Chains escrita por Priy Taisho


Capítulo 38
Capitulo 37 - Emoções tão humanas


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo reescrito em 16/07/2021 (as modificações estão ficando cada vez menores, Aaaaaa)
Espero que gostem,
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/536806/chapter/38

Emoções tão humanas

Emoções tão humanas

Um espaço físico onde são armazenados livros, dispostos ordenadamente é chamado de Biblioteca. Os Uchihas, sem dúvida alguma, eram donos de uma notável coleção de livros antigos, que preenchiam estantes que formavam um verdadeiro labirinto. A réplica existente na Mansão Uchiha não fazia jus á Biblioteca Real.

A parte reservada para mesas da biblioteca estava amontoada, o que não era de costume. Em uma delas, havia uma pilha de livros, junto de uma folha com um rabisco que com muito esforço podia ser lido como “Hyuga”, em outra, com uma caligrafia bem semelhante estava gravada a palavra “Fada”; nas demais, não existia identificação.

Tenten Mitsashi estava parcialmente escondida por uma pilha de livros no chão. Havia um vinco entre suas sobrancelhas, enquanto ela analisava um livro que possuía a capa amarelo-mostarda, que estava parcialmente solta. Tenten espirrou, folheou o livro e o jogou sobre a pilha de “imprestáveis”, fazendo com que todos os outros livros desmoronassem.

— Nada no “Ingredientes excepcionais para magia”. – Falou em tom entediado, puxando um livro de capa preta e empoeirada para seu colo. – Faltam só mais seiscentos livros. – Murmurou ironicamente.

— Não precisa dizer o nome de cada um dos livros, Tenten. – Shikamaru disse concentrado em sua própria leitura. O Nara estava sentado no chão, como Tenten, escorado na mesa com a placa “Fada”; a garota não conseguia enxergá-lo de onde estava. – Tenho certeza de que vamos encontrar alguma coisa.

A garota emitiu um barulho em discordância, mas continuou a folhear o livro com atenção. Estava achando a tarefa entediante, porém, como o próprio Sasuke dissera, havia sido um pedido de Sakura que ela, Tenten, fosse uma das envolvidas na pesquisa. E se era um pedido de Sakura, Tenten faria o que estivesse a seu alcance para ajudar a amiga.

— Encontrei mais alguns!

Tenten ergueu os olhos e viu Donnatela; os cabelos castanhos da mulher pareciam flutuar conforme caminhava, a barra da saia vermelha arrastava-se no chão e a blusa curta exibia sua barriga lisa. Ela era baixa e estava descalça, segurava três livros em seus braços e atrás de si mais alguns flutuavam seguindo-a conforme andava.

— Acredito que tenhamos tudo o que precisamos. – Disse Donnatela após depositar os últimos livros em uma mesa. – Eu quero acreditar que encontrei tudo o que precisamos. – Acrescentou antes de se sentar em uma cadeira.

A porta da biblioteca foi aberta e por ela, entraram Sasuke e Naruto, ambos conversavam baixo. Pararam próximo à porta, Sasuke dissera mais alguma coisa e Naruto aquiesceu, antes que os dois continuassem a seguir na direção dos demais.

— Como estão indo? – Sasuke perguntou enquanto observava a pilha de livros com atenção. – Descobriram algo?

— Nada mais do que sabemos, Sasuke. – Donatela respondeu desviando os olhos castanhos do livro púrpura em suas mãos. – Pedras da Lua são usadas como ingredientes de feitiços ou poções medicinais.

— Tem que haver alguma coisa. – Naruto disse afastando-se do Uchiha e indo para uma das pilhas, agarrou um de capa bege e o folheou rapidamente, antes de o colocar no mesmo lugar. – Sakura não mentiria.

— Pedras da Lua, as verdadeiras, são encontradas em templos Lunares, a lenda diz que a própria Lua desceu de seu trono nos céus e deu aos lobos honrados um pedaço da própria carne, que endureceu e tornou-se uma pedra prateada. Essa pedra dava força ao Alfa e consecutivamente, à Alcateia que a possuía. – A voz de Neji fez com que todos voltassem sua atenção para ele. O Hyuga, ao contrário dos demais, não segurava livro algum. Estava encostado em uma das prateleiras, uma das pernas esticada e a outra dobrada, mantinha os olhos fechados enquanto falava. – Do contrário, caso um humano tomasse posse da Pedra, teria poder sobre uma Alcateia e suas ordens seriam superiores à de um Alfa. – Ele abriu os olhos e fixou-os em Sasuke. – Os templos Lunares foram destruídos à séculos; Sakura está mentindo. – Esperou que Sasuke esboçasse alguma reação. – É um mito.

— E como sabe de tudo isso? – Tenten perguntou virando-se para encarar o Hyuga. – Você não disse nada desde quando chegamos.

— Dizem que os Hyugas são descendentes da Lua. – Shikamaru respondeu Tenten, que não escondeu a surpresa. – Por isso os olhos prateados, alguns deles possuem o poder de clarividência, mas esse é um dom extremamente raro. – Acrescentou voltando sua atenção para o livro.

— Você consegue prever o futuro então, Neji? – Tenten questionou com um sorrisinho debochado. – Consegue ler o meu futuro?

— É um mito. – Neji replicou com os dentes trincados. – E eu não preciso prever o futuro para saber que se você não aprender a tomar cuidado, vai se machucar. – A garota abriu e fechou a boca em busca de alguma resposta, por fim, fechou o livro que estava em suas mãos e o jogou em uma pilha.

— Nenhuma dessas histórias faz diferença para mim – Sasuke falou atraindo a atenção de Neji. – Continuem procurando. – Ordenou virando-se para sair da biblioteca.

 – Como sabe que isso não é um plano para te distrair? — Neji questionou atraindo a atenção de Sasuke novamente. — Me parece um plano para te colocar no caminho errado.

— Sakura não mentiria.

— Não devia colocar nossos futuros nas mãos de alguém que não podemos confiar — Neji apontou com seriedade. A forma com que Sasuke o encarou era ameaçadora.

— Eu não pedi a sua opinião sobre isso. Tome cuidado com o que fala, Neji — O Uchiha alertou antes de sair da biblioteca.

Naruto despediu-se rapidamente e saiu atrás do amigo. Quando a porta tornou a fechar-se, um clima estranho pairou na biblioteca; Tenten observava Neji com preocupação e o bruxo ainda estava com as mãos sobre a garganta.

— Tem certeza de que sua previsão está certa? – Perguntou Tenten após longos minutos de silêncio.

— Do que está falando? – Neji questionou com dúvida. – Esse livro que você está segurando é inútil. – Acrescentou ao ver o nome do livro que ela havia acabado de pegar.

— Sobre me machucar – Tenten continuou jogando o livro, sem ao menos abri-lo, em uma pilha junto com os outros inúteis. – Talvez não seja eu que vou arrumar problemas por causa da minha boca grande. – Dito isso, ela abriu mais um livro com agressividade e ficou em silencio.

X-X-X

Sakura afastou-se de junto das raízes de uma árvore e passou a caminhar em direção da sede dos lobos. O cheiro deles era inconfundível, semelhante ao de cães, mesclado a madeira. A ventania levava folhas e galhos em uma dança dentro de pequenos redemoinhos.

Haviam passado três dias desde que encontrara Sasuke. Agora, o vazio em seu peito era maior do que antes e, embora houvesse prometido ao Uchiha que voltaria para o reino ao menor sinal de perigo, ela não o tinha feito.

— Prepare-se, Sakura — O feiticeiro havia dito antes de isolar-se por completo. — Há uma grande batalha para nós — As pupilas amarelas brilhavam traiçoeiramente.

Após isso Orochimaru permaneceu dentro de um salão que antes, era reservado para festas. Sakura viu Suigetsu, um dos capangas mais sujos que ela conhecera, carregando carcaças de animais para dentro do local.

O homem de cabelos brancos era um dos poucos que tinha acesso ao local.

— Magia negra. – Era o que Cassandra lhe dizia sempre que se encontravam. – Isso não pode ser bom. Temos que ficar atentas.

E Karin estava cercando-a com mais frequência do que antes.

Aparecia durante os treinamentos e provocava Sakura, empurrando-a sutilmente ou utilizando o termo irmãzinha, ao dirigir-se a ela. A Haruno mantinha-se impassível, embora sentisse vontade de esfolá-la todas as vezes que se cruzavam pelos corredores.

— Irmãzinha, não esperava te ver por aqui.

Sakura inclinou a cabeça à tempo de ver Karin aproximando-se calmamente pelo lado oposto. O vestido dela era vermelho, com um grande decote em V que exibia a pinta que ela tinha próxima dos seios, o tecido tornava-se transparente a partir do meio das coxas, Karin estava descalça e parecia caminhar nas pontas dos dedos.

— Uma noite agradável, não acha? – Questionou ao ver que Sakura não iria dizer nada. – Você nunca soube se arrumar, não é? – Continuou analisando as roupas da vampira com um olhar enjoado. – Tem sido assim há centenas de anos. – Acrescentou em um sussurro.

— O que quer? – Retrucou Sakura rispidamente. – Não tenho tempo para você — O acesso a sede tinha sido bloqueado pela ruiva que não parecia ter pressa.

— Você não parece ocupada. – Karin disse em um tom displicente, um sorriso brincava nos lábios contornados por um batom vinho. A ruiva fechou os olhos enquanto a brisa tocava-lhe o rosto; folhas rodopiaram pelo jardim mal cuidado dos Valerius, algumas delas bateram em Sakura. – Eu sei de tudo. – Pronunciou cada uma das palavras como se elas garantissem seu triunfo.

— Achei que seu cérebro fosse o lar de moscas varejeiras, Karin. – Sakura respondeu cinicamente, encarando a irmã, sem demonstrar sinal algum de que havia entendido o que ela tinha dito. — Há algo aí que realmente funcione?

— Você se acha esperta, não é? – Karin avançou em Sakura e a puxou pelo braço com rispidez. – Eu sempre estive certa sobre você, sua traidora.

— Aposto que você precisa da sua mão para passar essa maquiagem ridícula. – Sakura disse em um tom baixo; a cor de seus olhos oscilava entre o verde e o vermelho. – Então afaste ela de mim antes que eu a arranque com os meus dentes. – Advertiu exibindo os caninos. Karin sorriu e puxou as unhas de maneira demorada pelo braço de Sakura.

A vampira de cabelos róseos investiu contra Karin, que saltou para longe.

Havia um corte nas costas da mão direita de Karin; Sakura segurava a espada firmemente, observando a ruiva, que parecia mais interessada em ver o sangue escorrendo por seus dedos. Ela parecia fascinada, mantinha os lábios separados, olhou para Sakura e esboçou um sorriso, antes de lamber a própria ferida.

— Eu não vou lutar com você. – Karin avisou em um tom lunático, o queixo estava sujo e nas costas de sua mão havia apenas um pequeno risco avermelhado. – Nunca fui boa em combate mesmo...

— Saia do meu caminho.

— Não sou eu que vou impedi-la irmãzinha – Confidenciou Karin como se estivesse contando um segredo.

Sakura ouviu rosnados, seguidos do som de galhos sendo esmagados, antes que três pares de olhos vermelhos surgissem atrás de Karin. Três lobos surgiram, Karin olhou para trás e depois para Sakura, parecia fascinada, a ponta da língua contornava o lábio inferior. Um sorriso insano tomou conta da expressão da ruiva ao ver que a irmã havia dado um passo para trás.

— Desgraçada. – Sakura teve tempo de dizer, antes que os lobos avançassem na direção dela; segurou a espada firmemente e com um golpe na diagonal, conseguiu impedir que o primeiro lobo a atingisse.

O segundo passou por cima dela e por um momento, a vampira cogitou a ideia de um salto mal calculado, porém, o pensamento desapareceu no instante em que ela sentiu seu corpo sendo empurrado contra o lobo preto, que arreganhava as presas e rosnava alto; ele abocanhou-lhe o ombro esquerdo, Sakura sentiu um dor dilacerante e gritou, com a mão que segurava a espada, ela fez um corte próximo às costelas do lobo, antes de ser atirada contra uma árvore.

Karin, por sua vez, observava a luta agachada sobre um muro. Os olhos acompanhavam cada um dos movimentos de Sakura, os dedos do pé fazendo com que seu corpo fosse para frente e para trás, pronta para saltar a qualquer momento. Sibilou baixo ao ver Sakura chutar o maxilar do lobo marrom e em seguida, o chutá-lo novamente, dessa vez para longe. Ele ganiu, suas patas dianteiras fraquejaram e quando ele se recuperou, o lobo cor de areia foi arremessado contra ele.

Sakura arfou, levando a mão ensanguentada até o ombro, que jorrava sangue. As roupas que ela usava estavam rasgadas, a pele exposta machucada, os lábios feridos e seus dentes estavam manchados de sangue, haviam galhos e pequenas folhas amareladas presos no cabelo róseo.

O lobo preto rodeava a vampira, apreciando a vista deplorada de sua presa. Sakura ainda segurava a espada e mantinha aquela expressão irritante de convencimento no rosto, rugiu ameaçadoramente antes de saltar sobre ela. Ambos rolaram no chão, as garras do lobo colidiram contra o peito da Haruno, produzindo cortes profundos e vermelho-sangue, Sakura gritou de dor e sentiu a espada em sua mão vacilar por um momento, a visão ficou turva e ao piscar ela passou a ver pontos brancos, indistinguíveis. Com um último gesto brusco, ela fincou a espada no abdômen e sentiu o peso que estava sobre ela afastar-se subitamente.

Os pontos de luz branca continuavam a surgir diante dos olhos da Haruno, que estavam piscando com cada vez com menos frequência, até que ela perdeu a consciência.

X-X-X

Antes mesmo de abrir os olhos, Sakura soube que estava presa. O frio do ferro rodeava-lhe a garganta, os pulsos e os tornozelos. Permaneceu com a cabeça pendendo para a esquerda, sentia-se fraca, todas as feridas em seu corpo eram reabertas no momento em que fechavam. Tinha perdido a consciência mais vezes do que podia contar.

“Vou morrer” – Pensou ao levar um murro na boca. Sakura manteve os olhos fechados. “Desculpe, Sasuke”.

— Você não pode morrer, Sakura. – A voz infantil despertou Sakura de seus devaneios. Ela viu, ao canto da cela, ao lado de Naruto... Naruto... Estava Shikamaru. O garoto apertava a barra da capa que tinha ganho de presente da vampira com força; Sakura pode sentir o cheiro das lagrimas do garoto. – Não desse jeito, não assim... Não é sagaz. – O garotinho esfregou as mãos no rosto indignado. – Não é um ato heróico, você não vai ser reconhecida por isso... Não pode morrer.

A lembrança tomou-lhe os pensamentos durante o segundo golpe que levou. As palavras de Shikamaru a atormentavam desde o momento em que as ouvira pela primeira vez. Não era sagaz morrer como um sacrifício, não era heroico, era doloroso, como uma espada em brasas atravessando-lhe o peito.

— Qual é a sensação de saber que irá morrer em pouco tempo? – A voz de Karin despertou Sakura de suas lembranças. Não somente a voz de Karin, mas as palavras que ela havia usado. – Te fiz essa pergunta pouco antes de você ir para o Receptáculo de Purificação, você é a única pessoa que pode me responder com clareza, sabia? - Sakura abriu os olhos e encarou a ruiva com ódio, Karin parecia divertir-se, usava um vestido semelhante ao da noite em que a acusou de traição. – Foi tão... Divertido bolar uma história que combinasse perfeitamente com a sua situação, Fugaku ficou furioso, acredito que se dependesse dele, você teria sido morta sem cerimônia alguma.

— Você mentiu.

— De forma alguma, contei a verdade. – Karin disse sorrindo cinicamente, aproximou-se de Sakura segurando um bastão com pregos. – Confessei todos os meus pecados, um por um – Baixou o tom de voz e aproximou seu rosto do de Sakura. – Mas você é quem tinha feito tudo aquilo, pobre mamãe, sofreu tanto. O sangue da família Haruno, sujo por uma filha legitima que era considerada uma bastarda. – Gargalhou maldosamente, Sakura rosnou e avançou contra Karin, que bateu o bastão na lateral da cabeça dela. O sangue manchou o cabelo de Sakura e escorria por sua orelha e rosto, pingava por seu queixo.

Sakura gritou ao ser atingida novamente, Karin continuou a rir. Os pregos e a madeira do bastão estavam sujos de sangue, a ruiva parecia não se importar.

— Foi difícil, mas eu consegui. – Ela confessou como se estivesse contando um segredo. – Encontrar Orochimaru, seguir as ordens de um feiticeiro quase morto, entrar em contato com a Alcateia de Cassandra e os convencer de que queríamos a ajuda deles para acabar com uma feiticeira, você, no caso. E deu certo, porque Orochimaru disse que você estava planejando atacá-los, que unindo forças seriamos melhores. – Acertou a perna de Sakura com força e puxou o bastão rispidamente. – Eu não esperava que Sasuke te salvasse. Isso foi imprevisível, o plano era te tirar do caminho porque você era uma ameaça à minha ascensão. – Bateu na perna esquerda da vampira e afundou os pregos na carne dela antes de puxar com brutalidade. – E você me atrapalhou até depois de morta, Sakura.

— Você é uma pobre coitada. – Sakura cuspiu sangue e forçou um sorriso. – Seus planos não deram certo e nem vão dar certo, sinto muito por sua frustração... – Karin acertou-lhe o bastão no lado esquerdo do rosto de Sakura, a rosada sentiu que um dos pregos quase a deixou cega. Era difícil reprimir os gritos, mesmo que a Haruno se esforçasse.

— Se você fosse humana, estaria morta. – Karin rosnou as palavras e fez menção de atacar Sakura novamente. – Melhor, se fosse somente a Sakura que eu encontrei no colégio da velha Senju, você já estaria morta. – Aproximou o bastão de pregos do rosto ensangüentado de Sakura, que retraiu-se o máximo que pode no encosto da cadeira de ferro. – Sempre quis saber o que Sasuke viu em seus olhos verdes. – Uma dos pregos chegou bem perto do olho de Sakura. – Ele te amaria se você perdesse um deles? Quem sabe os dois?

Sakura ficou em silencio.

A dor que estava sentindo era insuportável, a sensação era de que cada parte de seu corpo iria explodir e começar a jorrar sangue por todos os lados; o cheiro do próprio sangue era nauseante e o mais aterrorizante, era o gosto do medo. Amargo, incomodo, semelhante à veneno. Estava forçando-se a ficar consciente, embora sua visão começasse a oscilar e manchas pretas surgissem como vultos a cada vez que ela piscava.

— Sasuke – Comecei e com um dos dedos limpei a mancha de seu rosto cuidadosamente. – Seja sincero. – Ordenei e ele estreitou os olhos. – Quais são as chances de eu não me envolver nisso? – A pergunta era retórica, nós sabíamos disso.

— Eu juro que não consegui encontrar uma boa o suficiente. – Sua expressão tornou-se pesarosa e eu podia sentir a angustia que estava tomando suas emoções. – Não morra, Sakura.

Sakura passou a vomitar sangue e Karin afastou-se olhando-a com repulsa, o bastão pendendo na mão esquerda, enquanto via Sakura sujando e se engasgando com o próprio sangue.

— Eu gostaria que você assistisse o momento em que eu me tornarei Imperatriz. – Karin murmurou em um tom sonhador. – Os degraus para o meu trono serão os corpos dos seus queridos Uchihas, mas não Sasuke. Sasuke será meu e eu irei controlá-lo da forma que eu desejar, sem me importar que você atrapalhe alguma coisa. – Disse em tom desejoso, ignorando Sakura que continuava a vomitar. – Invadiremos a Capital de Konoha com uma cavalaria de fogo e no final, tudo vai se transformar em um rastro de sangue. – Ela riu e balançou a cabeça ao ver que Sakura havia parado de vomitar, mas que não a encarava. – Mamãe sentirá orgulho de mim, como vem sentindo todos esses anos. Sua morte foi... Um alívio para ela; pobrezinha, ficou tão perturbada quando soube que você, a verdadeira, havia voltado. A italiana gritou enquanto eu abria os buracos no corpo dela, resistiu bravamente, se quer saber, me deu trabalho esconder todas aquelas roupas sujas de sangue. E a órfã, só queria ter uma vida normal longe de Sasuke.

Karin ficou em silencio, esperando que Sakura dissesse alguma coisa. Ficou decepcionada ao constatar que ela não diria nada, esperava que Sakura continuasse a demonstrar o quão forte era, que gritasse e desse à Karin a chance de esmurrá-la e despedaçá-la pedaço por pedaço.

— Karin, temos um problema. – Suigetsu surgiu na entrada da cela repentinamente, parecia ter corrido uma maratona. O cabelo estava desgrenhado, uma das mangas da camisa estava rasgada. – Você precisa vir comigo agora. – Disse em tom de urgência.

A ruiva olhou para Sakura e da garota para Suigetsu, parecia relutante em deixá-la sozinha.

— Ela não vai à lugar nenhum. – Garantiu Suigetsu encarando Sakura com repulsa. – Está presa e está com um cheiro estranho, acho que está morrendo. – Acrescentou fazendo uma careta; Sakura mantinha os lábios sujos de sangue entreabertos e os olhos estavam desfocados.

— É o cheiro do veneno que eu coloquei nos pregos. – Karin murmurou observando a irmã como se esta fosse sua obra de arte. – Tem certeza de que ela não pode fugir?

— Não presa como um cão – Suigetsu garantiu dando mais uma boa olhada em Sakura. – Paul e os seus cachorrinhos fizeram um bom estrago. – Murmurou antes de sair da cela.

Karin relutou, pensou em algo para dizer e por fim, optou por sair sem pronunciar nada.

Sakura continuou na mesma posição, perdia a consciência a cada segundo, a visão estava escurecendo e ela estava com uma sensação de aperto no peito que a conectava com Sasuke e que era a única coisa que a mantinha de olhos abertos, embora não conseguisse distinguir muita coisa.

— Sakura, inferno. – Alguém estava ao lado dela, murmurava palavras desconexas para a Haruno em um tom urgente. – Preciso te tirar daqui, consegue se mexer? – Sakura girou os olhos para a esquerda e demorou para identificar a mulher de cabelos cacheados. – Parece que não – Cassandra concluiu começando a solta-la; primeiro o pescoço, pulsos e por último os tornozelos. – Venha – A Alfa apoiou o braço ensanguentado de Sakura sobre seu pescoço e começou a arrastá-la para fora da cela. Sakura tentava auxiliar a loba da forma que podia, mas suas pernas pareciam não querer sustentar o peso de seu corpo.

Cassandra mantinha o cenho franzido, atenta a qualquer barulho ou cheiro que não fosse dela ou de Sakura. Subiram por uma escada estreita, a Haruno gemia de dor a cada movimento brusco. Ao aproximarem-se da saída, a Valerius sentiu dois cheiros distintos, fogo e chuva.

— Maldição – Praguejou puxando Sakura para seu colo, ela parecia uma marionete. Cassandra correu os degraus restantes e embrenhou-se na floresta, olhando rapidamente de relance para um celeiro que estava em chamas, uma distração simples, mas muito eficaz. Embrenhou-se pela floresta, agradecendo mentalmente por não estar chovendo ainda. Trovões ecoavam, as nuvens escuras iam cobrindo o céu mais rápido do que o esperado, clarões iluminavam o caminho e a Alfa continuava a correr, segurando Sakura firmemente.

— Pare, pare. – Pediu a vampira repentinamente. – Pare! – As unhas dela fincaram-se no braço de Cassandra, que confusa, parou. – Me ponha no chão. – Pediu Sakura com a voz entrecortada, parecia ter tomado consciência do que estava acontecendo.

As pernas de Sakura fraquejaram assim que seus pés tocaram o chão, ela caiu e vomitou um liquido escuro. Cassandra afastou seus olhos da cena e procurou qualquer sinal de que estavam sendo seguidas.

— Você precisa ir logo – Estreitou os olhos azuis ao dizer isso. – Se continuar no chão, irá deixar rastros. Ande, Sakura. – Puxou a Haruno pelo braço e voltou a correr com ela pela floresta. – Vou te levar até o portal, tenho um aliado lá, ele vai garantir que você chegue até o Castelo Uchiha. – Avisou ao ver que ela estava quase desmaiando.

— Obrigada, Cassandra. – Murmurou Sakura em agradecimento. – Eu teria morrido...

— Temos um acordo – Cassandra a interrompeu virando bruscamente para o Oeste. – Cumpra sua parte e ai nós estaremos quites. – Havia começado a chover, mas o ritmo de Cassandra não foi interrompido. Ela tinha certeza de que chegariam mais rápido caso ela estivesse transformada, porém, sabia que Sakura não teria forças para segurar-se. Estavam perto do portal, quando ouviu o som de galhos quebrando-se, vindo da sua esquerda, em seguida, da direita e atrás de si.

— Emily. – Cassandra murmurou ao ver a loba de pelos alvos, que corria concentrada. – Derik e Daniel? – Perguntou e ouviu rosnados vindos de sua direita e de traseira. – Já perceberam que Sakura sumiu? – Emily a encarou com os olhos vermelhos brilhantes por rápidos segundos e voltou a olhar para frente.

Pararam de correr quando chegaram ao centro da floresta. Um portal improvisado, que emitia uma luz esverdeada reluzia entre dois carvalhos. Os três lobos que acompanhavam Cassandra circulavam a Alfa protegendo-a de possíveis ataques.

— Estive ouvindo tudo – Disse o homem escorado em uma das árvores. – Vocês não sabem ser discretos, não é? – Acrescentou ranzinza para os lobos que rosnaram em resposta. – Me dê ela logo, Cassandra. Não sou bruxo, o portal não vai ficar aberto por mais tempo. – Avisou desviando os olhos cinzentos para o portal que tremeluzia, parecendo que iria fechar a qualquer momento. Olhou para Cassandra, notando o cabelo negro que tinha perdido os cachos e agora estava grudado nas laterais do rosto dela, suas roupas estavam sujas de sangue e a visão de Sakura, parcialmente inconsciente e completamente ensanguentada o desorientou. – Sakura.

Sasori perdeu a pose arrogante e correu até onde Cassandra estava. Com a ponta dos dedos tocou a bochecha e o pescoço da garota, com receio de que qualquer golpe a ferisse ainda mais.

— Karin está vindo – Cassandra disse firmemente. – Leve-a para os Uchihas, eles são a nossa única chance. – Sasori assentiu, o cabelo ruivo grudava na testa no momento em que ele recebeu Sakura em seus braços.

Sasori não se despediu, correu em direção ao portal e desapareceu. Cassandra observou o portal e indicou que os lobos o destruíssem. Era parte do acordo que havia feito com Sasori, ele daria um jeito de criar um portal e fugiria por ele com Sakura; o portal seria destruído e ele encontraria uma forma de retornar.

— Espero que cumpra sua parte, Haruno.

Sakura notou que estava em braços maiores do que os de Cassandra, mas que de certa forma, a seguravam de forma cuidadosa. Manteve os olhos fechados, escutando os estalos dos galhos que quebravam e o coração de quem a estava carregando.

— Paul era previsível – Sasori comentou repentinamente. – E ainda assim, ele conseguiu vencê-la, não entendo.

— Sasori – Sakura murmurou com dificuldade, continuou de olhos fechados, a chuva caia em seu rosto e lhe era reconfortante. – Eram em três – Acrescentou como se devesse uma explicação para ele.

— Eu assisti tudo. – Ele disse resignado e parou, em seguida, saltou. – Karin sempre foi covarde, mas uma filha da puta ardilosa. – Continuou com rancor. – O que ela fez com você, Sakura?

— Por que ainda está me ajudando? – Sakura questionou ignorando a pergunta dele. Abriu os olhos e pode observar a expressão concentrada de Sasori, que assemelhava-se à uma careta. – Sasori...

— Você não é a única que teve a idéia de aliar-se aos seus inimigos. – Sasori respondeu prontamente, olhou-a de forma rápida. – Conheça seus inimigos. – Citou ele em tom categórico. – Uma das primeiras lições que aprendi.

— Não sou tão boa quanto você em ser desprezível. – Sakura fechou os olhos e ouviu a risada baixa de Sasori. – Fui pega no primeiro deslize.

— Não, não foi. – Sasori discordou no mesmo instante. Ele havia saltado mais alguma coisa, virou à esquerda e aumentou a velocidade da corrida. – Karin desconfiava de você no instante em que você voltou a ser... Você. – Continuou ele parecendo relutante em continuar a falar. – Era questão de tempo.

Sakura tossiu e sentiu uma pontada no abdômen. Os ferimentos não estavam fechando, ardiam e emanavam um cheiro ácido. Os cortes na cabeça da Haruno ainda sangravam, mais da metade do cabelo estava vermelha por causa do sangue.

— Ainda gosto de você – Sasori confessou confiante, não parecia nenhum pouco arrependido de ter dito tais palavras. – E não é nenhum pouco romântico dizer isso em meio à uma guerra, ou com você nesse estado. – Ele riu de uma maneira forçada. – Só é a verdade e eu fico aliviado de poder te dizer isso sem que... O Uchiha apareça. Eu... Gostava muito da minha noiva, afinal.

— Eu sinto muito, Sasori. – Ela disse com sinceridade. Amava Sasuke, com todas as forças, com toda sua alma. A declaração de Sasori não a afetara em nada, não fizera um risco sequer em toda a imensidão de desejos que ela tinha sobre Sasuke. – Mas nada mudou. Eu amo o Sasuke.

— É óbvio para mim, depois de tudo o que fizemos — O Akasuna murmurou com um riso azedo. — Guardei o sangue do príncipe por anos apenas porque você me pediu. Apenas porque aquilo era capaz de salvá-la.

Sasori não disse nada.

A viagem prosseguiu por mais uma hora. Sakura ficou inconsciente duas vezes, na última vez, acordou assustada após um salto de Sasori. Ele continuava sendo cuidadoso, mas a corrida era mais urgente após Sakura ter começado a engasgar com o próprio sangue novamente. Embora estivesse molhada e gotas d’água pingassem em sobre Sakura algumas vezes, a chuva havia dado uma trégua.

— Sasori, eu sinto...

— Você não partiu meu coração, porque eu já não tenho mais um coração. – A ironia escorria por suas palavras. – Nem me permito sofrer por emoções tão humanas. Isso me tornaria um fraco. – Ele riu e a corrida, passou a ser uma simples caminhada. – Proteja sua amiga Tenten, Sakura. Orochimaru a quer. – Falou em um tom de aviso. Sakura abriu os olhos alarmada, pronta para questioná-lo, mas Sasori a interrompeu. - Estamos em frente ao Castelo Uchiha e alguém já está aqui para recepcioná-la.

Parado em frente aos portões, trajando preto como um anjo da morte, com os cabelos negros grudados no rosto e os olhos vermelhos e ameaçadores, estava Sasuke. Ele correu na direção de Sasori e puxou Sakura para seus braços, sem ao menos encarar o Akasuna.

O Uchiha seguiu para o castelo sem dizer nada. Sasori ficou parado no mesmo lugar em que Sakura havia sido retirada de seus braços, os olhos fixos nas costas de Sasuke e no cabelo rosa manchado que afastava-se com ele. Repentinamente, Sasuke parou e ainda de costas, pronunciou uma única palavra antes de desaparecer:

— Obrigado.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua... Mereço reviews? hahaha
Beijão ♥