Serpentarius escrita por Stormy Raven


Capítulo 7
0.6 - Mentiras, Promessas e um Novo Alvorecer


Notas iniciais do capítulo

"O que está fazendo, idiota? Por que isso? Deveria ter fugido!"



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"0.6"
Mentiras, Promessas e um novo Alvorecer

Apesar das dores que sentia ao movimentar o corpo, Isao teve um sono pacífico - a maciez da cama e o silêncio da ala onde estava certamente ajudaram. Despertando aos poucos, pôde observar melhor o quarto: era um simples quarto individual de hospital, nada fora do comum ou digno de atenção. Não havia relógio por perto e as cortinas estavam fechadas, impossibilitando o jovem de saber as horas. Com certeza não poderia ir a aula nesse e nos próximos dias, os médicos não o deixariam sequer ir ao banheiro sozinho!

"Ótimo. As provas começam logo e eu aqui, no hospital. Duvido que me deixem fazê-las depois de todos os outros alunos. Um ano perdido com certeza... Ojii-san deve estar muito bravo comigo. E preocupado."

Sem ter o que fazer para passar o tempo, Koyanagi simplesmente esperou alguém aparecer para que ao menos pudesse saber o que havia acontecido depois que perdera os sentidos. Aliás, a situação de uma certa pessoa o preocupava:

"Será que Yomi está bem? Mesmo sendo Guardiã de Apoio e estando preparada para coisas assim, ela deve ter se machucado um bocado. Acho que ela está em um quarto próximo do meu... Preciso conversar com ela sobre várias coisas, talvez até mesmo pedir para que me treine. Será que ela conhece a Hikari? Acho que sim, os Guardiões e o Apoio devem lutar juntos. É o mais lógico e sábio em uma situação assim."

A imagem de Yomi desabotoando sua blusa veio a mente, fazendo com que Isao engolisse a seco:

"Eu com certeza terei problemas por causa daquilo. Ser encontrado desmaiado, seminu, com uma garota desmaiada e seminua deitada em cima de mim; a direção do Kusari não vai me deixar sair fácil dessa. E ainda tem o Grêmio Estudantil, eles vão comer o meu fígado com aquele falso moralismo deles... Se o boato se espalhar, como tenho certeza de que vai, aí sim estarei com problemas de verdade! O que Hikari vai pensar de mim?"

Passados mais vinte minutos o garoto-problema já não agüentava mais ficar sentado ali sem nada pra fazer. A fome o estava devorando, não havia televisão ou rádio no quarto para que se distraísse e uma crescente urgência em ir ao banheiro o estava atormentando. Por fim levantou-se devagar da cama e, após leve tontura, abriu a porta e saiu.

"Hm, ninguém no corredor. Estranho. Será que acordei cedo demais? Preciso encontrar alguma enfermeira e perguntar onde é o banheiro. E quando sai o almoço."

Isao andou descalço pelo frio corredor e parou em frente à porta do quarto ao lado do seu, que estava aberta. Havia um homem de pé olhando pela janela, de costas para o corredor. Tinha um bom porte físico e estava vestido com um grande sobretudo marrom - apesar de não estarem no inverno. Ele parecia concentrado em observar os arredores do hospital através da vista oferecida pela janela.

- Com licença...

O homem se virou e encarou o rapazinho com inquisitivo olhar. Não deveria ter mais de trinta anos, a julgar por seus traços - apesar de seu rosto carregar certo ar inato de tensão e seriedade. Os cabelos negros e curtíssimos combinavam com a vestimenta em cores discretas - o longo sobretudo marrom, calças sociais negras e uma camisa azul-claro.

- Pois não?

- Pode me dizer onde é o banheiro?

O adulto se aproximou lentamente, ainda medindo o jovem de alto a baixo. Aquele castanho olhar incomodava, era o mesmo olhar penetrante de Yamashirogumi. Isao desviou os olhos e percebeu que a cama do quarto estava desarrumada, talvez o homem acabara de acordar e não estava no melhor de seus humores. Chegando até ele o estranho apontou para o fim do corredor e disse:

- Vire à esquerda no final do corredor, é a segunda porta à sua esquerda.

- Obrigado.

Antes mesmo de percorrer metade do caminho Isao teve de parar, atendendo ao chamado do homem:

- Espere. Acho que você também pode me dar uma informação.

Sem girar o corpo, o garoto apenas olhou para trás:

- E qual seria?

- Sabe alguma coisa sobre a ocupante deste quarto?

- Como eu saberia?

- Você foi encontrado desacordado juntamente com ela.

"Então aquele era o quarto de Yomi. Mas..."

- Onde ela está? Já recebeu alta?

- Ela fugiu, garoto.

"Fugiu? Por que? Yomi está sendo perseguida por alguém? Por que esse cara está atrás dela?"

- Fugiu? Por que ela fugiria?

- Eu esperava que você esclarecesse esse ponto.

- Não falo com ela desde ontem.

- Entendo. Ok, pode ir.

"Ele é um policial, tenho certeza. Quando eu voltar estará me esperando... Tenho dez minutos para pensar no que vou falar pra ele."

Já esquecido da fome Isao tratou de pensar no que diria assim que voltasse ao quarto: teria de ser bem convincente para conseguir despistar aquele policial até encontrar Yomi novamente. Policiais normalmente nunca estavam interessados no que ele tinha a dizer, partindo para a violência na maior parte das vezes, mas, dessa vez, a situação era bem mais complicada. Correr não era uma opção...

"Yomi ter fugido facilita muita coisa, não preciso me preocupar em confirmar o que ela por ventura falasse. Preciso saber se esse cara falou com ela antes da fuga... Como explicar a situação em que fomos encontrados? Aliás eu nem mesmo sei se os outros estão bem. E se outros youkais apareceram no colégio enquanto estávamos nas piscinas?"

Voltando ao quarto Isao não viu mais ninguém no deserto corredor - o que era estranho, considerando que estava em um hospital visivelmente grande. Assim que adentrou a porta supreendeu-se com...

- Shinji? Ligea?

- Isao!

A resposta dos dois visitantes foi conjunta, dando um tom engraçado à cena. Estavam em pé ao lado da cama, aparentemente haviam acabado de chegar; Ligea carregava um tipo de pequena caixa nas mãos e Shinji conservava as suas nos bolsos. Koyanagi sentou-se na cama, feliz por ver seus amigos, e nem mesmo deixou que eles perguntassem algo primeiro:

- O que aconteceu lá? Alguém se feriu?

- Calma aí, nós é que deveríamos estar fazendo o interrogatório. - Shinji parecia muito mal-humorado - O que aconteceu entre você e aquela garota? Por que saiu correndo daquele jeito?

"Droga! Pensei na história pro policial mas esqueci de preparar algo pro Shinji... Não posso dizer sobre youkais assim, de repente, e esperar que ele acredite!"

- Bem... Ela era uma conhecida minha, e, precisava de ajuda.

- Você conhecia ela? Como nunca me falou dela pra mim? Normalmente você fica horas falando das garotas que acaba de conhecer.

- Shinji, é que ela tem uns... Probleminhas com a... Polícia. É, ela tem certos problemas com a polícia, não posso ficar falando dela por aí.

Aragaki suspirou, ainda mal-humorado:

- Isso tá muito mal explicado, eu também tenho problemas com a polícia e não me surpreenderia com isso. Responde direito, Isao: o que vocês dois estavam fazendo sozinhos em um lugar deserto? Foi estranho você sumir daquele modo no meio da confusão. Não vai me dizer que...

- Bem... Fazia um tempo que não nos víamos e... Err... Quer mesmo que eu conte os detalhes?

Com um meio-olhar, o delinquente cruzou os braços e suspirou novamente:

- Quer mesmo que eu acredite nisso?

- Quer mesmo que Ligea ouça?

- Quer mesmo... Ok, ok, eu paro. Mas terá de me explicar direitinho de onde conhece ela.

Isao assentiu com a cabeça, mas mal teve tempo de aproveitar o alívio...

- Você se livrou dele mas não de mim. O que aconteceu para serem trazidos para o hospital?
Ligea parecia bem mais brava que Shinji, apesar de não ter alterado o tom de voz - e do rosto ruborizado, certamente devido aos comentários anteriores. Usava um longo vestido verde e branco repleto de babados, parecendo estar pronta para uma festa.*

- Foi... Fomos atacados.

“Não adianta esconder algo assim. Mas não vou entrar em detalhes.”

Shinji e a loira se olharam, surpresos com a resposta. Isao continuou, sério:

- Sim. Fomos atacados pelas mesmas coisas que atacaram as outras pessoas na Feira Cultural. Duas daquelas... Coisas nos surpreenderam no ginásio e tentamos correr. Eu caí na piscina, Yomi me ajudou a sair não sei como... A última coisa de que me lembro é de sentir um impacto nas costas enquanto tentava proteger Yomi.

- Tem certeza de que não se lembra de mais nada?

Surpresos, os três olharam para a porta onde um estranho - o mesmo que Isao vira antes no quarto ao lado - acabava de entrar, fazendo a pergunta acima.

- Não, não me lembro de mais nada. Quem...

- Detetive Akira Sugiyama, polícia de Tokyo . Estou investigando os recentes casos de ataques por parte dessas, 'coisas', como você mesmo disse. Registramos vários casos em áreas distintas, a maioria com um certo padrão que está deixando de se repetir à medida em que a frequência dos ataques aumenta. Preciso que repita seu relato, dessa vez de modo mais detalhado.

Isao e Shinji engoliram a seco, trocando um olhar temeroso. Akira sentou-se sem cerimônias em uma cadeira em frente a cama, retirando um caderninho de um dos bolsos internos do sobretudo. O ar ficou impregnado com o cheiro de cigarro vindo das vestes do detetive.

- Pois bem, vamos direto ao ponto: você disse que estava com a garota chamada "Yomi" no momento do ataque, certo? Aonde exatamente vocês estavam?

Meio sem jeito, Koyanagi se remexeu na cama e olhou de relance para a janela, em um claro reflexo de fuga. Mesmo tendo 'ensaiado' uma história, não estava confortável o suficiente para contá-la com seus amigos ali...

- Estávamos no ginásio, já disse.

- Em que lugar do ginásio?

- Em um dos vestiários.

- Lembra-se exatamente qual?

- Não.

- Viram alguma coisa ou alguém perto dos ginásios antes de chegarem até lá?

- Não.

- Algo nas piscinas? Algum movimento ou som estranho?

- Não.

Akira brincou com a caneta em sua mão e suspirou, continuando as perguntas:

- O que exatamente vocês estavam fazendo lá? A entrada nos ginásios não é permitida em dias de evento a menos que hajam atrações neles.

- Eu realmente preciso responder?

- Garoto, deixa eu te dizer uma coisa: houveram mortes nesse último ataque e você está envolvido com uma das principais suspeitas. Preciso de todas as informações possíveis sobre ela e sobre você para prosseguir com meu trabalho, além de livrar a sua cara. Não foi uma escolha sábia se envolver com aquela garota.

- Do que você está falando? Yomi nunca mataria uma pessoa!

- Pois eu tenho más notícias, rapaz: aquela que você chama de 'Yomi' é suspeita de assassinato, e não apenas nesse caso. Há anos queremos pegá-la. Suspeitamos de que faça parte de um grupo ou família de serial killers com base em Tokyo. Eles agem há anos com o mesmo modus operandi de sua amiguinha. Sabe como a chamamos? Mononoke Hime*, porque nunca conseguimos pistas sobre ela e sua capacidade de sumir é irritante. E adivinha só: você é a mais nova e quente pista que temos para tentar solucionar o mistério dessa fantasma.

Exaltado, Sugyiama havia se levantado da cadeira, ostentando ódio em sua face. Isao percebeu haver muito mais sobre Yomi do que ele havia suspeitado, mas estava decidido a não dar o braço a torcer: não confiava em policiais, e obviamente eles não sabiam sobre youkais. Seguiria com seu discurso pré-ensaiado no banheiro e torceria para que o policial não houvesse feito perguntas para outras pessoas que por ventura o tivessem visto na feira.

- E então, vai responder agora? O que vocês dois estavam fazendo naquele ginásio?

- Sexo.

Saindo como um tiro, a resposta deixou o clima do quarto ainda mais pesado que antes - não pelo detetive, mas devido às outras pessoas presentes...

- Por quanto tempo antes de serem atacados?

- Me encontrei com Yomi assim que cheguei na escola, andamos um pouco pela Feira Cultural e fomos para o ginásio.

- Não pode especificar os horários?

- Não tenho relógio, e deixei meu celular descarregado desde o dia anterior. Não queria ser interrompido.

O celular na verdade "se afogara" quando Isao fora jogado na piscina, sendo impossível para Sugiyama verificar o fato - sabendo disso, o garoto já havia descartado responder sobre quanto tempo gastara em suas atividades na feira, dando base a respostas superficiais que poderiam ser facilmente modificadas futuramente.

- Entendo. Não tem nenhuma noção da hora em que vocês foram atacados?

- Não senhor.

"Devo me manter firme ou vou acabar criando mais problemas para todos!"

- Garoto, preciso que me relate o mais detalhadamente possível sobre o que os atacou. Você diz que não viu o que era, certo?

- Sim. Estávamos nos secando quando ouvimos um som...

- Se secando?

- Sim. Depois de... De irmos até o vestiário, nadamos um pouco.

- Vocês nadaram? E depois se vestiram para retirar a roupa logo depois?

- Não, nós nadamos com nossas roupas mesmo. Foi idéia dela. Yomi disse que assim era mais excitante...

- Sua amiguinha tem gostos peculiares. - Akira não parecia estar realmente convencido - Continue.

"Ojii-san, perdão por mentir tanto, mas é preciso."

- Enfim, estávamos nos secando e ouvimos um som muito próximo. Acho que a coisa que nos atacou esbarrou em algo, não sei dizer; Yomi disse para correr pois tínhamos sido descobertos, e foi o que fizemos - não tínhamos nem terminado de nos vestir direito. Ouvimos outro som, dessa vez um estrondo violento, mas eu não olhei para trás. Saímos do ginásio e, achando que estávamos a salvo, diminuímos o ritmo; mas foi nesse momento que eu fui atingido por alguma coisa e desmaiei. Depois disso acordei aqui.

- Interessante... Segundo o boletim médico, vocês dois apresentavam sinais de hipotermia em estágio inicial. O que sentiu ao desmaiar?

- Eu não me lembro. Foi súbito.

- E você foi atingido aonde, exatamente?

Koyanagi movimentou a cabeça negativamente:

- Não sei. Acho que nas costas.

O detetive escreveu mais algumas palavras no caderninho e suspirou novamente, comentando:

- Não dá mesmo para confiar em médicos, disseram que você tinha duas costelas quebradas, mas pelo que vejo você se move sem nenhum problema ou dor.

Isao meneou a cabeça afirmativamente, confirmando que não sentia dor alguma no corpo - exceto a causada pela fome. Qual era a razão dos médicos terem exagerado daquele modo sobre seus ferimentos?

- O estrondo que ouviu foi um tipo de impacto descomunal em uma das paredes do ginásio. Aparentemente, algo foi lançado de dentro dos vestiários em direção à piscina. Não sabemos dizer o que foi lançado, como foi lançado, e muito menos por que razão; mas seja lá o que for, causou um estrago e tanto. Curiosamente não encontramos sangue em parte alguma. Isao, isso foi tudo o que aconteceu quando vocês estavam lá? Há vários pontos que não se encaixam...

- É tudo o que me lembro. Foi muito repentino, e tudo o que fiz foi correr quando Yomi disse para faze-lo.

- Ok, por enquanto não faço mais perguntas sobre isso. Mas tem uma coisa que me intriga um bocado: como conheceu e, principalmente, como mantém contato com a Mononoke Hime?

Por essa Isao não esperava... Preocupado em encobrir toda a história sobre youkais, ele não havia pensado em inventar um passado decente para sua relação com Yomi - e isso era vital para que seu relato soasse verdadeiro.

- Bem... Eu a conheci...

"Eu poderia dizer que ela treinava no dojo Koyanagi quando éramos crianças, mas... Não quero envolver ojii-san nessa história. Não posso de modo algum fazê-lo mentir por minha causa."

- ...no metrô.

- No metrô?

"Essa será difícil de engolir..."

- Nos conhecemos no metrô. Eu estava indo para a escola e ela também, sentamos lado a lado por coincidência e ela fez um comentário sobre o Kusari. Conversamos por um tempo e decidimos matar aula no dia... Pra nos conhecermos melhor.
- Isso faz muito tempo?

- Há quase um ano.

- E como vocês entram em contato um com o outro?

- No início nos encontrávamos apenas na estação, sempre no último vagão do metrô em um certo horário exato. Depois começamos a combinar encontros em outros lugares, especialmente nos finais de semana.

- Não trocaram números de celular, e-mails, nada?

- Não. Ela dizia que era mais excitante daquele modo, 'quase como estranhos'. Perdi o contato com ela no fim do ano passado, mas há um mês começamos a nos ver de novo - do mesmo modo que antes. Convidei ela pra feira cultural e, bem, aconteceu tudo isso.

Akira se levantou e guardou o caderninho, mantendo a expressão severa. Olhou para Ligea e Shinji - que até aquele momento não ousaram interromper o relato do amigo - e perguntou:

- E vocês, confirmam tudo o que ele disse?

Shinji sentia-se realmente desconfortável naquele ambiente, estava claro para ele que Isao mentira - o problema era saber o quanto e para quem. Nunca ouvira falar da tal Yomi, e quando a encontraram na feira era evidente que o amigo não a conhecia. Porém, o modo como Isao agira depois, seguindo-a em meio à confusão e também as constantes tentativas de protegê-la durante o relato ao detetive suscitaram dúvidas no jovem membro da Babel. O que Isao estaria escondendo? Apesar de todo esse questionamento, sua resposta foi...

- Sim. Não conheço a garota, mas já tinha visto ela e Isao juntos algumas vezes.

Ligea, por outro lado, não sabia muito bem o que responder. No início pensou em simplesmente contar o que ocorrera até o momento em que se separara de Isao, mas se fizesse isso iria desmentir tudo o que ele havia dito até agora. Ela não entendia por que Isao estava protegendo Yomi - era muito mais simples dizer que ela havia tentado atacá-lo!

"Não vou perdoá-la. Por que você apareceu? Estava tudo tão perfeito!"

- Eu... - a voz saiu falha, mas a loira continuou mesmo assim - Mal conheço os dois. Acabei de me mudar.

Sugiyama arqueou uma das sobrancelhas, farejando uma possível pista:

- Mal os conhece, eh? Por que razão veio visitá-lo então? Pelo que sei o garoto ali não tem um círculo de amizades muito grande...

- Eu tomaria cuidado com o que diz, detetive. - Shinji se aproximou de Ligea e passou um dos braços atrás do pescoço dela, simulando intimidade. Akira recuou, mas franziu o cenho ainda mais:

- Digo o mesmo, Babel.

- Mas o que está acontecendo aqui?

Subitamente um japonês calvo adentrou a sala carregando uma pequena mala branca. Não parecia estar nem um pouco bem-humorado...

- Doutor Gekota, eu suponho.

- Sugiyama, você deveria estar perseguindo meu outro paciente fugitivo ao invés de importunar Koyanagi. Eu ainda não terminei de examiná-lo e nem o liberei para interrogatório. Peço para que se retire imediatamente.

Akira saiu do quarto visivelmente nervoso - aliás, essa parecia ser a única emoção que ele possuía... Ainda sério - porém com um tom de voz mais suave - o médico se dirigiu aos amigos de seu paciente:

- Sinto muito, mas o horário de visitas acabou por hoje. Preciso examiná-lo agora para poder liberar o almoço. Não sei se Isao pode comer normalmente ou precisará de uma sopa ou algo leve, então...

- Tudo bem doutor, já entendemos. Vamos Riggy. Podemos voltar amanhã?

- Talvez. Tudo depende da saúde de seu amigo.

Com um aceno de cabeça Shinji se despediu e saiu, levando uma atordoada Ligea consigo. Vendo-se finalmente sozinho com Isao, Gekota relaxou um pouco e sentou-se na cadeira antes ocupada pelo detetive. Deveria ter por volta de 40 anos no mínimo, e sua aparência impecável e limpa levavam a crer que era um bom profissional. Tinha olhos um pouco maiores que o normal para um japonês...

- Obrigado doutor. Aquele...

O médico levantou a mão espalmada, sinalizando para que Isao parasse:

- Não me agradeça. Eu só interrompi o interrogatório pois realmente preciso examiná-lo. Akira Sugiyama normalmente deixa meus pacientes em um estado de nervosismo muito elevado, piorando a condição da maioria deles. Sei que é o trabalho dele, mas eu também preciso executar o meu em paz. Podemos começar?

Koyanagi assentiu com a cabeça enquanto o médico levantava-se e abria sua mala, retirando alguns instrumentos para o exame. Fora o toque gelado do estetoscópio e a cruel fome o jovem não sentiu nenhum outro tipo de desconforto. O rosto do adulto, porém, mostrava sinais de dúvida:

- Não compreendo... Sente alguma dor no tórax ao se movimentar?

- Não.

- Tem certeza? Nem ao caminhar, ou ao se abaixar?

- Não, nenhuma dor. Algum problema?

- Não. E esse é justamente o problema.

"Mas o que ele quer dizer com isso?"

Finalizando o rápido exame Gekota pegou uma prancheta - antes pendurada em uma das grades da cama - e começou a anotar os resultados nela, tentando esclarecer o jovem:

- Isao Koyanagi, não há absolutamente nenhum ferimento interno ou fratura óssea em seu corpo. O mais estranho de tudo é que no momento em que foi socorrido diagnosticamos ao menos duas costelas quebradas e várias fraturas em outros ossos do seu corpo. Haviam até mesmo alguns dentes seus comprometidos.

Por reflexo o rapazinho cobriu a boca com uma das mãos, checando se tudo realmente ainda estava lá.

- Mas, como eu disse, não há nenhum problema interno em seu corpo. Fora algumas escoriações em sua pele, você está perfeitamente saudável. Você por acaso é um bruxo?

- Bruxo?

- Para que tantos problemas simplesmente sumissem assim, literalmente da noite para o dia, magia seria a resposta. Claro, se acreditássemos nisso... Tudo o que me resta é arquivar seu histórico e mantê-lo em observação.

- Isso significa que terei de ficar aqui por quanto tempo?

- Não tenho certeza. Quer que eu lhe dê alta agora ou depois do almoço?

Gekota sorriu, já fechando a pequena maleta. O som vindo da barriga de Isao foi uma resposta definitiva...

- Pode almoçar normalmente, rapaz. Vou mandar uma enfermeira lhe trazer um almoço completo. Assim que terminar desça até a recepção e assine os papéis que a funcionária lhe entregar. Peço que volte daqui a três dias para que eu o examine novamente - apenas por precaução. Tenha cuidado com suas aventuras eróticas, não quero vê-lo desacordado em uma cama novamente.

"Será que ele sabe algo sobre..."

- Doutor...

- Sim?

O médico já estava fora do quarto quando o rapazinho o chamou novamente:

- Sabe a razão de Yomi ter fugido?

- Quase fiz essa pergunta para você, mas já tinha percebido que não obteria resposta. Ela está evitando a polícia. Não é da minha conta, mas acho que seria melhor você se afastar dela. Não é nada normal alguém recém-hospitalizado fugir pela janela do hospital - ainda mais se a janela em questão está no segundo andar. Espero sinceramente que sua amiga esteja bem. Agora, se me dá licença, tenho outros paciente para cuidar.

- Ok. Obrigado.

-~~*


"Estranhos ataques em Shinjuku deixa cinco feridos e dois mortos."

"Encontrados quatro corpos em beco de Harajuku. polícia ainda investiga a causa das mortes."

"Assassinato em colégio deixa pais preocupados."

"Região costeira evitada pela população: cresce a ocorrência de ataques e estupros."

"Avistamento de alienígenas deixa residentes de um condomínio em estado de terror."

Sentado em um banco de praça perto de sua casa, entre uma pequena pilha de jornais e um pacote de Doritos, Isao lia as preocupantes notícias replicadas nas manchetes, sempre explicitando os 'terríveis', misteriosos' - entre outros adjetivos sensacionalistas - casos de pessoas sendo atacadas tanto durante o dia como na madrugada.

"Há ainda mais casos do que antes... O que raios os Guardiões estão fazendo? Por que não protegem toda essa gente? Essa é a função deles!"

Franzindo a testa, o jovem acabou chegando a uma conclusão própria:

"O problema é justamente o 'toda essa gente'. Vinte e quatro pessoas para proteger toda a Tokyo e proximidades é pedir demais... Isso se todos eles ainda estiverem vivos. Por que o governo não faz nada? Se bem que os Guardiões tem poderes, como aquele raio que vi um deles lançar com as mãos. Mas seria muito mais eficiente se utilizassem armas de fogo ou coisas assim..."

Encerrando a leitura, Isao começa a andar, ainda confuso:

"Não compreendo muito bem a razão de todo esse segredo. Acho que as pessoas entrariam em pânico caso soubessem da existência comprovada de youkais, mas... Se todos já estivessem verdadeiramente acostumados com esses seres, poderíamos nos preparar melhor para ataques assim. Talvez até mesmo usar o exército contra essas coisas. De onde será que os youkais vem? É um mundo próprio, é outro planeta, ou seria um reino nas profundezas do nosso mundo? Droga, eu queria saber mais sobre tudo isso, mas minha família não preservou nada... Terei de fazer o que venho adiando por todo esse tempo. Aliás, não tem como escapar dessa decisão - ainda mais com o que aconteceu no colégio."

Respirando fundo, Koyanagi hesitou por um momento antes de finalmente introduzir a chave na fechadura e girá-la lentamente, liberando o acesso a seu lar. O cheiro do jantar invadiu-lhe as narinas, mas seu estômago não reagiu de imediato. Isao estava evitando ir para a casa durante todo aquele dia, com receio do que seu avô lhe diria quando chegasse. Deixando o hospital após um farto almoço, ocupou o tempo lendo jornais e acessando a internet em uma lan house próxima em busca de notícias - sobretudo as que claramente eram obra de youkais. Mas, agora que começara a escurecer, o jovem percebera que tudo aquilo fora em vão: mesmo que ficasse até altas horas na rua, teria de voltar para casa em algum momento. Seria burrice permanecer fora depois de escurecer, visto que os ataques dos monstros aconteciam em sua maioria durante a noite. Além disso, era crueldade preocupar ainda mais o seu avô com uma ausência inexplicável logo após deixar o hospital.

- Bem vindo de volta, Isao.

Iwao Koyanagi surgiu frente ao jovem em resposta ao som que a porta fez ao ser fechada. Não parecia estar nervoso, mas a preocupação era evidente em seu rosto. Ostentava profundas olheiras, frutos de uma noite sem descanso.

- Okaeri, ojii-san. Eu...

- O jantar está quase pronto. Sente-se à mesa e espere um pouco. Preciso conversar com você sobre algo muito sério. Você sabe o que quero dizer com isso.

"Eu deveria saber... Ojii-san é sempre tão gentil e controlado. Fui um idiota em demorar a voltar pra casa. Preciso do apoio dele, não consigo fazer nada sozinho..."

Após vinte minutos os dois Koyanagi sentavam-se à mesa, prontos para iniciar o jantar. Segui-se um silêncio incômodo enquanto se serviam, mas Iwao logo o desfez, mantendo uma voz calma - porém dura:

- Isao, meu neto, parece que meus instintos estavam certos. Eu lhe avisei para que não se descuidasse... Não imagina como fiquei preocupado quando o colégio, o hospital e a polícia me ligaram em sequência!

- Eu consigo imaginar... - o sentimento de culpa pesou ainda mais no coração, fazendo com que o pseudo-guardião de apoio baixasse a cabeça, sem graça.

- Não se culpe, você não pôde evitar. Pelo que consegui compreender, você foi atacado enquanto estava com uma garota em um local onde não era para estar, correto?

Isao apenas meneou afirmativamente a cabeça em resposta.

- E acho que te conheço bem o bastante para saber que você não sofreria tantos ferimentos por uma briga qualquer. Vocês foram atacados por muitas pessoas. Ou por muitos... 'Seres'.

O rapazinho ergueu o olhar novamente, fitando o rosto do avô. Este estava sorrindo, percebendo que escolhera as palavras de modo correto. Não esperou que o neto respondesse, continuando a falar:

- Quero que me diga o que aconteceu para que parasse no hospital. Diga tudo o que aconteceu, por mais envergonhado que esteja. Os relatos que recebi não foram nada claros, o que só contribuiu para meu desespero. Me disseram, inclusive, que você havia quebrado vários e vários ossos.

- Hm... Tudo começou com um grito. E, logo depois, com uma palavra.

Isao, decidido a esclarecer o avô, contou tudo o que havia acontecido na Feira Cultural - partindo do ponto em que ouvira o grito e a palavra "youki" murmurada por Yomi. Contou também sobre o interrogatório no hospital, e sobre as mentiras que teve de inventar para que safasse tanto a si mesmo como a seus amigos. Iwao escutou pacientemente, sem interromper o jovem em momento algum.

-...e passei o dia todo lendo, tentando achar um padrão nos ataques. Não me parece uma força organizada de ataque, é mais como uma infestação desordenada.

- E por que você quer entender os ataques?

- Pra...?

Aquilo pegara Isao de surpresa; qual era a razão de se informar tanto? Proteger Hikari - ou melhor, atrair a atenção dela era uma das razões, mas havia algo mais em que o garoto ainda não tinha pensado...

- Pra? Para pegar em armas, suponho eu. Seu instinto também é afiado. Mesmo sem perceber você já pensa como Apoio. E mesmo que eu o proíba, você vai fazê-lo - por que é o que um Koyanagi faria. Ou deveria fazer.

"Eu... O quê?"

Após um longo suspiro, Iwao fechou os olhos e meditou por alguns minutos, pensando no que ia dizer. O rapazinho à sua frente não ousou interromper, também pensando no que havia acabado de escutar. Por fim, o idoso quebrou o silêncio meditativo:

- Eu já lutei contra hanyous, os meio-youkais. Eles tem o melhor dos humanos e dos youkais em um só ser, são muito poderosos - claro, caso consigam atingir idade adulta e se desenvolvam de forma eficiente. Mas eles também apresentam o que as duas raças têm de pior em grau muito maior: o egoísmo, a frieza, a falta de controle; o que acaba tornando-os fracos contra as 'raças puras'. Mas o que você enfrentou não tem comparação alguma; você lutou contra youkais puros, verdadeiros, sem resquício de sangue humano nas veias, sem imperfeições que interferiam em seus poderes. E o melhor e mais incrível: você sobreviveu. Mesmo estando em profunda desvantagem, você sobreviveu. Sem seus atos, essa garota chamada Yomi teria perecido, assim como você. Isao, estou muito bravo por ter me desobedecido e se envolvido nessa confusão, e por ter mentido para a polícia e, sobretudo, para seus amigos; mas ao mesmo tempo estou orgulhoso de que tenha participado e influenciado decisivamente na vitória em uma luta contra youkais. Pela primeira vez em muitas gerações você está se tornando um Guardião de Apoio real, que enfrenta a real ameaça: os youkais em si. Tenho orgulho de que você não seja como eu, um guerreiro frustrado que caça apenas os filhotes mais fracos do verdadeiro inimigo.

O que era aquele sentimento estranho que Isao estava sentindo agora? O que era essa súbita onda de calor originária do coração que lhe trazia tanto conforto?

"Ojii-san sente orgulho e confia em mim!"

Aquela talvez fosse uma das únicas vezes na vida em que o jovem Koyanagi ouvira alguém explicitamente dizer que sentira orgulho por algo que ele tinha feito. Não era a primeira vez, mas não deixava de ser uma raridade...

- Porém, quero lhe avisar uma coisa: não será nada fácil. Quero que me acompanhe até o dojô, preciso lhe mostrar algo que já deveria ter mostrado há muito tempo. Minha teimosia de velho acabou te expondo ao perigo despreparado...

Levantando-se quase ao mesmo tempo, avô e neto atravessaram alguns cômodos da humilde casa e adentraram o empoeirado dojô da família - um lugar antes agitado, cheio de aprendizes, mas que já há algum tempo estava praticamente abandonado. Isao seguiu o avô até uma das paredes do lugar, onde estavam várias armas - a grande maioria apenas para decoração - depositadas em suportes na parede. Iwao pegou um pequeno ninja-to e, virando-se para o jovem, perguntou:

- Antes, preciso saber uma coisa. Isso definirá minha posição em relação à sua decisão. Isao, você está preparado para receber o legado da família Koyanagi?

O tom formal e a seriedade de Iwao transmitiram a Isao o quão importante era o momento. Sem hesitação, o rapazinho respondeu:

- Sim. Estou pronto. Isao Koyanagi, Guardião de Ser...

- Ainda não, rapaz; ainda não. O fato de pensar como um Apoio não faz de você um Apoio verdadeiro. É vital que faça o que vou dizer agora.

Assentindo, Isao deixou que seu avô continuasse:

- Você deve começar uma rotina de treinamentos ininterrupta assim que suas feridas se fecharem. Deve dar o melhor de si, deve ser o melhor aluno que já tive. Eu vou auxiliá-lo como posso, mas infelizmente não será o bastante, pois não tenho mais condições de me exercitar fisicamente. Quero que faça disso sua vida a partir de agora. Você deve correr atrás do tempo perdido. Não sei como os verdadeiros Apoios treinam, ou quando começam a trinar, sei tanto sobre eles quanto você; mas tenho consciência de que para enfrentar a ameaça youkai são exigidas disciplina e técnicas desenvolvidas desde cedo.

Isao assentiu mais uma vez, contente por seu avô compartilhar de suas idéias. Era reconfortante ter alguém apoiando-o em um momento tão difícil.

- Há também uma última coisa que quero que faça. Prometa, Isao, que vai reabrir o dojô quando tudo isso acabar. Quero que me prometa que vai sobreviver a essa crise, e que após tudo isso, vai passar adiante o que aprendeu. Se ser um Guardião de Apoio é proteger as pessoas, então devemos ensiná-las a se defender por conta própria - mesmo que o perigo não seja iminente.

Era claro que aquilo era um pedido de 'viva até o final, seja como for que acabe'. Isao replicou em tom formal, sentindo a importância das palavras do avô:

- Eu prometo. Também penso assim.

Enfim satisfeito, Iwao se abaixou e encaixou o ninja-to em um orifício que se assemelhava a uma rachadura vulgar no assoalho - não fosse o fato de acomodar a lâmina da arma com perfeita precisão. Após um 'clic' que ecoou por todo o dojô, uma pequena seção de pouco mais de um metro de altura da parede onde as armas estavam apoiadas caiu, revelando uma cavidade cúbica com alguns centímetros de profundidade nivelada na altura do chão. Lá dentro estava um grande baú sem tranca, de madeira escura, sem marcas ou inscrições. Os dois puxaram o baú para fora sem muito esforço, e Iwao apenas acenou com a cabeça para que o neto o abrisse.

Ao abrir o baú Isao sorriu, radiante: lá dentro haviam dois ninja-tos idênticos, guardados em bainhas discretamente adornadas com um tema ofídico. Ao lado dos ninja-tos haviam algumas estrelas ninjas, muitas delas corroídas pela ferrugem. Embaixo disso tudo estava um uniforme empoeirado muito similar com as roupas dos ninjas que apareciam em shows televisivos. O tecido era agradável ao toque, porém estava muito sujo e maltratado pelo tempo. Era de cor cinza, e não apresentava nenhuma decoração exterior a não ser o símbolo de Serpentarius discretamente costurado em uma bandana.

- Cuidado ao manusear os ninja-tos, Isao; eles são encantados. Apenas aqueles que pertencem ao clã podem usá-los sem preocupação. Recomendo que use apenas um por enquanto.

O jovem concordou, fechando o baú. Havia, porém, algo que ele ainda não contara ao mais velho:

- Ojii-san, lembra quando te contei que havia visto um Guardião...

- Sim.

- Eu acredito que há uma 'conhecida' envolvida com esse Guardião, mas não sei bem como. Acha que devo me apresentar?

- Só depois que estiver preparado. Se entendi bem, você e essa 'conhecida' tem uma história, correto?

"Como raios ele sabe?"

Iwao sorriu, respondendo à indagação mental do jovem:

- Eu também já fui jovem, Isao; consigo ler suas expressões tão bem como um livro para crianças. Você gosta dessa moça e quer protegê-la, suponho eu. Quero que aprenda uma lição antes disso, a primeira de muitas: primeiro aprenda a se defender, para só depois defender os outros. Treine, Isao; treine.



*Ao que parece Ligea vai vestir as roupas do elenco inteiro de Rozen Maiden até o fim da história.

*Mononoka Hime: literalmente, "Princesa Fantasma"


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