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Estava tudo escuro, e eu estava extremamente cansado. Eu só queria chegar em casa e dormir um pouco. Apesar disso, eu tinha um pressentimento muito ruim.

O relógio da loja começou a badalar, eram oito horas.

– Obrigada por ficar até mais tarde, Marshall. – A senhora sorriu alegremente. – Eu não iria conseguir varrer toda a loja com a minha idade.

– Sem problemas, Datan... – Retribui o sorriso e entreguei a ela a vassoura. – Até amanhã! – Acenei para ela e sai correndo da lojinha.

Eu peguei a bicicleta da base e montei nela, depois comecei a pedalar em direção de casa. Estava faminto, já podia até sentir o cheiro da comida de Charlotte e ouvir a voz do tampinha falando sem parar sobre um jogo que ele teria zerado.

Cheguei em frente a casa e guardei a bicicleta no porão. Depois de me perder no meio de tantas chaves, finalmente achei a que abriria a porta de casa.

Quando eu coloquei a chave na fechadura, a sensação ruim apenas aumentou. “Aquele pirralho deve ter quebrado alguma coisa minha, merda.“ Pensei.

– Estou em casa. – Gritei. Nenhum ruído.

Um odor perambulava por toda a casa, acredito que tenham esquecido de jogar o lixo.

A caminho do lixo o cheiro só piorava, estava se tornando insuportável. Tanto que eu tive que tampar meu nariz com a gola na camiseta.

Eu escutei um fraco choro vindo do mesmo lugar.

– Charlotte...? Você se machucou? – Perguntei entrando na cozinha.

Para minha surpresa, quem estava lá era uma garotinha com os cabelos tingidos de tons de laranja. Parecia até real. Ela estava caída no chão encarando o nada e ela tinha sido banhada a sangue.

Eu corri até ela e vi que ela estava apenas com as roupas de baixo. E também descobri um fato interessante, ela não era ela, e sim ele.

– Hum, garotinho... – Eu me aproximei dele. – O que você esta fazendo aqui?

– Nada é real. É tudo uma mentira. – Ele resmungava para si mesmo enquanto chorava.

– Ei, esta tudo bem? – Eu coloquei uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha.

– Ah. – Ela abriu a boca por alguns segundos e depois a fechou. – Não precisa me machucar, eu juro que irei obedecer. Seja lá qual for seu desejo, eu atenderei sem hesitar.

Demorei um pouco para raciocinar, até que entendi o porquê do garotinho estar assim. Ele tinha sido estuprado por algum doente cheio de fetiches. Por isso estava assim, sem vida. E isso também explicava o seu cabelo colorido, o tapa-olho e as orelhas de coelho.

– Eu não vou te machucar, vem. – Eu abracei-o devagar para não machucar. Já tinha lidado com crianças vitimas de abusos, mas ele estava em um estagio bem diferente. – Você não precisa mais usar essas orelhas, deixa que eu tiro para você.

Eu puxei as orelhas e ele gritou de dor. Levantou-se em uma velocidade incrível e segundos depois eu já estava caído no chão com ele por cima de mim. Seu tapa-olho caiu revelando seu outro olho. Ele era amarelo e sua pupila tinha forma de um naipe de copas.

Se mexer agora poderia comprometer minha vida. Mas era apenas uma criança, não mataria a sangue frio. Mesmo que eu estivesse duvidando de sua humanidade agora.

Afinal, era mesmo uma criança? Era claro o que tinha acontecido com ele, no entanto, ele agia como se precisasse proteger alguém.

– Ela disse que tudo acabaria bem... – Ele disse com uma voz robótica, assim como a de um brinquedo velho. – Por que ele não esta vivo?! Ele não se mexe! Ah! – Gritou segurando o colarinho da minha blusa.

Parei para pensar no que ele tinha dito. Alguém morreu, quem? O cheiro podre, a sensação ruim, todo aquele sangue... Niko!

Eu joguei o garotinho com orelhas na parede, ele era extremamente leve. Aparentemente ele bateu com a cabeça, eu teria alguns minutos a mais por isso.

Corri e subi as escadas o mais rápido possível, o cheiro estava mais forte do que lá embaixo. Nem mesmo a camisa podia cobrir aquilo, era nauseante.

O chão do corredor estava inteiramente manchado com uma substancia marrom, - sangue seco -, vinha do quarto de Niko.

Aproximei-me da porta e a abri rapidamente.

Sangue.
Entranhas.
Dedos.

“Isso dói. Eu não aguento mais. Por favor, eu não quero morrer...”

– E mais uma vez o mesmo final. – Fui até meu quarto e peguei a caixinha prateada. – Eu tenho que tentar de novo. – Eu abri a caixinha e xxx xxx xxx xxx

...

– Por que vocês brigaram? – Perguntou a garota de cabelos loiros deitada na cama apreciando a foto de seu “namorado”, ou então, vitima de sua perseguição obsessiva e amorosa.

– Errado. Nós nunca brigamos. – A boneca disse de joelhos na cadeira olhando a janela. – Iwee é quem me odeia, eu não.

– Então, se você não a odeia, por que quer jogar? – Sentou na cama e encarou-a confusa. – Se o jogo não acontecer vocês poderiam se reconciliar...

– É esse o fato. – A boneca de cabelos lisos fechou a persiana e retribuiu o olhar. – Não podemos nós reconciliar, não conseguiríamos nos matar no final. Só uma pode ser a Boneca Perfeita, e essa com certeza serei eu.

– Entendo. – Lucy, a garota, beijou a foto e colocou em cima de sua mesinha de cabeceira. – Mas Funny, e se não der certo...?

– Eu prometi que conseguiria o coração “dele”, e eu não pretendo quebrar a promessa. – Levantou-se da cadeira e foi até o espelho. – Se me der licença, eu tenho que ir agora. Voltarei ao amanhecer. – Ela entrou no espelho.

Um fraco sussurro de “Boa Noite” invadiu o quarto e por fim tudo ficou silencioso.

– Uma Medium, hein... – A garota olhou o anel em formato de rosa. – Quem diria. Eu espero que isso acabe logo...

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