teimosa está lembrado?

– É claro que eu sei disso Rose, alias parte disso em você é minha culpa lembra? Eu treinei você para ser dessa forma e então você aperfeiçoou o que lhe dei com uma ajudinha da sua personalidade. O que precisa que eu faça para te ajudar a começar a resolver isso sem interferência da Corte? –Perguntou Dimitri ficando serio e isso não me deixou nada surpresa pela primeira vez desde que o conheci.

– Só mantenha meus amigos seguros e informados sobre eu estar viva, eu ainda tenho que pensar o que devo fazer a respeito desta historia toda. Enquanto isso, eu vou dar o meu jeito de descobrir se esse bilhete é mesmo da Rainha Tatiana, porque se for teremos muito trabalho a fazer camarada. Muito mesmo. –Falei sentindo a adrenalina tomar conta de mim.

Os Guardas chegaram e infelizmente Dimitri teve que ir embora e então estava na hora de Rose Hathaway começar a agir, meu fim poderia até estar mesmo próximo, mas seria algo no mínimo épico e com certeza marcante.

Com o máximo de concentração possível derrubei a barreira que me separava dos mortos no outro lado ou algo assim e comecei a vasculhar entre os olhos o que eu precisava e lá estava ela; Rainha Tatiana em pessoa... Mais ou menos.

– Rainha Tatiana eu sei que me odiava em vida por inúmeras razões que estou sem tempo para listar agora, mas preciso saber se foi você mesma que escreveu isso aqui, é importante. –Falei estendendo misterioso bilhete na frente dela.

O fantasma de Tatiana me encarou com uma expressão de quem estava sentindo muita dor ou agonia e então encarou o pedaço de papel em minha mão e novamente voltou os olhos para o meu rosto.

– Por favor, eu só preciso que mexa a cabeça e pronto! Foi você quem escreveu isso aqui? –Perguntei começando a ficar impaciente.

Quando estava com minha cabeça quase que explodindo por contra a influência dos outros fantasmas sobre mim, Rainha Tatiana mexeu a cabeça. Foi um gesto mínimo e quase imperceptível, mas que para mim mudou absolutamente tudo.