Voce ainda vai me amar? escrita por Francielle Santana


Capítulo 12
Capítulo 12




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Acordei meio zonza ainda. Estava no banco da frente do carro de André.

–André? O que aconte...

Ele acelerava o carro.

– Calma, vai ficar tudo bem. Deus vai nos ajudar.

– André? Cade Gabrielle? André, minha filha!!!! Cade minha filha? Me deixa sair desse carro. Destranque agora! Me deixa saiir!! - Eu estava completamente transtornada. Tirei meu cinto e comecei a bater nele. Quase promovo um novo acidente. Ele freou no acostamento

– Marina, pare pelo amor de Deus. Isso nao vai adiantar. Teve sim um acidente com a Gaby, mas sua mãe ja esta com ela indo para o hospital. Voce desmaiou, e eu chamei uma ambulancia. Voce precisa ser forte, nossa pequena vai ficar bem.

– Mas André...

Ele me abraçou e depois colocou o cinto de volta em mim. Fui o caminho inteiro chorando, enquanto ele segurava a minha mão quando podia.

Quando estávamos próximos eu só esperei ele destravar. Pulei do carro e entrei correndo, quando ele estava se aproximando eu ja estava colocando uma roupa apropriada. Fui guiada por alguns amigos de minha mãe. Tive acesso a algumas informações antes de ver a Gaby. Um doutor mais velho falou comigo:

– Oi, voce é a mãe da Gabrielle, não é? Tudo bem, vamos la... Ainda bem que voce colocou ela na cadeirinha a tempo, isso diminui muito o impacto. Ela poderia ter sido arremessada para as engrenagens do carro, mas o carrinho não impediu ela de ser alcançada por alguns vidros. - Meu coração doia -. O vidro da janela que quebrou se chocou contra as partes mais vulneráveis do corpo dela, os braços e as pernas. - Ele estava me escondendo algo. - Ela ja esta sendo enviada para a ala cirúrgica, onde voce nao pode ficar. Ela vai ficar bem... só precisa de sangue. Ela perdeu muito sangue. - Minhas pernas vacilaram, mas eu precisava ser forte. - Consiga sangue O-, o mais rápido possivel.

Vi minha filha indo para a sala cirúrgica, nao consegui ver os cortes. Não me deixaram ver. Senti os braços de minha mãe me acolhendo, chorei. Senti medo de perder a pessoa mais importante da minha vida.

– Filha, vamos ter que procurar um doador.

– É mãe, vamos logo, vou mandar mensagem para todos que conheço.

– Vamos para a recepção? O André esta la.

Eu havia esquecido dele. - Mãe ele ja sabe, ou pelo menos ja desconfia de tudo. Mãe, eu ia falar... mas ele se antecipou. Quando cheguei ele estava falando com o Sergio, eu nao confirmei nada. Eu poderia ter ficado no carro. Eu poderia não estar aqui agora.

– Filha, não adianta se lamentar. Sua filha esta esperando pela mãe heroina dela.

Saimos dali e minha mãe explicou ao André sobre buscar doadores. Ele mobilizou uma galera do colegio. Mas infelizmente a 99,9 % não era -O. E os raros que eram não entendiam a gravidade do problema, ou simplesmente não podiam aparecer. Que raiva! Não conseguia falar com André. Fingíamos que a cena antes do acidente não tinha acontecido. Os medicos entravam e saiam perguntando se ja haviamos conseguido alguem, mas minha mãe só balançava a cabeça negativamente e eu chorava. Sentia a vida de minha propria filha indo pelo ralo sem eu fazer nada. Essa sensação de impotencia me matava, eu queria gritar, sair perguntando de porta em porta, mas depois da mobilização que a galera fez eu duvido que toda a proximidade ja não sabia. A ficha caiu: Kamila não sabe de nada. Se ela soubesse da doação viria correndo atras de mim. Mas não tinha passado muito tempo do acidente. Liguei pra ela, depois de muito chamar, ela atendeu.

– Oi Mari! Desculpe a demora, tava na agua.

Ela estava curtindo o feriado dela, esqueci completamente. Como vou explicar algo do tipo agora?

– Tudo bem, Mila, depois nos falamos.

– Marina, o que aconteceu? Onde voce esta? - A parte chata de ter uma amiga que te conhece mais do que todo mundo....

– Kamila, não quero te preocupar, sei que é idiota falar isso. Mas prefiro voce se divertindo...

– Que merda, Marina. Fala logo.

– Gabrielle não esta bem. Ela estava no carro quando um carro se chocou com o de minha mãe. - eu só ouvia ela resmungando, chingando. - Ela se cortou, e precisa de sangue. André ja mobilizou uma galera, mas são poucos que tem sangue O-.

– Marina, me ouça. Eu posso ser a doadora. Vou correndo pra aí.

Ela desligou o celular e só pude rir de nervoso. Muito nervosismo. Falei com minha mãe que foi logo avisar ao medico. Ele sorriu aliviado. Mas era notorio que a Kamila precisava chegar logo. A demora parecia ser maior do que tudo. Os ponteiros do relogio pareciam ter congelado. Me peguei pensando na cara do Sergio. Ele ficou ausente o tempo inteiro. Na discussão ele não falava nada, só olhava para nós dois e pra Gabrielle. Depois do acidente ele sumiu. André nao falou dele, e eu não fazia questão disso. André se aproximou de mim, pegou minha mão e sugeriu que orássemos. Aceitei, claro. A medida que orávamos senti paz, como se toda a agitação fizesse silencio.

– Amém...

– Obrigada, André.

– Podem parar de se lamentar? Eu ja cheguei.

A voz de Kamila. Meu Deus, como eu amava aquela menina. Minha mãe veio com o medico. Eles sairam para fazer uns exames de rotina. Senti o abraço de André.

– Vai ficar tudo bem!

***

O tempo demorava a passar, eles ja tinham feito uma consulta com a Kamila e agora estavam fazendo alguns exames. Kamila ja estava conosco reclamando das furadas que tomou e da demora do resultado. Da Gabrielle que permanecia naquele hospital cafona, como ela intitulou. As vezes ria, apesar de tudo. Finalmente minha mãe apareceu.

– Kamila ja vai poder doar sangue pra minha pequena, mãe?

– Finalmente né? Nunca senti tanta vontade de perder sangue. - Ela ria...

Minha mãe abaixou a cabeça. Mais uma noticia ruim? Não pode ser.

– Fala mãe.

– Os resultados sairam, e ela não pode ser a doadora para a Gaby.

Kamila tentava entender. - Como assim? Eu tenho certeza que sou O-.

– Voce esta certa Kamila, mas voce não pode doar sangue pra ninguem.

– Eu não consigo entender, dona Eva. Meu peso esta normal, minha idade permite, eu não tenho anemia, não tenho mais nada...

– Tem Mila.

Kamila olhou fixamente pra minha mãe num estado de negação total. - Fala dona Eva. Fala. Por que eu não posso doar sangue?

– Voce é HIV positivo.


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