A Filha de Poseidon e o Filho de Hades - One-Shot escrita por Rocker


Capítulo 1
Capítulo Único




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A Filha de Poseidon e O Filho de Hades - Antes do Início

Capítulo Único

Written by Rocker

Sabe, era bom relembrar as coisas. Principalmente as coisas boas. Como quando conheci Nico. Não, não digo sobre a impossível missão de encontrar os instrumentos de Hades e Poseidon. Okay, tudo bem, tem um pouco a ver sim. Mas não sobre a parte de quando Nico teve que lutar para conseguir um beijo meu e eu finalmente me lembrar dele.

Não, eu falo da história antes dessa. É isso mesmo, teve uma história antes disso. Não foi uma história fácil, e muito menos radical. Foi simplesmente uma história qualquer, de uma garota qualquer que conhece um garoto qualquer e descobre um sentimento, não tão qualquer. Eu falo da história de como eu havia me apaixonado pela primeira vez pelo homem que hoje é meu marido e com quem eu tinha três filhos. Não é uma história magnífica, como havia sido a parte de depois.

Mas era uma história. A minha história. E seria uma honra dividi-la com vocês, semideuses que, assim como eu, têm uma vida agitada, mas que sabem que nada como um amor para balançar seus próprios pilares.

~*~

Era uma segunda-feira, meados de outubro. O ano letivo tinha começado há pelo menos dois meses e eu achava estranho os cochichos que corriam pelo colégio. Diziam haver um aluno novo, o que era estranho e suspeito por si só. Mas algo me dizia que era bom ficar de olho. Eu era uma semideusa filha dos Três Grandes. Conhecia minha história desde quando eu conhecia meu próprio nome, então eu estava no meu direito de ter ambos os pés atrás. Me preparei para tudo o que eu poderia enfrentar naquele dia, com o meu cordão de Tridente e minha pulseira como tal. Era comum que eu fosse atacada. E eu estava ansiosa para retornar à minha casa e contar à minha mãe, Caroline Miller, sobre os cochichos.

Como eu disse, eu havia me preparado para tudo. Menos para o que eu encontrei assim que fechei a porta de metal do meu armário com um estrondo maior que o necessário.

Era um garoto. Lindo. Pele alva, cabelos negros meio despenteados e que davam um ar mais sexy, olhos de um negro profundo que poderia examinar a alma de qualquer um que ousasse olhá-los diretamente.

– Deveria ter mais cuidado, podia ter atravessado até a parede.

Lindo, mas era mais irritante que um chamado de Afrodite para conseguir um perfume francês de última geração. Acredite, isso sim é missão desperdiçada.

– Deveria cuidar da sua vida. – eu disse, dando-lhe meu melhor sorriso sarcástico.

E ele olhou para mim de verdade, pela primeira vez. Não sei identificar bem o olhar de um garoto sobre mim, porque nunca fui muito popular. E garotos geralmente fogem de mim. Eu sei, sou tão chata que é difícil aguentar por mais de vinte e quatro horas.

– Gostei da camisa. – ele disse e, em um ato reflexo, baixei meu olhar e tomando ainda mais consciência da minha camisa do AC/DC e minha jaqueta de couro por cima.

Levantei novamente meus olhos para retrucar-lhe, mas o garoto sem nome já estava longe no corredor, andando de maneira despreocupada, mas alerta. Tão alerta que me lembrou de mim, quando procurava qualquer sinal de monstros por perto.

E sentia também todos os olhares fulminantes das outras garotas do segundo ano.

~*~

Entrei na sala sobre os olhares fulminantes das garotas, o que era bastante incomum. Geralmente eu era daquelas excluídas que às vezes corriam o risco de nem ao menos aparecer no anual da escola. Apesar de os monstros terem um apreço forte por mim, por ser filha de Poseidon, os mortais me tratavam como se eu fosse, na verdade, filha de Hades ou de Ares. Gostava de usar algumas peças de roupas pretas com blusas de banda e meu inseparável all star. Eu era briguenta, agressiva, e todos me evitavam. Foi por esse medo de rejeição que minha mãe nunca me mandou para um tal de Acampamento Meio-Sangue, que até que não era muito longe.

Minha mãe era uma semideusa, filha de Hécate, e me ensinou tudo o que sei hoje sobre a mitologia grega e como matar os seres mitológicos que muitas vezes querem fazer o mesmo comigo. Vivíamos bem apenas nós duas, com alguns deuses aparecendo para nos dar uma missão. Mas, fora isso, eu era uma zé ninguém. Eu também não gostava de chamar a atenção, e não tinha amigos, por isso tinha a mesa dupla do fundo somente para mim. Qual não foi minha surpresa quando eu vi o garoto lindo de antes ocupando uma das cadeiras!

Talvez isso explicasse porque o primeiro olhar que as garotas me mandaram na vida fora o de ódio.

Expirei o ar de meus pulmões e fui até a minha cadeira, querendo torcer o pescoço de todos que o viravam para me olhar. Sentei-me, com toda a elegância desleixada merecida, e não lancei um olhar sequer para a arte em forma de garoto que estava ao meu lado. Tentei me concentrar em qualquer coisa que parecesse mais interessante do que minha unha sem esmalte, então simplesmente fiquei girando minha pulseira no pulso, tendo o cuidado de não a transformar em escudo ou de não olhar para aquela imensidão negra que parecia me olhar divertidamente.

– Por quê estão te encarando? Também gostaram da sua camisa? – ouvi-o sussurrar, numa voz que, se eu não estivesse tão tensa, julgaria bastante sexy.

– Cale a boca que a culpa é sua. – resmunguei de volta, sem me dar ao trabalho de levantar o olhar.

– Minha? – ele perguntou inocentemente, num tom que deixou claro que de inocente ele não tinha nada.

– Não é como se todo dia o garoto novo que chamara a atenção de metade da população feminina do colégio se sentasse ao meu lado.

Eu não tinha ideia do porquê dissera aquilo. Era como se o garoto tivesse algum tipo de ímã ou hipnose sobre mim.

– Não sei o motivo disso, você me parece uma garota legal.

Não podia dizer ao certo, mas tinha quase certeza de que havia um filete de ironia ali. E, por incrível que pareça, eu gostei disso.

Revirei os olhos e ignorei-o completamente até o professor de Biologia entrar. O que não demorou muito.

– Ah, o novato já está alojado! – exclamou o professor que eu nunca soube o nome. Ele lançou-me um olhar que dizia que também não sabia meu nome, mesmo já sabendo que eu fazia parte da sua turma há uns bons anos. – Espero que tenha apreciado sua companheira, será assim até o fim do ano.

As garotas se voltaram para a frente decepcionadas, enquanto eu praguejava mentalmente que os poderes herdados de Poseidon não me permitiam abrir um buraco no chão e me enterrar viva.

~*~

– O que você quer? – perguntei rispidamente, assim que vi o novato se aproximando de mim.

Será que nem no terraço, onde ninguém ia e ninguém me achava, eu teria a paz que os deuses nunca me davam?

– Epa, calma, só estava te procurando! – ele levantou os braços em forma de rendição. E eu revirei os olhos.

– Ninguém só procura por mim, mesmo quando querem alguma coisa. – resmunguei e repeti. – O que você quer aqui?

Ele bufou, e sentou-se ao meu lado, escorando-se também na pequena parede que havia ali.

– Você seria o mais próximo de alguém decente nessa escola. São todos mesquinhos e fúteis demais. Aliás, mal pude ter uma conversa com mais de cinco palavras antes que eu quisesse enfiar a cabeça de um deles no triturador de carne.

Eu ri e ele me acompanhou, até que eu disse. – Seria uma boa ideia, mas não posso ser expulsa de novo. Aliás, o fato de você não querer triturar minha cabeça quer dizer que sou decente? – perguntei, arqueando uma sobrancelha e observando o sorriso divino em seus lábios.

– É claro! Ou até você me dizer onde arranjar camisas do AC/DC!

Sim, eu estava usando a mesma blusa do dia em que o havia conhecido.

– Eu disse que você queria alguma coisa! – rimos novamente, e eu nunca havia me sentido tão bem assim antes, além da minha mãe.

– Então, podemos começar de novo? – ele perguntei, em expectativa.

Pensei por um único segundo nos prós e contras de ter meu primeiro amigo na vida. Okay, devo admitir que nesses longos cinco segundos eu não achei nada para a lista dos contras, então simplesmente resolvi me jogar de cabeça.

– Ronnie Miller, muito prazer. – disse, sorrindo, e estendi minha mão.

– O prazer é meu. – ele sorriu e apertou minha mão. – Nico di Angelo.

Um nome que não saíra nunca mais da minha mente.

E eu nunca me arrependi de ter me jogado de cabeça.

~*~

Trabalho de Biologia. Tinha coisa melhor?! Okay, não responde, não quero entrar em depressão antes dos trinta anos.

– Hey, relaxe, Ronnie, Biologia não é o fim do mundo! – exclamou Nico empolgadamente, enquanto ele praticamente me arrastava para minha casa, para fazermos o demônio de trabalho.

Ainda! – resmunguei, indignada.

Nico riu. Mas, sério, no dia que me explicarem porque vou precisar da biologia celular na minha futura vida de não-médica, aí a gente conversa. É tão chato! Entramos no apartamento e minha mãe ainda não estava em casa, então pegamos alguns pedaços de bolo e refrigerante e fomos direto para o meu quarto. Por pior que seja qualquer assunto de Biologia, nossos trabalhos eram produtivos. Aliás, ninguém melhor que minha mãe para saber me alimentar. Ficamos algum tempo enrolando, conversando e fazendo o mínimo possível para o trabalho, até que ouvi a porta da frente abrindo. Deixei Nico digitando e fui logo para a sala.

– Mãe, eu e Nico estamos fazendo um trabalho de Biologia e eu já quero sair correndo... – resmunguei para ela.

Mas ela sabia que era quase que meu código para "mortais em casa, não diga nada ou corto sua língua". Aliás, eu estava rezando para que Nico não viesse na sala. A aparência da minha mãe estava levemente crítica.

– Ah, oi filha! – ela disse em tom cordial, que assumia sempre que Nico estava ali. Seria meio estranho ela me tratar como parceira de trabalho, o que, na verdade, éramos. – Meu trabalho hoje foi meio longe, por isso demorei. Um trânsito enorme e apareceu algumas cobras no escritório.

Isso quer dizer que ela foi atacada por dracaenae.

– E Nico, como está? – ela perguntou, amenizando um pouco o tom.

– Bem... – resmunguei, estranhando a pergunta e a sobrancelha arqueada sugestivamente.

– Já pegou ele ou não? – ela perguntou tão diretamente que eu desconfiei que tivesse engasgado com o oxigênio.

– Mãe! – exclamei, corando, e voltando logo ao quarto.

Tive sorte que Nico estava concentrado no trabalho e nem ouvira as palavras dela.

~*~

Lutar contra dracaenae é difícil.

Principalmente quando você é pega de surpresa.

Principalmente quando você é pega de surpresa na sala de Biologia.

Ao menos tive sorte que as duas dracaenae apareceram somente na hora do intervalo. Seria meio estranho explicar para um bando de alunos porque duas mulheres meio cobras estavam tentando me matar.

Além de que poderia ser expulsa. De novo.

Mas a situação mais difícil que passei foram os que se sucederam ao último golpe na segunda dracaena, que virou pó em frente aos meus olhos e com a água controlado por mim se esguia ao meu redor.

– Ronnie? – e esse Nico na porta, olhando assombrado para mim.

E eu sabia que ele tinha visto a espada ainda em minhas mãos, e o resto do pó se dissolvendo no ar.

– Olha, eu posso explicar! – disse rapidamente, em tom de desculpas, enquanto transformava minha espada em pingente novamente e o recolocava em meu pescoço.

E Nico fez algo que eu nunca imaginei que faria, caso essa situação viesse realmente a enlouquecer. Ele abriu um sorriso de orelha a orelha, parecendo feliz, assombrado e encantado.

– Você também é uma semideusa!

~*~

– Ele também é semideus?! – perguntou minha mãe, tão pasmada quanto eu havia ficado, nas horas em que eu e Nico conversamos de verdade.

– Eu sei! – exclamei excitada, pulando da bancada e andando em círculos atrás da minha mãe, que cozinhava alguma coisa que, por incrível que pareça, eu não queria saber no momento. – Ele disse que era filho de Hades e que era pouco aceito no Acampamento, por isso veio para Nova York, ao invés de ficar mais alguns anos com o pai no Mundo Inferior. Ele acreditou menos ainda quando eu disse que era filha de Poseidon!

Mamãe riu da minha empolgação e, segundos depois, quando eu estava mais calma, a acompanhei nas gargalhadas.

– Ah, ele quer nos acompanhar na próxima missão, aquela que temos que resgatar os instrumentos em Las Vegas! – exclamei animadamente.

– Sério?! – ela perguntou e eu assenti freneticamente. – Então diga a ele que embarcaremos em três semanas!

Sorri abertamente, mal cabendo em mim com a notícia.

– Nunca te vi tão feliz, minha filha. – disse ela, olhando-me com aqueles olhos castanhos cheios de carinho.

Parei onde estava, corando, e comecei a brincar cor meus próprios dedos para não ter que levantar meu olhar.

– Ah, mãe... Sei lá, Nico me faz bem de um jeito que eu nunca imaginei que aconteceria.

Eu sabia que ela sorria de orelha a orelha. – Está apaixonada?

Corei ainda mais, enquanto resmungava. – Eu acho que sim...

Eu sabia que ela tinha escutado, pois ela logo disse.

– Então corra atrás. Semideuses não têm uma vida muito longa e você deve aproveitar o que a sua curta lhe oferece.

~*~

E eu segui seu concelho. Uns três dias depois, estávamos andando pelo Central Park, conversando sobre os planos de viagem para Las Vegas e Nico me dizendo sobre sua experiência com o Cassino Lótus. Ainda não sabíamos que os instrumentos estavam escondidos ali, tínhamos apenas o nome da cidade. Enfim, o importante era que o Central Park, naquele dia, estava com um movimento razoável. Mas acontece que o banco em frente ao nosso tinha um casal trocando carícias e palavras arrastadas. O que para mim queria dizer grude.

– Eca. – eu disse, atraindo o olhar de Nico, que estava sentado ao meu lado. – Nunca ninguém me chamará de amor, a não ser que queria ser afogado.

Nico riu. – E por que essa aversão toda?

– Não sei, só não gosto. – dei de ombros.

– Aposto que você não mataria nada. – ele me desafiou.

– Não duvide, minhas apostas são a sério. Além do mais, não tenho namorado. – disse, inconscientemente.

– Mas pode ter. – disse Nico marotamente, aproximando o rosto do meu.

E eu já sentia minha respiração falhando. – O-o que quer dizer com isso?

Ele não disse, ele demonstrou. Aproximou-se de mim e tomou meus lábios nos seus, de uma maneira tão doce e natural que cheguei a imaginar que meus lábios eram toldados propriamente para os seus. Com sua língua, ele explorava cada centímetro da minha boca, memorizando-a. Até que a ausência de ar se tornou insuportável e nos separamos minimamente. Ele tinha um sorriso que mal cabia em seus lábios avermelhados e eu desconfiava que os meus os espelhassem.

– Isso foi uma proposta? – perguntei, sorrindo do mesmo modo maroto que ele, antes de ter me beijado.

– Se for a resposta for positiva...

– Considere aceita. – eu disse, antes de tomar seus lábios nos meus.

~*~

– Aposto que ele não será mais rápido que o Becker.

– Aposto que o gol será do Mayer.

– Mas aposto que o White não pega a bola.

E assim se sucederam as quase duas horas no apartamento que Nico tinha só para ele. Ficamos vendo futebol, e apostando os lances. Sentados lado a lado no sofá, ele meio deitado e eu recostada contra seu peito, enquanto ele acariciava minha cintura inconscientemente. Mas também mais xingávamos os jogadores do que trocávamos carícias.

– Argh, esse jogo não está valendo de nada! – ele reclamou, desligando o televisor sem sair do lugar.

– Tem razão. – eu disse. – Queria apostas maiores.

Ele sorriu marotamente. – Manda suas ideias.

Pensei, pensei, pensei. Acho que nunca pensei tanto depois de que começara a namorar com Nico. As coisas saíam geralmente no automático.

– Você ainda está com a ideia de mandar fazer nossas alianças? – perguntei, e ele assentiu. – Ótimo! Faça uma com uma caveira para mim, e um tridente para você.

– E o que eu ganho com isso?! – ele perguntou arqueando uma sobrancelha.

– O prazer de me ver desfilando por aí com o símbolo do seu pai na nossa aliança de compromisso. – eu disse, rindo.

Ele ponderou por um segundo, antes de rir também. – É justo!

~*~

– Eu não acredito que você fez isso! – exclamei, verdadeiramente chocada por ter perdido a aposta.

Eis que me aparece, dois dias depois, Nico di Angelo com uma caixinha de veludo com meu anel de compromisso. Meu anel de caveira.

– Você tinha apostado. – deu de ombros.

– Mas não achei ia mesmo fazer! – argumentei, procurando arranjar tempo.

– Não senhora, eu disse que faria. E já até estou com a minha! – e me mostrou seu dedo anelar direito, com um anel de prata e um tridente entalhado no meio. – Agora é sua vez!

Suspirei derrotadamente, enquanto finalmente cedia e colocava o anel de caveira no dedo anelar.

– Viu, o dedo ainda está inteiro! – ele brincou, e eu revirei os olhos.

– Só porque sou uma semideusa de palavra! – eu disse, fingindo estar emburrada.

– Claro, e meu amor também. – ele disse, rindo e me segurando pela cintura para me girar no ar.

– Não me chama de amor!

~*~

Acabou que a missão havia sido adiada. Eu, minha mãe e Nico, fomos em várias outras missões isoladas e mais tranquilas. Mas então finalmente chegara o dia que eu iria cumprir minha missão em Las Vegas. Mas, desta vez, iríamos ser apenas eu e minha mãe. Era perigoso para alguém mais, principalmente a Nico. A missão era dedicada apenas a mim, e já era arriscado minha mãe ir junto. Não queria colocar Nico na lista de riscos, e ele aceitou, mesmo que a contragosto.

Depois disso eu ficava me perguntando se não teria acontecido diferente se ele tivesse ido.

~*~

Dor.

Dor e mais dor se alastrando por meu peito. Nunca pensei que ver alguém morrendo seria assim tão doloroso. Uma parte de mim fora arrancada quando a vi caindo no chão, ensanguentada do chifre da Quimera, direto no coração. Meu coração foi esmagado, meu ar disperso e meu rosto manchado pelas lágrimas. Mal sentia os monstros se aproximando de mim. Eu só sentia a dor. Uma dor irracional que eu pensei que jamais seria curada. Minha mãe, parceira, melhor amiga e confidente. Morta diante dos meus olhos.

E, enquanto os monstros tapavam minha visão dela caída ao chão, uma escuridão me cegou e a próxima coisa que me dei conta foi de estar estatelada no chão do meu apartamento, chorando como nunca antes na vida, nos braços de Nico.

~*~

Eu estava de mãos dadas com Nico. Sempre fui apenas feliz, com o namorado maravilhoso que tinha e uma mãe protetora. Nunca precisei conhecer meu pai, e saber que era um deus grego não mudou em nada a minha vida. Eu era semideusa, minha mãe era semideusa, meu namorado era semideus. Difícil conciliar sempre uma vida normal na escola com chamados para missões. Geralmente, íamos os três – minha mãe, Caroline Miller, sempre adorou Nico.

Mas da última fomos apenas eu e minha mãe, pois achava muito perigoso para Nico se envolver em uma missão imposta apenas a mim. Zeus me mandara resgatar os instrumentos dos Três Grandes que ele descobrira estar no Hotel e Cassino Lótus. E como eu sabia que Nico também odiava aquele lugar, resolvi deixá-lo desta vez. Eu sempre pensava se ele tivesse ido, se as coisas seriam diferentes. Minha mãe morreu durante esta missão malsucedida. Ela era filha de Hécate e eu ainda me perguntava como ela não conseguira se defender daquela Quimera.

– Pensando nela de novo? – Nico me perguntou, enquanto andávamos pelos corredores moderadamente cheios do colégio.

– Sempre. – eu disse, meio tristonha. – Olha, você tem certeza que eu posso ficar com você? É meio estranho nós dois sozinhos e eu não quero atrapalhar.

– Ei, princesa, olha para mim. – ele me chamou em um voz calma e doce. Segurou meu rosto com uma mão enquanto usava a outra para secar as poucas lágrimas que insistiam em sair pelo meu rosto. – Você não tem como pagar o aluguel, eu moro sozinho em um apartamento grande. E sou seu namorado. Claro que não tem problema nenhum.

Eu sorri em agradecimento e Nico aproximou seu rosto do meu, beijando meus lábios delicadamente. Quando nos separamos, ele pegou minha bolsa-carteiro roxa e colocou sobre o próprio ombro.

– Por que você sempre insiste em fazer isso? – perguntei, desistindo de pegá-la de volta e entrelaçando seus dedos aos meus.

– Porque desde que você usa esse anel – ele levantou minha mão entrelaçada à sua. Eu tinha um anel prateado, com uma caveira, no dedo anelar direito. Nico tinha um anel com um tridente. Nossas alianças de compromisso. –, eu tenho o direito e o dever de te mimar quando eu quiser, amor.

– Você disse! – acusei-o, dando-lhe um leve tapa no braço.

– O quê?! – Nico perguntou, fingindo-se de inocente, mas claramente se segurando para não rir.

– Você sabe que eu acho super clichê chamar de amor! – reclamei fazendo bico.

– E você sabe que eu adoro te ver irritada. – ele disse, empurrando-me contra um armário, que por acaso era o meu.

– É claro, você adora provocar! – rebati.

Nico riu, antes de me beijar de novo. Mas fomos interrompidos – antes da hora, na minha humilde opinião – por uma tosse forçada. Quando nos viramos, vi a pessoa que jamais imaginei ver em vida.

Meu pai.

Poseidon.

Na minha escola.

– Sabe quem sou, não? – ele perguntou, avaliando minha reação.

Nico deu um passo à frente e me colocou atrás de si protetoramente.

– Não irá tocar nela. – ele disse entredentes.

– Não preciso. – Poseidon disse e estalou os dedos.

Segundos depois eu me vi em amarras de água, que por mais que eu tentasse, não se dissolviam ao meu poder. Nico fora jogado contra a parede do já vazio corredor, mas não estava desacordado. Tentava se levantar, mas era inútil contra uma força que o prendia ali. Eu gritava desesperadamente por seu nome e ele, a cada grito, tentava se libertar inutilmente. Por fim, me virei raivosa para Poseidon.

– Solte-o. – ordenei.

– Somente quando você estiver segura com sua tia Kim. – ele disse, com um ar tristonho. – Acredite, querida, é para seu próprio bem.

– Que bem seria esse me separando do garoto que eu amo?! – eu quase gritei, mas me lembrei que talvez houvesse gente tendo aulas.

– O amor de vocês é proibido, Zeus não permite. Não há nada a ser feito a não ser alterar sua memória.

– FAZER O QUÊ?! – ok, foda-se as aulas, ELE ESTAVA QUERENDO ME FAZER ESQUECER DE NICO!

– Sinto muito, querida, mas será feito. – vi-o levantando as mãos para estalar os dedos. E tudo estaria perdido.

Olhei para Nico, ainda preso na parede, uma última vez e murmurei o "eu te amo" mais doloroso que já lhe disse. Quando ele disse um "eu te amo também", eu sorri tristemente, ouvindo um estalo de dedos.

E então, antes de apagar, pude ver ainda uma lágrima solitária escorrendo pelos olhos negros.


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Notas finais do capítulo

Leiam também minha nova fic de PJO!
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