Chains escrita por Priy Taisho


Capítulo 26
Capitulo 25 - Receptáculos de Purificação


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo reescrito em 23/03/2021.
A demora foi porque tudo o que está aqui foi arduamente distribuido em 25 páginas hahaa
Espero que gostem, eu particularmente amei heheh
Boa leitura!



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Receptáculos de Purificação

Naquela noite, Sasuke estava exausto.

Ele sentia que todos os membros de seu corpo precisavam do dobro de força para que ele pudesse se movimentar. Os ombros carregavam um peso ainda maior, aquele que ainda era aplacado porque Fugaku ainda possuía controle sobre a coroa.

Todos ao seu redor o olhavam com receio. Eles sabiam que o príncipe poderia ser impiedoso em certos momentos. Todos os Uchihas haviam sido criados para liderar.

E os súditos devia respeito ao futuro Rei.

Sasuke passou pelas portas de carvalho que davam acesso aos jardins sem hesitação. Ele sabia que sua ausência geraria comentários entre os convidados, mas não sentia disposição para aquilo.

A parte raivosa que ele controlava dentro do salão ainda habitava em seu peito. Sasuke sabia que não havia muito o que ser feito quanto aquelas interações de Sakura com Sasori, mas entender e aceitar eram questões completamente diferentes.

Ele sentia que a qualquer momento interromperia os músicos e arrancaria sua mulher dos braços dele. Sasori a olhava com tamanha cobiça que Sasuke precisava impor a si mesmo um esforço considerável para não retornar e interromper tudo.

Qualquer homem em sã consciência adoraria ter Sakura como companheira.

A eternidade para os vampiros podia ser lenta, entediante e massiva, mas companhia de alguém como ela seria ainda mais agradável. Mesmo que ela fosse uma humana, com pouco menos de cem anos de vida...Sasuke a queria perto de si ainda desta maneira.

Ele desceu os degraus de mármore que levavam ao jardim e cumprimentou alguns dos guardas espalhados pelo caminho com um leve gesto de cabeça. Seu destino não era a clareira, nem mesmo o lago e muito menos seus aposentos.

Sasuke apenas queria recuperar um pouco do controle que havia perdido, apreciar a brisa fria e enfim, retornar para a tortura silenciosa que seria imposta à si.

O Uchiha olhava para o céu com o cenho franzido quando a brisa trouxe um cheiro familiar. Ele o reconheceria a qualquer distância e seus pés, já moviam-se em direção à uma área mau iluminada do castelo que ele não recordava de frequentar com frequência.

O cheiro era intenso próximo de uma passagem que era habilmente camuflada por arbustos e seguia em direção ao campo de treinamento, embora desviasse-se para a floresta.

Sasuke continuou andando, os guardas estavam alheios ao que o príncipe fazia, mas tornavam-se cada vez mais escassos conforme o Uchiha embrenhava-se entre as árvores, o caminho tinha apenas a luz precária da lua.

— Este cheiro... – O Uchiha murmurou com os olhos vermelhos vagando cada pequeno espaço com atenção. Ele era um caçador, todos os seus sentidos eram próprios para isso e quando conseguiu avistar o pequeno vulto que corria a muitos metros de si, Sasuke correu.

O pequeno invasor não havia tido chances contra a imponência do ataque de Sasuke. O grito estrangulado havia morrido em sua garganta antes mesmo que ele tivesse a chance de gritar.

Sasuke era muito parecido com uma fera.

As presas expostas, o cabelo desgrenhado, as roupas escuras e seus orbes vermelho-sangue que brilhavam em meio a escuridão causavam medo. O aperto de seus dedos não era gentil, mas poderia eliminar a vida daquele que estava em seu enlace com apenas um aperto.

Humanos eram tão frágeis. Principalmente crianças.

 - Quem é você?

O garoto parecia alarmado. Uma das bochechas sangrava e o cabelo preto estava preso em um rabo de cavalo alto, as mãos que tentavam afrouxar o aperto de Sasuke estavam repletas de lama. Ele havia tentado se esconder e depois fugir, quando sabia que nada daquilo daria certo.

Uchihas eram caçadores.

— Eu... – O moleque balbuciou com os olhos castanhos brilhando em meio as lágrimas. – Eu...

— Esta capa não é sua. – Sasuke atestou ao ver a capa marrom que o garoto vestia. A memória de Sasuke era excelente para lembrar de Sakura saindo há poucos dias com aquela vestimenta e o cheiro dela não deixava dúvidas. – Ladrãozinho...O que eu deveria fazer com você? – Ele estreitou os olhos e pela primeira vez, notou confiança no olhar do garoto.

— Meu nome é Shikamaru Nara. – O garoto rebateu contendo as próprias lágrimas. – E não sou nenhum ladrão. – Ele acrescentou com orgulho. – Estou procurando a princesa Sakura.

— E o que um humano como você sabe sobre ela? – Sasuke ainda o segurava, mas afrouxou o aperto para descê-lo até o chão. – Por que está perambulando pela floresta, garoto?

— Meu nome é Shikamaru.

— Eu não me importo. – Sasuke arqueou as sobrancelhas. – Tem sorte de ter sido eu a encontra-lo, meus guardas não são tão generosos com humanos invasores... — As ameaças por trás das palavras de Sasuke fizeram o garoto temer. – Eles matariam você se o tivessem notado.

— Meu cheiro está disfarçado. – Shikamaru apontou para a capa que vestia. – Nenhum deles mataria a princesa.

— Você...

— Shikamaru! – A voz irritada de Sakura foi o suficiente para que Sasuke o soltasse. O menino adquiriu uma expressão preocupada. – O que está fazendo aqui garoto? Quer se meter em confusão? – Ela passou por Sasuke sem olhá-lo e abaixou-se na altura do jovem para observá-lo. – Você tentou mata-lo?— Ao notar as marcas vermelhas ao redor do pescoço de Shikamaru, Sakura estava pronta para descontar toda a irritação em Sasuke.

— Ele é um invasor.

— Ele é meu amigo. – Os orbes verdes continham a raiva com pouco esforço. – Já disse para não vir até aqui sem a minha companhia. Os guardas...

— Eu sei! – Shikamaru a interrompeu e afastou o toque de Sakura do machucado em seu rosto delicadamente. – Midori pediu para avisá-la: Não perambule pela floresta sozinha, há lobos por aqui.

— O que?

— Lobos, Sakura. – Shikamaru avisou com seriedade. Era possível ver o tipo de adulto que aquela criança se tornaria apenas por sua maneira se se portar. – Há pelo menos seis deles por toda a floresta. Nós o vimos, é perigoso.

— Eles não possuem permissão para entrarem no nosso território. – Sasuke disse seriamente, esperando que o garoto recuasse diante de suas palavras. – Isso significa guerra, garoto. Tem certeza do que está dizendo? – Avançou contra o garoto na intenção de coagi-lo, mas Sakura se colocou entre eles. – Sakura! – O Uchiha disse entredentes.

— Ele está nos dando um aviso!

— Está me dizendo que há inimigos dentro do nosso território. – Sasuke retrucou sem paciência alguma. – Se o que ele diz é verdade, entraremos em guerra.

— Eu não minto.

— Não diga mais nenhuma palavra. – Sakura ordenou para Shikamaru. – Não pode falar com o seu pai sem termos provas.

— Não confia no que eles dizem?

— Shikamaru e Midori são de confiança. – Sakura afirmou passando a mão pelo vestido. Ela estava com uma expressão pensativa, mas estava atenta a qualquer movimento que Sasuke ousasse fazer. – Mas o seu pai não acreditará apenas na palavra deles. Morreriam por calúnia.

— E o que você espera que eu faça?

— Sasori está no castelo, podemos contata-lo.

— Quer usar da sua influência com seu noivo para esta situação? – A indignação de Sasuke fez com que a Haruno revirasse os olhos. – Exterminarei cada um dos invasores com as minhas próprias mãos. – As presas ficaram evidentes e a ameaça nas palavras de Sasuke se tornaram reais. – Vá para casa moleque, este não será um lugar seguro para uma criança como você.

— Mas...

— Vá. – Sakura insistiu. – Sasuke está certo, é perigoso. Amanhã nos encontraremos.

— Certo. – Shikamaru aquiesceu e cobriu a cabeça com a capa antes de virar-se para Sakura mais uma vez. – Sakura?

— Sim?

— Tome cuidado com os lobos. – Avisou antes de sair em disparada.

Sakura não estava preocupada com o destino de Shikamaru. Ele era uma criança esperta e chegaria em casa sem maiores problemas.

— Falemos com Sasori.

— Não darei informações ao inimigo. – Sasuke retrucou passando as mãos pelo cabelo. - Acha que por ele ser seu noivo, não irá sentir-se ofendido por uma insinuação que pode ser errônea? Os Lycans e os Akasunas possuem um pacto. O compromisso formal com você não é nada.

— Pare de insinuar esse compromisso! – Sakura gritou irritada. – Temos um problema maior. Pare de ser inconveniente, não é momento para o seu ciúme! – Disse séria, na tentativa de dissolver a expressão de fúria de Sasuke.

Sasuke fechou a mão em um punho irritado; o ar escapou-lhe pesadamente. Continuava possesso e uma invasão somente lhe inflamava os nervos. Uma invasão durante o aniversário do Reino era uma afronta que jamais seria perdoada.

— Farei uma ronda. – Ele decretou por fim. – Sozinho. Se encontrar algo fora do comum, sinalizarei.

— Não pode ir sozinho. – Sakura pareceu assustada pela primeira vez. – Isso é suicídio. – Ela se aproximou do Uchiha quando notou que suas palavras não fizeram efeito. – Me deixe ir junto.

— Não. – Sasuke não repeliu o toque dela, mas a sua decisão já havia sido tomada. – Você fica. Não quero vê-la nesse tipo de situação.

— Tenho tanto treinamento quanto você.

— E eu tenho o direito de pedir que você fique. – Sasuke fechou os olhos ao sentir as mãos de Sakura em seu rosto. – Eu sou um bom rastreador, se encontra-los, evitarei um confronto. Eu prometo.

— Ainda assim é perigoso.

— Chamarei Itachi e Naruto para irem comigo. – O rosto de Sasuke estava cada vez mais próximo. – Precisa avisá-los por mim, para que saiam discretamente.

— Não estou calma com toda essa situação. – Ela murmurou sentindo os lábios dele contra sua pele. – Os lobos agem bem em bando. Vocês serão apenas três.

— Nós nos divertiremos muito. – O sorriso nos lábios de Sasuke desapareceu ao notar a expressão severa da Haruno. – Prometo que voltarei para você, meu amor. – Ele jurou beijando-a por um momento.

Sakura pareceu relutante, mas logo seus lábios entreabriram-se para que ele a beijasse da maneira que devia. E ela o correspondia com entusiasmo, sentindo que as mãos de Sasuke passeavam por seu corpo sem vergonha alguma, tocando lugares que apenas ele tinha conhecimento.

Ele a pressionou contra uma das arvores e sorriu ao ouvi-la arquejar. Sakura estava com as pernas ao redor de sua cintura, as mãos delicadas envolvidas em seu cabelo, os suspiros pesados batendo contra seu ombro enquanto ele lhe beijava o pescoço e descia por todo o seu colo sem pudor algum.

— Os lobos. – Ela murmurou extasiada. – Não podemos, Sasuke...

— Eu voltarei para que nós terminemos isso. – Sasuke garantiu ainda a segurando com firmeza. – Voltarei para você.

— Espero que seja bom em cumprir suas promessas...Eu não lhe perdoarei se algo acontecer.

X-X-X

Fingir era uma arte que todos eles aprendiam desde muito cedo. E por isto, durante todo o percurso da festa, Sakura conseguiu manter um sorriso em seus lábios, mesmo sabendo que todos aqueles que eram importantes para si estavam em um possível perigo.

Encontrar o Uchiha junto de Shikamaru tinha sido uma verdadeira surpresa. Ela não havia percebido a presença do garoto até vê-lo sendo agarrado por Sasuke (aquele que ela procurava cuidadosamente pelas redondezas do castelo).

— Não se preocupe, princesa. – A voz baixa e elegante atraiu a atenção de Sakura que mantinha seu olhar fixo nas portas. – Eles ficarão bem.

A mulher tinha cabelos escuros e olhos perolados, um sorriso singelo nos lábios e aparentava uma elegância que se sobrepunha aos que estavam ali. Sakura já a tinha visto algumas vezes e, se não estava enganada, aquela era a mulher pela qual Naruto estava apaixonado.

— Hinata Hyuga. – A Haruno murmurou com compreensão. – O que sabe sobre isso?

— Não mais do que você. – Hinata respondeu em um tom igualmente baixo. – Mas ninguém além de nós foi capaz de nota-los. E se não estou enganada, os lobos não estão acompanhando o lorde Akasuna.

— Então é uma invasão.

— É o que a lógica diz. – Hinata ergueu a taça de vinho até seus lábios e manteve a expressão pensativa. – Mas não entendo o porquê. Estamos em paz há tantos anos e nem mesmo as reuniões entre nossos povos tem dado indícios de algum gesto de...desagrado. – As palavras de Hinata pareciam ter como único objetivo levantar dúvidas e mais dúvidas para a Haruno.

— Tem certeza de que eles ficarão bem?

— Os lobos já foram. – Hinata murmurou com concentração. – Já é hora do amanhecer.

As duas mulheres conversaram por mais algum tempo, até que Hinata decidiu partir, acompanhada de parte dos convidados que despediam-se com sorrisos satisfeitos em seus rostos.

Sakura aguardou até que sua presença fosse dispensável e dirigiu-se até os próprios aposentos com passos lentos, ao contrário de sua mente, que estava em frenesi.

Os raios de sol adentravam as janelas do castelo e nem mesmo a bela vista do céu era capaz de distraí-la do medo. Ela temia que os Uchihas e Naruto tivessem sido guiados diretamente para uma emboscada.

A Haruno adentrou o próprio quarto e aceitou a ajuda das criadas para retirar as roupas. Elas desatavam os nós do espartilho e puxavam o tecido do vestido com delicadeza, mas estavam preocupadas com a expressão de Sakura que dava a impressão de que apenas seu corpo estava presente no comodo.

— O banho está pronto, senhorita. – Uma delas disse atraindo a atenção dela. – Podemos ajudar com mais alguma coisa?

— Não, muito obrigada. – Sakura murmurou em resposta. – Podem ir.

Elas se despediram com um aceno de cabeça e levando o vestido consigo, deixaram a Haruno sozinha mais uma vez.

O banho foi demorado. Ela sentiu a água quente em contato com sua pele e permitiu-se ficar de olhos fechados por um tempo, até que a calmaria de seu próprio banheiro não foi o suficiente.

Ela procuraria Sasuke por conta própria.

E com tal pensamento, Sakura enrolou-se em um hobe de seda preta e começou a buscar por alguma peça que fosse adequada para correr livremente pela floresta. O cheiro deles provavelmente ainda estaria fresco.

Um barulho pequeno foi o suficiente para que a Haruno virasse com velocidade. A lamina prateada estava encostada em seu peito, pressionada sutilmente contra a pele desnuda de seu colo, onde uma gota carmesim escorria.

— Olá, irmãzinha. – Karin murmurou com os olhos vermelhos. – Me desculpe por aparecer sem avisar.

— O que está fazendo? – Sakura olhou para a lamina contra si e em seguida para a irmã. Ela ainda usava as mesmas vestes do baile, mas não parecia a anfitriã animada de poucas horas atrás. – Karin, se afaste de mim.

— Vai me dizer que está com medo da sua irmãzinha? – A ironia nas palavras da ruiva fez com que Sakura estreitasse os olhos. – Mas por que eu não sinto o cheiro de medo em você?— A fisgada no peito de Sakura aumentou quando a ponta da lamina foi pressionada com mais força contra sua pele. – Por que não vejo medo em seus olhos?

— O que você quer?

— Quero que fique longe dele. – Karin cuspiu as palavras sem cerimonias. – Quero que pare de tomar o que é meu!

Aproveitando do pequeno descontrole da irmã, Sakura a golpeou no pulso, fazendo com que a faca caísse distante das duas.

Karin fez menção de busca-la, mergulhando em direção à penteadeira, mas foi impedida por Sakura, que a imobilizou contra o chão. O sangue manchava a pele da mulher de cabelos róseos, mas a expressão enfurecida que estava em seu rosto havia causado medo em Karin.

Por um momento, ela pensou sobre o quão errada havia sido a ideia de coagir Sakura.

— Você roubou o meu presságio. – Karin debateu-se, mas não conseguiu liberar a si mesma do enlace de Sakura. – Pare de querer roubar o meu noivo!

— Víboras como você não precisam de proteção. – Sakura rebateu erguendo uma das mãos para pressionar o rosto de Karin com força. – Não venha ao meu quarto e ache que conseguirá me intimidar, irmãzinha. – Os olhos dela brilhavam como sangue e as presas expostas combinavam com o rosnado que habitava em sua garganta. – Lhe matarei antes que consiga me ferir.

— Fique longe de Sasuke! O príncipe é meu.

— Então porque está discutindo sobre isso comigo? – Sakura arqueou as sobrancelhas e levantou-se, observando de longe Karin erguer-se do chão enquanto endireitava as próprias vestes. – Vá embora.

— Você vai pagar por isso. – Karin apontou para a irmã e parecia recolher todos os pedaços de sua dignidade para afastar-se em direção à saída do quarto. – Vai se arrepender disso, Sakura! Eu lhe farei pagar.

— Estou ansiosa pela conta, irmãzinha. – Sakura disse com tranquilidade. – Agora saia daqui. Não estou com humor para suas birras.

— Oras, você...

— Saia agora.

X-X-X

— Não encontramos nada.

— Estou feliz por isso. – Sakura murmurou enquanto amarrava os cadarços da bota marrom que cobria seus pés. – Mas os alertas são reais, Naruto. – Ela acrescentou ao ver o olhar resignado do Uzumaki.

— Como eles desapareceriam sem deixar o menor rastro? – Naruto passou a mão pelo cabelo e fechou os olhos. – Tem certeza de que Midori e Shikamaru não estão errados?

— Eu confiaria minha vida à eles.

Naruto permaneceu em silêncio enquanto refletia sobre tais palavras. Ele havia conversado com Hinata por muitos dias desde então e a Hyuga concordava veementemente com o que os outros diziam, haviam lobos no território Uchiha.

— Hinata também acredita. – Naruto confessou por fim. – Disse que eles estão se escondendo com a ajuda de magia.

— E quando você e ela irão resolver seus sentimentos? – A troca de assunto surpreendeu o Uzumaki. – Vocês formam um belo casal.

— Não me afastarei de você até que tenha selado um pacto. – Naruto recitou a promessa que eles haviam feito desde crianças. – Serei seu guardião até lá. Quando não precisar mais de mim, estarei livre para vagar pelo mundo em busca de minha donzela.

— Não precisa procurar quando ela está tão próxima de você.

— Não posso esperar que Hinata me entenda. – Naruto disse com um sorriso fraco em seus lábios. – Nem pedir para que ela me espere.

— Também não precisa se privar de tudo o que sente por minha culpa. – Sakura comentou em um tom baixo. – Eu renunciaria à nossa promessa por você. Já estou grande, não preciso de proteção.

— Sabe porque presságios são designados para as pessoas, Sakura? – Naruto perguntou e obteve como resposta um leve levantar de ombros. – Porque os deuses do destino são capazes de ver quais serão os desafios que aquela alma enfrentará. E quando o perigo se torna tão grande que ela não será capaz de enfrentá-lo sozinha, nós aparecemos.

Por isso dizem que vocês são maus agouros.

— Nós tentamos evita-los. – Naruto riu diante do tom irônico de Sakura. – Somos presságios.

— Já entendi. – Sakura revirou os olhos e deitou-se sobre a grama com paciência. – Não falaremos sobre isso até o momento certo.

— Você não entendeu nada do que eu disse?

— Estou brincando, Naruto! – Sakura riu e cutucou o Uzumaki. – É apenas uma pequena brincadeira.

Sakura passou o restante da tarde no jardim, juntamente com Naruto. Eles entraram em um acordo de que não deveriam falar sobre os assuntos que os sobrecarregavam há tantos dias.

Eles permaneceram sob o sol e contaram as primeiras estrelas que surgiam quando o céu começou a escurecer. Poderiam ficar daquela maneira por muito tempo, apenas apreciando a companhia um do outro.

— Preciso ir. – Naruto comentou. – Preciso encontrar...Hinata. – Ele confessou envergonhado, fazendo com que Sakura risse.

— E onde vocês vão?

— Para uma taverna na cidade. – O loiro confessou antes de passar a mão pelos cabelos. – Ela me mandou um bilhete pela manhã, através das chamas da lareira.

— Eu não consigo imaginar o quão romântico deve ser. – Sakura sorriu e incentivou o amigo a levantar. -  Vá, não se atrase por mim.

— Ficará bem sozinha?

— Não estou sozinha. – Sakura ergueu os ombros e olhou para o céu por um momento. – Logo Sasuke estará aqui, ele passou com Itachi há poucos minutos em direção ao castelo.

— Ele ainda não sabe como resolver tudo isso?

— Não. – Sakura confessou com um suspiro. – Ainda faltam meses para o casamento, mas jamais consegui me acostumar com a ideia de que irei perde-lo.

— Não pense sobre isso.

— Talvez uma guerra os atrase. – Sakura arqueou uma das sobrancelhas e a repreensão no olhar de Naruto lhe fez rir. – Ou apenas adiantaria tudo. Cem mil homens, general Haruno.

— Vou embora antes que você diga mais asneiras.

— Tenha um bom encontro, meu amigo. – Sakura acenou para Naruto. – Nos vemos mais tarde.

Sakura permaneceu sentada sobre a grama por muito tempo. Seus olhos esmeraldinos observavam o movimento ao seu redor com paciência, o cabelo rosado esvoaçava conforme a brisa do vento.

Ergueu-se do chão com um olhar perdido, o vestido branco dava a impressão de que ela flutuava em direção à floresta como um anjo perdido. Ela caminhou com os braços pendendo ao lado de seu corpo, mas com passos firmes e inconscientes.

Seus olhos piscaram algumas vezes ao notar que estava quase no coração da floresta. O céu estava escuro e a luz da lua iluminava apenas os cantos que não estavam cobertos pelas copas das árvores.

Ela não sabia como havia parado ali, mas todos os seus sentidos apontavam para o perigo. A sensação de que estava sendo observada infiltrava em cada pedaço de seu corpo, a mesma impressão que ela tinha desde que as aparições haviam começado.

Sakura não contara para ninguém sobre aquilo. Ela sabia que nem Sasuke, nem Naruto descansariam com aquela informação.

Ao ouvir um rosnado baixo e o barulho de galhos sendo quebrados sem descrição alguma, Sakura soube o que a espreitava. Lobos.

Um arrepio percorreu sua espinha ao notar o enorme lobo preto que estava saindo do meio das arvores. Os caninos estavam expostos, as patas grandes quebravam os galhos conforme ele se aproximava. O rosnado foi ficando cada vez mais alto; Sakura recuava aos poucos, sua mente trabalhando em uma alternativa para que ela continuasse viva. Suas costas bateram contra um tronco e ela viu-se sem saída.

O alarme era real.

Rolou para o lado assim que o lobo investiu, começando a correr desenfreadamente. O lobo havia sido mais rápido e saltara sobre as costas da Haruno, derrubando-a no chão com violência. Os dentes afiados fincaram na lateral esquerda do abdômen de Sakura, um pouco abaixo das costelas e puxaram de forma violenta, fazendo com que ela gritasse. Uma das patas estava sobre o seu braço esquerdo e Sakura pode jurar ter ouvido um de seus ossos partir, além da dor lasciva que a acompanhava.

Um trovão abafara os gritos da Haruno e logo em seguida, a tempestade os atingiu.

Com a mão livre, Sakura desferiu um golpe contra a cabeça do lobo, na esperança de que ele a soltasse. Os ataques, se possível, tornaram-se ainda mais violentos. O vestido branco agora estava sujo de lama e sangue, sangue esse que estava por toda a face do lobo que estava determinado a retalha-la.

A vampira gritou no mesmo instante em que um raio cortou o céu. Esticou o braço livre à procura de algo que a livrasse do animal e encontrou um galho.

Os dedos escorregavam e ela não tinha muito tempo para pensar em algo melhor do que aquilo. Quando finalmente conseguiu alcançar o galho e segurando-o da forma mais firme que pode, Sakura o enfiou no olho do lobo que ganiu e afastou-se pelo tempo o suficiente para que ela corresse. Ela sentiu o braço esquerdo doer, enquanto a mão direita estava entre as costelas numa tentativa falha de estancar o sangue.

A dor era lasciva e ela sabia que a tendência era aumentar, pelo menos até que conseguisse se livrar do lobo que ainda a perseguia de forma insistente. Sakura sabia que seria alvo fácil em qualquer lugar que ousasse tentar se esconder. O cheiro do sangue a denunciaria.

A chuva estava espessa e os galhos ricocheteavam sob seu rosto e principalmente, nos ferimentos. A visão estava se embaçando, a coordenação estava falhando. Seus pés enroscaram-se em uma raiz.

— Maldição. – Praguejou puxando a barra do vestido que estava repleta de lama. – Argh. – Mordeu os lábios reprimindo um grito. – Forçou-se a recomeçar a correr assim que notou uma sombra se aproximar. – SAIA DE PERTO DE MIM, SAIA! – Gritou correndo desastrosamente por entre a mata.

— Sakura! – A            quela voz familiar quase a fez parar, mas a Haruno continuou a correr, acreditando que sua mente estava lhe pregando peças. – Precisa de ajuda!

Forçou as pernas e todo o corpo a correrem, embora o que mais quisesse era parar. Ceder ao cansaço.

Por causa da visão embaçada, esbarrou em mais duas arvores. Caiu, arfando, sentindo um gosto amargo tomar-lhe a boca. Um relâmpago fez com que tudo clareasse momentaneamente. Em sua frente, estava Sasuke.

O cabelo grudava em seu rosto e os olhos vermelhos demonstravam preocupação.

As mangas da camisa branca estavam manchadas de sangue.

— Quem fez isso com você? – Perguntou fazendo menção de se aproximar. – Sakura, consegue me entender? – A Haruno debatia-se nos braços de Sasuke e não parava de olhar nas direções opostas em busca de algo que ele desconhecia. – Sakura...

— Lobos. – Ela arfou a resposta, os lábios estavam repletos de sangue. – Vá embora, Sasuke. – Sakura fez menção de empurrá-lo, mas o Uchiha não se moveu. – Está queimando!

Antes que Sasuke pudesse responde-la, Sakura gritou. E nem mesmo o barulho dos trovões foi capaz de abafar a agonia que ela sentia.

— Veneno. – Sasuke concluiu puxando a manga da própria camisa e amarrando uma parte do tecido no braço de Sakura para imobiliza-lo. – Sakura? Mantenha-se acordada. – Ordenou ao ver que os olhos da Haruno estavam fechando-se novamente.

Sasuke notou que os batimentos cardíacos dela estavam diminuindo. Os lábios estavam manchados por sangue, mas ele já percebia o leve arroxeado que estava surgindo. Eram os vestígios de morte.

— Sakura, fique acordada! – Ele disse alto, deitando-a sobre as folhas, Sasuke passou a tentar estancar o ferimento. – Sakura! – Ela não o respondia. A respiração de Sakura estava descompassada.

Em um ato impensado, Sasuke a mordeu. O veneno do Uchiha fez com que a vampira arfasse ainda mais, as unhas dela cravaram na terra.

— Pare Sasuke, não. – Ela murmurou ao ver que ele havia aberto um corte em seu próprio pulso. O sangue escarlate escorria pela pele branca com certa dificuldade. – Não podemos selar um pacto, não...

— Você não pode morrer. – Sasuke disse seriamente, apertando o pulso para que o sangue escorresse rápido. – Não posso te perder, Sakura. Não ainda. – Disse pressionando o pulso contra os lábios da Haruno. Ela resistiu, mas ao sentir os caninos de Sasuke rasgando a pele de seu pescoço, Sakura o mordeu, sugando o sangue do pulso do Uchiha, agarrando-se a ideia de que sua vida dependia daquilo.

Ela e Sasuke estavam unidos por toda a eternidade.

X-X-X

A barra do vestido roçava-lhe os pés descalços, enquanto ela andava de um lado para o outro. O cabelo estava emaranhado, em alguns fios haviam folhas secas. As mãos estavam juntas, enroscando os dedos uns nos outros de forma nervosa. As laterais do vestido (outrora branco), mesclava-se em um liquido vermelho escuro e barro.

Os olhos carmesins fitaram a figura masculina de forma irritada.

Sasuke parecia sereno, escorado em um tronco enquanto mantinha os olhos fechados. A camisa estava inundada por sangue e haviam algumas gotas do liquido em seu rosto. Para a vampira, demonstrar serenidade era algo que ele estava acostumado a fazer. No entanto, agora ela era capaz de senti-lo.

E sentir que Sasuke estava tranquilo com tudo o que acontecera a irritava.

— Vai acabar tendo um ataque de fúria.

Ela desviou o olhar de um pássaro (que ela ao menos notou estar observando) e fitou Sasuke de forma nada educada.

— Vou atacar você! – Sibilou a rosada entredentes. – Vamos ser decapitados, tem noção do que você fez?!

— Do que eu fiz? – Sasuke abriu os olhos lentamente; as presas tornavam-se visíveis conforme ele movimentava os lábios para falar. Os olhos tão vermelhos quanto o sangue de sua camisa faiscaram. – Eu salvei a sua vida, donzelas comuns ficariam agradecidas.

— Nós vamos morrer!

— Estamos vivos. – Sasuke rebateu. – Quando dizem que os sentimentos ficam compartilhados, eu não fazia ideia do quão incomodo seria sentir o que você sente, Sakura. – Disse apoiando as mãos no chão e levantando-se tranquilamente. – Principalmente quando seus instintos variam em me matar ou me empurrar contra essa árvore e praticar atos sexualmente selvagens.

— Você... – Ela passou a língua pelos lábios. – É impossível lidar com você, Uchiha. – Respondeu ela irritada. – Seu noivado acontecerá daqui a poucos meses!

— Não poderei me casar, oras. – Sasuke replicou com irritação. – Não posso me casar com Karin, nunca pude. E agora estou com você por toda eternidade, resolvi todos os nossos problemas.

— Apenas nos causou mais deles!

— Eu não me importo. – A raiva que atingiu Sakura foi aterrorizante, mas não era dela. A força das emoções de Sasuke podiam ser sufocantes. – Não lhe deixaria morrer, não em meus braços. – Ele se levantou e a puxou para um abraço firme, prendendo-a em seu enlace para que ela não pudesse se afastar. – Não há arrependimento em mim, Sakura. Eu a amo.

— Estamos enfiados em tantos problemas. – A Haruno resmungou sentindo seus olhos lacrimejarem. – A invasão é real, Sasuke. O que faremos? – As mãos dele acariciaram a pele exposta na lateral do corpo dela por alguns segundos antes que ele declarasse:

— Guerra. – Aquela era a opção que eles queriam evitar a todo custo. – Não posso deixar que eles escapem. Pedirei para que fechem todas as fronteiras hoje mesmo. – Ele acrescentou encostando os lábios no rosto de Sakura. – Contarei ao meu pai sobre o que aconteceu hoje.

— Não conte sobre nós. – Sakura pediu de imediato. – Não ainda. Sabe o que eles farão caso descubram.

— Não farão nada à você. – Sasuke garantiu com seriedade. – Eu te dou a minha palavra.

— Espere ao menos alguns dias. – Sakura murmurou pensativa. – Se descobrirem sobre nosso pacto, você ficará vulnerável.

— Tem razão, você é a minha fraqueza. – Sasuke sorriu para Sakura e ousou roubar-lhe um beijo. – Não contarei nada por enquanto, mas meu pai não poderá fazer nada quanto à isso. Você é a prova que precisamos.

— Me desculpe, mas não me sinto pronta. Não ainda.

— Está tudo bem. – Sasuke garantiu e seus olhos retornaram ao negro que Sakura tanto gostava. – Estarei com você por toda a eternidade. – Repetiu antes de beija-la.

Sakura havia entrado no castelo pela área dos criados, usara uma chave enfeitiçada que Midori havia lhe dado para entrar em seu quarto. Livrou-se das roupas e dirigiu-se até o banheiro, tomando um banho demorado com sais perfumados que eliminaram os resquícios de sujeira e sangue que marcavam sua pele.

Durante o banho, sua mente vagou para o lobo que a atacara. Lobos... Ela sempre havia ouvido de seus pais que os lobos eram estritamente respeitosos com os tratados. Por que a atacariam justo quando um dos seus estava residindo no castelo?

Ela sentiu que Sasuke, em algum canto do castelo, estava agoniado. Por um momento, não soube distinguir se a sensação partia dela, mas o queria perto. Queria a pele dele fundida com a sua, seus corpos entrelaçados...

Unidos por toda eternidade.

X-X-X

Uma nova noite de bailes. As comemorações tornavam-se cada vez mais frequentes, a realeza encontrava cada vez mais motivos para comemorar.

Desta vez era o aniversário de Sasuke.

Para Sakura, era impossível presenteá-lo com algo que o príncipe não possuísse e por isso, ela contentou-se em dar à ele uma corrente com detalhes dourados e dois pontos de esmeraldas que formavam uma pequena letra S. Era algo discreto que ele poderia usar por dentro de suas roupas, mas que lembraria dela sempre que o visse.

— Precisa ir, majestade, é seu grande dia. – Ela murmurou em meio ao riso quando ele a beijou com intensidade. – Estou séria no que digo, você vai se atrasar.

— Quero passar meu dia com você. – Sasuke decretou como uma criança birrenta. – Não me importo com festas, nem com convidados. – Ele a beijou por um instante. – Apenas quero aproveitar a companhia da minha mulher. – As mãos dele passeavam pelo corpo de Sakura, apertando as coxas da mesma sem pudor algum.

— Vá antes que venham te procurar. – Ela quis aparentar seriedade, mas riu ao ser mordida por ele levemente. – Após o baile, faremos nossa própria comemoração.

— Estou pronto para te cobrar isso.

— Uma Haruno paga suas dívidas.

Antes que Sasuke partisse, Sakura o beijou mais uma vez. Ela teve a sensação de que havia algo de estranho naquele beijo, como uma despedida silenciosa.

E tal sensação assolou seu peito por todo o dia, mesmo enquanto ela sondava as emoções irritadiças do Uchiha. Era impossível ignorá-lo por completo.

As batidas na porta assustaram Sakura, que admirava o próprio reflexo no espelho.

O vestido vinho possuía brilhantes por todo o busto e algumas pedrarias por toda a extensão da saia volumosa, embora não houvesse tantos saiotes quanto os ultimos que ela usara. Sakura teve dificuldades em vesti-lo e por um momento, mas ainda assim dispensou a ajuda das criadas.

Uma parte dela ainda esperava que Sasuke aparecesse de surpresa para vê-la durante o dia.

Ela levantou-se e em passos calmos, abriu a porta para o visitante que adentrou o quarto sem cerimônia alguma. Naruto.

— Achei que Karin usaria vermelho hoje. – Ele comentou com ironia, abraçando a amiga rapidamente. – Não sei que inocência ela quer demonstrar com aquele vestido branco.

— Ela ainda acha que está noiva. – Sakura revirou os olhos diante do comentário do amigo. – É compreensível.

— É tolice. – Naruto sentou-se na cama enquanto Sakura retomava seu lugar a penteadeira. – Quando Sasuke falará com o Rei?

— Até o final da semana. – Sakura contou enquanto escolhia um perfume. – Estamos prontos para falar a verdade para todos.

— Isso desencadeará uma guerra.

— Não temos visto lobos por aqui desde então. – Sakura murmurou compenetrada. – Acha que eles voltarão?

— Se não voltarem, por que você era o alvo? – Naruto arqueou as sobrancelhas, mas não existia resposta para sua pergunta. – Me desculpe por não estar ao seu lado aquele dia.

— Não é culpa sua. – Sakura revirou os olhos. – Tanto você, como Hinata, foram enganados. Sabiam que vocês eram capazes de detectá-los. Foi apenas uma jogada óbvia.

— Mas eu devia...

— Não ouse me irritar com suas lamentações. – Sakura arremessou uma das escovas no Uzumaki que protestou. – É uma noite de festa.

— Serei seu acompanhante essa noite.

— Oh, mas eu estava esperando por um príncipe! – Sakura parecia resignada e a careta que tomou as feições de Naruto fez com que ela risse. – Prometi uma dança a Itachi.

— Então eu dançarei com você na vez do Akasuna. – Naruto decretou, estufando o peito com orgulho. – Não deixarei que Sasuke interrompa, ele não será capaz de se controlar.

— Às vezes penso que é mais amigo dele do que meu. – A acusação nas palavras de Sakura eram repletas de ciúmes. – Estou farta de vocês dois confabulando pelas minhas costas!

Naruto apenas riu.

X-X-X

Enquanto descia os degraus da escada que levava ao salão, Sakura soube que seria difícil, se não impossível, resistir ao desejo de ficar próxima à Sasuke. Ao pé da escada, Itachi a aguardava com um sorriso. O Uchiha mais velho beijou sua mão e enlaçou seu braço ao dela, justamente como o combinado.

— Devo comentar que a senhorita, está deslumbrante. – Ele disse cortês. – Será difícil evitar todos os homens que lhe encaram com desejo. – Disse ao conduzi-la para o meio do salão.

— Você e Naruto são responsáveis por evitar qualquer confusão. – A Haruno murmurou e não deixou de sorrir diante do bom humor que Itachi apresentava. – Estou falando sério.

— É claro, cunhadinha. – O Uchiha mais velho respondeu endireitando a postura. – Serei um dos seus seguranças pessoais durante esta noite. É o meu presente para o meu querido irmãozinho. – Ele comentou enquanto conduzia a Haruno na direção dos demais.

Tanto seus pais e Karin, quanto o rei e a Rainha estavam parados próximo da entrada e recepcionavam os convidados com educação. Sasuke também estava ali, as roupas luxuosas, o peito repleto de medalhas que a própria Sakura desconhecia.

Karin mantinha um sorriso nos lábios, mas parecia incapaz de demonstrar simpatia para a irmã. O ódio em seus orbes era imensurável.

Sakura não soube por quanto tempo permaneceu alheia a conversa que os rodeavam, mas sentiu seu braço sendo puxado sutilmente por Itachi para conduzi-la em direção ao centro do salão.

Para a primeira dança.

Sakura soube que, se caso aquele momento não houvesse sido ensaiado diversas vezes, de forma repetitiva e exaustiva, teria errado os passos da melodia harmoniosa que preenchia o salão. A voz da Ninfa preenchia o ambiente, em notas que pareciam ter sido feitas para seu tom melodioso. Os violinos e as harpas também tinham um impacto forte sobre a música, que começara de forma suave e intensificava-se a cada instante.

Itachi segurava firmemente em sua cintura, girava-a pelo salão, afastava-a e fazia com que Sakura aproximasse-se de si em movimentos delicados. Ela mantinha as mãos nos ombros de Itachi, ele a conduzia com maestria.

Houve um momento, em que o som dos instrumentos cessaram. Apenas a voz da Ninfa era ouvida e as luzes do salão estavam apagando-se magicamente, deixando a todos em um quase-breu proposital.

Sakura sentiu seu corpo rodopiar para longe de Itachi. Podia ver que as demais damas também repetiam esse mesmo movimento. Ela havia sido direcionada para Sasori, mas um par de braços a segurou, transformando a dança em algo agressivo... Sensual.

A melodia parecia acompanhar os conflitos internos de Sasuke e Sakura. Era visível a forma com que seus corpos se encaixavam, de como o corpo dela era submisso aos comandos que Sasuke lhe dava. Os olhos dele estavam fixos nos de Sakura, um sorriso brincava nos lábios do Uchiha. Ele a conduziu por todo o salão, tendo consciência de que os outros presentes haviam passado a rodeá-los, ficando as margens do local.

Mikoto colocou as mãos sobre os lábios, Mebuki que estava ao seu lado mantinha a expressão séria. Karin havia se livrado do enlace de Itachi de forma agressiva, as orbes vermelhas vidradas nos movimentos de Sasuke e Sakura.

Durante as ultimas notas, Sasuke curvou o corpo de Sakura e a segurou firmemente pela cintura. Poderia beija-la, gostaria tanto de...

Os aplausos pareceram penetrar na bolha em que eles haviam entrado.

Ajeitaram-se e mantiveram as expressões intactas, os olhares conectados.

Apenas alguns foram capazes de perceber a verdade.

X-X-X

Uma das lembranças mais claras para Sakura, fora em uma noite em que ela estava trancada na biblioteca do castelo. Os candelabros iluminavam o ambiente e ela estava sentada de forma confortável em uma das almofadas com um livro de romance em suas mãos. O vestido rosado esparramava-se pelo tapete e ela parecia extremamente concentrada em sua atividade. Enquanto buscava por serenidade, podia sentir a adrenalina que percorria as veias de Sasuke durante a caça.

Ela tinha decidido não acompanha-lo durante aquela noite.

A porta da biblioteca fora aberta e fechada com sutileza, ao levantar os olhos Sakura viu Karin, que parecia satisfeita. A ruiva puxou um livro de capa esverdeada de capa azulada de uma das prateleiras e sentou-se ao lado de Sakura, agindo como se aquele fosse um gesto natural de sua parte.

— Eu sei o que você fez. – Karin comentou baixo, mantendo os olhos no livro. – E você vai pagar por isso.

— Se for algum pecado ficar em silencio numa biblioteca, diga aos anciões que eu peço perdão. – Sakura respondeu ácida. Agora, ela tentava continuar sua leitura, mas os olhos não passavam das primeiras linhas.

— Não acho que eles vão se incomodar com isso ao saber que Sasuke traiu a família. – Karin disse quase que cantarolando. – Os receptáculos de purificação logo, logo ficarão prontos. – O livro de Sakura caiu no chão em um baque surdo. – Existem indícios de que ele foi o responsável por trazer os lobos até aqui, sabe? – O desinteresse nas palavras de Karin não eram o suficiente para encobrir seu veneno.

— Do que está falando? – Sakura deixou o livro sobre o chão e levantou-se com movimentos cautelosos. – Sasuke não teve nada a ver com a invasão.

— É uma boa justificativa, já que ele foi capaz de romper o acordo de nossas famílias. – Karin deixou o livro sobre a estante e olhou para Sakura com seriedade. – E para isso os lobos, para encobrir a quebra da promessa. Me parece plausível.

— Foi você.

— Não sei do que está falando, irmãzinha. – Karin sorriu para Sakura. – Tudo o que sei, é que meu coração está partido. Todo o meu futuro esvaiu-se pelos meus dedos, o futuro da família Uchiha será manchado pelo fantasma da traição de Sasuke. – Karin colocou a mão direita sob o peito e suspirou. – Nunca pensei que veria um rei queimar antes mesmo de assumir ao trono.

Sakura avançou contra Karin e a agarrou pelo braço. Os orbes esmeraldinos oscilavam entre o verde e vermelho, as presas estavam a mostra e o rosnado ameaçador apenas intensificou-se quando o corpo da ruiva foi arremessado contra uma das paredes.

— Você acabou com a minha vida. – Karin retrucou irritada. – Sempre um empecilho, você deveria ter morrido quando aquele lobo te atacou. – Puxou o braço e as garras de Sakura percorreram um caminho pela pele branca de Karin, manchando-a de sangue.

— Então foi você! – Sakura bradou agarrando a irmã com mais força. – Você quem fez isso, sua maldita!

Karin iria abrir a boca para protestar, mas Sakura a socou no rosto e antes que ela se recuperasse, fez com que ela batesse as costas numa das estantes.

Karin arfou e tentou se defender ao sentir o toque da irmã de cabelos róseos em seu pescoço. A força que Sakura utilizava poderia partir o pescoço de Karin em instantes.

— Vou matar você! – Sakura rosnou irritadiça. Sua raiva mesclava-se a adrenalina que ela sentia por parte de Sasuke. Ele estava preocupado, ela conseguia sentir. – Vou arrancar os seus olhos, sua bastarda!

Karin arranhou o rosto de Sakura e isso fez com que a vampira se afastasse bruscamente; podia sentir o gosto de sangue nos lábios. Com um rosnado, ela aproximou-se novamente de Karin, puxou-a pelos cabelos e ambas caíram pelo chão. Os joelhos de Sakura estavam prendendo o corpo de Karin, a mão direita desferia golpes no rosto da vampira que já estava repleto de sangue.

— Me matar não vai adiantar em nada! – Gritou a ruiva em um tom de deboche. – Eu tenho quem faça o trabalho sujo por mim. Sasuke vai morrer de qualquer forma. – Sorriu, os dentes estavam manchados de vermelho.

— Vou me livrar da sua presença demoníaca. – Sakura disse ameaçadoramente, as garras indo em direção a garganta de Karin. – Vou arrancar o seu coração. – Sua mão fincou no peito da irmã, que arregalou os olhos.

— Me matar não vai adiantar em nada. – Karin repetiu as palavras com escárnio. – Sasuke irá morrer de qualquer jeito. – As ameaças em suas palavras eram reais, assim como a mão de Sakura estava roçando em seu coração. – Dê sua vida no lugar dele e eu prometo, que Sasuke viverá. – Acrescentou após engasgar-se com seu próprio sangue.

— Não posso deixar que você viva. – Sakura rosnou. – Não quando devo minha vida à ele. Você é uma ameaça, Karin.

— Alguém fará o trabalho sujo por mim. – Os lábios de Sasuke estavam manchados de sangue, assim como seus dentes quando ela sorriu. – Mas se trocar com ele, eu prometo que o deixarei viver.

— Que tipo de ideia deturpada é essa?

— Devolva a vida que ele lhe deu. – Karin disse com uma expressão insana. – E devolva a vida que você me tomou.

— E se eu não o fizer? – Sakura apertou os dentes e olhou para a irmã que ainda mantinha o sorriso nos lábios. – Karin...

— Amanhã Sasuke será acusado de traição. – Karin murmurou tais palavras como se contasse um bom segredo. – Tenho provas o suficiente para que ninguém consiga defende-lo nem em um julgamento de mil anos. Você o verá queimar diante dos seus olhos e não poderá fazer nada.

— Achei que você o amasse.

— Eu amo o poder que ele me trará. – Karin não estava arrependida de nada do que dizia. – Você é tola, por isso aceitará a minha condição. Essa é a sua fraqueza, irmãzinha. – O aperto em seu peito fez com que a Haruno de cabelos vermelhos arfasse, mas ela riu ao notar que os olhos de Sakura estavam lacrimejando.

— Eu poderia acabar com você aqui mesmo...

— É livre para fazer o que quiser. – Karin ainda mantinha o sorriso nos lábios. – Pode ter passado a vida inteira nos campos de treinamento, mas agora, sou eu quem dita as regras. Obedeça ou ele morre. Ate você que é estúpida o suficiente será capaz de entender a seriedade em minhas palavras.

Sakura retirou a mão ensanguentada do peito de Karin. Olhou para a irmã com nojo, o seu maior desejo era retalha-la. Mas aquilo não livraria Sasuke das punições. Ela não tinha escolha.

— Eu aceito. – Sakura manteve o olhar fixo no de Karin, que parecia deleitar-se com a cena. – Mas jure que trará Midori até mim. – Avisou ameaçadoramente.

— Fico feliz que tenha sido prudente, maninha. – Karin levantou-se com dificuldade e cobriu o ferimento em seu peito com uma das mãos. – Eu juro que a cigana irá ao seu encontro. – Os lábios dela ainda estavam sangrando. – Foi uma sábia decisão.

— O que dirá a eles?

— Que você estava conspirando para me matar. – Karin explicou com paciência. – Direi que invejava meu relacionamento com Sasuke. O ferimento em meu peito é o suficiente para comprovar isso. – Ela continuou com seriedade. – Não é a primeira vez que vemos irmãs invejosas no receptáculo de purificação.

Naquela mesma noite, durante a madrugada, os guardas invadiram o quarto de Sakura à mandato de Fugaku.

Os pais de Sakura encaravam a filha com repudio, enquanto correntes pesadas eram postas sob os pulsos finos da rosada. Karin os abraçava, fingia um soluço inconsolável. Enquanto era conduzida para fora do quarto, Sakura viu Mikoto a acompanhando com um olhar triste. Os olhos escuros estavam marejados e ela segurava a barra do vestido negro com força. Mikoto, que sempre demonstrara afeto para com ela, parecia querer desmoronar a qualquer momento.

Ela não viu Itachi, não viu Sasuke.

Sentia a preocupação do Uchiha mais novo, ele sabia da aflição que Sakura havia passado durante o confronto com Karin. Agora, ela tentava manter-se calma, precisava fazer isso até que conseguisse falar com Midori.

Fora conduzida para o subterrâneo do castelo. Tochas iluminavam as paredes de pedra, haviam poças d’agua no chão e Sakura pode jurar ter visto um rato passar por seus pés. Os guardas a empurravam sem delicadeza alguma, ela não esperava isso. Ela ainda era da realeza e mesmo sendo uma prisioneira, eles ainda lhe deviam respeito.

Jogaram-na numa cela escura, com um cheiro podre e que não possuía janelas; a única claridade provinha das tochas que ficavam o mais longe possível de suas vistas. Os pulsos foram presos a algemas que provinham de correntes presas no teto, impossibilitando o movimento dos braços.

Repentinamente, ela havia sido socada no rosto. Rosnou e investiu contra o soldado que tornara a agredi-la novamente, dessa vez com mais força. As correntes machucaram lhe os pulsos e ela sentiu uma espécie de coleira ser colocada em seu pescoço. Era grossa, gelada e impedida qualquer movimento que ela ousasse fazer com a cabeça.

Sakura apanhou como nunca havia apanhado em toda a sua vida. Haviam cortes em seus braços, em seu rosto e ela passara a cuspir sangue a cada novo ataque. Suas pernas queriam ceder, repousar no chão frio. E apesar de tudo, queria evitar que Sasuke sentisse o que ela estava sentindo.

Sua mente vagava por melodias, por poesias, pelos momentos em que ela verdadeiramente havia se entregado para o Uchiha. Ela o amava, da forma mais irracional que ela poderia cogitar. Por toda a eternidade.

Pendera a cabeça para trás. Podia ouvir os passos dos soldados se afastando, suspirou aliviada. Sua penitencia seria a morte, algo dramático que a incomodava tremendamente. Queria gritar, contar o que tinha acontecido. Sabia que Mikoto, ao menos, a ajudaria. Mikoto ficaria ao seu lado, porém, sua família não. A família já a condenava, assim como condenariam Sasuke por ter lhe dado a vida novamente.

Seguiam as penitências familiares, enquanto uma guerra poderia se iniciar a qualquer momento.

Não soube quanto tempo ficara ali, sozinha, afundada num silencio que perfurava os seus tímpanos, sangrando todo o liquido vital que seu corpo possuía. A solidão era a linha tênue para a insanidade. Sakura estava sedenta, os caninos machucavam seu lábio... Há quanto tempo estava ali?

Estava tão desconcentrada, não conseguia distinguir os sentimentos de Sasuke dos seus. Julgava-se vazia, incapaz de sentir algo, os olhos mal ficavam abertos.

A cabeça pendia sobre um dos ombros, de forma desconfortável. Era estranho mas... Podia ouvir passos?

Abriu os olhos e viu uma luminosidade que se aproximava gradativamente, os olhos estreitavam-se e ela podia distinguir duas formas altas e uma pequena. Virou o rosto, a tranca da cela rangeu. Os lábios preencheram-se de saliva, estava com tanta fome.

— Sakura, o que fizeram com você? – Ela voltou o rosto para a entrada da cela e viu um vulto com capuz. – Só consegui vir agora, me perdoe. – Ao baixar o capuz, Sakura pode ver Midori. Conseguiu distinguir os cabelos castanhos que caiam por seus combros como uma cascata, os olhos da mesma tonalidade a observavam de forma preocupada. O pingente do colar em formato de meia lua e um sol parecia reluzir. O pescoço de Midori parecia tão atrativo... – Você...

— Você não pode morrer, Sakura. – A voz infantil despertou Sakura de seus devaneios. Ela viu, ao canto da cela, ao lado de Naruto... Naruto... Estava Shikamaru. O garoto apertava a barra da capa que tinha ganho de presente da vampira com força; Sakura pode sentir o cheiro das lagrimas do garoto. – Não desse jeito, não assim... Não é sagaz. – O garotinho esfregou as mãos no rosto indignado. – Não é um ato heroico, você não vai ser reconhecida por isso... Não pode morrer. – Com o nariz vermelho, os olhos marejados e o rosto manchado por filetes de lagrimas, ele a encarou. – Naruto, faça alguma coisa. – Ele recorreu ao loiro, que encarou-o com pesar. – Você é forte! Proteja ela! É o seu dever!

— Naruto não vai fazer nada. – Sakura respondeu bruscamente. – É uma ordem Naruto, não interfira. – Avisou e o Uzumaki me encarou perplexo. – Eu escolhi estar aqui. Aja de forma prudente, Shikamaru. Você é a criança mais esperta que eu conheço. – Um dos caninos cortou o lábio inferior de Sakura. Sua boca estava tão seca... – Naruto, eu te imploro, não deixe que Sasuke interfira. – Pediu e o loiro balançou a cabeça negativamente.

— Ele vai sentir. – Garantiu com pesar. – Assim como está sentindo tudo isso. Ele vai queimar, assim como você quando aquela fogueira for acesa. – Os olhos marejados de Naruto combinavam com sua voz embargada. – Está sendo impossível mantê-lo longe daqui, Sakura. Sasuke está pronto para tirá-la daqui a força.

— Não deixe que ele o faça. – Sakura gritou com desespero. – Não deixe que Sasuke o faça, eu imploro, Naruto! Não deixe que ele morra por mim. – As lágrimas salgadas faziam com que os ferimentos no rosto da Haruno ardessem, mas ela não se importou.

Naruto não era capaz de prometer, mas manteve-se em silêncio diante daquelas declarações.

— É por isso que ela me chamou aqui, Naruto. – Midori, que até então, manteve-se quieta se pronunciou. – Minha querida, você pede que Shikamaru, uma criança, tenha prudência, mas aceita carregar um fardo tão grande. – A cigana se aproximou de Sakura com passos cautelosos e de forma delicada, tocou o rosto da vampira. – Você sabe que eu posso te ajudar e vou romper o pacto enquanto você vai passar por toda essa dor. – Sakura assentiu e fechou os olhos. Os dedos frios de Midori estavam em sua testa. – Sasuke vai sentir um vazio imenso quando você se for, mas pactos são...

— Pela eternidade, eu sei. – Sakura completou. – Obrigada, Midori.

— Você é como uma filha para mim. – Midori disse pausadamente, ao abrir os olhos, Sakura pode ver as feições entristecidas da mulher. – Que a morte lhe acolha e que a vida lhe tome o corpo quando for necessário. Siga a luz. – Ela depositou um beijo em uma das bochechas de Sakura e se afastou deliberadamente, seguindo para fora da cela e puxando Shikamaru consigo.

— Viva Sakura. – Fora o que o garotinho lhe dissera pela ultima vez antes de sumir completamente.

Naruto manteve-se de cabeça baixa por um tempo. Sakura notou o quanto seus ombros pareciam sacudir, enquanto ele segurava uma das barras metálicas da cela.

— Me perdoe por ser um péssimo guardião. – Naruto disse com a voz entrecortada. – Isso não poderia estar acontecendo...

— Você é o melhor amigo que eu poderia ter, Uzumaki. – Sakura interrompeu o monologo dele com um sorriso. – Saiba que em todas as minhas vidas, eu escolherei você.

Naruto a abraçou sem jeito e ela pode ver as sombras dos guardas aproximando-se da cela. Sakura fechou os olhos, sentindo as próprias lagrimas molharem seu rosto.

— Vai ser hoje. – Naruto murmurou repentinamente. – Logo virão te buscar. – Ela sentiu o coração pular. – Midori escolheu o dia certo para poder te ver. – Disse num divertimento forçado. – Me desculpe mais uma vez, Sakura.

— Irmão. – Sakura pronunciou as palavras e ele sorriu fracamente. – Você é meu irmão, Naruto.

Passaram-se horas desde que Naruto havia deixado sua companhia. A cada passo que se aproximava da cela, ela sentia-se reprimida, acuada. Repentinamente, ela não queria acolher a morte. O medo tomou-lhe com todas as forças, ela só queria viver. Desesperada por liberdade, Sakura contorceu-se quando os guardas adentraram a cela com sua irmã Karin, que usava um vestido negro e formoso que arrastava-se no chão conforme ela se aproximava de Sakura.

— Nós deixem sozinhas por alguns instantes. – Ordenou a ruiva. – Quero despedir-me de minha irmã querida.

Sakura sentiu vontade de avançar contra Karin, mas manteve sua expressão intacta. Ela sabia que algo como aquilo aconteceria. Alguém da família precisava despedir-se dos mortos.

Qual é a sensação de saber que morrerá em pouco tempo? – Perguntou de forma venenosa, e ao mesmo tempo, de forma tão comum quanto ela perguntava à Sakura onde estavam as criadas que preparariam o seu banho. – Ingrata! – Gritou quando Sakura cuspiu em seu rosto. Um golpe havia sido desferido contra o rosto sujo da rosada. – Imunda. – Karin a estapeara no outro lado da face. – Merece pagar por ter se aliado com os lobos e traído seu povo. – Karin disse em uma encenação furiosa; Sakura percebeu o brilho no olhar da irmã. – Será um exemplo para aqueles que sequer cogitarem em trair o reino.

Aquela era a armação. Era de se esperar que toda a história de Karin fosse mentira, mas ainda assim, Sakura se surpreendeu ao ser acusada de trair o Reino.

— Está satisfeita com o seu plano? – A mulher de cabelos róseos murmurou cuspindo sangue na direção de Karin. – Eu lhe matarei com as minhas próprias mãos um dia.

— Não faça promessas que não será capaz de cumprir. – Karin sorriu para ela com sadismo. – Vá direto para o inferno, irmãzinha. Não ouse voltar para cá nem em seus tormentos. – Ela se afastou da irmã com passos lentos e gritou: – Levem-na para queimar!

Os guardas puxaram Sakura pelos braços com tamanha força que ela achou que eles iriam soltar de seu corpo. Ela foi arrastada da forma mais humilhante possível por escadas e levadas aos trôpegos para uma parte do castelo que ela não conhecia.

Haviam cordas em seu pescoço e braços, ela foi puxada de um lado para o outro e arrastada pelo chão quando suas pernas não a sustentavam. Foi acorrentada a um poste de madeira, ereta, sem chance de movimento algum. Viu cada um dos rostos dos moradores do reino, viu seus pais a encarando como se fosse um outro julgamento qualquer. Mikoto estava amparada por Itachi. Novamente, não viu sinal de Sasuke.

Ela conseguia senti-lo. A aflição, o medo, o desespero que tomava cada célula de seu corpo e por isso, passou a procura-lo por todo o espaço em busca dele. Apenas ele. Aquele que ela amava.

— Sakura Haruno. – A voz do Rei atraiu a atenção de Sakura, que sequer notara o momento em que ele aparecera próximo de si. – Este é o julgamento que purificará a sua alma.

Sakura nada disse. Ela não conhecia o discurso utilizado nos receptáculos de purificação, mas sabia que o Rei era impiedoso. Ele era a figura de autoridade ali.

— Você traiu a família, o seu reino. –Dissera ele num tom de voz grave. – Como Rei, te dou o direito de purificar a linhagem da sua família que se seguiria a partir de você. Seu sangue impuro preenchera o solo do meu reino, que a luz o toque... Que exista luz através de sua morte. – A espada cortara a garganta de Sakura que passou a jorrar sangue. – Queimem. – Ele se afastou e como em câmera lenta, Sakura focou Sasuke gritando por ela atordoado, enquanto passava por entre os soldados.

Sakura conseguia sentir a dor que atravessava o corpo de Sasuke e aquela era a emoção que ela jamais esqueceria. Doía mais do que seu corpo sendo consumido pelas chamas.

A dor penetrava seus ossos, rasgava-lhe a alma, destroçava seus músculos e ela só conseguia manter os olhos no Uchiha que continuava gritando seu nome, enquanto era segurado por Naruto e por Itachi.

Sentia a pele descolando de seu corpo, a visão estava escurecendo.

Ela ouviu os encantamentos que Midori estava usando, embora não pudesse entende-los. Sasuke caiu arfando no chão, sangue escorria por sua boca e Mikoto gritou algo que ela não entendeu.

A escuridão estava acolhendo Sakura, a morte viera busca-la em trajes vermelhos sangue... Vermelhos como o seu sangue. O coração parava de bater aos poucos, os berros que ela não sabia que estava produzindo foram cessando... Resignada, Sakura acolheu a morte.

X-X-X

Arrastei os meus pés até a porta do quarto que eu dividia com Sasuke, enquanto ainda absorvia tudo o que havia visto.

Como um passe de mágica, aquelas lembranças haviam voltado à minha mente junto da promessa de que se eu precisasse, minha outra versão me encontraria através do espelho.

Eu sabia que ela não tinha me mostrado tudo. Tinham coisas que eu só descobriria com o tempo, mas o peso das lembranças me sufocava.

Poderia enlouquecer com facilidade, se aquilo não fosse apenas um pequeno pedaço de tudo o que eu havia vivido. De todas as vidas que eu tive.

Sakura podia ter me contado. Ela tinha acesso à todas as memórias que eu havia descartado, mas também sabia como eu me sentiria diante de tudo.

A dor nos olhos de Sasuke eram lembranças que nós não queríamos reviver. Nós não podíamos fazer com que ele sofresse novamente, nem permitir que algo do tipo acontecesse novamente.

Ainda existiam lacunas em tudo, mas ao ver o Uchiha em meio as sombras, meus olhos encheram-se de lágrimas e não fui capaz de controlar o choro que me tomou.

Os olhos vermelhos e inquisitivos eram a extensão de toda a aflição que habitava seus sentimentos. Sasuke caminhou até mim com hesitação, não parecia capaz de formular uma frase sequer, apenas de me abraçar em silencio, esperando o momento em que as lágrimas cessariam.

— Sakura, o que aconteceu? – Ele murmurou e suas mãos frias acariciaram os meus braços. – Me diga o que houve, por favor.

— Eu me lembro. – Murmurei piscando algumas vezes para dissipar as lágrimas. – Eu me lembro.

— O que...

Então o beijei.


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Notas finais do capítulo

Continua... Mereço reviews? Recomendações? Críticas?
Eu realmente gosto de saber a opinião de vocês!

PS: Atualizações a cada 15 dias, ou seja, de duas em duas semanas.

Beijão ♥