Chains escrita por Priy Taisho


Capítulo 44
Capítulo 43 - Rouxinol


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo reescrito em 06/08/2021.
Agora só falta um...Estou triste e feliz ahah
Enfim, boa leitura!
Espero que vocês gostem ♥



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Rouxinol

Acorde... Acorde Tenten! Não, não feche os olhos... Acorde.
Sua cabeça deve estar girando.
Ignis nunca foi muito delicado
Acorde Tenten,
Eu preciso que você abra seus olhos.
Tenten!
ABRA OS OLHOS!

 A Mitsashi sentou-se em um rompante, seus olhos estavam arregalados, a respiração descompassada. O cabelo castanho grudava em sua nuca, o rosto avermelhado tinha gotículas de suor.

O coração dela batia rápido, como se seu corpo tivesse percorrido uma longa distância até ali.

Os olhos castanhos estavam confusos, lacrimejavam enquanto buscavam por qualquer indício de que estava em um lugar seguro.

O canto de um pássaro despertou Tenten de seu transe.

Os olhos vagaram pelo quarto estranho; as paredes eram feitas de madeira escura, pareciam puídas e no geral, não existiam muitos móveis além da cama em que ela estava deitada e de uma mesinha de cabeceira que continha flores lilases que lembravam à Tenten dentes de leão.

A janela possuía um lençol branco que fora cortado de maneira que fosse transformado em uma cortina, a brisa que entrava por ela fazia com que o tecido ondulasse sutilmente.

 Uma cortina de contas colorida separava o quarto em que ela estava de outro cômodo. A porta ficava na extremidade oposta da cama e por isso, Tenten não saberia o que havia do outro lado até que se levantasse. Ao puxar a manta azul que cobria suas pernas, constatou que ainda estava com suas roupas comuns, embora estivesse descalça.

 Seus pés tocaram a madeira que estava estranhamente morna. As mãos afundaram contra o colchão e ela tinha acabado de pegar impulso para levantar quando uma mulher entrou no quarto.

Os olhos dela cruzaram-se com os de Tenten e o tempo parou. Ou pelo menos foi essa a sensação que a Mitsashi teve. A mulher usava um longo vestido de veludo azul escuro que parecia reluzir conforme ela caminhava; as mangas eram compridas e largas e o tecido dentro delas era preto, parecendo ser de veludo também. Os ombros da mulher ficavam expostos e duas tiras de pano preto com detalhes prateados sustentavam o vestido. As barras das mangas do vestido também possuíam os mesmos detalhes.

Os olhos de Tenten focaram no recipiente de madeira que ela carregava em suas mãos, antes de subirem para o rosto da mulher. O cabelo dela era castanho e escorria por suas costas até um pouco acima do quadril, os olhos também castanhos demonstravam surpresa. Ela tinha lábios carnudos e rosados, que estavam separados dando ênfase na expressão de surpresa que tomava seu rosto.

O pingente do colar em formato de meia lua e um sol parecia reluzir; Tenten ergueu a mão instintivamente até o colar que se estava em seu pescoço. Eram idênticos.

— Tenten – A mulher pronunciou o nome da garota de maneira suave.

— Midori? – Tenten sussurrou sem conseguir desviar os olhos da mulher que continuava parada. Um aperto surgiu em sua garganta junto da certeza de que aquela mulher era mesmo sua mãe. A verdadeira.

Os pelos do corpo da Mitsashi se eriçaram quando Midori assentiu. Era surreal. Sentia poder emanando da mulher que lhe deu um sorriso terno, aproximando-se com passos cautelosos até que se sentasse no colchão ao seu lado.

O que fazer?

Abraça-la?

Dizer que a amava?

Que não fazia ideia da saudade que sentia até descobrir que aquela era a sua mãe?

A mulher que a abandonou aos três anos na casa de estranhos.

Para protegê-la.

Tenten desviou os olhos dela e fitou as flores lilases enquanto tentava organizar seus pensamentos. Onde estavam os outros? Onde estava Neji?

Porque os olhos dela estavam marejando e porque a uma maldita sensação apertava-lhe a garganta?!

— São Ageratos – Midori falou quebrando o silencio e Tenten voltou a observá-la. – As flores. Muitos acreditam que ela traga purificação e pureza emocional. Você precisa ficar calma, Tenten. – Disse ela em um tom suave. Todas as ações dela pareciam ser assim, leves.

— São bonitas. – Tenten murmurou olhando para as flores de maneira absorta. – Estou morta? – A pergunta escapou-lhe pelos lábios antes que pudesse refreá-la.

— Não, de maneira alguma.

— Então você está viva? – A morena não conseguiu conter uma pontada de esperança. – Ou eu estou morta? – Repetiu cogitando a possibilidade de beliscar a si mesma.

Tenten sentiu um toque quente sobre sua mão e olhou para Midori.

— Não está morta, Tenten. – A Mitsashi observou a mãe com os lábios entreabertos. - Tão pouco estou viva - Ao notar o olhar confuso da filha, a cigana continuou a falar. - Almas são poderosas, Tenten. Principalmente se estão motivadas por um desejo que habita no mais íntimo do coração. Nem mesmo quando a morte nos acolhe e esses desejos desaparecem, eles apaziguam. - Tenten a observava com admiração. As palavras de Midori eram mais fáceis de serem compreendidas do que as de Neji; não entendia a ligação que estava sentindo com a mãe materna, mas queria que a mão dela continuasse repousando sobre a sua. Era acolhedor. - Um pedaço minúsculo, do tamanho do miolo de uma flor foi deixado com Ignis. Com ela está o meu desejo.

— E qual o seu desejo? - Tenten perguntou curiosa e virou todo o corpo na direção da mãe. O único contato físico que elas tinham tido até então eram o de suas mãos juntas.

— Ver minha menina Tenten uma última vez.

Algo em Tenten se estilhaçou e se refez ao mesmo tempo. A intensidade daquela simples frase era assustadora.

— Eu planejei cada uma das minhas ações com cuidado. Não podia arriscar que algo machucasse você. - Mesmo falando de maneira suave, havia amargura nas palavras de Midori. Ela desviou os olhos para algum canto, mas Tenten continuou a observá-la, fazendo o possível para gravar todas as expressões dela. - Fiz aquele demônio prepotente jurar que lhe entregaria meu recado e sabia que teria de te dar uma forma de encontrá-lo.

— O livro de feitiços. - Tenten murmurou lembrando-se de como havia encontrado o feitiço de invocação de Ignis.

Midori aquiesceu e um vinco surgiu entre suas sobrancelhas.

— No entanto você somente o encontraria caso precisasse confrontar Orochimaru. - O tom de sua voz tornou-se sério e seus olhos castanhos eram semelhantes a duas pedras. - Não posso negar que desejei que esse dia nunca chegasse quanto desejava o contrário.

Após isso Midori pediu que Tenten lhe contasse tudo e a garota o fez, narrando todos os acontecimentos da maneira que podia. Midori mantinha uma expressão serena, mas o vinco entre suas sobrancelhas parecia se intensificar.

— Então Sakura e o príncipe Uchiha estão finalmente juntos? – A mulher fez a pergunta retórica e um sorriso divertido surgiu em seus lábios. – Eu esperava que isso acontecesse.

Ela umedeceu um pano branco dentro da tigela de madeira e o estendeu para Tenten, dizendo que ela deveria limpar o próprio rosto. Tenten achou a atitude esquisita, mas quando terminou, notou que o pano estava preto.

— Por que meu rosto está assim? – Perguntou Tenten revezando o olhar entre o pano e a mãe que riu baixo.

— Ignis nunca foi sutil. – Midori observou tomando o pano da mão de Tenten e limpando uma mancha que estava abaixo dos olhos dela. - Acredito que isso tenha acontecido após ele tocar sua testa.

— Como sabe que ele fez isso? – Tenten questionou surpresa e colocou as mãos sobre a testa tentando identificar qualquer anormalidade. – Ele me deixou com algum galo?

— Havia uma marca branca em meio a toda sujeira em seu rosto. – Disse Midori tocando a testa de Tenten com o dedo indicador. –Você se tornou uma moça bonita, filha – Tenten não achava o elogio válido, não perto dela. Midori poderia ter algumas décadas a mais do que ela, vivia dentro de uma floresta e provavelmente não tinha acesso a produtos de beleza que Tenten tinha e apesar de não possuir nenhuma característica física como os olhos perolados de Hinata ou cabelos rosados de Sakura, ela era maravilhosa.

— Obrigada.

A palavra “mãe” tinha ficado engasgada em sua garganta. Tenten não sabia o porquê de tê-la reprimido, mas Midori não pareceu se incomodar e se isso a afetou, ela manteve o semblante sereno. O olhar da Mitsashi vagou para a janela e espantou-se ao ver um rouxinol azul, que alçou vôo como se houvesse percebido o olhar da garota. Tenten ainda ficou um tempo observando a janela enquanto ouvia o canto do rouxinol.

— Quer um chá antes de irmos? – Midori interrompeu os devaneios de Tenten e a garota olhou para ela novamente.

— Claro. – Tenten concordou prontamente e levantou-se ao ver que Midori fez o mesmo. Olhou para os pés que estavam calçados somente com meias e enquanto a mãe biológica caminhava, conseguiu ver um vislumbre dos pés descalços dela. – Para onde vamos?

— Para o lago. – Midori respondeu ao segurar a cortina de contas para que Tenten passasse. – Nosso tempo está acabando. – Informou a cigana com pesar e a garota sentiu uma espécie de aperto no peito. – Aconteceu algo, querida? – Questionou preocupada ao ver que os olhos castanhos de Tenten pareciam duas piscinas rasas. Ela piscou parando em frente a Midori e duas lagrimas grossas escorreram por suas bochechas antes que ela abraçasse a mãe de maneira aflita.

A cigana acolheu a filha em seus braços como desejava desde que ela havia partido. As lágrimas de Tenten molhavam-lhe o pescoço e seus braços apertavam a menina contra o seu corpo em um abraço repleto de saudade. Midori também chorou, mas ao contrário de Tenten, suas lágrimas eram silenciosas, pois ela precisava manter-se firme para confortar a filha.

— Eu não posso ficar? – Tenten murmurou após beber um gole do chá que Midori havia preparado para ela. Sabia resposta, mas não custava tentar. – Prometo não fazer bagunça, mãe. – Midori riu e depositou a própria xícara sobre o tampo da mesa de madeira que parecia velha e puxou a cadeira ao lado da que a morena estava.

— A proposta é extremamente tentadora. – Midori respondeu rindo enquanto mexia o chá com uma colher. –Mas seus amigos precisam de você, Neji também. – Acrescentou ela em seu tom de voz doce que fazia com que Tenten se questionasse o motivo de não falar como ela.

— Neji? Por-Por que ele em especifico? – Gaguejou a garota bebendo um gole do chá apressadamente e logo se arrependeu, estava quente e queimara sua língua. – Merda... Desculpe.

— Sua áurea fica ainda mais reluzente quando toca no nome do Hyuga. Ela é mesclada entre azul e branco, e o azul se intensifica sempre que o nome dele é mencionado. – Tenten não se surpreendeu por ela conhecê-lo. – E mães possuem um dom peculiar de identificar certas coisas.

— Se eu não soubesse, diria que você é uma bruxa. – Disse Tenten em um resmungo. –Não sei se posso definir minha relação com Neji...

— Deixe seu coração definir e não terá problemas em encontrar as respostas para suas dúvidas. – Midori piscou um dos olhos e bebeu um gole do chá.

Tenten optou por fazer o mesmo, apertando a xícara entre seus dedos com mais força do que o necessário. Não era mentira que as palavras da mãe tinham tido um impacto maior do que o que ela esperava. Pensou em Neji... Ele estaria procurando por ela?

— Mãe, onde nós estamos? – A Mitsashi murmurou sem encará-la. Ainda pensava sobre Neji e ousava imaginá-lo desesperado pelo desaparecimento dela. – Você diz que não posso ficar, quando me parece ser completamente aceitável que isso aconteça.

— Não quero oferecer-lhe somente uma floresta, Tenten. – Midori falou e após um suspiro recolocou a xícara sobre a mesa. – Esse mundo não passa disso. Uma ilusão de algo que eu presenciei um dia. – A Mitsashi colocou a xícara na mesa e olhou para a cigana com decepção. – Tudo está acontecendo bem aqui. – Midori a surpreendeu ao colocar o dedo indicador na testa de Tenten.

— Parece tão real...

— Não conclua o que é irreal e real por não estar em seu corpo físico, Tenten. – Disse a mulher com advertência e afastou o dedo da testa da adolescente. – Em sua mente é onde as coisas verdadeiramente acontecem. – Tenten aquiesceu sem ter o que dizer. – Vamos caminhar pela floresta, querida. Há tanto para ser dito e tão pouco tempo. – O sorriso nos lábios dela era triste.

Tenten encontrou seus sapatos atrás da porta que dava para a floresta. Midori calçou sandálias baixas e ambas partiram pela floresta com os braços entrelaçados, os pássaros pareciam acompanhar as duas. A Mitsashi nunca tinha visto tantas borboletas juntas, todas coloridas rodopiando ao redor delas como uma dança.

Um cenário digno de contos de fadas. Nunca acreditaria em algo tão surreal, caso não estivesse vendo tudo com seus próprios olhos. Ela sentia cada pulsação e o calor que emanava da terra, como se cada parte da natureza fosse uma extensão de seu corpo.

Um esquilo parado sobre uma pedra segurava duas nozes e encarou a Mitsashi com curiosidade. A garota parou de caminhar e Midori fez o mesmo.

A ligação que Tenten sentia com aquele lugar estendia-se até o esquilo e expandia-se para tudo.

Desvencilhou o braço do da mãe e deu um passo na direção do pequeno esquilo, que ao invés de correr, estendeu-lhe uma das nozes; ela não aceitou, mas ele continuou a observá-la.

— Esse lugar existe? - Questionou Tenten olhando para Midori a tempo de vê-la assentir. - Não é coisa da minha cabeça?

— Tudo isso está dentro da sua mente. - Midori respondeu erguendo o dedo indicador para que uma borboleta pousasse em seu indicador. As asas dela eram escuras e possuíam a mesma textura e tonalidade azul escura do vestido da cigana.- Mas a vida que você sente partindo desse local é real. – Continuou sacudindo o dedo indicador e a borboleta voou para longe. – A floresta das Luzes faz parte do Reino dos Elfos, eles foram gentis em deixar que eu habitasse suas terras quando precisei.

Tenten não perguntou nada. Sabia que a mãe tinha sido capturada dentro do território dos Elfos... O que ela estava vendo eram as últimas coisas que Midori tinha visto enquanto ainda estava livre.

Voltaram a caminhar, braços novamente entrelaçados, olhos castanhos vidrados no verde da mata. Não trocaram uma palavra sequer, não era necessário, embora Tenten quisesse encontrar qualquer coisa que prolongasse o momento da despedida.

Ela estava próxima.

Imponente.

Derrubaria Tenten como um tsunami impiedoso e a correnteza a puxaria para o fundo, onde ela sucumbiria pela falta de oxigênio.

Uma parte bem grande da garota Mitsashi gostaria de permanecer ali. Em um mundo que não ia além de uma cabana e de uma população limitada de animais. O que ela via parecia perfeito.

O lago surgiu conforme elas adentraram a orla da floresta. Ele era imenso, a água tão cristalina que Tenten conseguia ver os peixes que nadavam por ela e as pedrinhas no fundo do mesmo; expandia-se pelo horizonte e ela não conseguia ver onde era seu fim. A luz do sol refletia na água e a garota resistiu ao impulso de cobrir os olhos com as mãos para protegê-los da claridade.

— O que vai acontecer a partir de agora é inevitável. – Midori falou enquanto caminhava em direção a uma pedra. Os olhos dela estavam sérios, embora ela mantivesse sua expressão serena ao sentar-se sobre a pedra. O tecido do vestido espalhou-se no chão junto das folhas, Midori retirou as sandálias e seus pés tocaram o chão. – Uma guerra traz consigo o desejo de vitória e sangue. Haverá sangue nas mãos de todos que participarem dela, de todos. Vocês vão andar com os dedos entrelaçados nas mãos da morte e a foice dela estará constantemente em suas jugulares, aguardando o momento em que vocês tropeçarão para que suas vidas sejam ceifadas. – Um arrepio percorreu o corpo de Tenten quando os olhos severos da mãe pousaram sobre ela. –Ignis precisa de cavaleiros, mas todos serão armas. Sakura e Sasuke serão os catalisadores, mas sem ajuda eles não conseguirão.

— O que eu tenho que fazer? – Tenten questionou seriamente. A expressão dela a deixou ainda mais semelhante a da mãe. - Esse é o seu recado. – Concluiu ao ver que os olhos da mãe tinham sido voltados para o lago novamente.

— Eu quero te mostrar como acabar com Orochimaru de uma vez por todas. – Em um piscar de olhos Midori estava na frente de Tenten, um brilho prateado dominava aos poucos sua orbes castanhas. –Quero te mostrar tudo o que eu sei, filha. Mas isso vai ser como te enviar para a morte.

— Me mostre tudo o que você sabe, por favor...

— Que assim seja. – Midori ergueu a mão direita e dela reluzia uma luz azulada. –Que todo o meu conhecimento passe a ser seu.

Tenten sentiu como se um liquido quente estivesse escorrendo do alto de sua cabeça até a planta de seus pés; percorrendo seus ombros, sua coluna e fundindo-se em sua pele e seus ossos.

Não havia mudança física, somente intelectual.

De repente as aulas com Neji e Hinata soavam banais. O conhecimento que havia adquirido ia muito além do que sequer um dia ela ousou imaginar.

Era terrivelmente assustador, mas igualmente magnífico.

— Tudo isso...

— É pouco, se comparado ao que você irá conhecer, imagino. – Midori interrompeu Tenten e apesar de sorrir, havia dureza em seu olhar. – Não se contente somente com isso, Tenten. – Advertiu a cigana com severidade. – O conhecimento é o que nos torna fortes.

— Parece loucura. – Murmurou Tenten fixando os olhos nas folhas ao redor do lago. – Tudo isso... Ignis, eu... Eu não posso fazer isso.

— Você sabe o que fazer. – Midori colocou a mão sobre o ombro de Tenten e ficou em silencio até que a garota a olhasse. – É preciso. Uma parte de Orochimaru viverá se você não o fizer. Precisa destruí-lo por completo.

Tenten engoliu em seco e concordou, embora não se sentisse confiante com a missão que lhe fora imposta.

— Eu estarei com você. – Prometeu Midori e ela sorriu, embora filetes de lágrimas escorressem por suas bochechas. – Precisa ir agora, minha garota. – A voz dela falhou por um momento.

— Eu não quero ir – Tenten disse com a voz entrecortada antes de abraçar Midori. - Prometo que vou sempre me lembrar da senhora. Obrigada por me salvar. – O agradecimento repentino surpreendeu Midori. – Eu não estaria viva se não tivesse aberto mão de mim naquela época e eu sei o quanto foi difícil. Nós não tivemos muito contato, mas a ligação que eu sinto com você é muito grande. – Ela fechou os olhos e aumentou a intensidade do abraço. – Eu me sinto muito feliz em ser sua filha.

— Eu a amo, minha criança. – Midori disse afagando os cabelos de Tenten. –E me sinto imensamente orgulhosa em ser tua mãe.

— Eu te amo, mãe.

A Mitsashi ainda podia sentir o calor dos braços da mãe quando saltou no lago. A água estava quente e escurecia conforme ela afundava, afastando-se da claridade enquanto o reflexo de Midori tornava-se distorcido e confuso.

— Finalmente!

Mesmo com os olhos abertos, Tenten só recobrou a consciência ao ouvir a voz de Neji. Piscou algumas vezes, notando então que estava deitada sobre uma cama confortável e coberta com um lençol de seda dourada.

— Mitsashi, você está bem? – Questionou o Hyuga levantando-se da cadeira para poder ter a atenção da garota. Ela tinha as maças do rosto avermelhadas e a respiração estava entrecortada. – Tenten...

— Estou bem. – Respondeu Tenten o interrompendo. Ela sentia algo delicado na palma de sua mão esquerda e não ousou abri-la até que estivesse sentada. Viu Hinata sentada sobre o tapete, suas pernas estavam cruzadas e a saia negra esparramava-se pelo chão; parecia alheia ao que estava acontecendo. – Eu vi minha mãe. – Hinata ficou tensa, mas não se pronunciou.

— O que ela disse? – Neji perguntou franzindo o cenho. – Não esconda nada, Mitsashi.

— Ela disse que tudo ficará bem. – Respondeu Tenten erguendo a mão esquerda e ao abri-la, não se surpreendeu ao encontrar a flor lilás que tinha visto dentro da cabana que Midori estava. – Eu sei o que precisamos fazer.

X-X-X

O vaso dourado que antes era repleto de flores vermelhas jazia destroçado no chão, e aquele era a única testemunha do que tinha acontecido.

Aos poucos meu corpo foi relaxando e meus braços, que antes estavam cruzados sob meus seios enlaçaram-se ao redor do pescoço do Uchiha e meu corpo se arrepiou quando senti a mão direita dele apertando minha cintura possessivamente conforme a intensidade de nosso beijo aumentava.

Muito de Sasuke nunca seria o suficiente.
Eu sempre precisaria de mais tempo e não conseguiria, ainda assim, aproveitar sua presença com a intensidade que eu desejava.

— Por que você sempre é atraída para o meio da batalha? – Murmurou ele angustiado e em seguida me beijou novamente. – Seria tão mais fácil se você simplesmente me obedecesse... Se ficasse segura.

— Você não gostaria de mim se eu fosse assim. – Respondi dando um meio sorriso e Sasuke fechou os olhos ao sentir o toque de minha mão em sua bochecha. – Relaxe, Sasuke. Vai dar tudo certo.

— Eu não suporto a ideia de que posso te perder novamente. – Quando ele abriu os olhos, suas íris eram tão vermelhas como sangue. – Eu... Eu... Inferno, não consigo. – Fez menção de se afastar de mim e eu deixei de abraça-lo para que ele pudesse ir.

— Coloque na sua cabeça que ninguém perderá ninguém. – Afirmei cruzando meus braços novamente enquanto Sasuke seguia em direção à janela. Ele passou a mão pelos fios negros, os bagunçando de maneira revoltada. – Nós estamos preparados.

— Não, não estamos. – Sasuke rebateu no mesmo instante. – O fato de você saber manejar uma espada não faz com que esteja pronta. Isto é guerra, Sakura...

— Não fale como se eu não soubesse disso, Uchiha! – Bradei irritada e fechei minhas mãos em punhos enquanto buscava uma maneira de me acalmar. – Eu não vou me esconder enquanto os que eu amo vão de encontro à morte. Já te disse, não me peça para fazer isso!

— E o que faço quando a mulher que EU amo vai de encontro à morte?! – Sasuke gritou repentinamente e eu recuei um passo pela intensidade arrebatadora de suas palavras. – O que eu faço com o maldito vazio que eu sentirei caso algo aconteça? Como vou reconstruir MINHA ALMA se isso acontecer?

— Já disse que não vou morrer porquê ganhei um maldito arco e flecha! — Bradei e Sasuke me olhou com irritação.

Aparentemente, toda calmaria que havíamos criado estava prestes a desmoronar.

— Não posso perder você, Sakura...

— Eu também não posso te perder — Fiz menção de me aproximar mais uma vez e ele aceitou, envolvendo-me em seus braços mais uma vez. — Sou apaixonada por você, Sasuke...

— Eu também te amo, Sakura — Ele murmurou e pude sentir a calmaria momentânea. — Por um maldito instante, podemos ficar assim?

— Assim como?

— Fingindo que não há mais o que fazer — Ele Respondeu após um tempo. — Por centenas de anos, eu esperei por esse momento. Em ter você nos meus braços mais uma vez...

— Eu também — Concordei fechando os olhos por um instante. — Sempre pensei no momento em que voltaria pra você.

Sempre soube da intensidade dos sentimentos que nos conectavam, eles transcendiam o tempo. Eram doces como o céu e quentes como o inferno.

— Diga novamente.

Sua voz não passara de um sussurro quebradiço em meio ao silêncio que havia se instaurado entre nós.

Tambores pareciam soar em meus ouvidos.

Deveria ser o som do meu próprio coração.

— Eu o amo.

Mantive meus olhos fechados no instante em que senti as pontas de seus dedos frios em minha pele. Sasuke tocava-me com delicadeza, como se tivesse medo de partir minha face em milhões de pedaços a qualquer instante.

— Eu não a mereço. – Sasuke disse e eu senti o seu dedão acariciando minha têmpora. – Mas sou terrivelmente egoísta para deixá-la ir. Olhe nos meus olhos, Sakura. – Pediu ele calidamente. Quando eu abri meus olhos, o rosto dele estava próximo do meu. – Eu a amo e o desejo de tê-la ao meu lado é um dos motivos que me fazem querer lutar. – O Uchiha acariciou meus cabelos e aproximou seu rosto do meu. – Todo o tempo em que estamos juntos não afugenta os anos que ainda me atormentam. A noite quando todos estão em silêncio, consigo ouvir o som dos seus gritos e só consigo me acalmar ao constatar que você está ressonando ao meu lado.

Sasuke olhava para mim como se eu pudesse desaparecer a qualquer momento e era sofrido imaginar-me sendo dona de todas as sensações que vinham dele.

— Não é você quem decide quem eu mereço. – Falei suavemente e coloquei minha mão sobre a dele. – Eu decido o que é bom pra mim.

Sasuke sorriu fracamente e me beijou. E novamente estávamos dentro de um circuito repleto de altos e baixos, onde meu peito enchia-se de ar que era perdido em meio aos suspiros pelo homem que me beijava como se sua vida dependesse daquilo.

Muito de Sasuke nunca seria suficiente.

Jamais seria.

Nós tornamos um só novamente ali mesmo. Os dedos de Sasuke deixavam marcas vermelhas em minha pele e suas mãos me mantinham firme sobre ele, ditando o ritmo com o qual meu corpo investia contra o seu.

Sasuke tomava-me como sua por inteira. A ligação que nos mantinha unidos, outrora, fora a única coisa que me fazia permanecer ao seu lado. A fraqueza. A impotência. A ignorância sobre o meu passado.

Hoje, enquanto os lábios de Sasuke tomavam os meus e deixavam rastros de saliva por minha pele, situação que me deixaria caótica há pouco menos de um ano, eu sabia que tinha optado por ficar.

Agora, quando o meu sangue e minhas lembranças haviam sido despertadas por Orochimaru, minha força havia tornado-se equivalente à de Sasuke, assim como minha influencia sobre o pacto. Eu poderia facilmente desaparecer pelo mundo e ele somente me encontraria caso me rastreasse, seria um jogo de cão e gato por toda a eternidade.

Mas eu não gostaria de ir.

O único desejo que eu tinha era o de permanecer nós braços daquele que havia me procurado por mais de duzentos anos. Aquele pelo qual eu me sacrificaria novamente.

— No que está pesando? – Sasuke questionou após nos deitarmos. Seus olhos estavam vermelhos e havia um filete de sangue no canto de seus lábios, juntando isso ao cabelo desgrenhado, o Uchiha não deveria parecer tão sereno quanto estava. Ele havia tomado do meu sangue e eu sentia o suficiente para saber que ele estava satisfeito.

— Estou pensando. – Respondi abraçando seu corpo e aconchegando-me à ele preguiçosamente. Mesmo não necessitando, eu sentia uma enorme vontade de dormir, ao contrário de Sasuke. – Em nós – Confidenciei ao ver que a explicação vaga o deixou incomodado.

— O que seremos quando tudo acabar?

— Pretendo assumir o trono oficialmente. – Sasuke respondeu após uma curta pausa. Ele acariciava meu cabelo enquanto falava. – O povo de Konoha precisará reconhece-la como rainha e minha mulher.

— Eu nunca pensei em ser rainha. – Confessei erguendo o rosto para ver a expressão de Sasuke. Ele observava o teto e parecia imerso em pensamentos. – E não me lembro de ter recebido uma proposta formal de casamento, Uchiha. – Acrescentei num tom divertido e ele deu um breve sorriso.

— Você é minha desde aquele dia na floresta, Sakura. – Sasuke falou calmamente é um arrepio percorreu minha espinha ao me lembrar do quão sangrento tinha sido nosso pacto. – Mas eu sempre fui seu.

X–X–X

Tenten terminou de falar e seus olhos vagaram por todos nós com apreensão. Haviam passado três dias desde que Ignis escolhera Sasuke e a mim para sermos seus cavaleiros. A Mitsashi passou um dia inteiro dormindo e no seguinte, disse que tinha algo para contar, uma coisa que a própria Midori tinha lhe ensinado. Eu acreditava na geniosidade da cigana e não me surpreendi ao saber da mensagem transportada pelo pedaço de alma dela. Um truque arriscado, mas incrivelmente genioso.

Sasuke permaneceu desconfiado até Itachi dizer que aquele método era muito comum entre os ancestrais da família Uchiha no passado.

— Sakura fez algo parecido há pouco tempo. – Enfatizou ele olhando para mim e eu apenas ergui os ombros num gesto de descaso. – Devemos ouvir o que ela tem a dizer. O benefício da dúvida, irmão.

Sasuke olhou para Itachi e em seguida para Shikamaru, que escutava tudo em silêncio. Era difícil associá–lo ao garotinho que era protegido por Midori tantos anos atrás.

— Eu confio plenamente em Midori. – Shikamaru disse ao perceber que Sasuke esperava sua opinião sobre o assunto. Ele era um dos conselheiros, pelo que soube. – Ignis surgiu de dentro de um livro que somente eu tive acesso por todos esses anos. Eu estudei cada um dos feitiços e das anotações que estão nele, memorizei cada linha e não me lembro de algo relacionado ao demônio do fogo. Se esse feitiço revelou–se somente ao contato com o poder de Tenten, devemos considerar que seja uma chance.

O Uchiha pareceu relutante, mas cedeu o beneficio da dúvida para o que Tenten estava disposta a apresentar.

— Eu preciso desenhar. – Tenten afirmou envergonhada quando Sasuke pediu que ela contasse seu plano. – Fica mais claro visualmente.

Sasuke a observou com o cenho franzido e após um suspiro, concordou com um aceno de cabeça.

— Diga o que irá precisar e eu providenciarei.

Ri do embaraço de Tenten e da expressão incomodada de Neji, que estava ao lado dela como uma sombra.

A Mitsashi passou um dia inteiro em uma das salas de reunião. Qualquer um que não fosse os Hyugas ou Shikamaru, estava terminantemente proibido de falar com ela até que o trabalho fosse concluído.

E os únicos que podiam ter contato com ela mal saiam de lá.

Sasuke tinha aproveitado a oportunidade, juntamente com Itachi, para me treinar. Os dois continuavam com seus sorrisinhos irritantes enquanto me ensinavam alguns de seus truques novos.

O incômodo em meu ombro esquerdo lembrava– me exatamente do momento em que o sorriso de Sasuke tinha desaparecido, no instante em que o bastão que estava em suas mãos batera contra o meu ombro, o deslocando.

— Me desculpe! – Disse ele baixando a guarda por um instante e eu o soquei com força, fazendo com que ele cambaleasse. – Qual o seu problema? Droga! – Colocou a mão sobre o nariz e me olhou irritado.

— Isso não vai me matar. – Rebati voltando a pressionar minha mão contra o meu ombro. – Itachi, você pode coloca-lo lugar, por favor?

— Não vou mentir que estava sentindo falta dessas briguinhas idiotas de vocês. – Falou o Uchiha mais velho apoiando ambas as mãos em meu ombro. Com um único tranco, Itachi colocou meu ombro no lugar e eu fechei os olhos enquanto lidava com o desconforto de movimenta–lo. – Você foi atingida porque está deixando o bastão longe demais, tente alinhá–lo ao seu corpo e não deixe sua guarda tão aberta. – Alertou–me com seriedade. – E você, pare de dar aberturas para Sakura.

— Não estou fazendo isso.

— Você acha que não, mas ela aproveita do fato de que tem influência sobre você. – Itachi o alertou e Sasuke me encarou com desconfiança.

— Eu não faço isso!

— Sakura, você está falando com o homem que é responsável por treinar cada um dos membros do exército do nosso reino. – Itachi falou para mim com um sorrisinho debochado. – Eu sei do que estou falando.

O treino após isso havia sido dez vezes mais intenso. Sasuke deixou de se preocupar toda vez que me atingia, assim como eu fazia com ele e investia todas as vezes em que eu perdia a concentração por ter sido atingida. Itachi observava tudo e pontuava com precisão onde nós precisaríamos melhorar.

Eram dicas dadas pelo General Uchiha e mesmo que Sasuke não gostasse, nós a seguíamos fielmente.

Ao tardar da segunda noite, arrisquei– me em ir até o quarto de Tenten. Estava vazio. O cheiro dela estava impregnado em tudo, embora fraco, indicando que ela não entrara no quarto desde que saíra pela manhã.

— Algum problema? – A voz conhecida despertou– me dos meus pensamentos. – Parece tensa, querida. – Mikoto aproximou– se de mim e colocou a mão sobre meu ombro.

Olhei para ela e sorri. Mikoto trajava um vestido longo e azul marinho, com um decote singelo que realçava seu busto. Um colar prateado adornava seu pescoço, ostentando uma pedra rubi como pingente; seu cabelo estava preso em um toque trabalhado, alguns fios ondulados caiam pelas laterais de seu rosto.

— Mikoto. – Coloquei minha mão sobre a dela. – Não sabia que já havia retornado dos esconderijos. – Comentei fechando a porta do quarto de Tenten antes de me virar novamente para ela.

— Fugaku pediu que eu viesse. – Respondeu– me ela e logo em seguida revirou os olhos. – Ele pede que eu fique longe, mas não consegue me deixar por muito tempo. – Acrescentou antes de enlaçar seu braço ao meu e começar a me conduzir pelo corredor. – Soube que as coisas não estão nada fáceis. Como você está?

— Eu não sei. – Confessei em um tom baixo. – Estou tentando me manter positiva.

— São tempos difíceis. – A rainha concordou e parou de caminhar, observando alguns quadros atentamente. Seu braço continuava entrelaçado ao meu. – Você se lembra deste dia? – Questionou ela após um breve silêncio. Mikoto indicou um quadro onde estavam retratados ela, Fugaku, Itachi e Sasuke.

A senhora Uchiha estava sentada e usava um elegante vestido de veludo vinho, contrastando com os demais que trajavam preto. Flanqueada pelos filhos e na frente de seu marido, que parecia extremamente tranquilo. – Sasuke e você sumiram horas depois dessa pintura. Os encontramos dormindo no estábulo, quase três da manhã. – Acrescentou ela com um pequeno sorriso.

— Minha mãe ficou louca. – Comentei nostálgica, lembrando das broncas que Mebuki havia me dado. – Disse que eu estava induzindo Sasuke a agir como um plebeu, exatamente da maneira que ela vivia dizendo que eu agia.

Mikoto continuou a fitar o quadro e eu fingi não notar a ruga entre suas sobrancelhas. Ela devia se lembrar da surra que eu tinha levado e provavelmente dá briga que teve com Mebuki por isso. Sasuke sentira–se mal quando descobriu e me presenteou com brincos pequenos e prateados que eu perdi dias depois, enquanto corríamos pela floresta.

Éramos crianças.

Sasuke ao menos havia sido escolhido como sucessor ao trono e no entanto, Karin, por parte dos meus pais, já seria a futura Rainha.

— Há quanto tempo você não fala com Mebuki? – Mikoto questionou baixo. – Kizashi está fora, realizando missões diplomáticas para a coroa.

— Eu não a vejo faz tempo. – Respondi olhando para os quadros como Mikoto fazia. – Não penso nela, para ser sincera. Fica difícil raciocinar quando uma das principais pessoas que deveria ter me procurado quando soube que eu estava viva, preferiu fingir que eu não existia. Não tenho sentimentos por ela, Mikoto.

— Entendo. – Mikoto sorriu para mim e acariciou minha face. – Eu te considero como uma filha e minha gratidão por você não pode ser mensurada. Você irá salvar meu povo, mas muito mais importante do que isso…Salvou meu filho dá escuridão.

X–X–X

 

No terceiro dia, pouco depois do almoço, Tenten anunciou que havia terminado. A reunião ocorreu na sala em que ela estava para que os papeis não precisassem ser movidos. Shikamaru nos recepcionou e disse que teríamos que tomar cuidado com onde pisávamos. Naruto pareceu preocupado com essa advertência e deixou que Itachi fosse o primeiro a entrar.

No momento em que a porta foi aberta, senti o cheiro de agerato. 
Sasuke demonstrava-se indiferente, mas eu sentia a confusão em seu íntimo.

— Também estou confusa — Murmurei para o Uchiha que aquiesceu.

O alerta de que deveríamos ter cuidado com onde pisávamos era mais literal do que eu pensava. O chão estava coberto por gravuras feitas com um líquido preto e pareciam seguir um padrão, como um círculo. Os móveis tinham sido arrastados para o canto, deixando a sala o mais limpa possível. Hinata e Neji conversavam ao canto, baixo, com os rostos impassíveis.

Naruto tentava disfarçar, mas vidrava seu olhar na Hyuga sempre que possível. Quis provoca-lo, então guardei isso para outra oportunidade.

— Fiquem em suas marcas — Shikamaru indicou apontando para o chão.

Fiquei entre Itachi e Sasuke, como uma marca no chão indicava para que eu o fizesse. Ino que estava no outro extremo da sala acenou para mim, o rosto limpo de qualquer maquiagem e usava um casaco negro. Gaara estava à sua esquerda, enquanto Neji e Hinata assumiram as extremidades vagas.

Quando meus olhos pousaram em Tenten, notei que ela estava agachada o tempo todo. Os olhos fixos em um dos desenhos, o dedo indicador contornando os detalhes minunciosamente. O cabelo estava solto e suas roupas eram diferentes. Os jeans surrados tinham sido substituídos por uma saia longa preta e sua camiseta por uma blusa vermelha que deixava seus ombros e uma pequena parte de sua barriga expostos. Quando ela ergueu o rosto, seus olhos encontraram-se com os meus e eu quase pude sentir que Tenten, era Midori.

— Desculpem, eu demorei mais do que esperava. - Disse ela erguendo-se com constrangimento. - Tenho tudo o que preciso agora.

— Se nada te impede, então podemos começar, Mitsashi. - Sasuke falou assumindo a postura calculista que ele costumava ter em reuniões. - Meu pai gostaria de participar, mas está em reunião com os conselheiros.

— Entendo. Espero que você possa transmitir os meus recados para ele. – Tenten disse juntando as mãos em frente ao seu corpo. Ela olhou para cada um de nós e tomou fôlego antes de começar a falar. – Todos os que estão aqui são de importância crucial para que isso funcione. Algumas das localizações em que vocês estão não fazem jus ao que nós realmente precisaremos caso aceitem essa ideia. – Ela fez uma pausa esperando que alguém dissesse algo e ao notar que todos continuariam em silêncio, prosseguiu. – A caixa de vidro é um feitiço de contenção que é modificado conforme a vontade do bruxo.

— Pode ser usado como um recipiente para invocação. – Hinata acrescentou olhando de esguelha para Tenten que aquiesceu. – Mas um único bruxo não conseguiria suportar todos os pilares. Não esses. - Alguns pontos nos papéis tomaram a cor avermelhada.

— E nem conseguiria criar os selos que deverão estar nesses. – Neji indicou nas plantas os locais leste e oeste. – Pelo que a Mitsashi disse, precisam ser feitos juntos e não necessariamente por bruxos.

— O que vocês pretendem invocar? – Sasuke questionou com o cenho franzido. – Ele observava os três com extrema atenção. – Parece algo grande para ser usado em batalha, Mitsashi. Possivelmente não nos trará agilidade.

— Todos aqui são marcados. – Tenten explicou colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e eu pude ver uma fina cicatriz esbranquiçada que formava uma flor. – Eu prolongaria muito o assunto caso fosse explicar cada uma das marcas, em resumo, todos são de extrema importância para que isso funcione.

— E para que isso deve funcionar? – Itachi questionou agachando-se para analisar os rascunhos de Tenten. – Como meu irmão disse, parece ser algo grande. Talvez não seja prático durante a batalha.

— Eu ainda estou confusa em relação à isso. - Comentei agachando-me como Itachi. - Parece um selo, mas esse desenho aqui é igual ao que eu tenho na minha mão. Tem relação com Ignis?

— Sim. O poder de Ignis é muito grande para que ele ande livremente por aí. - Tenten explicou mordendo o lábio inferior por um momento. - A caixa de vidro é para contê-lo.

Eu não fui a única que ficou surpresa com aquela afirmação. Troquei um olhar com Itachi e retomei minha atenção para minha amiga, que esperava por nossa confusão com antecipação.

— Eu achei que Ignis devia nos ajudar. - Naruto franziu o cenho e cruzou os braços, enquanto olhava para os símbolos aos seus pés. - Não há sentido em prendê-lo durante a batalha. Vai limitá-lo.

— A intenção de sua mãe nunca foi de nos dar uma arma, não é? - Sasuke pronunciou-se pensativo. Os olhos dele sempre estavam fixos em Tenten. - Não se precisa contê-lo. Entendo que esse demônio do fogo é poderoso, mas ainda não vejo motivos para que nós usemos seu poder, Mitsashi.

— Minha mãe nunca quis lhe dar uma arma para a batalha. O objetivo é destruir Orochimaru de uma vez por todas.

X-X-X

A brisa da manhã era gelada, embora os primeiros raios de sol começassem a tingir o céu. Todos nós usávamos capas escuras e cavalgaríamos em pequenos grupos para evitar chamar a atenção desnecessária.

Sasuke estava ao meu lado, montado em seu cavalo negro, a expressão vazia adornando sua face. Seus olhos cruzaram-se com os meus durante alguns momentos e eu lhe lancei um pequeno sorriso, esperando que isso o confortasse.

Era uma missão suicida, mas tínhamos planejado tudo para que fosse o mais seguro possível.

Iríamos entrar na sede de Orochimaru e destruiríamos a Pedra da Lua, trazendo Cassandra e sua alcateia conosco para o Castelo Uchiha. Um confronto direto com Orochimaru não estava previsto, porém, todos sabíamos que isso possivelmente seria inevitável.

Tinham se passado sete dias desde que Tenten tinha nos contado sobre seus planos. Sasuke, Shikamaru, Itachi e Naruto passaram grande parte do tempo esquematizando todos os nossos passos, traçando rotas, discutindo a maneira com que Orochimaru seria atraído até o castelo.

Os treinamentos foram árduos, exaustivos. Tenten tinha aprendido o básico para defender a si mesma, o pouco que poderia garantir sua própria vida caso estivéssemos longe dela para protege-la. Qualquer segundo era crucial.

— Viajaremos por um dia inteiro. - A voz de Sasuke despertou-me dos meus devaneios. - Pretende ficar calada durante todo o percurso? É irritante.

— Há pouco tempo você pedia que eu ficasse quieta. - Brinquei segurando as rédeas do meu cavalo firmemente e olhei para Sasuke que havia tirado o capuz de sua capa. - Sobre o que quer conversar?

— Quando isso acabar, vamos voltar ao mundo humano por alguns dias.

— Pretende fugir da sua coroação, majestade?

— Pretendo fugir com você por algum tempo. - Sasuke respondeu-me tranquilamente. - Somente nós dois – Sorri e ele retribuiu, mesmo que brevemente. Era um bom plano.

Sasuke e eu continuamos conversando sobre banalidades até Itachi anunciar que nós podíamos fazer uma pausa. Devia ser por volta do meio dia, o sol estava em seu auge e o calor nos consumia. Nos acomodamos as margens de um rio, para alimentar os cavalos e deixa-los descansar o máximo que pudéssemos.

— Venha comigo - Sasuke entrelaçou meus dedos aos dele e sob o olhar desconfiado de Naruto, desaparecemos para um canto afastado de onde eles estavam. Após averiguar que estávamos sozinhos, Sasuke me beijou.

Meu corpo era pressionado contra uma árvore e eu ri ao me lembrar do costume que Sasuke tinha de fazer isso. Ele sorria mesmo sem entender o motivo do meu riso e continuava a me beijar, eram nesses momentos em que o estresse que o consumia desaparecia por completo.

— Estou certa de que essa pausa era para que nós descansássemos. - Falei debochada ao sentir as mãos de Sasuke pressionando minha cintura. - Você precisa relaxar, Sasuke.

— É uma das suas habilidades? - Questionou ele repentinamente.

— O que?

— Ser irritante. - Sasuke encostou sua testa na minha e me encarou com curiosidade. - Estou tentando não pensar no que vamos enfrentar e você acabou de tocar no assunto.

— Desculpe. - Murmurei e ele aquiesceu levemente. - Eu...

— Só me beije, Sakura. - Sasuke disse calmamente. - Decidiremos o resto depois. - Enquanto o Uchiha me beijava, eu procurei deixar meu corpo completamente relaxado e aproveitar o momento como se fosse o último.

O barulho de pássaros chamou minha atenção e o cântico suave que o acompanhava fez com que eu sentisse um leve aperto em meu coração.

— Algum problema?

— Não, são só pássaros. - Falei afastando meu rosto do de Sasuke para poder observar um Rouxinol azul pousando em um galho de uma árvore à nossa frente. - Aquilo é...

— Um Rouxinol. - Sasuke completou olhando para o pequeno pássaro e para mim em seguida. - Sakura?

— Eles não são comuns por aqui. - Murmurei ainda olhando para o Rouxinol. Ele pareceu perceber o meu olhar e alçou voo partindo como se nunca tivesse estado ali. - Não é nada. - Acrescentei puxando o rosto de Sasuke para que nós nos beijássemos novamente.

Nunca fui supersticiosa e sempre detestei os momentos em que alguma desses cânticos antigos retornavam para a minha mente com pretextos de que aquele poderia ser um sinal.

O rouxinol representava um laço intimo entre o amor e a morte.

 


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Notas finais do capítulo

Continua... Mereço reviews? LEIAM AS NOTAS INICIAIS! hahaha é importante.
Só para aqueles curiosos: O capítulo teve dois objetos bem simbólicos, vou colocar o significado de cada um deles pra vocês aqui:

Agerato (flor) significa:
purificação; pureza emocional

E o Rouxinol que dá nome ao capítulo significa:
 Rouxinol é um símbolo do amor e dos sentimentos, porém apresenta um íntimo laço entre o amor e a morte.

Espero que tenham gostado, deixem suas considerações aqui em baixo, vou amar lê-las e responde-las.
Beijão e feliz ano novo ♥