Serpentarius escrita por Stormy Raven


Capítulo 1
0.0 - Prólogo das Almas Miseráveis


Notas iniciais do capítulo

"Eu sou Serpentarius, a cura para a morte."



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“0.0”
Prólogo das Almas Miseráveis


- Olhe só para eles, tão fracos e patéticos... Oh! Parece que uma não agüentou.

Do alto de um rochedo, um estranho homem contemplava um grupo de pessoas lá embaixo, na praia. Luzes brilhavam em um show confuso e ao mesmo tempo bonito. Para alguém que não soubesse o que estava ocorrendo ali, era apenas isso: um show, brilho, luzinhas dançando e nada mais. Apenas uns poucos tinham conhecimento do que aquelas pessoas na areia realmente estavam fazendo...

- Me parece que não vão conseguir. Os dois ex-Guardiões não param de checar o equipamento, estão se desesperando. Aquela francesa tola está tentando se aproximar? Que patético...

- O que está pensando em fazer, seu monstro? Seu lugar é ali, ajudando-os. Com seu poder eles lacrariam a barreira com muita facilidade!

Um rapaz de 17 anos estava parado atrás do homem. Segurava um ninja-to* e conservava uma postura agressiva. Parecia estar muito irritado, à beira de um ataque de nervos.

- Calado, descartável. Eu já lhe disse que não faço mais parte do grupinho de ‘defensores da humanidade’. E largue esse brinquedo; você não quer que eu desperte meu poder aqui, não é?

Virando o rosto para trás, o homem coçou o queixo e usou um tom de voz sarcástico:

- Mas seria muito interessante se isso acontecesse, não? Será que eles perderiam a concentração se sentissem meu poder? O equipamento deles entraria em colapso, suponho... Acho que seria divertido ver a preocupação e a surpresa em seus rostos. E seria ainda mais divertido vê-los perdendo o controle da barreira semi-fechada.

- Nem pense nisso! – o rapaz abaixou a espada, guardando-a na bainha – Não quero de maneira alguma atrapalhar o trabalho dos Guardiões. Lutei o máximo que pude para que esse dia se concretizasse sem contratempos – e ficou parado a certa distância da beirada da elevação.

- Bom garoto. Agora sente-se aí e assista ao show. Vejo que Áries... Mas como? Como é possível? O poder dela aumentou drasticamente!

O estranho homem passou a mão pelos cabelos, incrédulo. Cabelos estes que eram de cor cinzenta, curtos e arrepiados.

- Aquela mestiça conseguiu elevar seu poder a um patamar que nem mesmo eu consegui. Maldita... Mas vejamos por quanto tempo se manterá assim, Hikari Gautier. Maldito seja seu sangue Youkai.

- Eu sabia que eles conseguiriam! – o rapaz comentou – Vejo que meu trabalho não foi em vão...

“Dê o seu melhor, Hikari!”

- Descartável, você não entende o que está acontecendo ali de verdade, não é? Eles já excederam em muito suas capacidades tentando compensar a ausência do Guardião de Sagitário. Aliás, preciso me certificar de uma coisa... Akeso!

Uma bela adolescente se materializou ao lado do homem, curvando-se respeitosamente.

- Sim, pai?

- Quero que se aproxime o máximo que puder, e depois me diga tudo o que conseguir ouvir. Panakeia e Iaso já voltaram do plano Youkai?

- Ainda não pai. Mas sinto que estão perto de atravessar a barreira.

- Espero que tenham achado o que mandei procurar. Será uma peça chave em meus planos. Agora vá!

- Entendido, pai.

A garota sumiu do mesmo modo que apareceu. O homem a quem ela chamou de ‘pai’ continuou observando os acontecimentos na praia.

- A pequenina canceriana se levantou novamente. Ela tem fibra... Se tudo ocorrer como planejo, ela será minha primeira vítima.

O jovem espadachim sacou novamente seu ninja-to, se aproximando devagar.

- O que planeja fazer contra a Guardiã de Câncer? Não deixarei que encoste um dedo sequer nela!

- Já disse para guardar o brinquedo! Este é meu último aviso, Isao Koyanagi. Não quero derramar seu sangue sem motivo.

Isao guardou a arma, temeroso. Por mais que tentasse demonstrar coragem, tinha medo daquele homem. Sabia do que ele era capaz, e sabia que não era páreo para ele. Estava envergonhado como Guardião de Apoio. Se seu pai estivesse vivo e lhe visse agora, teria lhe renegado para sempre. Na verdade, nem deveria se considerar um Guardião de Apoio, já que os Hajaya desempenhavam a função tão bem no país, apesar de tudo...

- Posso não lutar agora, mas impedirei que coloque as mãos em qualquer um deles.

- Vai fazer o que? Tentar me espetar com essa varinha? Não me faça rir.

- Você não irá ferir nenhum deles! Mesmo que custe a minha vida, não deixarei que se aproxime!

O homem esboçou um sorriso cínico, virando o rosto novamente na direção de Isao:

- Não se preocupe quanto a isso, não planejo feri-los externamente; muito menos matá-los. Eu quero que eles sofram. Simples. Eu os farei sofrer, acabarei com suas mentes. E, quando todos estiverem acabados, mostrarei como meu poder é absoluto, como meu banimento foi injusto, e como precisam e dependem de mim.

- Não entendo por que quer se vingar, nenhum deles lhe fez mal. Tudo o que você sofreu foi causado por pessoas que já morreram há muito tempo...

- Sim, eu sei. Mas são descendentes, carregam o legado daqueles que me condenaram. E, para a má-sorte deles, fui despertado justamente nesta época. E pensar que tanto tempo se passou ‘aqui fora’... Tempo perdido, em que eu poderia ter sido feliz. Todos erramos naquela época, mas somente eu fui considerado culpado. E somente eu paguei o preço. Chegou a hora de minha compensação por tantos anos exilado.

- Você é um monstro mesmo. Cheguei a pensar que seu lado humano ainda prevalecia...

- Jovem Isao, meu lado humano se foi há tempos. Na verdade, nem me lembro mais como é ser um humano normal. Esqueci como é ser um daqueles que me esqueceram.

Por mais que tentasse, Isao custava a acreditar que estava mesmo conversando com um Guardião. Não com um, mas com O Guardião: Asklepius Ophiuchus, o mais antigo deles. Aquele que desempenhava sua função desde o início dos tempos. Aquele que por tanto tempo ajudou a humanidade e os outros Guardiões na guerra contra os youkais... Aquele que foi condenado por duas vezes pelo mesmo ato.

- Fui esquecido e jogado fora como algo descartável... Desempenhei meu papel tão bem, por tanto tempo, e tudo o que recebi foi o castigo divino. Mas agora será diferente, não seguirei mais as regras. E minha vingança afetará tantos aos descendentes quanto aos anjos que me condenaram. Eu voltei, mais poderoso que nunca!

Asklepius era também um Guardião com um poder único: a cura suprema de todo e qualquer mal. Não importava o ferimento, a doença, o veneno, sua aura purificava plenamente o que quer que fosse nocivo ao corpo humano. Seu poder se tornou tão grande que nem mesmo a morte o amedrontava mais. E foi justamente isso que provocou sua queda. Por duas vezes.

- Você também, Isao, foi esquecido e jogado fora. Eles não precisavam mais de vocês, então simplesmente ignoraram a derrocada dos Koyanagi. Por que não sente a dor, a revolta, o desejo de se vingar e mostrar do que é capaz? Você seria um aliado muito poderoso, eu poderia lhe proporcionar glórias inimagináveis. Pare de bancar o herói e amadureça, sua vida não é uma dessas histórias ficcionais que os poetas loucos contam!.

Isao o olhou com ódio, mas dessa vez não desembainhou o ninja-to. Asklepius sabia aonde atingi-lo; sabia exatamente o que e como o jovem pensava antes de tudo começar.

Isao Koyanagi: um estudante comum, um adolescente comum, um anônimo comum em meio à multidão. Aparentemente apenas, já que na verdade sua família era especializada na caça aos youkais desde tempos imemoriais. Os Koyanagi eram os Guardiões de Apoio de Serpentarius, o décimo terceiro signo zodiacal. Combatentes valorosos e curandeiros infalíveis, foram vitais em várias situações passadas. Mas, após o banimento do décimo terceiro Guardião, a situação mudou drasticamente, e a família foi se distanciando cada vez mais da guerra anti-youkai. As outras famílias de Guardiões de Apoio foram se afastando e mesmo os Guardiões em si não se preocuparam com o destino do clã decadente.

Ouvindo sempre as mesmas histórias de seu avô, que lhe criou e treinou desde que sua mãe fugiu para o ocidente, Isao alimentou um ódio profundo por Guardiões, youkais, anjos e qualquer outra coisa ligada a esses assuntos. Mas ainda existia em si, mesmo que em uma quantidade mínima, a vontade de participar de eventos importantes e reerguer o nome da família. E a chance lhe foi dada, quando há aproximadamente um mês atrás presenciou um fato que mudaria sua vida e sua maneira de encarar os Guardiões para sempre...

*Ninja-to: espada de um só fio e de cerca de 65 cm de lâmina utilizada pelos ninjas desde a época Naga. Ela é a espada mais comum e de maior reputação que um ninja pode carregar.



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