Haviam somente 10 MINUTOS que estávamos no salão abarrotado de príncipes, repórteres, pessoas da realeza e empregados, mas pelo menos 20 pessoas já tinham me chamado de Julian. Como isso era irritante, para dizer o MÍNIMO. Contudo, quando eu lhes lançava o meu melhor olhar de “EU SOU O SHAY E NÃO QUERO CONVERSAR COM VOCÊ” eles pediam desculpas e recuavam. Como receberíamos os príncipes no palácio e era um evento importantíssimo, palavras de Sílvia, eu e Jules fomos obrigados a usar uma roupa que definitivamente mostra que somos príncipes. Eu estava vestindo um terno branco, mesmo odiando, com uma facha vermelha com a insígnia de Illéa e várias medalhas, transpassada no ombro, luvas e uma coroa na cabeça. Eu estava suando, de mal humor mas, o pior de tudo era que todos os príncipes estavam vestidos como eu, exceto que as cores dos ternos e das faixas mudavam. Sem mencionar que o Julian estava EXATAMENTE igual a mim. Por mais protestos que fizemos tivemos que passar por essa humilhação. Sem nada para fazer e o ínfimo desejo de conversar com alguém fiquei apenas observando a movimentação. Pessoas transitavam de um lado para o outro atarefadas. Os príncipes conversavam entre si ou com alguém de minha família. Os repórteres circulavam livremente fazendo perguntas constrangedoras porque vi mais de uma vez um príncipe ou outro desviar o olhar e ficar sem fala. Com todo aquele caos ninguém percebeu que a estrela da festa não estava lá. Onde Celeste havia se metido? Passando o olho pelo salão procurando minha irmã vi o príncipe da Espanha, Lorenzo, entrar no salão com um semblante de poucos amigos. Eu não gostava desse cara! Toda vez que nos encontrávamos eu tinha que fazer um esforço enorme para aturar o cara sempre se gabando das princesas que “pegava” e festas que ia. Passado algum tempo Celeste entra com Luca ao seu lado. Ele estava conversando com ela mas ela só acenava sem prestar muita atenção. Alguma coisa aconteceu pois Cel parecia abalada e seus olhos varriam o cômodo desesperadamente. Seu olhar se focou em mim e ela veio apressadamente em minha direção, Luca a seguia. Ela me abraçou e eu fiquei sem reação até que ela sussurrar no meu ouvido:

–Por favor me fale onde a Ams está. Também não estou feliz por estar te abraçando mas, eu preciso dela agora. Não pergunte o que aconteceu mais tarde conto tudo. E ah... entretenha o Luca.

Precisei de alguns segundos para digerir aquele discurso que saiu tão depressa que parecia um rap.

– Oi Cel! Luca! – eu disse na melhor demonstração de simpatia que eu podia fazer – Ainda bem que eu te achei irmãzinha a Amberly está procurando por você, algo a ver com você ajuda-la com a Sarah, ela está sentada em uma das mesas porque você não vai até ela?

Celeste me deu um sorriso agradecido e se despediu, Luca fez menção em segui-la mas, eu segurei ele com conversa fiada. Mesmo preocupado não deixei transparecer e segui conversando com Luca e mais alguns príncipes que rapidamente se juntaram a nós percebendo que os repórteres não chegavam perto de onde eu estava. Memorias ruins... Analisando no geral não foi difícil conversar com os príncipes que estavam ali, nós tínhamos algumas coisas em comum e até que foi agradável. Luca já era um velho amigo e outros príncipes conquistaram minha simpatia, como o príncipe da Nova Ásia, Woo Bin e o príncipe do Brasil, Gabriel. Depois de um discurso de boas-vindas do Rei Maxon e uma festa bem entediante onde a Cel tentava conversar com os príncipes a noite finalmente acabou. Agora só quando minhas selecionadas e as do Jules chegassem que a Cel poderia ter contato com eles novamente. Eu estava tentando não surtar com isso porém não estava sendo fácil porque cada minuto que passava significava que eu estava mais perto de conhecer, com sorte, o amor da minha vida.

Como não conversei muito com o Jules na festa porque ele estava o tempo todo com meu pai recebendo os príncipes e cuidando dos assuntos diplomáticos, resolvi ir até o quarto dele. Meu quarto tinha uma porta interligando ao quarto de Jules e estávamos acostumados desde sempre a invadir o quarto um do outro, então entrei sem pedir permissão. Ele estava contemplando as fotografias que havia tirado hoje à noite. Não sei como ele tirava elas porque ninguém pegava ele no ato, apenas tínhamos as fotos como resultado. Ele era um grande fotografo e captava a essência do momento fixando para sempre uma boa lembrança, ou ruim, em um pedaço de papel. Como o dia em que ele me deu seu carrinho preferido porque eu simplesmente dei birra querendo. Nós tínhamos uns 8 anos, então depois de me entregar o carrinho ele, sem eu perceber, tirou uma foto minha. Ele disse que aquela foto servia de explicação ao porquê de ele sempre ceder tudo para mim, segundo Jules eu estava tão alegre que ele simplesmente não conseguia me ver de outro jeito senão daquele. Notando minha presença ele falou:

– Ah oi! A quanto tempo você está aí? Ponderando se me mata e fica com a coroa todinha pra você, evitando assim que usemos roupas iguais a vida inteira? – Ele disse em um tom brincalhão escondendo algo por detrás das palavras. Apesar de todos acharem que ele estava bem eu sabia que não.

– Droga! Como você sabia? Aposto que você pensou na mesma coisa não? – Lancei lhe um olhar desconfiado o que arrancou um sorriso cansado da sua boca. Deitei em sua cama e encarando o teto disse:

– Com meu super poder de gêmeo sei que você está pensando na nossa Seleção.

– Não podia esperar menos da minha metade da laranja.

– Então... Você gostaria de falar algo sobre? Só faltam dois dias... Sabe... Será que vai dar tudo certo?

– Eu espero, estou tão cansado de ficar pensando nisso. Mas, eu tenho esperanças. Papai e Mamãe se conheceram assim. – ele disse caminhando até a cama e se deitando ao meu lado também encarando o teto.

– Jura Jules? Você vem justo com essa conversa pra cima de mim?

– É a única coisa que temos para nos apegar e trazer tranquilidade. E não se preocupe se você gostar de uma selecionada minha pode ficar pra você – ele olhou pra mim e me deu uma piscadinha.

– Ah é? Quem sabe dessa vez não vai ser eu quem vai ceder algo pra você? Aposto que minhas selecionadas são BEM mais bonitas que as suas. Afinal, você nunca admitiu mas eu sou o mais bonito... Todas as meninas de Illéa me querem.

– Quem quer o desleixado se elas podem ter um de classe? – dito isso passamos a ferrar lutinha como fazíamos quando crianças. Estávamos fazendo tanto barulho que Daniel entrou no quarto com os olhos esbugalhados achando que algo tinha acontecido.

– Cara! Porque é que as mocinhas ainda não foram dormir? – Ele disse claramente aliviado por nada ter acontecido.

– Eu apenas estava tentando diplomaticamente provar meu ponto de vista – eu disse meio sem folego pelo esforço de tentar manter Jules imobilizado.

– E qual seria?

– Cara, fala pra ele que eu sou o mais bonito.

– Shay sinto muito informar mas a única coisa que diferencia vocês dois é sua carranca. Caímos na gargalhada instantaneamente. Daniel se juntou a nós e ficamos conversando e jogando baralho até de madrugada, porém o senso responsável de Jules nos mandou embora porque tínhamos reunião do conselho de manhã.

De volta ao meu quarto eu ainda não conseguia dormir então fui ler. Eu devo ter adormecido sem perceber porque acordei com Jules pulando na cama e me falando que eu estava atrasado. Tomei um banho vesti qualquer roupa e fui pra reunião. Após uma longa manhã trancados no escritório fomos almoçar. Amberly, Adam, Sarah, minha mãe e Celeste estavam a nossa espera. Parece que os príncipes estavam no segundo andar e teriam suas refeições em seus quartos. Mais tarde seria a vez da Cel ficar no quarto e os príncipes teriam o jantar aqui no Salão Principal. Depois de uma tarde envolta em mais problemas do país e um jantar com príncipes entediados o nervosismo foi crescendo em mim quando me dei conta de que amanhã eu descobriria quem seriam minhas selecionadas. Deitei na cama depois de um banho para tentar dormir em vão. Peguei o livro que estava lendo na noite anterior porém não consegui me concentra. Só uma coisa me acalmaria aquela noite e era construir miniaturas. Eu tinha uma paixão por réplicas e maquetes em miniatura e construía, em geral, paisagem e locais. Era meio que um hobbie secreto, apenas minha mãe sabia dele. Ela providenciava os materiais e me deu uma sala do palácio para trabalhar. Apenas eu e ela tínhamos a chave. Nunca quis contar para ninguém porque as pessoas considerariam bobo. Fazer miniaturas me ajudava a concentrar e a esquecer os problemas. Foi o que fiz naquela noite. Permaneci acordado fabricando miniaturas até o amanhecer. Passei na cozinha para tomar um gole de café e então subi para o quarto. Me arrumei e me preparei para mais um dia tedioso no escritório do Rei. Quando o relógio bateu 17:00 horas Maxon nos dispensou para que pudéssemos nos arrumar para o Jornal Oficial. No caminho para nosso quarto Jules não pode deixar de comentar:

– Cara você tá com um rosto péssimo. Não dormiu de noite né?

– Olha quem fala! Até parece que você teve um sono de beleza.

– Ok ok! Eu sei que eu estou ruim mas, você tá pior. Sílvia vai te obrigar a passar maquiagem.

Ótimo tudo que eu precisava. Se ela pensava que iria me convencer, ela está MUITO enganada. Saí pisando duro e deixei Jules falando sozinho. Maria já estava com meu banho preparado e fez o mesmo comentário que Julian havia feito momentos antes, era melhor eu nem olhar no espelho ou eu desistiria de ir. Saí do banho e coloquei o terno que já estava separado em cima da cama. Era azul marinho com colete e uma gravata meio preta, ou era azul também? Após pentear meus cabelos saí em busca de Amberly para me dizer se faltava alguma coisa. Bati na porta do seu quarto, alguns segundos se passaram e ela me abriu a porta. Seus olhos se arregalaram ao me ver.

– Nossa Shay! Você está lindo! Tirando essas olheiras gigantes. Vem eu vou dar um jeito nelas. – Antes que eu pudesse agradecer Ams estava me arrastando para sua penteadeira que era abarrotada de produtos de beleza e estava aplicando maquiagem em mim.

– AAAAAAMS! Você sabe que eu não passo essas coisas! Se o Jules descobrir ele vai me zuar eternamente. – eu disse me debatendo.

– Ora Shay! Fique queito. Isso é para o seu bem. Vai ser nosso segredo. Agora para de chorar que nem um garotinho e me deixe terminar isso. Prometo que ninguém vai perceber.

Depois de um tratamento forçado de beleza no quarto de Ams descemos todos rumo ao Jornal Oficial. Recebi elogios da minha mãe, Cel, Sílvia e da pequena Sarah. Jules também, ambos estávamos apresentáveis e não estávamos iguais. Acho que essa noite todo mundo podia diferenciar quem era quem. Recebemos encorajamentos de meu pai e de Adam. Os príncipes se juntaram a nós e se sentaram em cadeiras reservadas a eles. Do outro lado os conselheiros ocupavam seu lugar habitual. O hino de Illéa começou e então as notícias começaram a ser transmitidas. Eu estava tão nervoso que queria sair correndo, a única coisa que me impedia eram minhas pernas que estavam moles feito gelatina. Jules por outro lado parecia calmo e sereno, como sempre se portou. Maxon se levantou para dizer algumas palavras sobre os supostos novos grupos de rebeldes e a destruição das castas. Quando ele acabou chamou Gavril que entrou resplandecente como sempre mesmo depois de muitos anos. Eu tinha quase certeza que ele deveria ter no mínimo uns 50 anos mas, aparentava 30. Ele começou a dizer palavras que meu cérebro não podia decodificar, parecia que tudo estava mudo e minha visão parecia um borrão. Senti um cutucão e voltei para meus sentidos olhei para minha mãe e depois para Gavril que gentilmente repetiu sua pergunta:

– Então príncipes quem gostaria de vir primeiro? – Jules e eu nos entreolhamos e então para aliviar a tensão resolvi fazer uma brincadeira.

– Que tal par ou ímpar? – todos riram, inclusive meu pai, que pareceu estar se divertindo com nossa situação. Acho que compartilhar esse sentimento deve trazer um certo alivio. Jules e eu então jogamos par ou ímpar e para minha tristeza ,3 era um número ímpar.

– Ok! Começaremos com o príncipe Shalom. – ele disse sorrindo. Me levantei do meu lugar impressionado por minhas pernas me obedecerem e me sustentarem e caminhei até o banco ao lado de onde estava Gavril.

– Olá Vossa Alteza. Tudo bem?

– Eu diria que sim já que eu consegui não vomitar em frente de toda Illéa. – mais risos.

– Vamos torcer para que continue assim até o final do programa. O povo de Illéa gostaria de saber o que você espera da Seleção?

– Sinceramente, espero que eu e meu irmão possamos encontrar um amor tão bonito quanto o de nossos pais. – eu não me confortava muito com a história mas foi uma boa hora para usar. Jules me lançou um olhar de “QUEM É QUE NÃO GOSTAVA DA HISTÓRIA?” e eu lhe devolvi um “EU PRECISEI”.

– Você e todo o povo de Illéa! Estamos torcendo por você. Bom sem mais delongas vamos ver as selecionadas, me avise se você precisar ir no banheiro. – Soltei um riso nervoso que acompanhou o resto da multidão. Então Gavril anunciou a primeira selecionada.

– Beatrice McAdams. – Então a foto de uma menina loira apareceu no telão. Lembrando que todos estariam me assistindo tentei não deixar transparecer muito do que eu sentia. A menina tinha um rosto angelical e olhos azuis, cabelos loiros que iam até os ombros e um olhar perigoso. Eu estava em busca de mais detalhes porém sua foto desapareceu dando espaço a outra.

– Caroline Diane Rouff. – Esta por sua vez era morena e tinha uma boca rosada. Ela fez uma pose meio ousada na foto colocando sua língua pra fora o que eu achei sexy. Escutei um murmurinho ao redor de como isso era inapropriado porém, eu tinha gostado e um rubor subiu pelo meu rosto. Tão rápido como apareceu ela se foi e outra foto surgiu em seu lugar.

– Clarissa Cohen. – Clarissa como Gavril havia chamado era linda. Seus olhos eram sedutores e sua boca carnuda. Ela também era morena e aparentava um olhar sonhador nos olhos, como se estivesse perdida em seus próprios pensamentos. Gavril chamou outro nome.

– Elissandra Marie Claire. – Outra morena, porém esta era única como as outras. Ela tinha uma boca delicada e a pele pálida, seus cabelos caiam ondulados e moldavam seu rosto. Aparentava humildade mesmo por uma foto. Eu estava de boca aberta pela beleza de todas até agora e só esperava que as que estavam por vir seriam tão belas quanto.

– Julieta Tracks. – Meu Deus! Eu deveria estar babando porque todos me olhavam. Ela era muito gata. E sua foto estava mais que ousada. Ela estava vestida com uma blusa que mostrava seu decote e usava uma coroa de flores na cabeça. Seu olhar era expressivo e seus cabelos castanhos.

– Katerina Rose Van Persen. – O que mais me chamou atenção era que ela não olhava para a câmera quando a foto foi tirada. Ela olhava para o lado, lhe proporcionando uma expressão única. Seus cabelos castanhos eram ondulados e seus olhos de um azul profundo. Quantas Selecionadas já haviam sido chamadas? Meus sentidos estavam confusos e a certeza de que meu coração ia se machucar se fazia presente. Como não ser ferido por essas mulheres?

– Laura Ledger. – Esta também mostrava a língua na foto porem de um jeito mais brincalhão. Seus olhos eram claros e seus cabelos caíam graciosamente pelos ombros. Ela parecia bem à vontade e pelo jeito que posará indicava que era criativa. Cara! Essas mulheres iam acabar comigo.

– Maia Harris White. – Maia era loira e tinha os olhos claros. Sua expressão na foto era suave mas algo se remexeu dentro de mim e eu tive a impressão de sentir tristeza passar pelos seus olhos, como se ela tivesse algum trauma. Parecia o tipo de garota que você tinha que lutar bastante para conquistar.

– Melanie Myazaki. – Ela claramente vinha de descendentes da Nova Ásia. Parecia uma boneca de porcelana, daquelas que a Sarah iria querer brincar. Ela era magra mas não de um jeito ruim e sua pele era pálida. Era linda e fofa ao mesmo tempo.

– Thais Coller. – Thais era ruiva, seu cabelo constratava com sua pele branca. Seus olhos eram de um azul gélido que me lembram os da minha mãe porém os dela tinham um toque de diversão. Eu estava ansioso esperando por mais quando Gavril declarou:

– E com estas encerramos as selecionadas do príncipe Shalom. Pelo que podemos ver estão de seu agrado certo? – todos riram.

– Sim, todas são muito bonitas. Deveriam ter me avisado, assim eu teria trago um babador. – eu disse em tom de brincadeira embora fosse verdade. Eu e Gavril apertamos nossas mãos e eu retornei ao meu assento do lado de minha mãe. Segurei sua mão e suspirei aliviado por ter acabado, eu estava ansioso e ao mesmo tempo temia conhecer aquelas garotas. Olhei para o Jules e lhe dei um último aceno enquanto ele caminhava para o lado de Gavril para descobrir quem seriam suas selecionadas.