Chains escrita por Priy Taisho


Capítulo 43
Capítulo 42 - Aquilo que nasce do fogo deve retornar


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo reescrito em 05/08/2021.
Nem acredito que falta pouco para o fim ❤️
Boa leitura.



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Aquilo que nasce do fogo deve retornar

O homem repetiu a pergunta mais uma vez e Tenten manteve as mãos sob sua cabeça, como se sua vida dependesse daquilo. Ela sabia que tinha proferido um feitiço e tinha certeza de que somente ele poderia livrá-la caso precisasse.

Os olhos do homem brilharam e ele inclinou o rosto para a esquerda,  como se compreendesse o que estava acontecendo. A presença dele a impedia de agir naturalmente, porque humanos não estavam acostumados com aquela explosão de poder...Não estavam acostumados a lidar com seres com presenças tão desafiadoras quanto ele.

— Que cavaleiros? – Questionou a Mitsashi ao sentir que o ar tornava-se menos denso e que as dores em sua cabeça haviam diminuido, ao menos o suficiente para que ela pudesse se comunicar. – Quem é você?

— Aqueles que irão empunhar minhas armas, meus cavaleiros. – Respondeu ele ainda a fitando intensamente. O calor no quarto parecia ter aumentando desproporcionalmente e Tenten sentia que sua pele estava ficando pegajosa por conta do suor. – Invoca-me pelo nome e não sabe quem sou, criança tola.

Tenten abriu a boca para protestar, mas não conseguiu dizer nada. Se fosse Neji, certamente que ela teria uma resposta para dar, mas com aquele homem parado em sua frente, ela tinha medo de que ele se irritasse e a queimasse viva.

— Sou Ignis, demônio e senhor do fogo.

Agora que ele tinha se apresentado todo o escarcéu de chamas fazia sentido. Quanto tempo demoraria até alguém perceber que o quarto dela estava pegando fogo?

— Um demônio?— A pergunta retórica da garota soara em sussurro. As coisas pareciam ficar pior a cada segundo. — Eu...— Conteve suas palavras com medo de que ele ficasse irritado.

— Onde estão meus cavaleiros? – Questionou ele mais uma vez e ela estremeceu ao ver os olhos dele se estreitarem.

— Quem são seus cavaleiros?

— Diga-me você, Cigana.

Tenten passou a língua por seu lábio inferior e o mordeu confusa.

— Eu não sei.

Ignis a encarou em silencio. Continuava a analisá-la com seus olhos escarlates, provocado arrepios na garota que estava repleta de gotículas de suor. De fato o ambiente não era propício para que ele tivesse sido invocado, suas chamas estavam sedentas para consumir cada um dos móveis do quarto.

— Me invoque novamente quando tiver meus cavaleiros. – O homem falou em tom de repreensão e Tenten aquiesceu incerta. – Traga-os até mim ou queimarei tudo. – Ordenou ele e seus olhos faiscaram. — Incluindo a você.

Tenten tinha certeza de que não tinha piscado, mas em um segundo as chamas desapareceram e ela pode constatar, feliz, que nada havia sido incendiado. Um contorno borrado e cinzento estava contra a porta, uma pena vermelha estava no chão exatamente onde Ignis estava segundos antes.

Ela não fez menção de levantar. Tinha certeza de que suas pernas estavam bambas, então limitou-se a pressionar o livro que havia caído próximo de si com força até que estivesse pronta para levantar.

Tinha sido real?

Folheou o livro até a última página e o feitiço continuava lá. A marca na porta, a pena no chão. Tinha sido real.

Passou horas olhando para o livro e lembrando do que tinha acontecido. A exigência de Ignis retumbava em seus ouvidos e ela não tinha ideia do que fazer. Batidas na porta fizeram com que ela se libertasse do transe em que estava.

Neji adentrou o quarto franzindo o cenho ao ver a expressão perturbada da garota. Ao fechar a porta notou a marca contra a madeira e olhou para Tenten esperando que ela lhe desse alguma explicação.

— É uma longa história. – Murmurou a Mitsashi olhando fixamente para o Hyuga.

— Temos tempo.

X-X-X

 Após os ataques, uma convocação para o conselho de guerra era uma das ações mais óbvias a serem tomadas. Ainda assim, era frustrante para Sasuke precisar lidar com aquele tipo de burocracia quando sua mente estava abarrotada de outros problemas.

Os representantes dos demais povos não pareciam tão incomodados quanto ele.

— Dois de nós fomos atacados por Orochimaru, é hora de agir! – Sasuke exclamou batendo as mãos contra o tampo da mesa. – Temos que tomar a decisão agora.

— Eu não tive nenhum problema direto com Orochimaru. – Lucian falou com escárnio. Ele mantinha o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo e a barba rala. – Não posso aliar-me a algo que não tenho motivos, preciso pensar bem.

— Seu clã foi o primeiro a ser atacado, Lucian. – Konan rebateu cruzando as mãos sobre a mesa. O cabelo lilás estava solto e caia por seus ombros, ela tentara disfarçar o arroxeado que estava em seu pescoço. – Tenho certeza de que se lembra de Cassandra, não é? Sua irmã que...

— Cale a boca! – Lucian rosnou exibindo seus caninos, os olhos cinzentos faiscaram ao ver que Yahiko, um dos protetores de Konan, estava com a espada em mãos o fitava de forma perigosa. — Não ouse falar da minha irmã!

— Sua irmã é uma peça fundamental para que esse ataque ocorra, Lucian. – Hiashi disse calmamente passando seus olhos por todos os que estavam na mesa e os focando no Valerius que se recompôs. – Como o jovem Uchiha disse, Orochimaru conta com a alcatéia de sua irmã para desestabilizar os acordos.

— Até o momento estamos devolvendo ataques aos lobos que invadem o nosso território. – Fugaku pronunciou-se pela primeira vez. Ele estava na cabeceira da mesa, Sasuke estava em pé ao seu lado esquerdo e Itachi ao direito. – Quando a guerra começar, não vou negar que os reconheceremos como inimigos. O risco de extinção do clã de lobos que está aliado a Orochimaru é grande.

— Sakura esteve em contato com a alcateia. – Sasuke falou ao ver que Lucian iria protestar mais uma vez. – Cassandra está ao nosso lado, mas não pode fazer nada, pois Orochimaru possui a Pedra da Lua.

— É um mito.

— Achei que já tínhamos concordado que a Pedra realmente existe, Lucian. – Konan revirou os olhos para o lobo. – Há registros históricos sobre ela, diversos livros que exemplificam seu uso em poções, é verídico que é um instrumento que detém poder. Incrivelmente raro, porém, existe. Fechar os olhos para isso por conta de suas crenças pessoais não ajudará em nada.

— O que pretende fazer então, Uchiha? – Lucian perguntou voltando-se diretamente para Sasuke que observava tudo em silencio. – Esperar que ataquem o reino dos bruxos? É o único que não recebeu nenhum ataque. – Olhou de relance para Hiashi e Hinata, que estava ao lado do patriarca em silencio. – As Fadas foram roubadas, vocês confrontados diretamente, minha irmã está sob controle daquele verme.

— Estamos em votação, mas posso afirmar que nossa solução prévia é de que nós deveríamos atacar Orochimaru antes que ele possa revidar com força total. – Sasuke olhou para cada um dos presentes com seriedade. – Temos indícios de que ele está reunindo todo e qualquer ser que se beneficie com a queda dos que estão nessa sala.

— Se estivermos em menor quantidade não poderemos conter grande parte dos estragos. – Itachi disse e o irmão aquiesceu em concordância. – Mas não dá pra descartar a possibilidade de que Orochimaru possa esperar por um ataque. É arriscado levarmos homens para uma invasão e deixarmos Konoha vulnerável.

— Estive conversando com Sasuke e entramos em um acordo. – Hinata pronunciou-se pela primeira vez. A Hyuga acompanhava Hiashi na maioria das reuniões já que Neji estava ocupado demais para acompanhar o pai. – Nós Hyugas poderemos criar barreiras ao redor de Konoha, já que ela é o alvo principal de Orochimaru. Se vocês permitirem, Konan, desejo acesso aos seus livros e ao conhecimento que vocês Fadas possuem, prometo que buscarei apenas sobre barreiras e nada mais. – Ela lançou um sorriso para Konan. – Não garanto que elas irão deter Orochimaru, mas certamente o atrasarão até que as tropas se organizem.

— Como possui tanta certeza de que Konoha é o alvo principal? – Konan questionou enquanto ajeitava sua postura na cadeira. Continuou olhando para Hinata com seus olhos lilases repletos de curiosidade. – Não me parece que é por ser uma das maiores potencias de nosso mundo.

— Se Konoha for tomada por Orochimaru será questão de tempo para que ele conquiste os outros reinos. – Sasuke falou ignorando o barulho de escárnio que Lucian fez. – E temos motivos para acreditar nisso.

— E quais são? – Konan instigou estreitando os olhos levemente. 

— Sakura Haruno e Tenten Mitsashi. – Sasuke pronunciou os nomes em um tom gélido. – Se Orochimaru colocar as mãos em ambas, conseguirá recuperar seu poder. - Ele fez uma pausa e observou a reação dos demais. - O feitiço de selamento está ligado as duas.

— Então devemos eliminar uma delas – Hiashi falou e Sasuke olhou para ele com advertência. – Assim, o risco de Orochimaru conseguir seu poder total torna-se nulo. Proponho uma execução rápida e que o sacrifício seja reconhecido por todo o povo.

— Não sacrificaremos ninguém, Hiashi. – Sasuke respondeu-o severamente. Endireitou a postura e cruzou os braços atrás de suas costas. Sua expressão continuava compenetrada e o tom de voz que ele usava reivindicava autoridade. – Precisamos de Tenten e...

— Então a garota Mitsashi seria a primeira a ser sacrificada caso necessário? – Konan perguntou em seu típico tom de voz curioso. Ela parecia alheia a tensão que seu protetor, Yahiko, sentia. – A garota pode ser patética, mas não podemos esquecer do sangue que corre nas veias dela. – Os olhos lilases da Fada faiscaram repletos de maldade. Ela sabia que Sasuke nunca sacrificaria Sakura.

— Não sacrificaremos Tenten. – Hinata interveio ríspida. Os dedos dela apertaram-se contra a cadeira que Hiashi estava. – Se houver algum sacrifício, que seja da parte da Haruno. Já ficou bem claro para todos que ela continuará voltando como uma enfermidade. – Declarou e seus olhos estavam travando uma batalha silenciosa com Sasuke.

— Não haverá sacrifícios. – O Uchiha mais novo repetiu pausadamente. Usava de todo o seu autocontrole para não arrancar a cabeça daqueles que propunham o sacrifício de Sakura. Ele não iria perdê-la. Nunca mais. – Temos que minimizar a quantidade de mortos, não aumentá-la.

— Se a existência de ambas é um risco, devemos exterminá-lo. – Lucian disse mordaz e um sorriso ladinho surgiu em seus lábios exibindo as presas sobressalentes. – Estou disposto a ouvir o que tem a dizer, Sasuke. – Coçou a barba rala com o dedo indicador e em seguida apoiou o queixo nas mãos, uma mecha do cabelo castanho maltratado caiu sobre seus olhos e isso lhe dera um ar selvagem, além de desvairado. - Mas lembre-se de que esse conselho também tem poder decisivo sobre tais questões.

— Não enquanto elas estiverem sob a minha proteção — Sasuke replicou em um rosnado. Lucian sorriu, mas nada disse. — Como Itachi disse, atacar Orochimaru e deixar Konoha vulnerável não é um plano seguro.

— É claro.

— Mas não aceitarei a ideia de que nós devemos esperar por um novo ataque — Sasuke explicou endireitando a postura. — Proponho retaliação. Para trazermos o clã de Cassandra para o nosso lado. 

— Se teremos a oportunidade de destruí-lo, por que não aproveitá-la? – Konan perguntou franzindo o cenho; ao seu lado, a postura de Yahiko parecia relaxada, embora o mesmo continuasse atento à qualquer movimento brusco dos outros presentes na sala. – É insensato não aproveitar essa chance.

— O que você entende sobre táticas de guerra? É apenas uma rata de biblioteca...— Lucian questionou sarcástico e Konan revirou os olhos. – Continue, garoto.

— O plano é bem simples... — Itachi que havia repassado cada uma das etapas com Sasuke e Shikamaru durante a noite passou a contar os detalhes para os conselheiros, atento às mínimas reações.

Como dito pelo Uchiha mais velho, em teoria, o plano de invadir o território de Orochimaru quando ele menos esperasse era simples. A descrição de suas ações, no entanto, dependeriam do quanto eles tinham de conhecimento sobre a sede dos lobos.

 

Invadir, destruir e bater em retirada. O plano era estruturado por esses três pilares e tinham como regra máxima evitar qualquer confronto direto com Orochimaru.

— Teremos conflitos, isso é algo que não pode ser evitado, mas Orochimaru terá sofrido um desfalque. Com os Lobos do Norte ao nosso lado, teremos mais aliados para a eventual batalha que irá ocorrer aqui em Konoha. — Sasuke acrescentou sob o olhar atento dos demais. — A cidade será evacuada daqui a três dias, meus homens estão organizando os esconderijos subterrâneos, a Capital será transformada em uma área de guerra.

— Trazer Orochimaru até Konoha não é perigoso? – Hiashi perguntou em um tom baixo. Ele olhou para Fugaku, pois não reconheceria Sasuke como líder até que ele tomasse a coroa de seu pai. – Fugaku, não acha precipitado que essa batalha ocorra em Konoha? Os confrontos em sua própria terra...

— Tem razão, Hiashi, é perigoso. – Fugaku concordou com um tom de voz calmo. – Porém, com você mesmo disse, é minha terra. Nós a conhecemos como ninguém, fomos criados aqui. Seguindo o raciocínio de Itachi e Sasuke, te faço uma pergunta, meu amigo: O que dá maior vantagem quando não pode ser subestimado o número de inimigos?

— O campo de batalha.

— Enquanto nós estaremos em território inimigo, a proteção dentro de nossas terras será reforçada. Não baixaremos a guarda até que Orochimaru ataque. – Sasuke continuou após a resposta de Hiashi. – E isso pode acontecer tanto simultaneamente, quanto quando retornarmos. 

— É claro que nós temos que nos aliar para conseguirmos vencer essa batalha. – Konan falou rompendo o silencio que havia se instaurado no recinto. – Os Uchihas possuem meu apoio. – E ali estava o primeiro voto para o que Sasuke estava propondo.

— Considero arriscada a ideia de trazer Orochimaru até aqui. – Hiashi pronunciou-se em seguida, os olhos prateados apáticos.- Mas tenho acompanhado as decisões dos Uchihas por muitos séculos. Vocês possuem o meu apoio.

Todos voltaram seus olhos para Lucian, que continuava a coçar a barba rala com o dedo indicador.

Cassandra e ele não tinham um relacionamento bom como irmãos, podia contar muitas cicatrizes em seu corpo que haviam sido feitas pela líder dos lobos do Norte; eles se envolviam em muitas guerras por território, uma rixa criada desde seus ancestrais e agiam como dois seres que não tinham nenhuma similaridade. A decisão no conselho em relação aos Lycans não dependia do acordo de ambos para um único voto, eram individuais. A morte dela facilitaria para que os lobos após anos tornassem-se um só.

Cassandra era sua única família viva.

— Estou disposto a apoiar vocês, Uchiha. – Lucian falou erguendo os olhos para fitar Sasuke. –  Irei ajudar no que for preciso.

— Tem minha palavra.

— Vocês Uchihas possuem o meu apoio.

X-X-X

A brisa bagunçava meu cabelo e fazia com que alguns fios caíssem sobre os meus olhos. Eu me livrava dos fios incomodada e desejei mais do que nunca encontrar algo para prendê-lo.

Estava sentada desde o fim da tarde no beiral da janela do meu quarto. Ele era grande o suficiente para que eu me sentasse e permanecesse com minhas pernas cruzadas caso desejasse. De onde eu estava conseguia ter uma visão privilegiada do campo de treinamento.

Os soldados estavam treinando incansavelmente desde o amanhecer. As batalhas ocorriam ora em dupla, ora com grupos gigantescos. Eles eram instruídos a atacar como se a vida deles estivesse em risco e defender-se de tal maneira.

Estava me sentindo tão apática.

Não sentia nada sobre Sasuke e pela primeira vez, me senti como se estivesse sozinha. Constatar isso me deixou irritada. Tão irritada quanto eu me sentia ao ficar naquela casa em que Sasuke me mantinha antes de me arrastar até o colégio de Tsunade.

Inclinei-me para analisar a altura entre o beiral e o chão. O vento agitou meu cabelo, meu corpo retesou-se preparando-se para o impacto, a adrenalina pulsou pelo meu sangue, meus pés bateram contra o chão, meus joelhos cederam e eu rolei para o lado, colocando-me de pé como se nada tivesse acontecido.

Aproximei-me do campo de treinamento com pressa. O barulho dos gritos, das espadas chocando-se uma com as outras, de peles sendo cortadas por laminas pareciam uma sinfonia aos meus ouvidos.

Poucas pessoas dentro do castelo me conheciam. Eu não tinha sido apresentada como pacto de Sasuke, muito menos membro da família Haruno para nenhum dos soldados. Oficialmente eu era só mais uma estranha que estava perambulando.

— Quero uma espada – Pedi parando ao lado de uma mulher loira. Os olhos dela estavam fixos no campo de batalha, ela trajava uma armadura com o emblema dos Uchiha semelhante a dos soldados, mas a tonalidade era diferente. Vermelha como vinho. – Sou Sakura Haruno. – Estendi minha mão para ela assim que tive sua atenção.

— Temari Nara, Tenente do exército de Konoha. – Ela apertou minha mão firmemente e a soltou em seguida voltando a olhar para os soldados. – A vi durante a invasão ao lado de Sasuke Uchiha. Devo te considerar parte do exercito real ou da realeza?

— Por enquanto, uma guerreira — Respondi e ela aquiesceu. — Nenhum sinal dos fugitivos?

— Não há nada que possamos fazer...Por enquanto — Temari respondeu-me com otimismo. — Temos que ficar mais fortes e atentos. — Ela disse antes de se afastar de mim.

Olhei para os guerreiros e notei a presença de Gaara. Ele usava uma armadura da mesma tonalidade que a de Temari. O cabelo ruivo despenteado, uma espada empunhada enquanto ele se defendia e bradava instruções para os soldados.

— Isso é tudo o que eu consegui para você agora. – Temari chamou minha atenção e me jogou um bastão de madeira semelhante a um cajado. Encostado no chão ele ia até a altura do meu maxilar.  – AZUL o alvo é rosa! – Gritou ela repentinamente e eu só tive um instante para perceber que os soldados estavam com um lenço enrolado ao redor do braço. Lenços com cores variadas, lenços que determinavam os alvos e os atacantes.

Os soldados investiram contra mim e eu me esquivei da forma que pude. Bloqueei os ataques com o bastão, mas não a tempo o suficiente para evitar um corte em meu braço esquerdo.

Eles continuavam avançando contra mim e eu os desarmava como podia, toda vez que usava a ponta do bastão para dar um ataque direto, conseguia sentir o corte de alguma lamina por alguma parte do meu corpo. Acertei a parte intima de um dos soldados que cortou minha bochecha e antes que ele pudesse reagir acertei seu maxilar. Desarmei outro e chutei seu tórax, antes de ser jogada no chão por um murro que me pegou desprevenida.

— AZUL o alvo é VERMELHO! – Gritou Temari repentinamente e os ataques a mim cessaram como mágica. Enquanto eu me levantava acabei rindo ao constatar que meu lábio estava sangrando. – Até que você conseguiu se defender bem.

Olhei para o meu corpo e suspirei ao constatar que minha roupa estava cheia de cortes, assim como meus braços. O bastão estava repleto de fissuras, porém parecia longe de partir-se no meio.

— Por favor, não jogue seu exercito contra mim. – Pedi bem humorada voltando minha atenção para os soldados. Eu tinha sido arrasada e nem de longe havia levado a melhor sobre o soldados, mas ainda assim meu humor tinha melhorado. Eu me sentia viva.— Eles são incrivelmente atentos. – Murmurei ao ouvir Temari dando coordenadas sobre cores novamente.

— Esses homens passaram metade de suas vidas treinando.

Gaara vinha se aproximando de mim com um sorriso pequeno em seus lábios. Sua espada estava embainhada e seus olhos verdes passearam pelos meus ferimentos que já se curavam. Não havia nenhum tecido amarrado em seu braço, embora ele estivesse lutando contra os soldados há poucos instantes. – Não esperava te ver por aqui.

— Estou com a cabeça cheia. – Confessei apoiando o bastão no chão. – Precisava me distrair.

— Antes você se distraia indo até o cinema ou... Procurando por confusão.

— Acho que nem tudo mudou. – Ri baixo e apoiei meu corpo no bastão que Temari havia me dado. Gaara riu, ele sabia que eu ainda continuava atrás de confusão mesmo em outro mundo. – O que acha de me ajudar a me distrair? – Propus erguendo o bastão e os olhos dele se estreitaram.

— Já conheço seus movimentos de luta, Sakura. – O Sabaku falou sacando a própria espada. Temari desviou os olhos dos soldados para nos fitar com interesse. – E você está em desvantagem.

Desviei quando Gaara avançou e antes que eu pudesse atacá-lo, tive que interceptar mais um de seus golpes. A espada dele estava fincada no meio do bastão, nos encaramos por um curto momento e eu torci meu corpo para a esquerda, acertando um chute em seu abdômen. Ele segurou minha perna e com a mão que segurava a espada investiu novamente, ao defender-me desse golpe com o auxilio do bastão, a madeira rompeu-se no meio e eu não contive um palavrão.

Gaara torceu minha perna e eu acertei seu ombro com a metade de madeira que estava na minha mão direita, ele me soltou e seus olhos fixaram-se por um momento em minhas armas estupidamente ridículas. Consegui bloquear um ataque por pouco, a lamina da espada dele cortou minha bochecha antes que eu me agachasse, Gaara desviou da rasteira que eu tentei lhe dar e chutou meu rosto, fazendo com que eu rolasse para perto de onde Temari estava.

Joguei os dois pedaços de madeira no chão e passei a mão por meu nariz que tinha começado a sangrar. Avancei contra Gaara e agarrei sua espada pela lamina, acertei meu cotovelo em sua cara quando ele tentou me impedir e ele chutou a parte de trás da minha perna, a espada tinha escapado das mãos dele e caiu no chão.

Ele não fez menção de querer pega-la, apenas desferiu um gancho de direita em meu gosto e eu me defendi com os braços. Gaara chutou minhas costelas e eu ofeguei, segurei seu punho quando ele fez menção de me socar novamente e torci seu braço, o imobilizando. Logo eu estava dando uma chave de pescoço nele que rapidamente inclinou seu corpo para frente e usando força jogou-me no chão.

Grunhi e chutei seu joelho, ele se afastou cambaleante, a perna provavelmente estava doendo e eu me levantei. Corri até ele e o acertei com um soco; a cabeça dele pendeu e logo seu rosto foi de encontro com o meu joelho, derrubei Gaara e segurei seu pescoço sem apertá-lo e logo um sorriso formou-se em meus lábios.

Estávamos empatados.

— Sempre tenha uma carta na manga – Disse Gaara como um verdadeiro instrutor ao afastar a adaga de prata que estava contra o meu pescoço. — Até que não foi ruim— Comentou enquanto nós nos levantávamos.

— Vou me lembrar disso da próxima vez. – Avisei batendo as mãos em minhas roupas para tentar tirar o excesso de sujeira. Meu nariz havia parado de sangrar, mas meu rosto devia estar completamente sujo.  – Eu acho que já tive distração o suficiente por hoje. – Murmurei inclinando meu corpo e apoiei minhas mãos em meus joelhos. Apesar de não ter mais nenhum ferimento, minha pele ainda estava com resquícios de sangue.

— Quando precisar estarei aqui. – Gaara falou voltando seu olhar para os soldados que agora descansavam.

— Sakura!

Olhei para em direção da voz e vi Tenten correndo na direção do campo de treinamento com um ar de urgência. Neji estava logo atrás dela, mas caminhava normalmente com os braços cruzados, parecia incomodado com a pressa que Tenten estava. Corri para alcançá-la e ela a principio preocupou-se em recuperar o fôlego.

— Ainda... Ainda bem que eu te encontrei! – Disse a Mitsashi ofegando. Ela apoiou as mãos nos joelhos e respirou fundo, o rosto estava vermelho e o coque que estava em seu cabelo desfazia-se. – Eu encontrei um... Droga, o que aconteceu com a sua cara?

— Nada. – Respondi esfregando as costas da minha mão em meu rosto para tentar limpa-lo. – O que você encontrou? Está tudo bem? – Franzi o cenho e ela ergueu a mão pedindo por um tempo. Notei que ela estava segurando um livro de capa marrom, o cheiro que emanava dele me era familiar.

— Tenten invocou alguma coisa. – Neji falou quando já estava próximo o suficiente. Seus olhos perolados desviaram-se para a garota que ainda não estava apta para conversar. – Não precisava ter corrido tanto. – Acrescentou ainda com os olhos pousados em Tenten.

— Um demônio, um demônio Sakura! – Tenten endireitou a postura e eu tenho certeza de que continuei com uma expressão confusa. – Ele tem uma espada e um arco e flecha, deve ter uns três metros, usa uma armadura preta como carvão e... Fogo, muito fogo. – A Mitsashi gesticulava com as mãos na tentativa de enfatizar o que estava dizendo. Não entendi o que ela estava querendo dizer. – O nome dele é... I, I alguma coisa, merda, Neji, qual o nome dele?

— Ignis. – Neji respondeu olhando para mim pela primeira vez. 

— Ignis, o demônio e senhor do fogo. – Ao ouvir o nome que Tenten pronunciou minha pele se arrepiou e eu senti como se alguém estivesse atrás de mim. Ela pareceu captar algo em minha expressão. — Você o conhece?

— Não, certamente que não. – Respondi coçando minha nuca enquanto tentava me livrar da sensação de ter alguém atrás de mim. Virei-me sutilmente para constatar que não havia nada. – Mas já ouvi falar de algo semelhante – Confessei. - Não sei vocês, mas estou com uma sensação estranha. – Murmurei olhando por cima do meu ombro novamente antes de observá-los.

— Que tipo de sensação? – Tenten perguntou olhando para trás de mim na tentativa de ver algo. – Está um pouco frio, mas fora isso, nada. – Ela esfregou as mãos nos braços e eu desviei os olhos para o céu. Estava escurecendo e o melhor seria voltar para dentro do castelo.

— A sensação de que tem alguma coisa nos espreitando. – Olhei para Neji e ele aquiesceu com um breve aceno. Então ele também estava tendo essa sensação? – Vamos voltar para o castelo e nos encontramos na biblioteca. – Propus e mordi meu lábio inferior. – Chamem Shikamaru.

— Ele é meu marido, posso encontrá-lo. – Temari falou aproximando-se de nós com Gaara ao seu lado. Por um momento, eu tinha me esquecido da presença deles. – O ponto de encontro é a biblioteca? – Confirmei com um aceno de cabeça e ela disparou em direção ao castelo.

— A minha presença e a de Ino são requisitadas? – Gaara perguntou arqueando as sobrancelhas.

— Isso não deveria se transformar em uma reunião. – Murmurei pensativa. – Em vinte minutos, na biblioteca. – Senti a impaciência que vinha de Sasuke e fiquei surpresa. Ele estava silencioso desde o nosso último encontro.

Ao voltar para o meu quarto, não me surpreendi ao encontrar Sasuke sentado sobre uma cadeira com uma expressão nada amigável. Ele trajava roupas escuras, como sempre e seus olhos fixaram-se em mim com irritação, estreitaram-se ao ver os resquícios de sangue em minha pele.

— O que diabos aconteceu com você? – Questionou em um tom baixo, carregado de frieza.

 Puxei uma lufada de ar por meus lábios e me limitei a fechar a porta do quarto. 

Olhei para meu reflexo rapidamente quando passei em frente a penteadeira. Como eu tinha previsto, minhas roupas estavam repletas de terra e sangue, assim como minha pele. Em meus cabelos haviam pedrinhas e algumas folhas, meu rosto manchado com o sangue seco que tinha escorrido de meu nariz.

Abri o roupeiro a procura de algo que me agradasse. Soltei um suspiro ao ver a quantidade de vestidos a qual eu não estava habituada a usar novamente, eles eram longos, grande parte deles volumoso e com seda, colocados de forma cuidadosa dentro de sacos plásticos transparentes. Separei minhas roupas e as deixei sobre a cama, sem olhar para Sasuke.

— Eu te fiz uma pergunta, Sakura.

— Estava treinando — Respondi sem olhá-lo. — Precisava por a cabeça no lugar. Só isso.

 – Sakura, olhe pra mim. – Sasuke segurou meu braço com delicadeza e eu desviei meu olhar para ele. — Está brava comigo?

— Não.

— Então qual o problema? Por que está me evitando?

 — Você também me evitou — Acusei e a expressão dele vacilou. Com os olhos estreitos e os lábios entreabertos, o Uchiha me encarou esperando por mais acusações. — Esteve escondendo suas emoções por todo esse tempo...

— Estive irritado — Sasuke confessou. — Com toda essa situação, com o conselho...Não quis que você...

— Não quero mais discutir — Baixei a guarda e sorri sem humor algum. — Somos os únicos em que podemos confiar de olhos fechados, não é bom que fiquemos fora de sintonia — A ironia em minhas palavras o fez rir baixo.

— Sakura... — Ele baixou os olhos e aquiesceu. A exaustão em seus ombros parecia ainda mais pesada, as bolsas sob seus olhos mais escuras.

Sasuke ainda estava com o olhar baixo quando eu o abracei. Ele retribuiu  com força e encaixou seu rosto na curva de meu pescoço. Lágrimas escorreram por meus olhos, mas não era eu quem queria chorar. Ergui minha mão e acariciei seus fios negros, meu queixo estava encostado em seu ombro e apesar de tentar me controlar, eu continuava a chorar silenciosamente.

— Por que está chorando? – Sasuke murmurou com os lábios contra meu pescoço.

— Porque você quer chorar – Ele se afastou de mim para poder me observar, suas mãos continuavam em minha cintura. – Por que tudo entre nós tem que ser tão intenso? – Sussurrei mantendo meus lábios entreabertos.

Os olhos dele pousaram em meus lábios e ele começou a se aproximar, fechei meus olhos ansiando pelo beijo. Sasuke chupou meu lábio inferior e uma de suas mãos subiu por minhas costas, segurando minha nuca antes de entrelaçar seus dedos em meu cabelo.

Beijou-me de forma lenta, sua língua explorando minha boca e acariciando a minha enquanto a mão que estava em minha cintura adentrava minha blusa e acariciava meu seio. Toda vez que Sasuke me tocava, era como se pequenas descargas elétricas percorressem meu corpo. Eu me sentia preenchida e... Amada. Dizer para mim que eu não o amava era mentir, o amor que eu sentia por Sasuke era intenso, era forte, resistente.

— Eu preciso de um banho. – Murmurei divertida quando nos separamos. – Você deve gostar muito de mim para me beijar desse jeito. – Ele fez menção de me beijar novamente, mas eu virei o rosto. – Sério, eu preciso tomar um banho e ir para a biblioteca.

— O que vai fazer na biblioteca? – Ele questionou contrariado, mas tirou as mãos de minha cintura e não escondeu seu interesse quando me viu tirar a roupa. – Sakura... – Murmurou em um tom malicioso que combinava com seu olhar.

— Você já soube disfarçar seu interesse, Sasuke. – Livrei-me da calça que estava aos frangalhos e caminhei até o banheiro tendo certeza de que Sasuke me seguia. – Tenten descobriu algo novo – Contei partindo direto para o chuveiro. Sasuke fechou a porta e escorou-se nela antes de cruzar os braços. – Um demônio de fogo chamado Ignis, ela começou a me falar sobre ele, mas eu não me senti confortável em ouvir isso fora do castelo. – Esfreguei um sabão em meu rosto e em seguida joguei água, antes de continuar a lavar meu corpo.

— Por quê?

— Já teve a impressão de que tem alguém à sua espreita? – Não esperei por uma resposta para minha pergunta retórica. – Quando Tenten pronunciou o nome dele a sensação que eu tive foi de que tinha alguém colado em mim. – Olhei para Sasuke por um momento e ele estava com uma expressão compenetrada. – Não sei o que esperar.

Vesti-me com rapidez e penteei meu cabelo molhado, o deixando solto. Novamente eu estava usando calças pretas, botas de cano baixo marrons e uma blusa de mangas longas verde clara. Ino tinha feito o favor de me dar algumas roupas suas, incluindo algumas botas.

— Onde está sua mãe? – Perguntei quando nós saiamos do quarto. Sasuke estava quieto desde nós saímos do banheiro. – Não a vi desde que voltei.

— Ela vive perambulando o castelo. – Sasuke respondeu-me e em seguida colocou a mão na base de minhas costas enquanto nós atravessávamos o corredor que nos guiaria para a escadaria principal. – Vocês devem estar se desencontrando. – Acrescentou em um tom baixo.

— Tem certeza?

— Não – Sasuke se contradisse assim que eu pronunciei minha pergunta. – Ela tem cuidado dos abrigos, mas isso não faz com que o que eu tinha dito antes seja mentira.

— Por que ela está responsável pelos abrigos? – Questionei olhando para ele de esguelha antes que nós começássemos a descer as escadas. – Mikoto é a rainha, deveria ficar dentro das proteções do castelo. Fugaku não ficou irritado?

— E quem disse que ele conseguiu fazê-la trocar de ideia? – Sasuke deu um pequeno sorriso e parou por um momento para analisar o quadro da mãe que ficava no salão de entrada. Mikoto estava com uma joia vermelha no pescoço, o vestido vinho de veludo tinha detalhes dourados nas mangas e ela sorria minimamente. – Não acho que ninguém seria mais indicado do que ela para esse papel. Como você disse, minha mãe é a rainha e por isso ela enxerga a todos como se fossem seus filhos.

— Ela é maravilhosa.

Quando nos aproximamos da biblioteca escutamos a gargalhada de Naruto. O Uzumaki estava de costas para a porta e gesticulava com os braços animado. Tenten estava sentada sob o tapete e colocava as mãos sobre a boca para conter as risadas, Shikamaru conversava com Neji, Gaara e Ino assistiam Naruto, a Yamanaka abria a boca pronta para dizer algo, mas desistia.

— Naruto jura que isso é um ninja — Ino fez questão de explicar ao notar meu olhar curioso. — É bem parecido com um pássaro pra mim.

— Um pavão? – Apesar de ter sugerido uma resposta para Naruto, a voz de Sasuke estava séria, assim como seu semblante. O loiro virou e seus olhos azuis estavam arregalados, ele endireitou os braços e os deixou ao lado do corpo antes que seus lábios formassem um sorriso sem graça. – Estou curioso, Naruto. – Um sorriso de canto surgiu nos lábios de Sasuke e ele arqueou as sobrancelhas lançando um olhar desafiador para Naruto.

— Eu desisto de brincar de adivinhações com você, Sasuke. – Naruto disse sem deixar-se intimidar. A dúvida geral era se algo do tipo já havia acontecido em algum momento. – E não é um pavão!

— Um avião?

— NÃO!

Naruto e Sasuke começaram a debater sobre o que o Uzumaki estava imitando e eu deixei que meus olhos vagassem pela biblioteca. Fazia muito tempo que eu não entrava nela, cortinas de veludo vermelhas cobriam as janelas, estantes magníficas preenchidas com quantidades imensuráveis de livros, alguns deles mais velhos do que o próprio castelo.

Ainda haviam almofadas no chão, embora houvessem mesas e cadeiras, o tapete era felpudo e parecia extremamente confortável. Fui atingida por uma onda de nostalgia. Eu não pisava na biblioteca desde a noite em que tinha sido condenada como uma traidora. Desde o dia em que fui condenada a queimar.

— Sou um NINJA! – Naruto falou frustrado e as risadas de Tenten aumentaram. – O que foi? Eu estava correndo como um ninja!  Isso é um pássaro. – Ele ergueu os braços para cima. – Isso é um ninja. – Em seguida colocou os braços para trás.

— Você parece pronto para decolar. – Sasuke provocou e Naruto começou a resmungar contrariado, algo sobre como haviam diferenças entre as duas coisas. — Está tudo bem?— Perguntou apertando a mão em minha cintura para chamar minha atenção.

Desviei os olhos das prateleiras e olhei para Sasuke, forçando um sorriso. Eu estava bem, mas conseguia ver Karin caída no chão e eu sobre ela, a ponto de tirar sua vida. Se eu me forçasse mais um pouco conseguiria sentir o ritmo acelerado do coração dela quando estava próximo de meus dedos, eu deveria tê-lo puxado.

— Me distraí com algumas lembranças. – Confessei tentando transparecer segurança. – Estou bem.

— Que tipo de lembranças?

— Do tipo que não vale a pena relembrar – Pisquei para ele e comecei a caminhar para mais perto de onde os outros estavam. Sentei-me no chão de frente para Tenten e aos poucos todos foram acomodando-se da melhor forma possível. – Olá Shikamaru, obrigada por ter vindo. – Cumprimentei o homem que sorriu brevemente para mim.

— Temari disse que era algo importante, o que houve? – Questionou ele franzindo o cenho.

— Tenten, pode nos contar tudo com o máximo de detalhes que você conseguir? – Desviei meus olhos de Shikamaru para observar a Mitsashi e só então notei que o livro estava em seu colo. Ela respirou fundo e concordou com um aceno de cabeça. – Obrigada. – Agradeci e senti a mão de Sasuke em meu ombro. Ele tinha puxado uma cadeira para sentar-se atrás de mim.

Tenten começou contando a partir do momento em que tinha ficado sozinha. Ela pareceu um pouco desconfortável em descrever o que tinha sentido e só revelou porque Shikamaru disse que era fundamental que nós tivéssemos conhecimento de tudo. Eu queria dizer que não era necessário, mas me reprimi. Quando ela pronunciou o nome do demônio novamente a sensação de que alguém estava atrás de mim retornou. E eu tinha certeza de que esse alguém não era o Sasuke.

— Ele está procurando por Cavaleiros? – Ino quebrou o silencio que havia se instaurado entre nós. Tenten aquiesceu com dois acenos de cabeça. – Que tipo de demônio é esse? – A loira voltou seus olhos para Shikamaru.

— Um raro. – Shikamaru respondeu levantando-se da cadeira e começou a andar de um lado para o outro. O cenho dele estava franzido, os olhos escuros fixos em algum ponto invisível. – Há um mito sobre demônios que necessitam de precursores para alcançar um objetivo, como uma ponte entre eles e o alvo. Não se enganem, eles são fortes mesmo que não tenham um elo, mas somente este é capaz de impulsionar e amplificar os seus poderes de maneira monstruosa.  – Ele passou a mão pelo cabelo e olhou para Tenten. – Qual foi a frase de invocação?

— Acorde e destrua, Ignis. – Tenten respondeu prontamente. Um arrepio percorreu meu corpo, mas eu o ignorei.

— Ignis, do latim para...

— Fogo – Neji o interrompeu ao dizer tal informação. – Acorde. Uma frase de invocação deve ser levada à sério. Até o momento em que ele foi invocado por Tenten, as possibilidades de que estivesse dormindo são grandes.

— Seguindo o raciocínio, a segunda palavra é destrua. – Shikamaru olhou para Tenten por um breve momento antes de continuar. – A questão que fica é: O que?

— Orochimaru. – Pronunciei-me pela primeira vez. – O alvo dele é Orochimaru.

— Como pode ter tanta certeza disso? – Sasuke perguntou-me e eu não me virei para encará-lo. — O alvo pode ser qualquer um.

— Não, não pode. – Discordei e fiz uma pausa antes de continuar. – Vocês estão deixando algo importante passar. Tenten encontrou o feitiço de invocação dentro do livro de Midori justamente quando sua raiva estava direcionada à Orochimaru. – O que eu disse não pareceu surtir efeitos em nenhum deles, então continuei. – Para selar Orochimaru, foram necessários dois demônios, você sabe disso, Shikamaru.

— Tenebris e Scintillans. – Shikamaru murmurou pensativo. – Os nomes deles significam Escuridão e Faiscante, Midori gostava de chamá-lo de luminosidade. Eles são demônios de julgamento.

— Usamos dois precursores. O sangue de Midori gerou um selo que invocou Scintillans. Ele desceu dos céus como um raio e segurava uma vasilha junto de um pincel, seu cabelo era branco e os olhos tão brilhantes como o raio que o invocou. – Todos, em especial Tenten, prestavam atenção no que eu dizia. Sasuke já conhecia a história e Shikamaru também, os demais não conheciam os detalhes. – O meu sangue invocou Tenebris, o oposto de Scintillans. Ele trazia consigo uma áurea carregada e agarrou Orochimaru, enquanto Scintillans desenhava os selos que lacraram os poderes dele; antes de o arrastarem com cordas envoltas em fogo para um buraco escuro. – Respirei fundo antes de continuar.  - Os selos foram criados com o meu sangue e o de Midori, nós fomos os precursores. Orochimaru o alvo, Midori determinou isso — A certeza em minhas palavras parecia afeta-los.

Tenten pressionou o maxilar e tinha uma expressão esquisita no rosto. As sobrancelhas estavam franzidas, as narinas infladas e eu tive a impressão de que havia algo em sua garganta que dificultava sua fala.

— Eu não sou a minha mãe. – Tenten disse soltando um suspiro frustrado antes de esfregar as mãos no cabelo. – Não sei se vocês perceberam isso, mas eu sou só uma garota que teve a vida colocada de cabeça para baixo a partir do momento em que pisei naquele maldito colégio!

— Você conseguiu invoca-lo. – Sasuke falou em um tom de voz ameno e Tenten olhou para ele surpresa. – Só precisa direciona-lo, Mitsashi. E talvez nem precise, se me lembro bem, ele solicitou por Cavaleiros que empunhem suas armas. – As bochechas de Tenten haviam corado e eu acabei dando um sorriso de canto ao notar que Sasuke, mesmo que não intencional, tinha influencia sobre ela. Ela o respeitava. – Cavaleiros comuns escolhem seus alvos.

— Esses vão usar as armas de satã, acha que vai ser fácil, Sasuke? – Naruto apoiou o queixo em sua mão esquerda. – Quero ser um deles.

— Você encara tudo como uma brincadeira, não é Naruto? – Gaara pronunciou-se lançando um olhar desafiador ao Uzumaki que endireitou a postura. – É claro que serei eu.

— Idiotas.  – Ino revirou os olhos entediada. – Vocês estão esquecendo de um fator fundamental.

— E qual é? – Naruto questionou virando-se para Ino com uma sobrancelha arqueada. – Você não parece saber muito, Ino. – Provocou e gargalhou ao ver a expressão irritada da Yamanaka.

— Ignis não vai querer que um de seus Cavaleiros seja um idiota igual a você, Naruto. – Rebateu a loira com petulância. Naruto abriu a boca para protestar, mas apenas conseguiu observar o sorrisinho vitorioso de Ino sem conseguir protestar. – Ele parece exigente demais.

— Ele não especificou nada. – Tenten contou atraindo as atenções para si novamente. – Só ficava perguntando de seus Cavaleiros, eu não faço idéia de como encontra-los.

— Não quero parecer precipitado, mas temos ótimos guerreiros, Sasuke. – Shikamaru disse olhando para o Uchiha, virei meu rosto para fitar sua reação, Sasuke ouvia o que Shikamaru dizia com atenção. – Ele saberá reconhecê-los de alguma forma.

— Vocês são o suficiente. – Neji falou antes que Sasuke se pronunciasse. – Não preciso enfatizar o óbvio, dois de vocês serão escolhidos. – Completou o Hyuga convicto.

— Como pode ter tanta certeza disso, Hyuga? – Sasuke apertou sua mão em meu ombro sutilmente. Ergui minha mão e coloquei sobre a dele.

— Tenten, como você mandou Ignis embora? – Shikamaru parou de ir de um lado ao outro e ficando assim de frente para a Mitsashi. – O que você disse?

Tenten coçou a nuca em um gesto nervoso e deu um sorriso sem graça.

— Ele foi embora porque quis. – Disse a garota em um tom incerto. – Não gostou que seus “Cavaleiros” não estivessem presentes. – Fez aspas com os dedos e em seguida uma careta. – Pode ser que ele seja um pouco temperamental... – Resmungou ela fazendo um bico.

— Vamos invoca-o. – Decretou Shikamaru convicto. – Assim se os Cavaleiros não forem um de vocês e se nós sobrevivermos poderemos pensar em um jeito de encontrá-los.

— Essa sua segunda frase deveria ser algum tipo de incentivo? – Arqueei minhas sobrancelhas e Shikamaru ergueu os ombros com descaso. – Querem fazer isso agora?! É loucura!

— Não sem a devida proteção. – Neji respondeu-me.

Após cerca de meia hora de discussão, havia sido decidido que somente Gaara, Naruto, Sasuke e Itachi (que tinha sido chamado de última hora por Sasuke) ficariam fora de uma barreira que seria criada e mantida por Neji.  A principio, eu deveria estar do outro lado com eles, mas Sasuke tinha feito com que eu prometesse ficar ao lado de Tenten, Ino, Neji e Shikamaru. 

Saímos do castelo e seguimos para um campo aberto. Ino também não parecia nada satisfeita em ficar longe do fogo cruzado, percebi pelos olhares irritados que ela lançava à Gaara que estava há quase três metros de distancia. Ela se posicionou à esquerda de Tenten, a flanqueando e eu fiz o mesmo, mas na direita. Neji estava atrás de Tenten e murmurava algo para ela que parecia nervosa. Shikamaru estava próximo de Sasuke e conversava com ele.

— Isso vai ser divertido! – Itachi, que possuía o mesmo senso ridículo de animação de Naruto, exclamou. Ele tinha sido avisado de última hora, ouvira tudo o que nós tínhamos discutido as pressas e ainda assim tinha aceitado participar daquela maluquice. Sasuke tinha proposto a presença dele, pois Itachi era um ótimo guerreiro. – Nossa aposta ainda está valendo, huh? – Perguntou para Naruto que assentiu fervorosamente. – Cunhadinha, não fique com essa cara! – Gritou repentinamente quando seus olhos cruzaram-se com os meus.

— Cale a boca, Itachi. – Rebati irritada e ele riu. – Isso não significa nada. – Menti e ele riu mais ainda, sendo acompanhado por Naruto.

— Somente os melhores guerreiros estão aqui, Sakura – Naruto me provocou e eu revirei os olhos. – To certo!

— Você é um imbecil! – Ino e eu dissemos juntas e em seguida trocamos um olhar cúmplice. – Todos vocês são. – A Yamanaka acrescentou cruzando os braços.

— Vocês são irritantes. – Sasuke passou a mão pelo rosto assim que Shikamaru começou a atravessar o campo para ficar do nosso lado. – Tenten, pode começar assim que Neji erguer a barreira. – Ordenou assumindo a última colocação na fila que eles tinham feito.

— Problemáticos. – Shikamaru resmungou após soltar um bocejo. Eu não fazia idéia de que horas eram, mas a lua já estava em seu auge. – Neji, quando quiser.

Neji se afastou de Tenten e fechou os olhos erguendo as palmas das mãos para o espaço entre nós e os outros. As palavras que saíram de sua boca foram rápidas e logo uma luz azulada começou a emanar de suas mãos. Ela escorreu para o chão como água e começou a erguer-se como uma parede de tijolos transparente, cercando-nos como um cubo. Havia oscilações na estrutura do cubo, elas eram azuis como a energia que emanava das mãos de Neji.

Quando ele abriu seus olhos naturalmente prateados, senti como se estivesse olhando diretamente para a lua de tão brilhantes que eles estavam. Tenten estava maravilhada e não era pra menos. Os olhos dela vagaram por todo o cubo que Neji tinha feito antes que ela colocasse sua mão sobre a capa do livro. Ela fechou os olhos concentrando-se e logo as folhas do livro começaram a ser passadas com brusquidão.

De onde eu estava, consegui ver que letras douradas estavam surgindo nas folhas em branco como se alguém as estivesse escrevendo. Era uma letra inclinada num idioma estranho. Tenten pronunciou cada uma das palavras alto e com confiança, ela sabia o que estava fazendo.

A sensação ruim que eu tinha começava a aumentar e uma brisa forte carregou consigo folhas e galhos de arvores que sacudiam como se estivessem no meio de uma dança. Uma fagulha começou a rodar em círculos no espaço ao nosso redor, ela cresceu e expandiu-se mais e mais conforme Tenten recitava o feitiço.

— Acorde e destrua, Ignis.

O fogo aumentou e voou do nosso redor entrelaçando-se no céu antes de cair como um meteoro no chão. Do meio das chamas foi sendo moldado um corpo imenso coberto por uma armadura tão escura quanto carvão e por um momento pareceu que somente havia a armadura. Logo um homem de cabelos compridos e escuros como sua armadura e olhos tão vermelhos quanto às chamas que o envolviam surgiu; em suas costas havia uma aljava com flechas e um arco, na mão esquerda uma espada envolta em chamas.

A presença que emanava dele era a mesma que eu sentia todas às vezes em que ouvia seu nome.

— Mitsashi Tenten. – Ignis pousou seus olhos em Tenten que se manteve séria. – Vejo que trouxe meus cavaleiros. – A voz dele era grave, imponente e assustadora, mesmo que seu tom de voz apresentasse calma. Virou-se para os outros e eu não consegui ver qual era sua expressão.

As chamas refletiam nos rostos de seus amigos e eles estavam sérios. Até mesmo Naruto, que brincava há pouco, manteve seu semblante inexpressivo. Eles colocaram os braços cruzados em suas costas, a postura ereta e não duvidei que encarassem Ignis nos olhos.

— Naruto Uzumaki. – Tenten ao meu lado engoliu em seco, seus dedos apertavam o livro com força. – Um guardião da família Uzumaki. Consigo sentir sua força, o desejo de proteção. – Voltei meu olhar para Naruto e vi que a respiração dele havia se alterado por um momento. – Nunca subestime a raposa.

A raposa era o símbolo da família Uzumaki. Naruto uma vez me contara que raposas eram vistas como astuciosas e espertas, da mesma forma que presságios deviam ser. Por outro lado, ele também disse que raposas eram traiçoeiras e que o símbolo também tinha utilidade de lembrá-los que existiam pessoas desleais entre eles e por onde quer que fossem.

— Gaara Sabaku. – Ino avançou um passo inconscientemente e apertou as unhas na palma da mão direita com nervosismo. – Você é um extraordinário guerreiro, vejo isso apenas ao olhar em seus olhos. Linhagem sanguínea? Sim, sua família é composta por soldados que estão prontos para arriscarem suas vidas até o objetivo seja alcançado. – Gaara também ficou em silencio e seus olhos cruzaram-se com os de Ino.

— Itachi Uchiha. – Havia satisfação no tom de voz de Ignis e ele, pela primeira vez, deu um passo em direção a Itachi. – Primogênito de Fugaku e Mikoto Uchiha, o primeiro a ser cotado para assumir a coroa. Sua habilidade com lâminas é insuperável, mesmo que você teime em esconde-las. – Itachi deu um pequeno sorriso ao ouvir o que ele dizia. – Vejo um poder um imenso emanando de você, como o fogo que dá nome à sua nação.

— Me conhece muito bem. – Itachi cutucou Gaara com o cotovelo totalmente confortável com a situação.

— Sasuke Uchiha. – Ignis olhou para Sasuke que parecia tão confortável quanto Itachi. Eu tive vontade de me aproximar deles, mas me contive. – Neto de Madara Uchiha, há muito a ser dito sobre você. Um líder que está carregando uma nação consigo antes mesmo de assumi-la, estrategista, leal. – Avancei e meu corpo chocou-se contra a barreira fazendo com que uma pequena descarga elétrica atravessasse meu corpo. – Criança nascida envolta a labaredas... Filho legítimo do fogo.

Ignis estendeu a espada para Sasuke e o Uchiha a aceitou de bom grado. Não era preciso de muito para entender que Sasuke fora escolhido como um dos cavaleiros. Minha respiração estava pesada e eu não fazia idéia de que as reações que meu corpo estavam tendo eram por causa do pacto.

A palma de minha mão esquerda queimou e quando eu a olhei não havia nada.

Quando ergui o rosto Ignis estava em minha frente. Estávamos separados apenas pela barreira que parecia inútil diante de sua presença.

— Ela não. – Sasuke pronunciou-se pela primeira vez. – Escolha outro.

— Não posso. – Ignis respondeu pousando seus olhos em mim e eu senti como se estivesse nua diante dele. Apesar do calor que emanava dele, um arrepio percorreu meu corpo eriçando todos os meus pelos. – Ela foi predestinada a isso. – Eu soltei minha respiração e produzi um ruído indecifrável. A presença dele era demoníaca, apavorante.

Eu não o queria tão perto de mim.

Recuei um passo e Ignis avançou outro. A barreira foi quebrada como se nunca estivesse estado ali. Ele segurou a aljava e a estendeu em minha direção junto com o arco e flecha. Eu os aceitei e minha mão esquerda queimou novamente.

Ao olha-la notei que dessa vez havia uma queimadura na palma de minha mão que formava o desenho de chamas contidas por um circulo; os contornos estavam vermelhos e ardiam como se alguém os tivesse desenhado em minha mão com o auxílio de um ferro quente.

Ignis aproximou-se de Tenten que encarava tudo com uma calma absurda e ergueu o dedo indicador para perto da testa dela. Tenten arregalou os olhos, mas não se mexeu.

— Tenho um recado para você. – Disse ele antes de encostar o dedo na testa da Mitsashi. Os olhos de Tenten se fecharam e ela foi amparada por Neji antes que seu corpo fosse de encontro ao chão. Ino e Shikamaru correram para acudi-la, mas eu não consegui me mover. Minhas pernas paralisaram. – Aquilo que nasce do fogo deve retornar para o fogo, Sakura Haruno. – Acrescentou Ignis antes de desaparecer.


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Notas finais do capítulo

Continua... Mereço reviews?
O que vocês acham que é o recado do Ignis para a Tenten? Me contem tudo! hahahah
Sei que to uns dois capítulos com resposta de review atrasada, mas prometo que vou resolver isso ainda essa semana!
Comecei uma fic de comédia romântica chamada 366 Rabiscos, se vocês quiserem dar uma olhada e gostarem vai ser um prazer tê-los lá comigo também!!
Enfim, até a próxima.
Beijão ♥