Astrid e Soluço: Desvendando o passado escrita por quase anonima


Capítulo 3
03: Decisões


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoinhas!
Peço mil desculpas pela minha demora, é que eu realmente andei ocupada com trabalhos, provas, peças de teatros e outras chatices que aparecem nos últimos bimestres.
Esse capitulo quem narra é a personagem Lagertha, vai aparecer alguns personagens novos. Vocês podem ficar um pouco confusos com algumas coisinhas que só vão ser esclarecidas nos próximos capítulos.
Espero que gostem. Beijos ;)



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Lagertha Bears P.O.V

Acordei cedo esta manhã. Fui me deitar muito tarde noite passada graças a uma reunião mas era parte da minha rotina acordar antes das outras pessoas, então, levantei-me rapidamente. Arrumei meu cabelo fazendo uma longa trança única, coloquei uma roupa mais simples: uma calça de couro e uma blusa mais fresca; deixando os vestidos e o manto que eu geralmente usava de lado, não era uma boa ideia usá-lo já que o clima estava bem mais quente que o normal. Saí do meu quarto desci a escada. Passei pela cozinha e abri a porta que dava para o lado de fora, onde Lili já estava me esperando. O sol começava a nascer.

– Die bona puella! Tuus est dies, et hodie miris! (Bom dia garota! Hoje o dia está incrível!) - Disse enquanto saía do rumo da porta.

Ela concordou dando alguns pulinhos e sua cauda bateu em alguns machados e espadas que estavam escorados na parede, derrubando-os no chão. Lili tem sido uma grande amiga minha ultimamente. No começo não foi tão fácil me aproximar dela e se eu não tivesse o dom de falar com dragões seria mais complicado ainda, ela era uma dragão-fêmea muito orgulhosa. Eu diria que ela é uma Nadder Mortal se não fosse pela aparência de um Fúria da Noite. Lili se parece muito com Banguela o que a difere é que sua cor escura possui um brilho violeta às vezes, seus olhos são acinzentados e seus traços são mais delicados, afinal de contas ela é uma fêmea.

Aproximei-me dela e montei em suas costas. Quando ela levantou voo eu pude ver melhor os campos e como estavam verdes, cheios de vida. Mesmo no início do verão era possível sentir um vento frio tocando meu rosto. Queria ir até a floresta próxima a nossa tribo.

Eu passava lá quase todas as manhãs então pedi a Lili para que pousássemos.Ela aterrissou entre as árvores. Caminhei por algum tempo. Eu adorava ouvir o canto dos pássaros e Lili também, avistei uma árvore que possuía frutos com uma cor tão viva que chamou minha atenção, colhi um e o provei.

Estava tão suculento quanto a aparência. Colhi outro e arremessei para Lili, que pegou a fruta com a boca engolindo de uma vez só. Essa é uma coisa que muitos não sabem sobre dragões: não é porque eles possuem uma aparência intimidadora que eles comem necessariamente apenas a carne de outros animais.

– Paratus es, velim scire alius furor nocte Lorem ipsum sit! (Espero que esteja preparada para conhecer um outro Fúria da noite! Você vai adorá-lo!) - Falei para ela na intenção de implica-la e funcionou: Lili revirou os olhos e soltou um grunhido, tentando parecer o mais desinteressada o possível. – Purus! Non loquuntur, sed bene nosti, revertere in civitatem... Tu, ibi, oportet quod in auxilio opportuno. (Tudo bem! Não falo mais sobre isso, mas vai ser bom você conhecê-lo... é melhor voltarmos para a vila, devem estar precisando de ajuda lá.)

– Denique in testamento. (Finalmente entramos em acordo.) - Ela respondeu oferecendo as costas para que eu pudesse montá-la.

Quando voltamos a vila as pessoas já estavam trabalhando com tanta empolgação para a cerimônia que nem parecia que o que estavam fazendo era trabalho. Isso é muito bom de se ver pois desde a morte de Leif, meu irmão, não houve muitos motivos para sorrir aqui em Vinland. Foi uma ideia minha, resolvi chamá-lo de “Festival de verão”. Eu sei que é um nome sem graça e muito óbvio, mas enfim, se tudo der certo faremos isso todos os próximos anos, poderia até virar uma tradição.

Algumas das pessoas conversavam enquanto esculpiam a madeira para fazer as tendas e arenas de competições, outras cantarolavam enquanto cortavam a madeira. Desci das costas de Lili, caminhei entre elas. Ouvia alguns cumprimentos do tipo “bom dia alteza” e eu os respondia com um “bom dia!” um pouco sem jeito, ainda não me acostumei em ser chamada assim pelo meu povo, afinal, eu os considero como uma família.

Ouvi algumas vozes infantis me chamando. Virei-me e era Bjorn, Erik e Valquíria. Já parados, os três recuperavam o fôlego por terem corrido para me alcançar. Eles eram as únicas crianças que trouxemos de Vanir para Vinland.

Erik e Valquíria eram irmãos. Erik era mais velho, tinha 11 anos de idade, Valquíria 9. Bjorn também tinha 11 anos e era o irmão mais novo da minha melhor amiga: Bertha. Bjorn era amigo dos dois mas parecia ser irmão de Erik pois ambos tinham pele clara e cabelos escuros, ao contrário de Valquíria, que era loira. - Bom dia crianças! - Disse com um tom animado.

– Bom dia! - respondeu Eric distraído. Valquíria deu-lhe um soco no braço o fazendo lembrar de algo. - Err… quero dizer… Alteza.– ele disse corrigindo a si mesmo e depois fazendo uma reverência acompanhada dos outros dois.

Fiquei um pouco sem jeito, odiava quando as pessoas faziam reverências para mim, principalmente quando era algum amigo meu.

– Ah podem parar! Quantas vezes terei que falar que não é preciso fazer reverência para mim? Vocês são meu amigos! - falei colocando as duas mãos na cintura tentando parecer brava e depois sorri ao ver as expressões de alívio dos três - O que vocês iam me falar?

– É que Ragnar esta procurando por você alte… ahn, Lagertha - disse Vaquíria.

– Okay, eu vou procurá-lo! Ah, e vocês três, não quero saber de os colocarem para trabalhar. Quero que brinquem o máximo que puderem mas, por favor, fiquem longe de confusão. Ainda temos nativos por perto e eu me lembro bem o que aprontaram da última vez!

Falei me referindo a uma vez que o Trio inventou de saírem escondidos em busca de “aventura” e foram parar em uma tribo de nativos, deu um trabalho enorme para tirá-los de lá.

Virei-me para Lili.

– Lili cum illis placet. (Lili, fique com eles, por favor.)

– O res mirabilis, et vos mihi in filios et proelia concitantur in turpis! (Que maravilha! Eu fico com as crianças bagunceiras enquanto você vai namorar!) - Lili me respondeu de uma forma sarcástica mas ficou mesmo assim.

Voltei onde as pessoas estavam trabalhando, procurei Ragnar olhando em várias direções e o encontrei segurando um machado e ajudando a cortarem a madeira para que ela fosse esculpida. Ele me viu e eu fui até ele.

– Bom dia Majestade! Acordou um pouco tarde hoje. - cumprimentou dando um sorriso com o canto da boca, o que era irritantemente sexy.

– Ei! Isso não é verdade porque eu acordei antes mesmo de o sol nascer!

– Bom isso explica porque eu também não vi Lili até agora. Mas precisamos conversar.

– Sobre?

– Sobre Eskol. - disse ele.

Ragnar me levou para um lugar mais reservado, atrás de uma das tendas. Respirei fundo, sabia o que viria depois. Eskol é um foragido que apareceu desacordado na encosta da ilha há três dias. Ele estava ferido e desidratado, no momento está recebendo cuidados por Bertha e as outras curandeiras da tribo, ele é um homem misterioso e com expressões sombrias mas eu acredito que tem um bom coração. O problema é tentar explicar isso para Ragnar.

– Ah não de novo não, você sabe que esse assunto pode terminar em discussão, né?

– É sério Lagertha! Ontem eu vi, enquanto curavam um dos ferimentos dele, uma tatuagem nas costas: o símbolo da tribo dos Danos e você sabe que é uma das tribos mais violentas que existem.

– Você pode estar enganado e ter visto outra coisa. É melhor deixarmos para resolver isso no grande salão hoje a noite. Ele já estará curado e descobriremos quem ele realmente é.

Ragnar hesitou em discordar mas percebeu que isso realmente acabaria em discussão. Foi o que aconteceu no dia em que Eskol apareceu.

Saímos de trás da tenda e fomos ajudar os outros que levavam a madeira pronta para o local onde faríamos as arenas. Vi alguns dragões de jardim circulando pelo local e levando alguns materiais precisos para o local onde montaríamos o festival. Ofereci ajuda a Ragnar mas ele disse que era “um trabalho muito pesado para uma garota". Insisti em ajudá-lo e ele acabou me entregando algumas toras grandes de madeira, que realmente estavam pesadas.

A arena seria montada um pouco mais distante de onde estávamos então tivemos que andar um pouco. Quando estávamos quase chegando, fiquei para trás. Ragnar e os outros já estavam adiantados, eu já não estava aguentando, o peso começou a me incomodar e eu estava com dificuldade para andar.

– Esta tudo bem Lagertha? Tem certeza que não quer que eu leve? - ele perguntou gentilmente se virando para mim. Arrumei minha postura imediatamente como se o que eu estava carregando fosse apenas uma folha.

– Está tudo tranquilo. - eu disse recuperando o fôlego. - Pode ir na frente que eu já te alcanço.

Ragnar se virou e continuou andando, eu não me renderia tão fácil.

"Vamos Lagertha só mais um pouco", eu pensava. Foi quando eu dei mais um passo e não vi o que estava no chão, porém, seria bom se eu tivesse notado que tinha uma pedra grande na minha frente pois evitaria uma queda constrangedora que tive seguida do pior grito agudo que eu soltei misturado ao som da madeira caindo que fez com que os outros se virassem para ver o que acontecera, inclusive Ragnar, que veio até mim e ajoelhou-se do meu lado. Ragnar percebeu que eu estava bem mas não perdeu a oportunidade de me repreender.

– "Está tudo tranquilo." – Ragnar resmungou tentado me imitar com uma voz fina que não se parecia nem um pouco com a minha . - Quando vai deixar de ser tão teimosa? - e já estava sorrindo quando terminou a frase.

– Tá, pode rir agora, mas eu teria conseguido se não fosse aquela pedra, não estava tão pesado. - olhei para Ragnar e ele já estava rindo de mim.

– Ótimo, vou ser um motivo de piada agora! - Eu disse tentando parecer séria, mas logo percebi que o que aconteceu foi realmente engraçado e desatei a rir também em segundos todos nós estávamos dando boas gargalhadas por causa do meu tombo.

– É melhor você ir descansar majestade, afinal, teremos uma reunião hoje a noite. Podemos acabar o serviço - disse um dos homens que não reconheci pois havia outros à sua frente.

– Ele tem razão, preferimos que você esteja inteira hoje.- disse Ragnar ironicamente em um tom brincalhão estendendo a mão para me ajudar a levantar.

– Tudo bem eu vou poupar mais desastres mas não preciso descansar. Prefiro ir procurar Bertha.

Deixei as toras de madeira no chão, provavelmente algum dragão iria pegá-lo e fui para casa. Bertha deveria estar lá já que até agora não a vi perambulando por aí. Foi bom ela ter decidido morar comigo. Quando Leif morreu ela ficou muito abalada e eu também fiquei. É bom ter uma amiga por perto em momentos assim.

****

Eu estava certa: Bertha ainda estava em casa, sentada em uma cadeira e debruçada sobre a mesa olhando para um ponto fixo. O almoço já estava pronto e servido. Geralmente era ela quem preparava a maioria das refeições e eu ajudava quando não estava ocupada. Quando eu era de Vanir minha família tinha criados que faziam tudo que pedíamos a eles mas eu nunca gostei da ideia de ter criados fazendo as coisas para mim e ela também não, então nos virávamos sozinhas. Estranhei vê-la assim pois ela estava de bom humor ultimamente, fazia meses que eu não a via tão quieta.

– O que houve com você? Está tudo bem? - perguntei, tentando uma voz calma.

Notei que caia uma lágrima em seus olhos e ela enxugou imediatamente, tentando disfarçá-la.

– Foi apenas um sonho que eu tive. Leif estava nele, sonhei que tínhamos um filho e éramos uma família, foi tudo tão real, mas quando acordei percebi que era apenas mais um sonho que eu não realizaria, não terei uma família. - ela disse com uma voz já rouca notei que o rosto estava um pouco inchado o que indicava que ela estava chorando antes mesmo de eu chegar.

– Ah Bertha, eu também sinto a falta dele, mas não fale assim você ainda tem a mim e somos uma família não somos?

Ela apenas assentiu com a cabeça mas ainda caiam lágrimas de seus olhos. Contornei a mesa e fui até ela e a abracei. Não tinha o que falar para confortá-la, éramos uma família mas eu entendia o que ela quis dizer: não era a mesma coisa.

Às vezes eu gostaria que ela seguisse em frente e procurasse um outro alguém que a fizesse sentir bem, assim como meu irmão fez, não seria tão difícil. Bertha era uma mulher linda com cabelos longos e negros, os olhos de uma cor azul acinzentada e curvas que causaria inveja. Tinha um sorriso meigo que acalmaria qualquer um. Bertha não era muito boa em luta mas era ótima para cuidar dos ferimentos das pessoas, foi assim que ela conheceu Leif.

Lembro de vê-lo sorrindo sozinho uma vez quando ele voltara da enfermaria depois de sofrer alguns cortes em uma luta, perguntei o que o fizera sorrir e ele apenas me disse "Como Freia está sendo generosa comigo. Ela é linda!", não entendi direito o que era, mas depois ele passou a ir lá todos os dias, às vezes com a desculpa de que havia sofrido alguma lesão mas eu logo percebi qual era o motivo.

Pouco depois quando os dois se casaram eu os via sorrindo um para o outro sempre que conversavam. A forma como ele a olhava quando ela estava distraída, fazia eu me perguntar se Ragnar também olhava assim para mim às vezes. Por isso eu a entendo, para ela deve ser impossível tentar se apaixonar outra vez.

Sentia-me culpada por vezes. Foi me protegendo que ele morreu e eu não consegui ajudá-lo. Não gosto nem mesmo de lembrar como isso aconteceu.

– Você tem razão, somos uma família. Obrigada por me lembrar. - ela disse soltando-se dos meus braços tirando alguns fios de cabelo que estavam no meu rosto o que fez eu sorrir para ela. Provavelmente percebeu onde meus pensamentos estavam.

A refeição estava muito boa. Não quero nos gabar mas Bertha e eu cozinhamos muito bem. Acabamos de comer rápido, não por que tínhamos acabado de falar sobre um assunto delicado mas sim porque ambas estavam famintas.

– E como está os preparativos para o Festival de verão? Eu perdi muita coisa? - ela me perguntou, enquanto se levantava para recolher os pratos e talheres.

– Ah estava tudo bem até eu resolver cair no chão.

– Então eu perdi muita coisa sim. - Bertha falou com um tom brincalhão. - E como ficaram as pessoas ao saberem que o “Encantador de dragões” está vindo pra Vinland? Eu só queria ver a reação das crianças.

– Eu ainda não contei sobre ele mas as crianças realmente ficarão encantadas, principalmente se ele vier com os outros amigos dele que também possuem dragões, afinal, elas nunca viram um dragão diferente da Lili ou do Ceifador que ficou em Vanir com meu pai. Eu não tenho certeza se ele virá mesmo, ou se a carta chegou até ele. Mas eu gostaria muito que você também tivesse o conhecido, ele é incrível!

– Seus olhos estão brilhando senhorita Lagertha, espero que Ragnar não tenha percebido isso. - ela disse com um tom brincalhão.

– É claro que não, Soluço é apenas um amigo e já deve estar casado, me lembro dele me contar que tinha uma namorada. Eu tenho certeza que o que eu sinto por Ragnar é muito mais que amizade só estou esperando saber se ele sente o mesmo em relação a mim, quero dizer ele é mais velho e bonito tem muitas outras garotas lindas que fariam qualquer coisa para se casarem com ele.

– Não entendo por que ainda tem dúvidas! Você também é linda, inteligente, corajosa, forte e é uma das "beijadas pelo fogo", muitas também querem ser como você, aliás, eu já notei várias vezes como ele olha para você e está sempre disposto a te ajudar. Me lembro bem quando você teve aquele acidente com o barco e depois ficou desaparecida. Ele ficou desesperado te procurando, queria te encontrar de qualquer jeito, pedimos para que ele não fosse na floresta a noite procurar por você porque tinha um “dragão selvagem” a solta, mas ele foi mesmo assim e te encontrou. - Bertha fez uma pausa. - ...e eu soube que vocês deram alguns beijinhos depois disso, tenho a impressão de não ter sido a única vez. - falou ela, olhando me com malícia.

– Hey! - eu disse me levantando, senti que minhas bochechas coraram. - Foi só uma vez sim e ele estava um pouco exaltado, foi apenas um impulso.

– Okay, retiro o que eu disse. É bom eu ir ajudar as outras pessoas, preciso ver se o nosso "novo integrante" está bem para comparecer à reunião e você pode ir descansar senhorita, já trabalhou o bastante ontem a noite. É melhor dormir um pouco... tomar um bom banho e pensar bastante no que irá dizer a Eskol no grande salão. - Bertha falava enquanto caminhava até a porta.

– Você tem razão. Eu estou mesmo um pouco cansada, vou descansar um pouco. Por favor, não me deixe dormir por muito tempo. Me acorde assim que chegar.

– Tudo bem, eu farei isso. - Bertha fechou a porta e eu fiquei sozinha em casa.

****

Subi a escada e fui para meu quarto. Joguei-me sobre a minha cama não muito espaçosa, mas confortável para quem passou a noite anterior quase toda acordada. Antes de adormecer pensei em Ragnar. Bertha tinha razão, eu e ele nos beijamos uma vez.

Aconteceu quando eu estava confusa acabara de ver Ragnar abraçado com outra garota e não sabia mas se conseguiria cuidar de uma tribo inteira sem Leif, pensei em voltar para Vanir, mas não podia abandoná-los neste momento. Queria fugir mesmo que fosse apenas por alguns minutos.

Recordei de quando eu ainda era uma criança. Meu pai sempre foi mais rígido com Leif, então, todas às vezes que ele sentia que estava sob muita pressão, entrava em um barco e ia navegar. Às vezes, quando não estava muito nervoso ele deixava eu ir também, às vezes ele até me ensinava a navegar. Ficávamos horas observando o mar e toda a paisagem que o cobria.

Fui à praia de Vinland. Entrei em um barco grande e resolvi fazer como meu irmão. O tempo estava fechado e as ondas do mar não estavam calmas mas não me importei e continuei navegando assim mesmo, não voltaria enquanto estivesse melhor.

A chuva começou a cair primeiro apenas algumas gotas de água mas logo depois caía uma chuva grossa, o vento começou a ficar mais forte, o barulho de trovoadas e relâmpagos começaram a me assustar.

"Droga! tinha que começar um temporal justo agora?" – pensei.

Não vi bem como começou mas me lembro que a tempestade ficou mas forte e o barco estava sacudindo. Perdi um dos remos e não conseguia encontrar apoio, mal podia ver por causa da chuva que caía em meu rosto com agressividade fazendo com que eu tivesse dificuldade de enxergar. O vento continuava colérico, fazendo com que o barco balançasse cada vez mais.

Quando consegui me levantar me apoiei no mastro, na tentativa de ficar em pé, mas não foi muito fácil. O que aconteceu depois foi tão surpreendente que mal pude reagir: uma onda muito alta veio em minha direção e bateu contra o barco, que tombou. Alguma coisa acertou minha cabeça e fez com que eu perdesse a capacidade de reagir, lembro-me apenas de estar afundando antes de perder a consciência.

Lembro-me de ver um vulto escuro na minha frente, um formato que possivelmente não era humano. Pensei que estava morta mas acordei, não sei quanto tempo depois, escorada em uma árvore, com Ragnar desesperado tentando me acordar. Ele perguntava várias vezes se eu estava bem e o que eu tinha na cabeça para ter saído daquela forma mas nem eu sabia como responder.

Não consegui explicar como eu fui parar naquele lugar, "Pensamos que não a encontraríamos" ele dizia. Tentei falar alguma coisa que pudesse acalmá-lo mas antes de qualquer palavra sair da minha boca ele me beijou. A sensação foi exatamente a mesma que senti quando estávamos em Berk e ele me beijou pela primeira vez mas como ele não se lembra de nada então considerei este como o primeiro. Depois daquele não teve outro foi o primeiro e talvez o último, se eu não fizer alguma coisa.

Quando meus lábios se separaram dos dele foi como se uma eternidade tivesse passado em menos de um minuto. Não havia mais frio ou machucados. Acidentes de barco ou cortes pelo corpo. Apenas o olhar azul de Ragnar em meio ao palpitar rápido de seu coração.

– Você não deveria sair por aí sozinha. Vai se matar qualquer dia desses. - disse ele por fim.

– Eu faço... o que eu quiser.

De fato eu fazia o que quisesse. Era dona do meu nariz há muito tempo mas estar ao lado de Ragnar me passava segurança. Era nisso que eu pensava quando ele me abraçou e tentou fluir o calor do seu corpo para o meu, tão gélido que em meio ao bater dos dentes e calafrios, eu dormi e quase cheguei a esquecer das decisões de logo mais.

Adormeci rapidamente, um sono pesado acordei 3 ou 4 horas depois em minha casa. Bertha provavelmente esquecera de me acordar. Sentei-me na cama me espreguiçando mas levei um susto: Ragnar estava sentado à minha frente em um dos bancos que ficavam próximos à minha mesa. Ele olhava para mim.

– Eh... Oi, Lagertha. - Ragnar disse um pouco sem jeito. - Desculpa se eu te assustei é que Bertha pediu para eu vir acordá-la mas você estava em um sono tão profundo que decidi deixar você dormir um pouco mais.

– Tudo bem, você não me assustou e eu ainda tenho tempo de me arrumar. Como as pessoas estão? Como ficaram as decorações? - perguntei me sentando mais perto de Ragnar, ficando de frente para ele, percebi claramente que ele estava um pouco desconfortável, afinal, ele nunca havia entrado em meu quarto.

– Está indo muito bem, as pessoas não param de falar sobre as competições e as festas que acontecerão. E por falar nisso aquele seu novo amiguinho, o famoso "Espirro" ele ainda vira para Vinland? E como foi que você o conheceu mesmo?

– O nome é “Soluço”. - corrigi sorrindo. - E… ah, você sabe Ragnar, eu já te contei foi antes de virmos para Vinland. Quando eu e Leif estávamos navegando e o encontramos em uma outra ilha, não contamos a ninguém sobre ele porque naquela época ainda não o conheciam como "Encantador de dragões." Quem acreditaria?

Ainda não contei como realmente o conheci, nem mesmo a Bertha eu contei a verdadeira versão, afinal quem acreditaria? Já era estranho falar que conheci um homem que pode treinar e montar em dragões. Afinal, preferia que as pessoas não se lembrassem mesmo, não gosto de pensar que meu irmão Leif já fez muita maldade com as pessoas, prefiro que lembrem dele apenas como um herói.

– Eu acreditaria se me contassem. Não acreditei na história de que ele viria apenas para trazer o dragão dele para conhecer Lili. Eu entendo que os Fúrias da Noite são espécies muito raras e que não podemos deixá-la se extinguir mas esse Soluço de quem… vocês são apenas amigos...? Quero dizer, você sente alguma coisa por ele…? - perguntou olhando para o chão como se estivesse com medo de ouvir a resposta.

– Não. Ele é apenas um amigo e já tem uma namorada. Aliás eu estou gostando de outro homem... o problema é que ele não percebe. Acho que não sente o mesmo por mim. - falei olhando para baixo.

– E quem seria esse imbecil?! - vociferou Ragnar olhando para mim com um misto de dúvida, ciúme e indignação.

– Você!

Por um momento não acreditei que havia confessionado algo que eu teimava em mentir, pior, mentir para mim mesma. Quero dizer, é um pouco óbvio que eu sinto algo especial por ele. Já não é amor de infância, um sentimento fraterno e gentil. Esse tem uma vontade de tomar as rédeas do próprio destino, fosse esse com um final feliz ou não.

Quando eu disse quase que com todas as palavras que era apaixonada por Ragnar me passou pela mente o quanto eu fui imatura e até mesmo, boba à frente de um homem. Para todos os efeitos ele era quatro anos mais velho que eu, tinha mais maturidade; mais experiência. Porém, a minha imaturidade tinha que finalizar o que havia começado.

Em meio a expressão petrificada de Ragnar reuni toda minha coragem e me inclinei para a frente, pondo minhas mãos sobre os ombros dele, deixando que meu rosto ficasse próximo ao dele. Minhas bochechas ardiam e meu olhar tentava, inutilmente, fugir do dele e isso quase me fez desistir e recuar como uma covarde. No entanto, as mãos de Ragnar abraçaram minha cintura mais uma vez no dia, fazendo com que meu corpo se juntasse ao dele. Elas queriam calor, queriam sentir mais do que meras insinuações.

Minha vontade carnal cansou de esperar que eu fosse em frente e, assim, meus olhos não quiseram observar os detalhes do rosto de Ragnar outra vez. Meus lábios apressaram-se em delinear os dele através de beijos calmos mesmo quando a barba rala arranhava meu rosto, ao passo que minhas mãos passavam ao redor da nuca dele e subiam pelos fios traçados de seu cabelo.

Ragnar sabia como corresponder, como inflamar, como se conter e até mesmo como ensinar. Ele deixou que eu fosse em frente, no meu tempo, até que, mesmo no meu desajuste, quis avançar até onde minha respiração permitiria; fazendo com que nós nos separássemos assim que meu limite chegou e meu olhar vacilante encontrou o dele e sua voz cortou minha inquietação.

– Tudo bem... eu sou imbecil mesmo. - concluiu ele em um riso antes de beijar minha testa e me apertar mais contra ele.

****

O grande salão estava cheio. As pessoas não paravam de conversar ao mesmo tempo enquanto aguardavam começar o julgamento. Acomodei-me no trono, que ficava no centro do salão diante de uma mesa de frente para os outros. Lili que estava com as crianças veio sentar-se no chão ao meu lado.

– Hoc valde Smiley Ragnar, ut, praeter quod scirem? (Ragnar esta muito sorridente, aconteceu alguma coisa que eu deveria saber?) - questionou ela.

– Osculati sumus. (Nós nos beijamos.) - respondi sussurrando para ela, apesar de saber que ninguém mais consegue falar ou compreender a linguagem dos dragões, exceto uma pessoa, além de mim.

– Haakon e exorta para volver Cruzada havia passado três sombra Outram cerimonia norte los Vinland. (Acho que não vai demorar muito para ter uma outra cerimônia aqui em Vinland.) - Disse Lili me olhando com malícia.

Procurei por Ragnar, ele estava junto a uma das mesas, ao lado de Bertha. Eles estavam conversando e estavam rindo provavelmente de algo que Bjorn disse. Sorri ao vê-los assim. Ragnar percebeu a minha presença e olhou diretamente para mim também levantando uma das sobrancelhas como se quisesse dizer "Você está pronta?", apenas assenti com a cabeça para responder que sim, eu estava. Levantei-me para dar início ao julgamento.

– Boa noite a todos! - falei em um tom alto fazendo o silêncio surgir.

As pessoas olharam para mim, algumas fizeram uma reverência outras apenas acenaram com a cabeça. Dei continuidade ao que precisava falar:

– Nos reunimos aqui hoje, para que, juntos possamos tomar uma decisão. Há exatos três dias, encontramos um homem desacordado em um velho barco na encosta da praia de Vinland. Não sabemos quem ele é tudo que pude descobrir foi o seu nome: Eskol. Poderíamos acolhê-lo de bom grado mas não posso simplesmente colocá-lo aqui se eu estiver arriscando a vida de todos vocês. Hoje decidiremos se ele deve ou não ficar. Tragam ele, por favor.

Eskol entrou no salão. Já não estava tão desidratado e magro como estava antes mas continuava a ter aquela aparência sombria. Ele era alto, extremamente forte. Seus cabelos eram negros assim como a barba. Havia um corte no rosto que ia abaixo dos olhos até o queixo. Ele parou de frente para mim, apesar da aparência ele me parecia normal para o padrão viking.

– Boa noite alteza. - estranhei sua voz grossa. Ele me cumprimentou de uma forma educada e depois me fez uma reverência.

– Boa noite. Espero que já esteja melhor e de preferência com memória para nos contar sua história. - falei casualmente em um tom brincalhão. Ouvi algumas pessoas rirem do comentário. Não havia motivo algum para não ser educada com ele. - Enfim, conte-nos a história como você veio parar aqui.

– Eu vim de uma ilha distante: Órcades, onde as pessoas vivam em paz, mas há alguns meses a tribo dos Danos nos atacou de uma forma fria e inesperada, tomando todos os que viviam na minha tribo como escravos. Perdi minha família e amigos. Tentaram fazer o mesmo comigo mas eu não aceitei, foi como fizeram esse corte no meu rosto. - falou apontando para a cicatriz - Consegui fugir a noite e peguei um barco. Naveguei por dias sem rumo, pensei que não sobreviveria pois eu estava fraco, ferido e desidratado. Não aguentei mais e desmaiei. Quando acordei eu já estava aqui e vocês estavam na minha frente, naquela sala onde cuidaram de mim. - concluiu se referindo provavelmente a mim, Bertha e Ragnar.

Olhei para ele, sua expressão era de sofrimento, ele não poderia estar mentindo, ouvi alguns comentários das outras pessoas. A história de Eskol fez com que todos sentissem compaixão por ele.

– E como você explicaria a tatuagem da tribo dos danos em suas costas? Poderia nos contar por favor como a conseguiu? - questionou uma voz familiar entre as pessoas. Era Ragnar que olhava para Eskol com frieza, não acreditou em nenhuma palavra que ele dissera.

– Os Danos fazem essas tatuagens em seus escravos. Elas são feitas com o metal quente, que queima a pele o suficiente para que a marca fique para sempre, sem nada para anestesiar a dor. - contou Eskol com muita educação, virando-se para Ragnar.

Orgulhoso como Ragnar era continuou não acreditando no que Eskol dissera. Provavelmente ia fazer mais perguntas mas eu o interrompi, tomando as próximas palavras.

– A sua história me parece muito convincente mas não sou só eu quem decide. Então alguém aqui discorda em fazer de Eskol de Órcades um novo integrante de Vinland? - perguntei com a voz mas alta olhando para os outros.

Ninguém disse uma só palavra. Todos ficaram em silêncio, nenhuma mão levantada, nenhum passo à frente. Nem mesmo Ragnar.

– Bom, se é assim... Eskol de Órcades é agora oficialmente um habitante de Vinland. Quero que todos o acolham como um membro de nossa família. No entanto, você - olhei diretamente para ele. - deve nos prometer lealdade, com todos nós. Do contrário eu faço questão de matar você pessoalmente.

– Eu prometo, majestade.

– Ótimo. Sendo assim sente-se conosco. - apontei para uma cadeira em uma das mesas a qual estava Bertha e os outros. -Podem servir o jantar.

Eskol sentou ao lado de Bjorn e Bertha que o acolheram bem. Mal colocaram o jantar na mesa e começaram os comentários das pessoas que enchiam suas bocas enquanto falavam. Procurei por Ragnar ele estava sério olhando para Eskol como se fosse atacá-lo a qualquer momento. Sua história ainda não o tinha convencido.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de agradecer a Theury mais uma vez, por me ajudar com várias dificuldades e por ter tirado um vírus maligno que possuiu meu computador.
Sobre este capítulo: cara eu amei escrever sobre a Lagertha, pena que é o único capítulo da fanfiction que ela narra, estou pensando seriamente em fazer uma fic só dela, mas é apenas uma possibilidade.
Enfim, espero que tenham gostado. Peço desculpas mais uma vez pela demora e por alguns errinhos que podem ter aparecido aí. Comentem as duvidas ou o que gostaram, responderei todos.
Beijos !!!