As paredes eram de tinta branca impecável, o chão tinha pisos de mármore preto fosco desses que não mancham nunca, as luminárias de cristal eram embutidas no teto para evitar acidentes, as divisórias entre os vasos eram protegidos por portas de metal com um brilho tão intenso que era quase como estar diante para um espelho. Que lugar era esse afinal de contas?

Não fazia ideia de que horas poderiam ser agora, mas isso não significava que eu não sabia que era muita burrice de minha parte estar fora da cama, ainda mais estando sob as regras da Diretora Kirova e a um passo de me dar mal se por infringir suas regras preciosas, não poderia ser tão idiota assim, mesmo adorando ir contra regras e limitações, porem não seria divertido ser pega, expulsa e afastada de minha Moroi. Ainda assim... Que lugar era aquele?

Espera! Minha Moroi? Droga era isso que eu não conseguia encaixar na historia toda! Caramba! Eu sabia que lugar era aquele, eu estava num dos banheiros da Sala de Recreação Real que ficava perto do dormitório dos Moroi da realeza, estava prensada contra a parede por algo muito forte e invisível, coberta dos pés a cabeça por uma camada de sangue, havia lágrimas em meus olhos, uma dor insuportável estava forçando meu peito a bloquear minha respiração e um pavor incomum estava presente em meus olhos, à sensação era real e falsa ao mesmo tempo, mais por que isso? Havia algo errado... Aquela não era eu e sim...

– Lissa! –Gritei saindo da cabeça dela com um solavanco forçado e voltando para minha própria realidade, onde eu estava deitava em minha cama.

Em questão de segundos fiquei completamente desesperada ao perceber que, minha Moroi estava em grandes apuros, me livrei de meus cobertores aos chutes, pulei da cama, vesti um roupão por cima de meu pijama e sem me importar se poderia estar perigosamente indecente demais para andar pelos corredores, abri a porta bruscamente sem me preocupar com a força que ela bateu contra a parede, que pelo barulho estridente não foi pouco.

Sem perder mais um segundo que fosse sai em disparada pelo campus da Academia como uma louca o mais rápido que conseguia forçar minhas pernas a se moverem sobre o chão de pedras acinzentadas, agradecendo infinitamente por Dimitri ter me forçado a correr tanto durante os treinos extras que me aplicara durante minha punição. Agora minha velocidade era realmente muito alta e com isso acabei trombando com a Guardiã Alberta antes que pudesse me refrear ou ao menos ter tempo para desviar de seu corpo ou campo de visão.

– Guardiã Alberta! –Falei parando quase que sobre ela, obrigando-a a dar dois passos largos para trás para que eu não a atingisse com meu corpo.

– O que faz aqui fora essa hora da manhã Srta. Hathaway? Caiu da cama por acaso? – Questionou ela me olhando com grande reprovação nos olhos castanhos. –Deveria voltar ao seu dormitório imediatamente ou terá problemas.

– Problemas eu estou tendo agora mesmo Alberta! Eu preciso falar com Di... Quero dizer, com o Guardião Belikov. É algo muito importante, eu juro! –Falei desesperada e sem paciência alguma para dar explicações. –Por favor!

Pela expressão indiferente de Alberta diante de meu desespero dava para perceber nitidamente que ela não acreditava em minhas palavras de verdade, ainda assim assentiu com a cabeça e me fez acompanha-la para dentro do prédio dos Guardiões e aguardar no corredor enquanto dava um rápido telefonema. – Provavelmente para o quarto de Dimitri.

Após alguns poucos minutos que me pareceram durar uma eternidade, graças aos céus Dimitri – o deus - apareceu vestindo um roupão idêntico ao meu o que me deu vontade de rir, porém não o fiz. Pela sua expressão ele provavelmente já deveria estar dormindo há algum tempo, porém todos os seus sentidos de Guardião perfeito entraram em alerta quanto seus olhos encontraram os meus.

– Guardiã Alberta. –Ele cumprimentou educadamente sua colega de trabalho sem tirar os olhos de mim. – O que aconteceu Rose?

– Lissa está com problemas sérios na ala dos Moroi, temos que ir ajuda-la agora. –Falei sentindo o pavor dela logo tomar conta de mim.

Sem questionar uma única letra do que eu havia informado ou dizer qualquer coisa que fosse como a maioria dos Guardiões faria, Dimitri apenas acenou positivamente com a cabeça e rapidamente seguimos para o prédio dos Moroi.

– Sabe dizer onde podemos encontrá-la? –Perguntou ele acompanhando meu ritmo de corrida com facilidade, pra ele era como se estivéssemos andando.

– Sim, ela esta no banheiro da sala de Recreação Real com outros dois Moroi, deixe-me entrar sozinha primeiro, por favor. –Pedi correndo com toda a força que eu conseguia arrancar de meu corpo.

– Porque eu teria que concordar com isso? –Questionou ele com desconfiança em cada uma de suas palavras e gestos corporais.

– Antes de qualquer coisa eu preciso acalma-la, mesmo teoricamente estando em desvantagem Lissa está completamente fora de controle lá dentro e vai ser mais fácil fazê-la me escutar se estivermos sozinhas. –Anunciei tentando eu mesma não me descontrolar e estragar tudo.

– Problemas com o Espírito de novo? –Questionou Dimitri concentrado e atencioso, porem inacreditavelmente meio perdido.

– É um pouco pior do que isso camarada. Não sei por que explodiu com tanta intensidade. Posso puxar pra mim e acalma-la se correr rápido. –Afirmei ao me afastar rapidamente.

– Vai, corre! –Disse Dimitri serio; eu ainda odiava sua postura de Guardião, mas - vezes quando ativo ele conseguia ser muito compreensivo também.

E era disso que eu estava falando. Essa confiança que Dimitri depositava em mim era impressionante, ele nunca me questionava como se duvidasse de minha capacidade de fazer algo com perfeição – mesmo que fosse particularmente insano – nunca dessistia de me fazer perceber que eu poderia me tornar algo tão grande quanto ele na questão de ser uma excelente Guardiã quando chegasse o momento.

Porém, ao mesmo tempo em que amava ver o quanto ele confiava em mim, também tinha certo medo. Tinha medo de fazer algo errado e estragar as coisas, tinha medo de que o decepcionasse, tinha medo de uma luta direta com Strigois e principalmente tinha medo de não ser boa o suficiente para proteger a segurança de Lissa. Ainda assim eu não iria desistir e não era só porque eu queria ser uma boa Guardiã, mas também porque meu futuro dependia disso.

Ainda lutando para manter a pouca calma que me restava, sabendo que essa seria minha única arma para que eu pudesse resolver aquela situação entrei no banheiro feminino imediatamente sentindo nosso elo psíquico crescer fortemente com a nossa aproximação e logo na porta encontrei dois alunos Moroi da Realeza a torturando com magia de ar e água simultaneamente, porem Lissa também revidava com uma fúria fora do comum que eu conhecia muito bem. Droga.