E essas férias de inverno, no que havia dado?

Absolutamente nada. Certo, nada. A neve foi tanta que os planos da maioria haviam sido cancelados. Bella e Phillipe resolveram passar o dia de natal e ano novo em casa, comendo besteiras e vendo filmes românticos o dia todo. A mãe de Hillary ficou absurdamente zangada pelo fato de não ter nenhum voo por causa da nevasca, então nada de Havaí. Por outro lado, o pai das jovens havia ficado extremamente feliz por gastos não gastos. Hillary havia ficado pra baixo por causa de Tony e Ninally tentava animá-la. Ela havia ficado triste porque na noite de 31 de dezembro eles haviam combinado de fazer juntos a contagem via chamada de vídeo e ficou super chateado e desligou a chamada de vídeo antes da contagem por que Nina havia chamado Hillary para participar.

– Essas atitudes dele estão começando a me tirar do sério – Marco havia comentado um dia depois.

Lily e Jared tiveram que adiar o encontro do dia 25. Não havia nevado, mas a porta da sua casa estava tão escorregadia por causa do gelo que ela acabou caindo e torcendo o tornozelo.

– Não, eu estou bem. Acabei de chegar do hospital – Falava com Jared ao telefone, apesar do pai achar que era na verdade com Marco. – Não precisa, já tenho tudo que preciso. Meu pai já tomou as providencias. Certo... Me desculpe. Vamos remarcar, okay?

Jared acabou passando seu fim de ano na casa do melhor amigo, e por algum motivo andava muito cabisbaixo. Jared havia tentado fazê-lo falar sobre o motivo de tanta tristeza, mas ele apenas gemia e olhava a neve caindo do lado de fora sem desviar momento algum.

– Por acaso está sentindo tanta falta assim da escola?

– Quase isso...

A conversa, mesmo curta que tivesse sido, havia terminado. Jon Woo sabia exatamente do que sentia falta. De um perfume especifico, um sorriso especifico, um cabelo moreno ondulado. E ela sequer imaginava que ele sentia sua falta. Ele andava mais triste ainda por que as aulas, que retornariam dia 15 de Janeiro, foram adiadas para o dia 2 de fevereiro por causa da neve, apesar de ter parado de nevar na primeira semana de janeiro. Na segunda semana de Janeiro, ele apresentou uma febre. Não era nada grave, mas Jared havia resolvido passar a noite em seu apartamento, era melhor prevenir. A presença dele foi de grande ajuda. Woo não se sentiu sozinho e até se animou a noite. Mas a surpresa mesmo veio as duas e quarenta e sete da madrugada do dia 14. Jared havia levantado para tomar água, quando ouviu o melhor amigo sussurrando enquanto dormia. Estaria delirando? A febre havia aumentado? Ele se aproximou dele e o observou. O amigo estava quase sorrindo, não estava delirando; estava sonhando. Mas foram os sussurros que o deixaram confusos.

– Ninally, não... ­– Ele dizia. – Eu tenho cocegas ai... Sim, eu gosto de você...

E logo depois virou para o outro lado e parou de falar.

Jared dizia a si mesmo que estava com muito sono, poderia ter ouvidos coisas, e se ele tivesse mesmo falado, era apenas um sonho, certo? Mas então ele lembrou de si mesmo. Ele estava tendo um caso com uma de suas alunas, ele, o professor mil vezes mais sério que Woo... Woo também estaria tendo?

Ele voltou para o colchão ao lado da cama de Woo e voltou a dormir. O frio do lado de fora fora era grande, mas dentro estava bem confortável, graças ao aquecedor que ele mesmo consertou no mesmo dia. Quando Woo acordou no outro dia, a mesa do café estava posta e Jared havia posto. Com tudo que um ser doente tinha direito, desde o tradicional café até croissant. Enquanto ele comia, Jared o observava, apesar de ter dito a si mesmo que deixaria a história de Nina de lado, não estava conseguindo segurar. Os dedos batiam freneticamente e ele logo roeu uma das unhas, o que chamou a atenção de Woo.

– Jerry, você está nervoso. Desembucha.

Jared pensou duas vezes antes de falar. Olhou fundo nos olhos do amigo. A curiosidade vinha tomando conta dos nossos protagonistas nos últimos dias. Ele não se segurou.

– Eu estou saindo com Lily Cockburn.

Woo parou de comer, tomou um gole do chocolate quente e começou a rir. Jared ficou meio abalado, meio surpreso, meio aliviado. Claro que ele não iria acreditar. Era algo muito radical pra Jared Maincroft fazer. Jon Woo jamais acreditaria.

– Estou falando sério, pare de rir – tomou um pouco do chocolate quente. – Eu quero uma reação séria vindo de você, pela primeira vez na sua vida, não trate isso como uma brincadeira.

Em menos de segundos, ele sentiu uma dor invadir seu rosto. Woo havia batido em seu rosto pela primeira vez. Jared caiu da cadeira e Woo deixou um sorriso escapar. Ele respirava fundo.

– Essa reação é boa o suficiente pra você? – Ele gritava. – O tom da minha voz é bom o suficiente pra você? Responde Jared! Responde! Quando eu disse que você precisava relaxar, isso não significava que você tinha que ficar de casinho com uma de suas alunas! Não importa se faltam poucos meses pra terminar o ano letivo e ela ir pra faculdade, não importa porque ela continua sendo sua aluna! Você não pensa? Ou melhor, você pensou que seria divertido? Eu quero saber o que está passando na sua cabeça pra cometer esse tipo de loucura! Você não está em um dos livros de romance que você tanto lê, isso aqui é vida real! ACORDA, JARED! ACORDA PRA VIDA!

Ele sentou no sofá por enquanto esfregava o rosto com as duas mãos. Jared continuava jogado no chão, cobrindo o rosto com as duas mãos.

– E se os pais da Lily descobrem? Se os alunos e o meu avô descobrem? Você pensou nisso? Você pode ser preso. Nunca mais vai dar aulas. É isso que você quer? Estragar sua carreira quando ela está no auge? Você pode chegar no fundo do poço e eu posso não conseguir te ajudar a sair de lá.