Voce ainda vai me amar? escrita por Francielle Santana
Parece que aquela semana foi um divisor de aguas na minha vida. André permaneceu presente, mas nao falamos muito sobre nós. Era algo muito recente e delicado. Finalmente chegou o dia da Gabrielle ir pra casa. Ela se recuperou bem, graças a Deus. Quando cheguei com minha mãe, encontrei o Sergio naquela varanda... A varanda que um dia foi cenario de birras de amor adolescente. Peguei o andador que tinhamos levado para o hospital e a coloquei. Era quase desnecessário. Sergio extremamente desajeitado desceu os degraus devagar. Gabrielle hesitou até que ele revelou as mãos que estavam escondidas, mostrando uma nova e linda boneca de pano. Ela olhava pra mim e pra ele, ambos de lados diferentes. Sorri pra ela e ela pareceu entender. Ela foi caminhando até ele e alcançou a boneca. Meses atras eu teria surtado em vê-los tão proximos. Mas não poderia privar minha filha de ter e conhecer o pai, independente de quem seja. Amei o meu, mesmo com o abandono. Sergio se aproximou de mim e pude entender o perdão que André havia me contado em uma conversa. Um perdão que nao poderia vim de mim. Eu aceitei o fato de ja ter errado inumeras vezes, e mais ainda, aceitei o perdão de Deus. Depois disso, as coisas ficam mais direcionadas. E é mais dificil julgar alguem. Erro por erro, cada um comete o seu. Sergio sempre foi um meninão. Sem maturidade, e uma filha nao mudou por completo a situação. Mas dava pra perceber que a revelação trouxe um abalo. Ele falava menos, e infelizmente riu pouco nos ultimos dias.
– Bom... nao sei por onde começar...
– Que tal pelo começo? - Indaguei
Ele ficou ao meu lado, de um jeito que poderiamos ambos ver a Gaby.
– O começo?! Ja nao sei onde é o começo. Acho que estamos numa roda gigante, sem começos. Circulo perfeito...
– Com altos e baixos...- completei.
– Marina, sinto falta de voce, mas nao como mulher, e sim como aquela menina fragil e doce...
– Ela morreu. - Afirmei com um misto de tristeza e orgulho.
– Eu a matei.
Ficamos em silencio, não sabia o que responder. Ele estava certo.
– Eu só queria dizer que me arrependo de ter sido um canalha, e quero saber se posso continuar vendo a Gabrielle.
Respirei fundo, aprendi sobre perdão, estava na hora de colocar em pratica... Aquele momento definiria o futuro da minha filha.
– Eu não vou priva-la de conhecer o progenitor dela. Mas pai... não sei se posso chama-lo assim. Voce pode sim ver ela.
Um sorriso bobo surgiu no rosto dele. Parecia fingir ser outro homem, mas preferi acreditar que ele tinha apenas amadurecido.
– Muito obrigado. As coisas vão mudar.
Ele disse pegando minha mão e lembrando uma intimidade esquecida. Fomos interrompidos por André abrindo a porta da frente, ele havia visto nossa conversa, só não sei o quanto ele ouviu. Ele se aproximou da Gabrielle, pegou-a no colo. E nos deu tempo de despedir. Quando o Sergio foi embora me aproximei do André.
– Oi - sorri sem jeito, e com medo, assumo.
– Voce esta bem? - Ele perguntou desviando os olhos de mim e olhando para a direção de onde o Sergio estava
– Acho que agora estou.
– Que bom. Vamos entrar...
***
–Preciso muito te fazer uma pergunta.
André me deu um certo susto.
– Do que voce esta falando?
– Voce pretendia me contar?
– É claro, André. Desde que te conheci eu me pergunto como te contar. Ja cheguei perto disso algumas vezes, mas Deus resolveu contar por Ele mesmo.
Lembrei-me do acidente e fechei os olhos. Aquela cena do fundo do carro esmagado com minha pequena la dentro me causava enjoou. André notou e me abraçou. Que saudade senti desse abraço que parecia me proteger de tudo.
– Mari, independente do que aconteceu eu preciso te perguntar algo. - Ele se afastou e pegou algo do bolso - Voce ainda gosta de mim? por que eu continuo gostando de voce.
Ele me mostrou um anel. Não era um pedido de casamento nem noivado, era a coisa mais fofa que vivi nos ultimos anos, era simplesmente um anel de compromisso. Na parte de dentro do anel tinha escrito: Relacionamento a três. Sorri sentindo finalmente a alegria que minha mãe esperava ver novamente em mim. Agora estaríamos em tres: Eu, ele e Deus. Claro que a pequena Gaby estava nessa conta. Abracei forte ele, até que fomos interrompidos por minha mãe. Seu rosto estava serio. Imaginei que fosse pelo cansaço. Ela teve que manter a força enquanto eu queria desmoronar. Me perguntei quantas vezes conseguirei fazer o mesmo para a minha filha.
– Oi André. Ja vi que cumpriu a missão do dia, não é?- Ela sorriu e.seus olhos se desviaram para mim - Filha, precisamos conversar.
André deu um beijo no anel que ja estava em meu dedo e se levantou.
– O que houve dessa vez?
– Ela esta tão linda...- ela desviou e comentou sobre a Gabrielle que estava saindo do quarto com o André.
– Verdade, se recuperou rapido. Parece que tudo desmoronou. Uma amostra gratis do inferno. Até que subitamente apareceu um anjo, e da mesma forma que veio, sumiu. Sem rastros.
– Filha, esse... - senti a voz dela falhar- anjo, deixou rastros sim.
A encarei incredula. Ela sabia e nao me contou? Queria tanto demonstrar minha gratidão.
– Mas a senhora não me contou...
– Os rastros podem sumir.
– Como assim, sumir?
– Preciso que voce me acompanhe, o doador precisa muito falar com voce.
Eu não tinha ideia que ainda faltava um capitulo da minha vida a ser resolvido. Nós pegamos um taxi e fomos a um outro hospital. Acompanhei minha mãe que ja parecia saber onde era o quarto. Quando chegamos a porta ela respirou fundo
– É aqui...
Entrei e não pude acreditar no que meus olhos estavam vendo.
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