Lágrimas de Sakura

Estar dentro do dormitório não me trazia a sensação de segurança de antes. Eu evitava olhar pelas janelas com medo do que estaria a minha espreita, mantinha as luzes acesas mesmo quando não estava no cômodo e todo barulho fazia meu coração acelerar.

Eu tinha medo de que os demônios do destino voltassem para me buscar. Ou qualquer coisa pior do que eles.

Sasuke tinha sentido minha apreensão e de sua maneira, tentou garantir que eu estava segura. Ele permanecia dentro do quarto e me acompanhava durante as aulas como uma sombra silenciosa, analisando meus sentimentos enquanto tentava controlar os seus.

Eu sabia que se a situação fosse outra, ele teria ido atrás do responsável sem pensar duas vezes. E que não fazer nada sobre isso o incomodava.

— Permanecerei aqui até que você esteja melhor.

— Sei que não quer estar aqui. – Respondi pouco antes de me deitar na cama. Olhei para Sasuke apenas para confirmar que ele estava com uma expressão resignada em seu rosto. – Não precisa ficar comigo por pena.

— Você acha que sabe como me sinto. – Sasuke rebateu minhas palavras com acidez. – Mas se estiver pronta para ficar sozinha novamente, peço que me avise. Quero resolver tudo isso o quanto antes.

Desviei os olhos dele e encarei a porta de entrada do quarto. Eu havia adquirido o hábito de trancá-la sempre, mas agora, ela estava apenas encostada. A presença de Sasuke me fez esquecer daquele detalhe.

Eu me sentia segura com ele, mesmo que não gostasse de admitir.

— Acho que não consigo essa noite. – Murmurei em um fio de voz. – Fique só mais uma noite. – Sasuke aquiesceu quando voltei a encará-lo, com uma expressão serena, diferente da que ele costumava ter.

— O que você viu? – Ele perguntou apoiando-se contra o batente da janela. Os braços cruzados sobre seu peito ressaltavam os seus músculos, mesmo sob a camisa escura que ele trajava. – O que eles te mostraram?

Engoli em seco e baixei meus olhos por um instante. Eu ainda sentia o toque frio em minha pele e o cheiro adocicado da fumaça antes de perder a consciência, se me esforçasse muito, conseguiria me lembrar dos rostos vazios e amargurados que me fitavam com tanta intensidade.

— Nós estávamos com roupas estranhas. – Murmurei entrelaçando minhas mãos enquanto forçava minha memória. – Em um jardim, você dizia algo sobre a minha irmã e não parecia satisfeito com isso. – Lembrei-me da postura mais desinibida de Sasuke e a comparei com o verdadeiro que estava em minha frente. – Isso nunca aconteceu. – Afirmei esperando que o Uchiha confirmasse o que eu tinha dito, mas ele apenas fechou os olhos antes de suspirar.

— Tem razão, Sakura. – A voz dele era desconcentrada. – Isso nunca aconteceu. Talvez estejam tentando brincar com a sua mente.

— Eles conseguiram. – Sorri fracamente e notei que Sasuke havia se afastado da parede e começava a caminhar em direção à cama em passos lentos. – Só preciso parar de ter pesadelos sobre isso.

— Tem tido sonhos ruins? – Sasuke se sentou à beira da cama e virou-se para me observar. – Por que não disse nada?

— Só consigo sonhar quando eu durmo. – Confessei em um murmúrio e a compreensão passou pelo rosto do Uchiha. Havia culpa em suas emoções, mesmo que ele tentasse a todo custo suprimi-las. – Não foi sua culpa, Sasuke.

— Continuo te dando motivos para me odiar. – A voz dele soou tão baixa que mal consegui compreende-lo. – Depois de todos esses anos eu...Não consigo protege-la. – As mãos dele fecharam-se em punhos e neste instante, senti que meus olhos estavam enchendo-se de lagrimas que não eram minhas.

Eu nunca havia sentido aquilo em relação à Sasuke. Era uma onda de sentimentos novos que ele tinha me deixado sentir. A amargura e a culpa eram tão intensas e doloridas que eu me surpreendia sobre como ele conseguia manter seus olhos abertos sem querer chorar. Eu não sabia como ele era capaz de manter aquela expressão inelegível quando tinha tudo aquilo em seu peito.

Inconscientemente ergui minha mão e a apoiei contra o braço dele, trazendo a atenção do Uchiha na minha direção. Ele parecia surpreso, mas não fez menção de se afastar de mim.

— Eu não te odeio. – Minha voz soou embargada pelo choro que parecia comover Sasuke. – Acho que não mais.

— Por que você está chorando, Sakura?

— Por que você sente tudo isso? – As lágrimas quentes escorriam pelos meus olhos livremente. – Eu... – Cobri meu rosto com as mãos quando o acesso de choro me atingiu com tudo.

Eu não conseguia entender de onde todos aqueles sentimentos estavam vindo, nem diferenciar o que era meu e o que estava sob influência de Sasuke. Tudo desabava através de mim.

Quando as mãos de Sasuke apoiaram-se em meus ombros com incerteza, eu ergui meus olhos para encará-lo por um último momento antes de abraçá-lo. Minhas mãos apertavam o tecido da camisa dele com força, como se eu pudesse rasga-lo a qualquer momento.

— Você precisa descansar. – Sasuke murmurou e eu balancei a cabeça negativamente. – Sakura...

— Por favor. – Minha voz estava quebradiça e desesperada. – Por favor.

Sasuke me envolveu ainda mais em seu abraço e eu me senti segura. Nada podia me atingir enquanto eu estivesse em sua presença.

Fechei meus olhos quando senti o toque incerto de Sasuke em meu cabelo. Ele não era bom em consolar as pessoas, mas estava se esforçando o suficiente para que tivesse bons resultados.

Aos poucos, eu senti que a paz começava a retornar ao meu coração.

— Você vai me contar o que está acontecendo? – Murmurei ainda com o rosto escondido em sua camisa. – Vai me dizer sobre o que eu vi?

— Não posso falar sobre isso. – A dor nas palavras de Sasuke foram a única coisa que refrearam minhas perguntas. – Prometo que contarei tudo no momento certo. Precisa confiar em mim.

Ergui a cabeça para encará-lo. Eu e Sasuke estávamos tão perto como nunca estivemos antes. Eu conseguia sentir a sua respiração descompassada e reparar em cada detalhe de seu olhar em minha direção. Estava tão perto que me aproximar ainda mais tornou-se natural.

Eu poderia beijá-lo, se quisesse.

— Há quanto tempo você não bebe do meu sangue? – Murmurei a pergunta antes de engolir em seco. Aquele magnetismo em nossas ações era outra experiência nova. – Quanto tempo...Sasuke?

— Não é hora pra isso. – Ele sorriu fracamente e piscou algumas vezes antes que seus olhos ficassem vermelhos. – Precisa descansar, Sakura.

— Prometa que não irá embora ao amanhecer. – Eu já conseguia sentir os efeitos de seus olhos sobre mim. – Sasuke...

— Ficarei com você enquanto precisar de mim. – Sasuke pareceu sorrir, mas não tive certeza se estava vendo bem. Aos poucos minha visão começava a escurecer. – Ficarei enquanto o sol brilhar e enquanto a lua permanecer sobre o céu para iluminar o caminho dos viajantes. – Sasuke murmurou tais palavras enquanto me acomodava sob os travesseiros. Por algum motivo, eu sabia que não era a primeira vez que ouvia sobre elas.

— Ficarei enquanto as ondas existirem no mar, mesmo que a maré desista de existir. – Murmurei fechando os olhos. O toque de Sasuke em meu cabelo era sutil. – Ficarei...Mesmo que sejamos nós dois contra a correnteza...

— Mesmo que não consiga controlar o tempo. – Sasuke continuou ao ver que eu não diria mais nada. – Ficarei mesmo que o destino não queira. – Os lábios dele tocaram meu cabelo sutilmente antes que ele se afastasse. A última frase tinha sido proferida tão baixo que mal consegui compreende-la. - Ficarei enquanto for eterno o meu amor.