Chains escrita por Priy Taisho


Capítulo 36
Capitulo 35 - Pronunciamento


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo reescrito em 13/07/2021.
Não sei o que pensar desse hahaah
Enfim, espero que gostem!
Boa leitura!



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Pronunciamento

Desde que havia renascido o desejo por sangue consumia as veias de Sakura, como o combustível que ela precisava para sobreviver.

Os olhos esmeraldinos não eram vistos e constantemente ela estava envolvida em alguma confusão, mesmo nos poucos dias em impunha sua presença em meio aos lobos.

Sakura cheirava a vingança. E suas batalhas, mesmo que em treinamento eram severas como se ela estivesse prestes a ceifar a vida dos oponentes.

Sasori tinha tido o desprazer de constatar isso com seus próprios olhos...E sangue.

Havia proposto um desafio para a soldada com maior potencial de Orochimaru e em resposta, quase perdeu um dos braços.

Sasori não sabia que Sakura tinha tamanha habilidade, mesmo enquanto ela estava em sua primeira vida.

Era surpreendente e assustador.

X-X-X

Os olhos vermelhos combinavam com o líquido que havia escorrido pelo canto de seus lábios. Ela o limpou despreocupadamente e não se importou ao notar que o punho havia ficado sujo.

A atenção, no entanto, estava fixa nos lobos que batalhavam agressivamente entre si. Eles mordiam, arrancavam pedaços de pele e arranhavam uns aos outros com violência.

O campo de treinamento tinha sido transformado em um verdadeiro espetáculo. Embora não estivessem entretendo ninguém.

Parte dos que se arriscavam a lutar estavam feridos, aqueles que apenas deslocavam ossos eram atendidos ali mesmo e os que tinham o estado mais grave eram levados para um lugar que não importava muito. O processo de cura dos lobos era relativamente rápido, embora não fosse menos doloroso.

Era um espetáculo bárbaro e sem sentido algum, mas que continuaria acontecendo até que fosse o suficiente.

Orochimaru apoiou o rosto em uma das mãos e remexeu a taça de vinho preguiçosamente. Era nítido nos orbes amarelados de que nada ali era capaz de prender-lhe a atenção. O bruxo gostava de brigas sangrentas quando ambos os lados tinham chances de vencer.

Cassandra estava do lado direito. Ela bradava com o punho fechado e por vezes o batia contra o braço da cadeira, gritando para que seus guerreiros fossem fortes em meio as batalhas. Ela não havia se dirigido a Sakura desde quando haviam voltado, mas por vezes, a Haruno notara seu olhar desconfiado.

— Onde estão o restante das tropas? - Sakura perguntou olhando para Orochimaru. - Tudo o que vejo são um bando de cachorros dilacerando uns aos outros. - Bebeu um gole do vinho e voltou a encarar os lobos que continuavam a atracar-se.

Orochimaru riu baixo e olhou para Sakura com interesse. Ela era sua obra prima, a peça que faltava em seu tabuleiro... A flecha que atingiria os Uchihas com tamanho impacto que eles seriam obrigados a recuar.

— Tem razão — O bruxo concordou. — São apenas animais. Todos são.

Sakura olhou para ele impassível. Era fácil notar que Orochimaru gostava de falar através de enigmas e quando não, preferia enrolar ao máximo acerca de suas palavras.

— Os guerreiros se escondem e apunhalam pelas costas — Ele mumurou compenetrado. — Os trasgos rasgam a terra sob seus pés e aqueles que atacarão sob as sombras estão onde devem estar...No escuro. — Orochimaru acrescentou antes de ingerir um pouco mais de vinho.

Sakura o observou em silêncio, refletindo sobre as palavras do líder com atenção. Orochimaru havia deixado de fora os traidores que deram as costas para a própria família.

Ela mesma era inclusa nessa categoria.

— Por que tanto interesse em roubar o trono dos Uchihas, senhor? - Sakura questionou inexpressivamente. - O príncipe, é um fraco. Não consigo compreender...

— Quero as tropas, as escrituras, a terra fértil, o povo e todo o poder que eles possuem — Orochimaru recitou calmamente. — A partir disso conseguirei os meus poderes de volta.

— Compreendo, senhor. Os Uchihas são um problema. — A Haruno disse voltando-se para a arena. Cassandra já não estava mais ao seu lado. — E qual será o plano de ataque?

— Você descobrirá no momento certo.

Sakura aquiesceu e não disse mais nada. Os olhos continuaram focados nos lobos, em especial um preto e maior, que no momento, estava com os dentes presos na garganta de um outro branco. O sangue escuro escorria por todo o pelo branco, pingando no chão, enquanto o lobo gania tentando a todo o custo libertar-se do outro. As patas dianteiras arriaram e os olhos do lobo começaram a revirar-se. Alguém gritara um nome... Emily e de repente, um lobo acobreado estava em campo, jogando o preto para longe com um único golpe.

O lobo preto rosnou, o pelo eriçou-se e ele exibiu os dentes sujos de sangue. Estava pronto para atacar o outro que havia interrompido sua luta, mas uma outra voz interrompera seu ataque.

— Chega, Paul! - Cassandra ordenou e Sakura pode ver como um Alfa possuía influência dentro do bando. — Cuidem dos ferimentos de Emily. - Dois dos que estavam no banco para lutarem levantaram-se e correram até Emily, que havia abandonado sua forma de lobo e agora contorcia-se no chão com um ferimento imenso na garganta. - E você imbecil, controle-se! - Gritou com Paul, que continuava em sua forma de lobo. - O espetáculo acabou, voltem para a sede. - Ela olhou para Orochimaru, esperando que ele dissesse algo, porém, ele não o fez.

— Estava entediado, de qualquer forma. - Declarou ele levantando-se e seguindo para longe da arena com dois guardas em seus flancos. — Sakura?

— Ficarei mais um pouco, senhor.

Orochimaru fez algum barulho incompreensível e saiu, deixando Sakura sozinha. A Haruno deixou com que a taça de vinho caísse no chão e seus olhos encontraram-se com os de Cassandra. Havia raiva nos olhos azuis esbranquiçados.

Sakura era capaz de compreende-la. Alguém como Cassandra não estava acostumada a lidar com ordens que não partissem da matilha.

Naquele momento a alfa não passava de um cachorro adestrado que estava sob o poder de Orochimaru.

Sakura também se sentia assim. Com um desejo imenso de liberdade que ela desconhecia e com uma sede por sangue equivalente.

As memórias em sua mente eram confusas, distorcidas e de alguma forma, raivosas. Ela sentia desejo de vingança genuína pelos Uchihas, como se aquilo houvesse sido implantado em sua alma, já que não era capaz de recordar o porquê.

A Haruno observou os lobos por mais alguns instantes antes de levantar e sair como Orochimaru havia feito.

O caminho para a sede era mal iluminado, pois cortinas pretas cobriam a maior parte das janelas. Sakura desceu as escadas de madeira, ouvindo cada uma das tábuas rangerem, virou a direita e passou pelo salão principal e dirigiu-se por um corredor que a levaria até seus aposentos. Enquanto caminhava, teve a impressão de que estava sendo seguida; se fosse algum empregado, ele desapareceria em breve.

Empurrou a porta de seu quarto, as dobradiças rangeram e os olhos vermelhos vasculharam todo o cômodo que era composto por uma cama grande, com um dossel dourado e lençóis pretos, um guarda-roupa pequeno e uma porta que dava para o banheiro privado.

Uma mão impediu que ela fechasse a porta.

Sakura voltou-se para trás lentamente, manteve a expressão ilegível. Os olhos cinzentos a encaravam com curiosidade e os lábios curvavam-se em um sorriso convidativo. Sasori deu um passo para frente e a Haruno recuou um, levando as mãos a espada que estava embainhada. Sasori ergueu as mãos, porém manteve o sorriso.

— Sakura — O tom cortês predominava em suas palavras. — Acredito que você não irá precisar de sua arma enquanto conversamos.

— Quem disse que quero conversar?

Sasori manteve o sorriso nos lábios, mas baixou as mãos lentamente sob o olhar da vampira. Ele não sabia o que esperar daquela conversa, mas tinha a sensação de que ela era necessária.

— Suas memórias — O Akasuna falou calmamente. — Como estão?

— Eu me lembro do que preciso lembrar.

— Ótimo — Sasori concordou sem entusiasmo. — Lembra-se de sua última vida?

Sakura permaneceu em silêncio enquanto refletia sobre as palavras dele. A sensação de que algo a impedia lhe causava uma dor de cabeça desconfortável e ela já não era capaz de lembrar o que a motivava a continuar.

— Sasuke Uchiha, o que esse nome te faz lembrar?

— Somos inimigos.

— Por quê? — A confusão nos olhos de Sakura fizeram com que Sasori entendesse que havia chego onde precisava. — Por que você precisa odiá-lo?

Sakura baixou os olhos e uma nova pontada surgiu em sua mente. Ela sabia da convicção de seus sentimentos, mas eles eram infundados.

E também... Havia feito o que fez quando ela e o Uchiha estavam cara a cara. Um recado.

Por que seu corpo tinha feito aquilo? Por que aquelas palavras saíram de seus lábios com tanta naturalidade?

— Você sabe das respostas — Sasori disse em um tom baixo. — Não precisa de muito para descobrir, apenas force um pouco.

— Estou com uma dor de cabeça infernal — Sakura rosnou pressionando as têmporas. — Vá embora, Akasuna.

— Lembra de como nos conhecemos?

Sakura permaneceu em silêncio. Aquela era outra dúvida que permeava sua mente.

Conhecia por nome todos aqueles vampiros em confronto, mas não sabia da origem de tais memórias.

— Estou amaldiçoada — A Haruno murmurou com o semblante inexpressivo. A bagunça em sua mente ainda não era refletida em sua face. — Quem fez isso comigo? — Ela rosnou pressionando Sasori contra a parede. — Por quê?

— Porque você não será capaz de matá-lo se pensar com clareza. — Sasori revelou. — É de Sasuke Uchiha que estou falando. O seu pacto.

Pacto.

Aquelas palavras trouxeram lembranças a Sakura que ela não conseguia compreender de imediato, mas que faziam sentido.

O rosto daquele homem continuava aparecendo em sua mente, minuto após minuto. Ela podia senti-lo tão perturbado que causava dúvidas se as emoções eram suas ou dele.

— Por que está me dizendo isso?

— Porque sou um dos mocinhos — Sasori respondeu com seriedade. Os olhos acinzentados haviam abandonado a diversão. — E se vai fazer isso, é melhor que tenha consciência.

— Fazer o quê?

— Decidir se você está do lado de Orochimaru ou defenderá o Uchiha — Sasori afastou-se de Sakura e enfiou a mão em um dos bolsos, tirando um frasco com líquido escuro que Sakura não reconheceu. — Cassandra me contou o que aconteceu. Você o poupou e agora Sasuke está em Konoha reunindo o exército.

Sakura trincou o maxilar e desviou os olhos por um momento.

— Não sei porque fiz aquilo.

— Então beba isso e descubra — Sasori jogou o frasco na direção de Sakura que o agarrou por impulso. — Seja o que for que Orochimaru tiver feito, não funcionou em você... Não completamente.

— Acha que eu não seria capaz de matá-lo?

— Está falando de mim ou de Sasuke?

— Ambos — Sakura apertou o frasco entre seus dedos. — Acha que eu não seria capaz de matá-los?

— Sei que em qualquer instante serei um homem morto por suas mãos — O Akasuna afirmou com tranquilidade. — Mas você não conseguirá matá-lo. Teve sua chance e o deixou escapar.

— E o que é isso?

— Sangue do Uchiha. Acho que é o suficiente para reestabelecer a ligação.

— Como conseguiu isso, Sasori?

— Um mágico nunca revela seus truques.

— Você não é mago, nem bruxo — Sakura estreitou os olhos e levou uma de suas mãos para o punho da espada que estava firme em suas costas. — Se estiver me enganando, eu vou matá-lo.

— E essa é a terceira vez que você me ameaça hoje?

— Não será a última.

Sasori sorriu brevemente e colocou as mãos nos bolsos da calça. Não parecia alguém pronto para fugir, embora estivesse atento a cada movimento de Sakura.

— Konoha era um bom lugar para viver antes da sua morte.

— Me lembro dos dias no castelo — Sakura respondeu em um tom baixo. — São as lembranças mais claras que tenho daquela época. — Ela ergueu o frasco e o observou com interesse. — Isso me fará ter emoções?

— Não entendi o que quer dizer, Sakura.

— Me preocuparei com esse Sasuke como se ele fosse um membro do meu corpo?

— Você cortaria um membro do seu corpo por ele. — Sasori enfatizou notando a tensão nos ombros da Haruno. — Mas ele abriria mão da própria vida por você.

Sakura suspirou e aquiesceu. Não era difícil acreditar nas palavras de Sasori, ela sentia aquilo em seu íntimo e sabia que ora ou outra descobriria a real verdade.

Apesar do sentimento de lealdade com Orochimaru que estava implantado em seu peito, Sakura sentia que aquilo a incomodava mais do que a forma com que Sasori parecia saber mais sobre ela do que qualquer um.

Com esse pensamento, a Haruno quebrou a tampinha do frasco e ingeriu todo o sangue de Sasuke em um único gole.

O gosto queimava em sua garganta como fogo. E quase de imediato a Haruno sentiu que suas memórias tornavam-se cada vez mais claras, como se a nuvem que cobria suas lembranças houvesse desaparecido.

O sentimento de lealdade também havia desaparecido. Orochimaru havia implantado aquilo nela como um veneno na noite em que realizara o ritual de renascimento.

Os olhos oscilaram entre verde e vermelho, as presas recolheram-se e por fim, ela olhou para Sasori com compreensão.

— Você se lembrou do que eu disse depois de todos esses anos — A Haruno murmurou olhando para o Akasuna que sorriu convencido.

— Olá, Sakura.

Sasori estava sentado do outro lado da mesa. A postura altiva, os olhos acinzentados e desconfiados revezavam sua atenção entre a mulher em sua frente e a janela ao lado deles.

— Por que está me pedindo isso?

— Porque você veio até aqui — Sakura replicou displicentemente. Ela segurou a barra do vestido e rodeou o Akasuna com delicadeza. — Faz o que? Um século que não nos vemos, Sasori?

— E você continua a mesma.

— E estou viva neste momento porque você me salvou — A mulher de cabelos róseos indicou o corpo dos vampiros que estavam no chão e sorriu para Sasori. — Sasuke não pode saber disso.

— Ótimo, quer que eu esconda isso do príncipe dos vampiros?

— Ele não sabe que você está aqui, de qualquer forma.

— Mas isso é traição.

— É um favor — Sakura retrucou de imediato. — Orochimaru está atrás de mim. E eu não faço ideia de onde Midori está escondida.

— E por que acha que ele quer manipular a sua mente?

— Porque ele quer que eu o leve até às respostas de seus poderes.

— Se o sangue de Sasuke pode te trazer de volta, por que não conta a ele? É mais rápido...

— O feitiço que a Midori colocou em minha alma me protegerá, mas só funcionará efetivamente uma semana após o renascimento.

— Quer dizer que você ficará a mercê do Orochimaru por todo esse tempo?

— Não farei nada ao Sasuke, mas minha mente se tornará algo confuso. — Sakura decretou afastando-se de Sasori. — O sangue dele me trará de volta mais rápido.

— Então por quê não diz a ele?

— Porque preciso morrer.

O olhar de Sasori exibia revolta e descontentamento. Ele deixou o frasco sobre a mesa de madeira e levantou-se para rumar em direção a porta quando foi impedido por Sakura.

O aperto dela em seu braço era delicado, mas ele sabia que ela tinha forças o suficiente para mantê-lo ali.

— Morrer Sakura? De novo?

— Eles estão cada vez mais perto — Sakura retrucou em um tom baixo. — Hoje foram três vampiros, na semana passada foram dois lobos... Antes disso, um trasgo.

— E por que Sasuke não notou isso ainda?

— Porque eu sei me virar muito bem — Sakura sorriu de canto, mas não foi retribuída por Sasori. — Preciso desse favor.

— Não ajudarei a matá-la — Sasori declarou e Sakura aquiesceu. — Mas posso ajudar em sua proteção.

— Apenas me entregue isso quando souber que estou com Orochimaru.

— Ele sabe? — Sasori questionou incisivamente. — Sasuke sabe que se lembra de tudo?

— Não e será mais fácil assim — Sakura não parecia arrependida. — Recuperei a consciência há pouco mais de um mês e é por isso que eles estão aqui. — Ela olhou para os vampiros e não escondeu o desgosto em suas feições. — Estão me rastreando.

— Você sabe que tem um exército a sua disposição, não sabe? — Sasori franziu o cenho. — Um único pedido e Sasuke começará uma guerra por você.

— Não é hora de uma guerra — Sakura retrucou afastando-se de Sasori. — Não sem saber onde a Midori está.

— Ela pode estar morta.

— Você tem razão — Apesar da revolta nos olhos esmeraldinos, Sakura concordou com as palavras de Sasori. — E eu não saberia.

— Ainda acha que é uma boa ideia? Morrer?

— É o único jeito de adiar tudo — Sakura olhou para fora e a frustração em suas feições mudou. — Me ajude com isso. — Ela indicou os vampiros no chão e agarrou um deles por si própria, arrastando-o para o fundo da loja de bolos da qual ela era dona.

Sasori fez o mesmo que ela, seguindo até a floresta que havia ali e a ajudou a queimar os corpos com o máximo de descrição que conseguiram.

O Akasuna ainda estava confuso acerca de sua decisão, mas deixou o frasco no fundo de seu casaco por todo o percurso.

Aquela era a consequência por ser apaixonado por uma mulher como Sakura?

Ao retornarem para a loja foram surpreendidos por Sasuke. Era claro que o príncipe dos vampiros não deixaria a mulher de sua vida sozinha por longas horas.

O olhar sério de Sakura fora substituído por algo brilhante, como uma humana inocente faria ao ver o homem pelo qual era apaixonada.

No entanto, essa demonstração não foi o suficiente para que Sasori escapasse do olhar severo de Sasuke em sua direção.

— O que está fazendo aqui, Akasuna? — O Uchiha colocou a mão sob a base da cintura de Sakura e estreitou os olhos levemente.

— Vocês se conhecem? — Sakura perguntou em um tom inocente. Sasori quis rir, ela era boa mesmo. — O senhor Akasuna veio comprar um bolo para a namorada e eu aproveitei para pedir ajuda lá nos fundos com aqueles sacos de farinha. — Apontou para a porta que eles haviam passado.

— Sakura foi gentil em separar um dos melhores bolos para a minha namorada — Sasori comentou displicente, batendo a mão levemente em seu casaco para espantar a poeira. — Levarei a encomenda, Sakura.

— Obrigada — A Haruno sorriu para ele e para complementar o teatro, lhe entregou uma caixa com um bolo que ele não fazia ideia de qual era.

Sasori aquiesceu e se despediu dos dois com uma breve reverência. Ele sentia que teria problema com o príncipe dos Uchihas e já se preparava para um embate que ele não desejava.

— Podia ter esperado por mim — O Akasuna ouviu o murmúrio do Uchiha enquanto se aproximava da saída. — Não confie em homens como Sasori Akasuna.

— Oh, deixe de drama — Sakura riu e pelo canto do olho, Sasori viu que ela abraçou o Uchiha com naturalidade. — Sasori pode ser um bom amigo.

Sakura passou a mão pelo próprio cabelo e suspirou com frustração. Tantos anos haviam passado e aquela conversa com Sasori ainda era uma lembrança viva.

— Sasuke me odeia e a culpa é sua — O Akasuna declarou inaudível. — Nunca mais me peça um favor. — O sorriso travesso em seus lábios fez com que Sakura risse baixo.

— Por que está aqui?

— Porquê essa é a minha família — Sasori declarou convicto. — É por isso que estou aqui.

Sakura aquiesceu e apertou o frasco vazio entre seus dedos.

— Eu entendo.

X-X-X

O restante do dia fluiu sem maiores interrupções.

Sakura permaneceu dentro do quarto, aguardando por ordens de Orochimaru e analisando todo o esquema de segurança da maneira que podia.

Era comum ver sentinelas passando sob a sua janela, os olhos voltados para a floresta em busca de algo.

De acordo com suas contas, por turno eram trinta guardas, eles seguiam em pares para cada perímetro, levando cerca de dez minutos de uma ponta a outra antes de regularem no portão principal. Até que os do turno seguinte se acomodassem em seus postos, levavam cerca de três minutos.

Trinta era um número grande, mas ela sabia que grande parte deles concentravam-se próximos à entrada da sede.

— Estou entrando — O anúncio fora feito sem mais cerimônias. — Nós precisamos conversar — Não era um pedido e ambas sabiam disso.

Sakura encarou Cassandra em silêncio, esperando que a mulher contasse o motivo que a levara até ali.

— Quero propor uma aliança. — A alfa disse sem rodeios. As adagas que ela tinha nas laterais de seu quadril brilharam por um instante. — Sei que você...

— Por que está armada? — Sakura questionou olhando para ela com seriedade. — É uma proposta ou uma intimação?

Cassandra sorriu e seus caninos lhe deram uma aparência selvagem. O cabelo cacheado estava solto, as botas sujas de lama e o casaco tinham manchas escuras que cheiravam a sangue.

— Sei que conversou com Sasori, sei que está do nosso lado.

— Estou do meu próprio lado.

— Se é diferente do Orochimaru, me interessa — Cassandra enfatizou com determinação. — Aquele maldito está aprisionando meu povo.

— Como sabe que eu não estou fingindo?

A expressão de Cassandra era endurecida e a postura tensa de seus ombros deixava claro que ela não tinha a resposta certa para aquela pergunta.

— Eu não me importo. — Ela declarou. — Sei que aquele Uchiha não estava levando aquela luta a sério e sei que você também não estava.

— Não quis acabar com a diversão antes do tempo.

— É perspicaz continuar mentindo — Cassandra observou antes de cruzar os braços. — Mas não sou sua inimiga.

— Não é a primeira pessoa que me diz isso hoje — Sakura pontuou sem baixar a guarda. — Por quê?

— Sakura, eu estou servindo Orochimaru porque estou sendo forçada como um animal enjaulado — A Alfa declarou em um tom baixo. — E você também está presa... Ao menos estava.

— Qual a sua relação com Sasori?

— Aquele pirralho cresceu em nossas terras — Cassandra sorriu de canto, era a primeira vez que a tensão em seu rosto desaparecia por um instante. — Tenho ele como um membro de minha família.

— O menino que foi salvo por lobos.

— O vampiro que faz parte de uma alcateia — Cassandra corrigiu. — Eu não recebi o posto de Alfa por ser bonita, Haruno. Sabia que tinha algo em você desde o momento em que fomos apresentadas.

— Ainda não confirmei suas teorias...

— E Orochimaru sabe que se eu pudesse, enfiaria minhas mãos na garganta dele. — Ao ver que Sakura não reagiu, ela continuou. —Estou oferecendo ajuda em troca de ajuda.

Sakura a analisou cuidadosamente. Algo em Cassandra inspirava-lhe confiança, embora ela nunca tivesse trocado mais do que simples palavras com a loba. Os olhos dela pareciam cada vez mais claros, oscilando entre o azul e o branco. Lembrou do momento em que poupou a vida de Sasuke; ela vira tudo e mesmo assim permaneceu calada, aguardando pelo momento certo.

— Eu posso confiar em você. - A Haruno afastou-se da janela e caminhou até onde Cassandra estava. — O que você quer de mim?

— Quero que destrua a Pedra da Lua. - Cassandra disse firmemente. - Quero que liberte o meu povo das mãos daquele imbecil.

— Não consigo. - Sakura soltou o ar pesadamente. — Não sou humana, a Pedra da Lua me destruiria caso eu tentasse toca-la. Assim como ela é poderosa para vocês, é destrutiva para mim. – Cassandra manteve a expressão inalterada — Lembra-se de que Lycans e filhos da noite eram inimigos?

— Lembro. — A Alfa suspirou antes de sentar sobre a cama. — Eu já não sei o que fazer. - Ela fechou os olhos. — A cada dia que passa mais dos meus estão morrendo e eu não posso fazer nada. - Socou a própria perna com raiva.

— Vamos dar um jeito. - Sakura afirmou e Cassandra levantou o rosto para encara-la. — Vamos pensar em algo.

— Do que você precisa, Sakura? O que te mantém aqui?

— Estou aqui por um imprevisto — Sakura confessou em um murmúrio. Por muito pouco Orochimaru não havia lhe encontrado em um momento errado. — Mas já que estou aqui, quero descobrir sobre os pontos fracos de Orochimaru e retornar para o meu lar antes que me descubram.

— Faremos isso — Cassandra levantou da cama e estendeu a mão na direção de Sakura. — Que sejamos boas aliadas.

Sakura aquiesceu e observou a mulher se afastar em silêncio até que ela parasse na metade do caminho e olhasse novamente em sua direção.

 — Aliás, soube por uma fonte confiável que Sasuke já está na Capital e que fará um pronunciamento daqui há três dias ao pôr-do-sol.

— Existe alguma chance de que eu veja esse pronunciamento?

— Acha que eu te diria algo, se não houvesse uma? - Rebateu a Valerius erguendo as sobrancelhas. - Me encontre daqui a três dias, próximo as celas. - Avisou seguindo para a porta.

— Eu não faço ideia de onde ficam as celas.

— Tenho certeza de que você irá se virar. - Dito isso, ela fechou a porta e Sakura voltou a ficar sozinha.

X-X-X

Em geral os lobos odiavam Sakura Haruno, mas havia um em particular que a detestava: Paul.

O bárbaro lobo de pelos escuros a encarava com interesse doentio. Tanto em forma de homem, quanto de fera.

Sakura sabia que ele era alguém que poderia desmarcara-la se não tomasse o devido cuidado. Paul era alguém que gostava de testar os limites de seus companheiros, mesmo que isso pudesse levá-los para uma recuperação demorada ou no pior dos casos, para a morte.

Os desafios dele, no entanto, não podiam ser recusados. Ela na tinha visto o suficiente de suas artimanhas para entender que quando Paul propunha um desafio, ele tinha que ser acatado de uma forma ou outra.

E apenas por isso que Sakura estava ali, em meio a uma roda de lobos que gritavam em excitação pela batalha que se seguiria.

O maldito atacou quando ela menos esperava.

— Está tão triste em ser o segundo em comando que precisa chamar a minha atenção?

Paul sorriu como uma fera e inclinou seu corpo em uma posição aparentemente pouco confortável.

— Estou eliminando os concorrentes — Respondeu o lobo com um rosnado reprimido em sua garganta. — E arrancar a cabeça de vampiros é prazeroso para mim também.

Sakura não disse nada, mas sentia o leve ardor do arranhão próximo de seu pescoço. Ela observava o treinamento quando fora atacada por Paul e jogada entre os lobos com velocidade.

Orochimaru por sua vez analisava tudo com interesse. Aquele era o tipo de competição que prendia sua atenção.

— Vencerei você sem a ajuda da minha espada. — A postura prepotente de Sakura tinha sido respondida por um rosnado antes que Paul investisse sobre ela enquanto se transformava no enorme lobo preto.

Ele era maior do que Sakura imaginara e o corpo dela foi lançado ao chão. As patas de Paul pressionaram seus ombros com brutalidade, enquanto os dentes estavam próximos do rosto da Haruno, a saliva quente pingou sobre o pescoço dela. Paul gostava de amedrontar suas vítimas.

Apesar de ter os braços imobilizados, Sakura ainda tinha as pernas livres; usou o joelho para bater no abdômen do lobo que ganiu e com a sola do pé direito ela o chutou, derrubando-o. Antes que Paul se recompusesse, a Haruno puxou um dos flancos do lobo, fazendo com que ele ganisse de dor. Com um solavanco, ela o jogou para o outro lado do campo, fazendo com que ele batesse em uma das paredes.

Ela movimentou os braços enquanto esperava por um novo ataque. O impacto havia desestabilizado Paul por alguns instantes e feito com que o público ao redor deles prendesse a respiração para acompanhar cada segundo daquela disputa.

— Vem, cachorrinho.

A provocação causara o efeito esperado. O pelo de Paul eriçou-se antes que ele investisse novamente.

O lobo flexionou as patas dianteiras e correu na direção dela, os dentes alcançaram a clavícula de Sakura que não se moveu.

 A era incômoda e Sakura sentiu o sangue quente escorrendo tanto por seu ombro, quanto por suas mãos que estavam fincadas no ombro de Paul. Ele a prendia entre os dentes deixando clara a intenção de despedaça-la.

Sakura sabia que tinha tomado uma decisão que poderia ser ruim. Usar o próprio corpo para imobilizar Paul podia causar danos irremediaveis.

 Ambos rolaram pela areia, Sakura conseguiu libertar seu ombro da mordida dele e o socou abaixo do maxilar. Ele ganiu novamente, mas o ganido assemelhou-se a um grito gutural.

As garras de Paul cortaram o tecido da blusa que Sakura vestia e abriram cortes na pele da Haruno que arderam com o contato com a areia.

— É hora de acabar a brincadeira, cachorrinho — Sakura declarou ao olhar para as próprias roupas.

Ela avançou e derrubou Paul novamente, prendendo sua mandíbula com o auxílio das mãos. Ele se contorcia e tentava a todo custo atingir Sakura com o auxílio das patas dianteiras quando ela pisou em uma de suas costelas com força.

O estalo alto foi acompanhado de um ganido gutural. E quando o lobo tentou investir mais uma vez, a Haruno sentiu-se no direito de atingido onde deveria ser seu ombro esquerdo com força o suficiente para causar um incomodo grande.

O corpo de Paul transformou-se lentamente a forma humana. Ele cuspia sangue e não era capaz de se manter em pé,

— Vamos acabar com a brincadeira. – A Haruno pisou sobre as costelas dele e puxou a pata esquerda, forte o suficiente para ouvir um estalo; as patas começaram a transformar-se em pernas e braços e o corpo do lobo voltou a ser o tronco de Paul, que cuspia sangue apoiando o corpo no braço direito, enquanto o esquerdo pendia molenga ao lado do corpo.

— Sua maldita... — Os dentes dele estavam manchados pelo próprio sangue. — Vou matá-la!

— Você não é o único que quer isso — Sakura avisou em um tom baixo. O vermelho de seus olhos era intimidador. — Me mate antes que eu possa matá-lo, Paul.

Paul gritou enquanto era conduzido pelos companheiros para um lugar distante dali. Os olhos escuros eram injetados de remorso e pelo desejo de vingança.

Ele era alguém que estava acostumado a ferir, mas que não era capaz de ver o próprio sangue sendo derramado.

Era sinônimo de problema.

X-X-X

O entardecer do terceiro dia chegara acompanhado de nuvens cinzentas que anunciavam uma tempestade.

Sakura tinha visto Karin perambulando pelas dependências do esconderijo antes de desaparecer. Nem mesmo um especialista seria capaz de rastreá-la naquele instante.

Era perfeito.

Sakura tomou um banho e deixou o cabelo solto, o mesmo caia com cascatas onduladas denunciando o uso constante de tranças. As roupas eram pretas, a blusa de mangas e a calça de couro, as botas inseparáveis; dessa vez, a espada estava alocada em sua cintura, de modo disfarçado.

Encarou-se no espelho e saiu do quarto, trancando a porta ao fazê-lo. Seguiu pelos corredores mal iluminados e desceu as escadas que levavam até grande salão. Passou por dois guardas que a cumprimentaram e saiu da sede, com destino ás celas. Descobrira o caminho porque questionara um dos guardas com rispidez, deixando implícito de que qualquer informação negada acarretaria em problemas para ele. As celas ficavam em um local escondido, embrenhado ao fundo da sede dos Lycans, com sua entrada escondida por dúzias de árvores e ervas daninhas.

Correu por três minutos e calculou que caso fosse caminhando, levaria em torno de vinte para alcançar a pequena clareira escondida. Cassandra já a aguardava, sentada pacientemente sobre uma pedra do tamanho de um anão de jardim.

— Achei que chegaria mais rápido. - Disse ela dando um sorriso rápido. - Vejo que me subestimei.

— Cale a boca. - Sakura retrucou, embora retribuísse o sorriso. - Por que viemos até aqui?

— Não vou me arriscar a falar. - Cassandra disse levantando-se, a Valerius passou as mãos cuidadosamente pelo vestido de camurça vinho. - Venha comigo.

Entraram na ala das celas e seguiram por um corredor estreito, o cheiro de mofo e pútrido assolava o local, fazendo com que o nariz de Sakura formigasse. Cassandra empurrou um alçapão, entrando em uma sala escura. Nenhuma delas tinha dificuldade em se locomover pelo escuro e Sakura aproveitou do silêncio para memorizar todo o caminho. A Alfa tateou as paredes e empurrou um tijolo; o barulho de rochas se movendo preencheu o local e em seguida, uma porta fora aberta.

— Um portal. - Sakura disse após ver a luz esbranquiçada que emanava da porta. - Como isso é possível?

— O Clã de lobos foi dividido em dois, por conta de uma richa entre meu pai e meu tio. - Cassandra começou olhando para o portal. - Eles eram irmãos gêmeos, ambos com genes para Alfa, não sei como isso foi possível, mas meu tio não se contentou em ser o segundo em comando.

Sakura conhecia a história, mas parecia importante para Cassandra contá-la, por isso aguardou em silêncio.

 — Haviam Lycans suficientes que eram fiéis ao meu, assim como aqueles que eram legais ao meu pai. — Cruzou os braços e trocou o peso do corpo para o pé direito. — Meu tio ficou com os lobos do Oeste e meu pai com os do Norte. Lucius e eu herdamos as terras, Lucian pois meu tio nunca amou ninguém mais do que a matilha, eu por hereditariedade.

— É necessária magia poderosa para duplicar um portal.

— A mesma magia que trás dois alfas em uma única ninhada — Cassandra acrescentou baixo. Ela se referia ao próprio irmão. — Nosso povo se separou, mas ainda somos um único clã. Por isso temos direito a um único voto durante as decisões do conselho.

— De qualquer forma, o voto dos Lycans continua sendo um só. - Murmurou a vampira passando a língua pelo lábio inferior. — Entendo — Sakura aquiesceu. — Como funciona? — Voltou os olhos para o portal e os estreitou tentando ver algo. —Nunca usei um portal sozinha — Confessou envergonhada.

— Você só precisa imaginar com exatidão a onde quer ir. - Cassandra disse afastando-se do portal. - Visualize em sua mente e coloque toda a sua áurea nesse local; para voltar, você vai precisar disso. - Jogou um colar com um pingente dourado no formato de um lobo. - Só precisa encosta-lo em algum lugar, um portal será aberto e você será trazida para cá. Não se esqueça de fechar a porta ao sair.

— Alguma preferência para local?

— Funciona melhor em árvores, mas portas também servem. - Cassandra ironizou e Sakura revirou os olhos.

A sensação de água morna invadiu-lhe o corpo assim que ela entrou em contato com o portal. Sakura sentiu que estava flutuando, as imagens ao seu redor passavam-se rapidamente, ela não conhecia nenhuma delas. Concentrou-se imaginando com todas as suas forças o local para onde queria ir. Sentiu o cheiro de pinheiros e em seguida a sensação de que estava caindo sem controle algum a atingiu, desaparecendo somente quando suas costas foram de encontro a um tronco.

Praguejou e levantou-se sacudindo o cabelo para livrar-se das folhas que haviam ficado presas nele. Passou a mão pela roupa e colocou a corrente com o lobo dourado no pescoço, escondendo-o em seguida sob a blusa.

 Olhou ao redor procurando situar-se de onde estava, dali podia ver o castelo e não conseguiu conter a ansiedade. Mais abaixo, ela pode ver o vilarejo. O tamanho deste havia triplicado, os comerciantes encontravam-se na parte central, crianças corriam entre as barracas enquanto as mães bradavam para que elas esperassem.

Ainda tinha o mesmo cheiro de suas lembranças.

Sakura correu em direção ao vilarejo, esgueirando-se entre as árvores e muros, tentando passar despercebida enquanto não encontrasse algo que pudesse preservar sua identidade. A multidão parecia ter o mesmo destino que o dela... O palácio.

 A Haruno aproveitou a distração das pessoas e invadiu um quintal, puxou uma capa marrom do varal e a vestiu, puxando o capuz para que ele cobrisse seu cabelo.

Vagou como um vulto entre os aldeões. Ignorou os olhares curiosos dos mais novos e das repreensões dos mais velhos, embora o plano inicial fosse misturar-se entre o povo, Sakura em todos os seus movimentos demonstrava ser uma estrangeira.

 Podia sentir os guardas movendo-se conforme seus passos. Embora estivesse parcialmente atenta a eles, os olhos da Haruno estavam fixos nas torres do castelo, a ligação com Sasuke em combustão. Parte dela queria invadir o castelo e percorre-lo até estar abrigada nos braços do Uchiha, estava tão longe, mas podia sentir os lábios dele em sua pele, quentes, úmidos.

O lado racional a obrigava a ficar do lado de fora, observando como uma espectadora, torcendo para que ele não a notasse. Ele a sentiria, da mesma maneira animal com a qual ela se sentia em relação a ele.

Sakura.

Os pés da Haruno pararam. Ela sentiu um empurrão em suas costas, mas não teve reação para ver o rosto do aldeão que a xingou em um idioma estranho. Sakura havia sentido a ligação com Sasuke pulsar; como se a voz dele estivesse em sua cabeça, firme, forte, suplicante e impossível de ignorar como ela estava fazendo há dias.

Sakura.

Ela continuou parada, os olhos lentamente afastaram-se do castelo e começaram a procurar entre as pessoas o dono da voz. Sasuke não estava ali e ainda assim, parecia não estar protegido pelas paredes do castelo.

Ficou tentada em gritar por ele, mas conteve-se.

Voltou a andar e parou bem no centro da multidão, em frente à sacada decorada por sedas vermelhas e douradas. Haviam quatro guardas, dois nas portas e um em cada extremidade da sacada.

Todos estavam fortemente armados, usavam armaduras de aço e os escudos possuíam o brasão dos Uchihas. Mesmo que Sakura não perambulasse pelo castelo há séculos, ela sabia que a regra continuava sendo a mesma. A Guarda-Real era constituída por vampiros com mais de cem anos, normalmente com indicações do Conselheiro de Guerra ou por escolha de um dos nobres.

— O que você acha que o futuro Rei irá anunciar? - A voz infantil fez com que ela despertasse de seus devaneios. - Não há um pronunciamento real há quase duzentos anos, eu acho. A ultima vez foi quando os Uchihas anunciaram que iriam morar no mundo humano e antes da última vez, foi para anunciar a condenação de uma traidora de sangue - Concluiu ele pensativo.

Ao olhar para o garoto, o coração de Sakura quase parou.

O mesmo rebelde e espetado, preso por um elástico deixando-o semelhante a um abacaxi; o semblante pensativo, mas que demonstrava que o garoto era dono de um conhecimento inimaginável. A única coisa que o diferenciava de Shikamaru, eram os olhos verde oliva.

— Quantos anos você tem? - Sakura questionou cuidadosa. Tinha certeza de que não era Shikamaru. Ela mesma o havia visto antes de recuperar a memória; Shikamaru era um adulto. - Como sabe de tanto?

— Tenho doze anos, algum problema? - Retrucou o garoto cruzando os braços, a expressão dele era irritada. - Não me confunda com aqueles pivetes. - Indicou algumas das crianças que corriam de um lado para o outro. - Posso ter pouca idade, mas sei muito mais do que muitos desses idiotas. - Concluiu em um tom convencido. - Meu nome é Shikadai. - Acrescentou em um tom cauteloso.

— Sem sobrenome?

— Não é esperto dizer meu sobrenome para uma estranha. - Shikadai rebateu voltando a encarar o palácio. - E como você se chama? Não me lembro de tê-la visto pela aldeia.

— É a primeira vez que estou aqui. - Respondeu a vampira desviando os olhos de Shikadai. - Me chamo Sakura.

— Sem sobrenome? - Shikadai repetiu a pergunta de Sakura ironicamente. – Justo - Acrescentou ao ver a expressão dela.

— Você me lembra alguém, Shikadai. - Sakura disse após um tempo em silêncio. - Até mesmo no nome. Um velho amigo, caso queira saber.

— Dizem que eu me pareço com o meu pai. - Shikadai murmurou ainda sem encara-la. - Mas eu não acredito que você o conheça...Não, tenho certeza de que você não o conhece.

Ficaram em silêncio.

A curiosidade de Sakura estava atiçando-a a questionar mais o garotinho, mas mordeu a ponta da língua ate sentir o gosto do próprio sangue. Shikadai era inteligente e qualquer coisa que ela dissesse poderia coloca-la em uma encrenca.

As trombetas soaram, seguidas por baterias. As portas foram abertas e a multidão passou a ajoelhar gradativamente, semelhante a um efeito dominó. Sakura ajoelhou atordoada, seguindo o exemplo das pessoas à sua frente; Shikadai também estava preparando-se para ajoelhar-se, mas ela ouviu-o dizer uma última vez:

— Sabia que Sakura foi o nome de uma traidora?

Ela não respondeu. Os olhos continuaram fixos no chão, enquanto as trombetas soavam. O som era imponente e em seus últimos momentos, parecia ficar cada vez mais alto. Logo que acabou o povo levantou-se e Sakura os imitou.

Não conseguiu evitar, mas seus olhos vagaram para a figura vestida de preto com um manto vermelho. O futuro Rei não poderia utilizar a coroa, que estava cuidadosamente depositada sobre a cabeça de Fugaku, porém, todos sabiam que grande parte da responsabilidade imposta para o Rei já era dele. Todos esperavam pelo momento em que Sasuke deixaria de ser príncipe e finalmente assumisse o papel de Imperador.

Sasuke observou o povo com cuidado. Os olhos negros vasculharam todos os rostos possíveis. Os nobres estavam nas primeiras fileiras, trajando roupas de seda e pesadas joias adornavam-lhes os pescoços, pulsos e dedos, couro para os homens, insígnias para os ex-capitães de guerras. Diferente destes, o povo era simples, caloroso. O Uchiha pode sentir a devoção com a qual eles o admiravam.

— Você pode fazer isso. - Lembrou-se das palavras de Fugaku instantes atrás. - Está na hora de assumir a coroa, filho.

Sasuke apenas assentira, ciente de que aquilo era a coisa certa para se fazer. Não podia fugir mais de suas responsabilidades, não podia deixar seu povo desamparado, mas ainda assim... Queria Sakura ao seu lado, como nunca antes. A queria como sua Rainha, como mulher.

— Povo de Konoha, minhas saudações. - Sasuke disse com a voz firme e alta. Não existiam microfones em Konoha, mas o povo não parecia ter dificuldades para ouvi-lo. - Tem sido um longo tempo desde a última vez em que nos encontramos, creio que todos saibam que minha família decidiu co-existir com humanos pelos últimos séculos. O Rei Fugaku, meu pai, manteve-se consciente de todos os problemas no reino e resolveu-os da melhor forma que pode, justamente.

Os olhos de Sasuke voltaram a passear pelo povo e por instinto, olhou para uma figura encapuzada entre eles.

— Apesar de seus anos à frente do Reino do Fogo, chegou a hora em que eu devo assumir as minhas responsabilidades. O nosso Reino está sendo ameaçado. - Sasuke continuou encarando a figura. Sentia atração por ela e tudo o que conseguia ver era os olhos vermelhos brilhantes. Franziu o cenho, inclinou o corpo enquanto tentava decifra-la. - Mulheres e crianças serão guiadas pelos soldados para abrigos subterrâneos, longe da Capital. Homens que sentirem-se dispostos, estão convidados a bradarem suas espadas contra os inimigos ao nosso lado.

A comoção fez com que ele parasse. Ao menos era o que se justificaria, se os olhos dele não estivessem fixos em Sakura como nunca antes.

Ela sentia que devia correr, mas não pôde.

— O exército é forte, temos homens e vampiros que treinam conosco desde a infância, temos Tenentes experientes e eu serei um dos que estarão na linha de frente. - Uma ventania repentina assolou o local. Mulheres seguravam suas saias, enquanto tentavam manter o cabelo organizado. O vulto havia transformado-se em uma estátua de cabelos róseos, que observava Sasuke horrorizada.

O peito do Uchiha doeu e ele teve vontade de saltar de onde estava e correr até ela. Sequer podia acreditar no que seus olhos viam.

 — O coração de Konoha é o povo e farei o que estiver ao meu alcance para protegê-los. - Levou o próprio punho ao peito. - A nação do Fogo continuará mantendo seu império. Nossos muros não irão cair. - O povo gritou o nome dele em euforia, em meio a aplausos exagerados. O povo o amava e a única pessoa a qual ele amava estava ali.

Sakura.

 


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Notas finais do capítulo

Continua...Mereço reviews?
Eai, o que acharam?
Me contem qual foi a parte favorita do capítulo pra vocês, em breve responderei as reviews, beijão!