Voce ainda vai me amar? escrita por Francielle Santana


Capítulo 2
Capítulo 2




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"É engraçado esse mundo, em que estranhos viram melhores amigos e os melhores amigos viram estranhos."

A manhã passou rapidamente. Reconheci algumas caras antigas, e desconheci muita gente nova. Kamila me deixou a par de tudo que tinha acontecido durante os quase 2 anos que fiquei fora.

– A Jane finalmente assumiu que estava de olho naquele nerd. Não sei como ela teve coragem de largar a postura de patricinha para se tornar a senhora nerd, mas ela fez. As 3 meninas super poderosas (um trio de garotas insuportáveis, segundo ela) desandou, souberam que aquela mais quietinha estava armando pra separar a "chefona" do namorado.

E assim foi, durante toda a manhã. À tarde, Kamila se autoconvidou pra ir almoçar na minha casa. Me senti despreparada para aquilo. Recusei o convite sem jeito. Resolvi fazer o oposto. Afinal, minha casa ainda não estava pronta para receber visitas. Antes passei em casa. Minha mãe estava se arrumando.

–Mãe, a senhora vai sair?!

–Sim, não te parece lógico? - Perguntou Eva tentando ser cômica.

– Eu havia combinado de ir almoçar na casa da Kamila. Ela ainda esta estudando no "Batista" (graças a Deus, pensou consigo).

Depois de um tempo decidi levar a Gaby, não tinha outra coisa pra fazer.

–Tudo bem, era para eu ter avisado a senhora antes.

Dei um beijo na mãe e subi. Enquanto tomava banho pensei em como seria aquela tarde. Escolhi um vestido folgado, que marcava apenas a cintura, coloquei uma jaqueta pra tentar esconder o decote, que seria normal em outra menina, não nela. Desci e vi que minha mãe ja tinha arrumado as coisas de Gaby. Ela parecia uma princesinha. Tinha cerca de 1 aninho e já conseguia ser linda. Bochechas salientes e cabelos de uma cor quase dourada, cheio de cachinhos ainda ralos. Garota de sorriso fácil. Minha mãe nos observava, e agradecia a Deus por nos amarmos tanto.

–Você vai agora? Posso te deixar na casa de sua amiga.

– Ótimo!

Achei a ideia perfeita. Talvez com o carro chegando a Kamila maneirasse no ataque de nervos ao ver que levei a Gaby. Eu não sabia exatamente qual seria a reação da amiga. Prevenir sempre foi melhor do que remediar. Se eu soubesse disso antes minha vida teria tomado um rumo diferente.

Enfim chegamos à rua onde Kamila morava. Tentei me situar. 2 anos não eram 2 dias. Aos poucos as lembranças retornavam, uma praça onde trocávamos segredos. A casa do menino estranho do ginásio, e finalmente uma camisa com estampa de uma banda de rock na janela do quarto superior.

– Achei a casa mãe, é aquela antes da próxima entrada a direita.

Eva chegou do seu jeito pouco discreto buzinando. Kamila viu o carro pela janela do quarto, desceu as escadas correndo e quando abriu a porta se deparou com um pequeno ser no meu colo. Sua reação foi indecifrável.

– Bem... É... Ta tudo bem?!

Antes que ela pudesse pensar algo concreto, eu precisei explicar.

– Desculpa, ou eu trazia ou você teria que ir la em casa. Não podia deixar a Gaby sozinha, minha mãe precisou sair.

Percebi que no final de tudo deu no mesmo.

Kamila e Gaby ficaram se olhando durante alguns segundos. Achei aquilo muito cômico.

– É, ela não parece que vai melar todo meu quarto de baba, não.

– Hei, ela é uma criança, e não um cachorro. - Contestei.

*** ***

A semana estava passando rápido. Por enquanto nenhum confronto, conheci quase todos da sala e muitos outros do resto da escola, graças a Kamila, claro. Algumas pessoas achavam que me conheciam de algum lugar. Meu cabelo era curto quando estudava aqui, e vivia alisado. Nossa, muito sem graça. Com isso eu sabia que estava diferente o suficiente para confundir a cabeça de alguns conhecidos. Menos de uma pessoa. Era uma quinta-feira, e simplesmente não havia encontrado o Sérgio em nenhum canto, talvez ele tivesse viajado também.

– Mariii

Kamila falou puxando o fone do meu ouvido. Estávamos sentadas em um banco que ficava na quadra de esportes do colégio.

– Fale Mila, que foi?!

– Você não acha que já esta na hora de me contar o que aconteceu? Você simplesmente se mudou sem dar uma explicação muito certa, sabe?! Você disse que era porque de alguma oportunidade de trabalho pra sua mãe, mas daí pra frente a gente mal trocou e-mail, mal se falou. Eu te deixo ir com um pai e uma mãe, e você volta sem um pai e com uma irmã. Você e o Sergio estavam tão bem… Eu só queria entender o que aconteceu com aquela minha amiga loirinha linda.

Absorvi atentamente cada palavra da Kamila, sem nem sempre olhar nos olhos dela. Como poderia ter sido tão egoísta? Havia laços fora do meu mundinho que precisavam de uma explicação. Deveria ter mantido contato com ela. Afinal, ela nunca teve culpa de nada. Nem tudo resiste ao tempo, agradeci por aquela amizade ter resistido.

Depois de um longo suspiro, contei o que houve entre pausas, lagrimas e uma tristeza passada. Tentei explicar a Kamila que queria me desligar de tudo que lembrava aquele lugar, e isso de uma forma egoísta incluía minha melhor amiga. Kamila ouviu tudo atentamente. Ela ficou séria de um jeito que era raro de ver. Passamos alguns segundos em silencio, era a vez dela de falar.

– Eu realmente não suspeitava de nem um terço de tudo isso… Assumo que me irritei muito com você. Caracas, sumir do mundo e não explicar nada. Até que li seu e-mail, dizendo que no tempo certo eu saberia e entenderia. Eu te respeitei e confiei em você. Eu continuo te amando como sempre amiga. - Ela me abraçou e deu um beijo bom no meu rosto. - Mas e agora? O Sergio pode aparecer a qualquer momento. Ele não viajou, não se mudou e muito menos foi teletransportado, infelizmente. Eu odeio aquele cara.

Kamila deu aquela piscadela companheira. Ri, com o rosto ja seco das lagrimas que haviam rolado. Eu sabia que precisava pensar nisso, mas não queria. Poxa, eu ja superei tudo aquilo, e havia de levar a vida daquele jeito, por que não?

Mila mudou de assunto, já havíamos ficado no passado por muito tempo. Até que apareceu umas amigas dela, aproveitei pra ir no banheiro, minha pouca maquiagem ja deveria estar um horror. Fato. O delineador tinha borrado um pouco. Ajeitei. “Ah esta bom. Não vou encontrar príncipe nenhum mesmo. Não aqui nessa escola.”

Saí do banheiro e ouvi um resmungo abafado. A porta tinha acertado em cheio o nariz de um garoto. Não acredito, ja tinha até esquecido dessa minha mania de estrago. Ele estava com as mãos escondendo o nariz e tentando acenar dizendo que estava tudo bem.

– Voce tem certeza? Me desculpe. Vamos na enfermaria.

Fiquei tão desconcertada que não pensei duas vezes, puxei uma das mãos dele e levei até a enfermaria. Fiquei no lado de fora esperando ele. O atendimento foi rápido, ele saiu e me surpreendeu, não tinha nenhum curativo no nariz. Ele não havia quebrado nada, só estava com os olhos bem vermelhos.

– Mas eu pensei que…

– Não precisou.

– Mas esta tudo…

– Bem? Sim, sim. Fique tranquila.

Alguns segundos em silencio, pensei em como tudo começou e comecei a rir.

– O que houve? - Perguntou ele, intrigado

– Ai, desculpa, mas relembrando até que foi bem engraçado. Deve ter doído não é?!

Demos risadas juntos e nos apresentamos. O nome dele era André. Fomos interrompidos pelo sinal, a próxima aula ia começar. Cada um foi para seu lado.

Afinal o que levava um garoto a ficar atras do banheiro mais movimentado do colégio?!

E o que levava uma garota abrir uma porta com tanta força?

Quando cheguei na sala a Kamila havia guardado meu lugar na cadeira ao lado. Ela não entendeu nada quando me viu rindo. Até perguntou, mais quando ia ter uma explicação o professor entrou na sala. Respirei, nossa, fazia tempo que não ria assim, por uma grande bobagem. A aula era de historia e naquele momento estavam discutindo o que cada um achava da matéria e todo aquele bla bla bla de inicio de ano. O professor então começou a contar uma historia dramática, e como um efeito especial a porta se abriu, a classe toda em silencio enquanto o André, o garoto do nariz vermelho chegava.

"Em todo tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão."

Provérbios 17:17


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