Royal Hearts escrita por Cams, Tamires, nat


Capítulo 6
Julian- Encruzilhada


Notas iniciais do capítulo

Primeiro: queria me desculpar com todos os leitores pela demora. Infelizmente ocorreu um problema familiar justamente no dia em que iria escrever, e ocupou todo meu fim de semana. Tentei terminar de escrever ontem, mas como foi o meu aniversário ficou praticamente impossível terminar, mas fico feliz que tenho deixado para hoje. O capítulo ficou gigante em comparação a todos os outros. Não sei se foi a saudade de escrever ou a inspiração, mas fiquei satisfeita com o resultado. Meus dedos estão até doendo de tanto digitar kkkkkkk Segundo: queremos agradecer por todos os comentário e acompanhamentos que estamos recebendo, em especial à Escritora Louca, a Tais Singer, a Erza Recalcada, a Elissandra M e a Alice Swann. Amamos vocês



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Eu não conseguia escapar. Por mais que eu corresse, sempre chegava na mesma emboscada: um salão com dez túneis diferentes. Sabia que tudo isso era um sonho, mas por mais que tentasse, não conseguia acordar; tentei até bater a cabeça na parede para tentar acordar, só que nada acontecia.

Pela quarta vez consecutiva entrei num novo túnel. Inicialmente todos eles pareciam iguais, mas quanto mais adentrava no corredor, novos detalhes iam parecendo. No primeiro as paredes de tijolos escuros foram substituídos por azulejos azuis e sentia um cheiro de bolo assando, como se me aproximasse da cozinha. No segundo, as paredes se tingiram de vermelho escuro, quase preto, com um forte cheiro de flores silvestres. O terceiro era o mais claro de todos; completamente limpo e brilhante, com pequenos pontos dourados no chão e cheiro de hortelã.

O corredor que me encontrava era o mais diferente de todos. Metade dele era preto, a outra metade era branca, e depois de andar durante um longo tempo ele se dividiu em dois. Uma bifurcação.

Cansado de tanto andar, já tinha tirado o paletó a muito tempo, provavelmente no terceiro túnel, não conseguia me lembrar. Diante do novo impasse resolvi desistir. Apenas sentar e esperar até que alguém viesse me acordar. Meu inconsciente imediatamente reagiu à minha nova ideia. O lugar no qual me encontrava começou a ruir. O teto começou a se despedaçar, as paredes foram encolhendo, e o pior de tudo: no chão começava a abrir uma fenda da largura do túnel. Tomando uma nova atitude, decidi entrar no espaço mais escuro, me perdendo nas sombras. Apenas correndo para salvar minha vida, que naquele momento parecia completamente posta a prova.

Então eu caí

Acordei dando um pulo na cama, me levantando tão rápido que acabei derrubando o que estava em cima de mim. No caso era uma menina fofa chamada Sarah.

–Mãaaaae! – Sarah saiu chorando do meu quarto gritando a plenos pulmões por minha irmã e pelo se pai. Fiquei com muita pena da minha sobrinha, mas em minha defesa eu não sabia que ela iria me acordar. Essa situação toda só mostrava que eu não sabia como lidar com crianças pequenas. Não sabia o que falar, ou como brincar com elas; ficava preocupado em machuca-las, principalmente com Sarah, na qual se tivesse um arranhão provavelmente teria um dos olhos arrancados pela Amberly. Não gostava de admitir, mas até Shay era melhor com as crianças do que eu; mesmo com sua atitude de durão invencível, não resistia ao charme da menininha.

Frustrado decidi levantar e tomar um banho. O sonho não tinha nada de real, mas mesmo assim me perturbou, mais do que eu gostaria de admitir. Todos aqueles túneis e as sensações que tive me lembraram da seleção que se aproximava cada vez mais. Apenas cinco dias para o anúncio. Cento e vinte horas. Sete mil e duzentos minutos. Quatrocentos e trinta e dois mil segundos. Mas quem estava contando?

Mal comi no café da manhã, com o sonho ainda entalado na minha garganta. Nada descia, nem mesmo o bolo de chocolate especial da Maria, minha cozinheira favorita. Os olhares que Sarah me dava também não ajudaram; parecia com medo e ao mesmo tempo com um ódio mortal. Não se enganem quando garotinhas de bochechas rosadas te encararem, elas são capazes de te machucar de maneiras inimagináveis.

Um dia estava tentando brincar com ela enquanto minha mãe conversava com Amberly e Adam. Shay não estava por perto, nem meu pai, sobrando para mim manter a pequena princesa entretida. Ficamos desenhando durante um tempo, enquanto ela desenhava sua família eu desenhava o palácio com todos os detalhes, apenas sombreando e utilizando um lápis. Tentava manter meus desenhos em segredo, mas uma vez ou outa eu perdia algum deles pela casa e minha mãe insistia em enquadrar todos eles. Infelizmente era um pouco lerdo, então já possuía um quarto apenas para meus desenhos, juntamente com os da minha família. Estava distraído enquanto desenhava, e por um infortúnio derramei um pouco de água na folha de Sarah, apenas no cantinho da página, nem mesmo borrando o desenho. Sarah com somente quatro anos começou a me atacar mais raivosamente do que Shay nos seus piores dias. Ela acertou todos os lápis e giz de cera em meu rosto, e quando acabou a sua munição pulou nas minhas costas e ficou puxando o meu cabelo e esmurrando minha cabeça. Olhei frustrado para Amberly e Adam, que demoraram a reagir e tirá-la de perto de mim.

A lembrança me fez sorrir. Toda a confusão só mostrava que eu deveria percorrer um longo caminho até conquistar o carinho da minha sobrinha e maior ainda até ser pai. Pelo menos o último estava longe de acontecer. Me peguei olhando para Amberly, que retribuiu o olhar com carinho. Depois do café da manhã minha irmã me procurou para caminharmos.

– O que aconteceu Jules? Você não comeu nada no café da manhã, e era seu bolo preferido. Eu lembro do dia em que você comeu um desses bolos sozinho. – Comentou rindo. Eu sentia meu rosto ficando vermelho como um tomate, mas não conseguia evitar. Meu estômago até encolheu diante da memória. Depois de comer o bolo inteiro quando tinha 14 anos meu pai havia decidido que deveria treinar com os soldados do castelo, porque supostamente não existem príncipes/reis obesos.

– Você não perde uma não é Ams? - respodi resignado.

– Esqueceu que sou anos mais velha que você? –Amberly perguntou isso esfregando e bagunçando meu cabelo. –Eu praticamente ensinei você e seu irmão a andar e a falar. Eu sei quando algo está errado, pois conheço vocês melhor do que eu mesma. Mas o que te preocupa? É a Seleção?

– Basicamente sim. Toda essa preparação está deixando-me muito ansioso e preocupado. Não consigo me imaginar magoando nove garotas para poder escolher uma que eu ame, ou no mínimo, que seja uma boa rainha. Queria não passar por tudo isso. – Admiti triste.

– Eu sei basicamente pelo o que você está falando. –nós dois sentamos num banco em frente à entrada do palácio, perto de um canteiro de flores e longe de qualquer um que pudesse ouvir nossa conversa. – A ideia de um concurso para escolher sua futura esposa e a rainha de Íllea parece abominável, e realmente é. Porém, como talvez futuro rei você deve passar por isso.

Inspirando lentamente falei o que mais me preocupava no momento: -Às vezes eu acho que não seria um bom rei. Sou muito fraco em relação ao comando de um lugar, e mesmo sendo um príncipe, toda a responsabilidade cai em cima de mim. Mesmo não estando definido, toda a minha vida tive de ser o mais responsável, o que levava a culpa por tudo que eu e Shay fazíamos. Nunca foi propositalmente, mas ao longo dos anos isso se tornou muito mais sério do que uma brincadeira de criança. Até mesmo o Shay parece admitir que serei o futuro rei, não ele.

–Ah Jules, eu sinto muito por isso. – minha irmã me abraçou. –E infelizmente ninguém pode saber o futuro ou escolher quem será o rei, apenas nosso pai e as ações de vocês dois. Você pode imaginar isso agora, mas nosso irmão é exatamente como você, mas age de maneira diferente. O jeito dele meio irresponsável, despreocupado e rebelde nunca me enganou. Ele só encontrou outra forma de expressar a mesma coisa que você.

–Tem dias que eu gostaria de ser como ele. Esquecer que posso ser um rei, que terei de participar de uma seleção. Shalom consegue fazer parecer tão fácil. –admiti um pouco arrependido de dizer em voz alta.

– É verdade que você desistiu de fugir ontem para me ver? – acenei positivamente. – Ai, nunca pensei que diria isso para um de vocês dois, principalmente para você mas, vá, se divirta um pouco antes que sua liberdade acabe para sempre. Aja como seu irmão e seja irresponsável.

Eu não acreditava no que Amberly dizia. Ela sempre soube de nossas escapadas do castelo, e sempre que voltávamos ameaçava contar para nossos pais a irresponsabilidade em que nos metíamos toda vez que saíamos. Na última vez que Shay fugiu e voltou com o rosto todo machucado ela ameaçou contar a participação de Daniel nas fugas. A chantagem foi eficiente durante meses, mas mesmo ela sabia que não seria eterna.

– Você está falando sério? De verdade? – perguntei animado, mal contendo minha empolgação.

–Estou. Mas vá logo antes que eu me arrependa de ter dado a ideia. –Não esperei nem duas vezes para sair correndo, e ao virar as costas escutei um “te vejo no jantar”. Esse era meu limite de tempo que ficaria fora. O que me deixava com dez horas de planejamento. Um tempo muito curto, principalmente por estar completamente despreparado. Daniel teria que arrumar um jeito para escaparmos, e dessa vez ele iria comigo, dificultando ainda mais o seu trabalho.

Como era seu dia de folga, corri direto para sua casa, que ficava um pouco distante do palácio, mas perto o suficiente para ficar dentro do terreno real. Daniel morava com o pai e a mãe Lucy em uma casa bem simples e charmosa. Toda de madeira azul com janelas e portas brancas. Sua mãe estava cuidando do jardim quando cheguei minutos depois. Me recompondo, arrumei o cabelo e alisei o terno paletó que utilizava, agradecendo por estar usando uma calça jeans em vez do costumeiro terno, senão teria muito mais dificuldade em correr a longa distância.

–Oi Lucy, o Daniel está? – Lucy já fora criada da minha mãe durante muito tempo, mas depois que seu filho nasceu, decidiu dedicar-se completamente à sua criação e a cuidar de sua casa com Aspen. As duas continuavam muito amigas mesmo não se encontrando todos os dias, mas frequentemente almoçavam juntas e ficavam horas conversando. Lucy não havia mudado nada, continuava como na foto que meu pai tinha tirado de minha mãe junto com ela durante sua seleção. A idade não a afetou, continuando com o espírito alegre e trabalhador como sempre.

–Oh sim. Ele está na garagem com a moto. – Lucy me olhava como se tentasse descobrir quem era, mas decidiu não se comprometer e me confundir com Shay. –Foi uma péssima ideia você e seu irmão terem dado aquela sucata a ele. Ele não larga a moto por nada em seus dias de folga.

– Obrigado. Vou conversar com ele sobre isso. – Achava um fato impossível conseguir convencê-lo a passar um pouco mais de tempo com sua família, uma vez que lhe damos uma moto Harley Davidson, ou o que tinha sobrado dela. Encontramos sua carcaça numa de nossas escapadas, e como forma de agradecimento resolvemos restaurar parte da sua mecânica, já que ele amava restaurar qualquer tipo de moto ou carro, passando grande parte do seu tempo consertando os automóveis oficiais. Chegando em frente à garagem o encontrei completamente concentrado no seu trabalho.

– Lustrando sua namorada? – Ao ouvir o insulto Daniel levantou a cabeça e jogou uma chave de fenda na minha direção com o intuito de acertar minha cabeça, mas devagar o suficiente para repeli-la com um tapa.

–Pelo menos eu tenho uma. –Daniel respondeu com um sorriso torto. Seu comentário não soou maldoso, deveria apenas criar uma pequena confusão comigo, então decidi responder no mesmo tom:

–Mas dentro de duas semanas terei dez garotas reais e lindas dispostas a se apaixonar por mim.

–Ok Don Juan, agora você pegou pesado. –Daniel já havia se levantado e estava limpando a graxa de suas mãos na camiseta que usava. –Mas e aí, o que que manda?

Não consegui resistir e abri o maior sorriso que estava contendo até o momento. A empolgação voltava a me contagiar, mal mal me contendo parado. Diante da minha reação o olhar de Daniel começou a mudar. Primeiro diversão, passando por confusão e por último entendimento.

–Não. Não. Não. Não. De jeito nenhum Jules. – Sua recusa ficou bem clara, mas estava preparado para fazer uma troca com ele.

– Por favor Daniel. Só mais uma vez antes da Seleção começar. Prometo que não irá se arrepender. –Ainda não queria usar meu trunfo, por isso tentava enrolá-lo.

–Sinto muito Julian, mas por nada nesse mundo me faria desistir do meu único dia de folga. –quando abri minha boca para contra argumentar ele me interrompeu. –Nem seu dinheirinho de príncipe.

–Nem mesmo as peças que estão faltando da sua moto?

–Hey, como você s... Peraí. De quantas peças estamos falando? – mesmo tentando esconder era óbvio que tinha conquistado sua atenção. Ele estava na minha mão.

–De todas as que você encontrar. –esperava que assim resolvesse toda a minha situação, inclusive sua companhia e os meus planos diabólicos.

– Tudo bem então, você me conquistou. O que você pretende fazer que é tão importante para uma troca tão grande assim? –indagou com um pouco de suspeita. Ele sabia muito bem que deveria ser algo muito especial para mim, já que essa fuga seria especialmente cara. Provavelmente um terço da minha poupança iria embora com isso.

–Hmmm, eu preciso que você vá junto comigo.

– E você pretende ir quando? Quinta-feira? – As engrenagens na cabeça dele estavam se movimentando.

–Hoje. – respondi baixinho

–Quando? – ele estava com uma cara de que havia escutado, mas não queria acreditar.

–Hoje –repeti, dessa vez mais alto.

–O QUÊ?! – Daniel gritou. – Você não pode estar falando sério! Por que você tem a mania de me avisar sempre de última hora? Às vezes você se esquece, mas normalmente já é difícil organizar suas fugas, desse jeito então, é praticamente impossível.

–Mas a ideia nem foi minha, foi da Amberly. – confidenciei a ele. Como meu melhor amigo, normalmente sabia de todos os meus segredos, até mesmo os mais íntimos e alguns que meu irmão não sabia.

– Ela pode ter ficado mais velha, mas continua tendo péssimas ideias. – provavelmente Daniel estava se lembrando do dia em que Amberly decidiu montar a cavalo sozinha e tinha acidentalmente soltado todos os animais para fora do estábulo. – Porém, como sua moeda de troca está muito boa, farei o melhor possível.

– Então estarei te esperando depois do almoço no meu quarto para podermos escapar. – meu entusiasmo aumentou, e junto com ele surgiu uma preocupação que não tinha pensado antes. Como deixaria meus deveres de príncipe de lado sendo que Shay também estava trabalhando?

– Combinado então. Como irei com você teremos apenas umas três horas para você poder fazer o que tem que fazer antes do meu pai desconfiar de nós três, supondo que seu irmão irá nos ajudar. – com isso fui embora, passando novamente pelo jardim para me despedir de Lucy.

Trabalhar se tornou particularmente difícil, no entanto havia poucos papéis para ler e assinar. Enquanto isso Shalom parecia completamente concentrado com o seu trabalho e meu pai completamente frustrado com algumas cartas que estava lendo. O ambiente estava muito pesado, e utilizando isso como desculpa, pedi ao rei para ser dispensado durante toda a tarde. Maxon não prestou muita atenção no pedido me dispensando sem pensar duas vezes, o que também não fiz ao sair do escritório.

Durante o almoço troquei olhares secretos com Amberly, conversando mentalmente com ela, confirmando que iria escapar durante a tarde e que poderia ficar tranquila, que iria com Daniel. Depois da refeição encontrei com Shay e pedi a ele para ocasionalmente ficar no quarto de desenho fingindo ser eu. Tinha quase certeza que ninguém me interromperia lá, mas não custava me precaver. Ele pediu algumas informações, respondendo de maneira muito evasiva e discreta. Ninguém poderia saber o que eu planejava, ninguém a não ser Daniel, peça fundamental nisso tudo.

Bem como combinado Daniel apareceu na hora. Sairíamos para buscar um carregamento de comida na cidade. Perfeito para nós dois. Escapei pelas passagens secretas dentro da casa que levava direto para fora do terreno, passando por um longo túnel subterrâneo. Estar na escuridão e frio do lugar me fez lembrar o pesadelo que tive durante a noite, me fazendo ter calafrios. Por isso corri o mais rápido possível para encontrar com Daniel.

–Então companheiro, para onde vamos? – perguntou animado. Raramente Daniel fugia conosco e estar comigo hoje empolgava a nós dois.

– Hmm, então...Essa é a parte complicada. – tinha o leve pressentimento que ele voltaria para o palácio assim que ouvisse o que eu falaria em seguida: - Eu preciso que você me leve a um estúdio de tatuagem.

–O QUÊ?! –Daniel gritou ao mesmo tempo em que pisava no freio. Por sorte não vinha nenhum carro na estrada atrás de nós. Caso houvesse, o acidente seria extremamente sério. Se recompondo, continuou: você só pode estar brincando. Eu sabia que tinha mais coisa que você não estava me contando. As peças são muito caras para você oferecer trocá-las por pouca coisa.

‘’ Vamos voltar agora. De jeito nenhum irei contribuir com seus planos. Essa é definitivamente a pior ideia que você teve em toda a sua vida!” Daniel realmente havia voltado a dirigir, esperando para fazer o retorno na estrada.

–Daniel, eu faço o que você quiser se me levar. Eu sei que é uma ideia horrível, mas gostaria de ter um único momento de rebeldia, pelo menos por um dia. – soava desesperado, entretanto era exatamente assim que me sentia. Passar por uma tatuagem e ainda mais contra todas as regras da minha família era ao mesmo tempo assustadora e empolgante. – E nem venha me dizer que eu sei que você sabe de um estúdio. Eu sei que você tem uma tatuagem, assim como a maioria dos guardas do palácio.

– Sim, você está certo, por mais que eu odeie admitir isso. E Eu devo ser muito idiota mesmo em aceitar isso. – pela segunda vez no dia eu não conseguia acreditar no que estava escutando. – Mas...

– Eu faço o que você quiser.

–Não irá sair de graça. Se seu pai descobrir provavelmente irá me castigar pessoalmente por isso. –Dando uma risadinha nervosa continuou: - na verdade quem irá fazer isso será sua mãe, seguida da MINHA mãe. Eu estou louco mesmo.

–Prometo que você não irá se arrepender em me ajudar. – eu realmente estava falando sério, faria qualquer coisa por ele nesse momento. – Que tal uma semana de folga?

–Dois meses. – esse acordo seria complicado.

–Duas semanas...?

–Cinco semanas. – ele sabia que aceitaria o máximo possível, então dei minha última oferta

–Um mês e é minha última opção. –quando disse isso Daniel estava sorrindo de orelha a orelha, satisfeito consigo próprio.

–Sabia que era ótimo negociar com você. Seu pai está certo em colocar você para negociar por ele. Seria um ótimo rei. – a última frase ele disse com um leve ar de seriedade e respeito. Seguimos o restante do caminho em silêncio, parando apenas para esconder o caminhão num beco. Andamos o restante do caminho e me encontrei numa região que nunca havia visto. Parecia uma área nobre da cidade, com muitas lojas chiques e pessoas bem arrumadas andando pela rua. Estranhei o fato de ninguém me reconhecer, mas fui capaz de me esconder bem por baixo do meu boné e minhas roupas comuns.

–E aí, já pensou no que você vai fazer? –perguntou Daniel retomando a conversa

– Na verdade não. – respondi envergonhado por não ter pensando nisso antes. -Sinceramente? Eu pensei que você não me ajudaria.

– Você tem pouca fé em mim hein? Só que eu também não imaginava que seria capaz de fazer isso. Estou me arriscando demais com você, só que irá valer a pena. Sem contar que uma emoção de vez em quando. – De repente Daniel parou em frente uma loja toda de vidro e mármore negro. Os desenhos na vitrine deixavam claro que estávamos no lugar certo. – Preparado?

–Não. –disse rindo

Quando entramos na loja me surpreendi com o quanto o local era limpo apesar de ser formado apenas de tons negros. As únicas cores diferentes vinham das fotos de tatuagem que estampavam uma parede inteira. Fiquei admirado com a qualidade dos desenhos, pareciam com pinturas na pele. Nunca havia imaginado que seria possível algo tão belo poder ser transformado numa tatuagem. Me arrependia de não poder ter desenhado algo e tatuar na minha própria pele.

Meus pensamentos foram interrompidos quando uma garota da minha idade saiu do estúdio. Minha boca abriu com sua beleza. Com cabelos negros, pele branca e olhos verdes safira só eram capazes de destacar as tatuagens no seu rosto. A lateral de seu rosto era repleto de pequenas estrelas que emolduravam seus olhos. Ela não tinha mais nenhum desenho visível, considerando que ela utilizava apenas shorts e um top. Reconhecimento passou por seu rosto quando me viu, mas logo disfarçou.

–Feche a boca que está escorrendo. – Daniel passou por mim e foi abraçar a tatuadora. O abraço dos dois foi tão íntimo que queria sair da loja. Mais uma das namoradas dele. Como ele conseguia? Os dois finalmente se separaram e a moça virou-se para mim.

–Vejo que trouxe um cliente ilustre ao meu estúdio. Meu nome é Samanta, mas pode me chamar de Sam. –Ela se apresentou com um lindo sorriso.

–Olá, sou o Julian, mas pode me chamar de Jules. –Estendi minha mão para cumprimentá-la. Porém ela me puxou para um abraço apertado.

–É uma honra ter um dos príncipes aqui. Realmente estou surpresa, mas... isso não é contra as regras de bom comportamento não? Não quero ser presa. – Ela disse dando um significativo olhar para nós dois.

–Na verdade é sim, mas nunca iria te comprometer. Você tem talento demais para ser desperdiçada na cadeia. Além de, bem, ser bonita demais. – da onde surgiu essa coragem para flertar com alguém?

–Já que ficou tão interessado Jules, saiba que Sam também se inscreveu para a Seleção. Para a sua. – Daniel contava isso como se tivesse acabado de ganhar um presente. Pela primeira vez Sam ficou sem graça e vermelha.

–Eu me inscrevi para testar o sistema. De forma alguma me vejo como rainha, ou qualquer outra pessoa. Quando me inscrevi imaginei que seria engraçado ser escolhida. –Ela não precisava ter se justificado, mas sua resposta ao mesmo tempo me magoou e enraiveceu.

–Você não pensou que dessa forma tiraria a chance de outra pessoa que realmente deseja se tornar uma rainha? Ou a oportunidade de conhecer alguém que eu pudesse gostar? –não queria soar rude, mas pela cara do Daniel e o fato de Sam ter empalidecido ainda mais provaram que eu não fui bem sucedido.

–Sinto muito que você perceba assim, mas saiba que assim que entreguei os papeis no correio me arrependi de ter feito isso. –Samanta soava sinceramente arrependida e completou tentando suavizar a situação: -Agora é torcer para que eu não seja escolhida.

“Voltando ao principal motivo de você estar aqui... Você já sabe qual tatuagem irá fazer?”

–Acredita que não Sam? – Daniel se intrometeu

–E gostou de alguma aqui? – perguntou apontando para a parede. Eu estava de olho numa tatuagem de dragão que ocupava grande parte das costas e ela capitou o meu olhar. Virando para mim perguntou silenciosamente “essa aqui?” e eu fiz que sim.

Quando Sam tirou o painel da parede Daniel já foi pegando da mão dela. –Pode tirar seu cavalinho da chuva. Eu posso ser castigado, não decapitado! Pode escolher outra.

–Já que o senhor aqui quer que você faça uma tatuagem pequena, porque não faz uma como a dele, em cima do coração? – Olhei interrogativamente para ele, imaginando que ele teria outro tipo de tatuagem, não uma em cima do coração.

–Ah é? E como ela é? –Perguntei curioso, mas antes que Sam pudesse responder ele a interrompeu com uns resmungos.

–Ok, não vou falar. Palavra de escoteira. – eu não fazia ideia do que era aquilo, mas parecia ser algo muito sério. –Mas Jules, você não tem nada em mente?

–Pensando bem, acho que gostaria de algo que me lembrasse, me desse forças em momentos de desilusão. –respondi sinceramente. Agora eu tinha certeza do que eu queria.

–Eu tenho algo perfeito para você. É um desenho inédito meu, ninguém nunca o tatuou, e se você gostar e o fizer, será exclusivamente seu. – Ela saiu para dentro do estúdio e voltou com o desenho. Assim que eu o vi percebi que ela estava certa: ele era perfeito para mim.

Dessa forma Sam assumiu uma postura completamente formal, pedindo que eu entrasse no estúdio e retirasse a camisa. Daniel ficou do lado de fora, e acreditava que estava escolhendo outra tatuagem ou iria passear por aí. Todas as agulhas e tintas estavam prontas e uma ansiedade começou a tomar conta de mim.

–Vai doer? – perguntei preocupado. Samanta apenas sorriu para mim o que eu interpretei como um sim.

Quando tudo terminou meu peito estava dolorido, mas o prazer de ter feito algo inimaginável para alguém como eu. Eu tinha que admitir, o fato de ter treinado com os soldados e fortalecido meus músculos tornou mais fácil aguentar a dor, que era mais uma dormência e uma queimação. Sam limpou todo o meu peito e colocou um plástico para proteger a tatuagem. Ela passou todas as instruções de limpeza e me deu uma pomada para passar todos os dias depois do banho e proteger com um novo plástico. Foi super atenciosa comigo e compreendi porque ela fazia tanto sucesso; ela era realmente muito boa no que fazia.

Nos despedimos carinhosamente, a discussão de mais cedo esquecida. Voltei para a casa com um pensamento que poderia parecer bobagem, mas que fazia sentido para mim. Tatuar havia provado para mim mesmo que eu era capaz de fazer qualquer coisa, independentemente da dor ou das regras impostas à mim.


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Notas finais do capítulo

Como o Nyah! não deixou eu terminar de colocar nas notas iniciais, vai aqui mesmo:
Terceiro: sabemos que vocês estão ansiosas para as selecionadas aparecerem, mas estamos encontrando dificuldades para completarmos as inscrições. Portanto, quem puder recomendar, mandar fichar e continuar comentando, nos ajudará bastante. Mas sempre sejam essas leitoras atenciosas que amamos tanto.
Por último mas não menos importante: estava pensando em criar um grupo no face para aumentarmos a interação. O que vocês acham? E todas tem perfil no facebook? Respondam nos comentários que discutiremos se iremos ou não fazer. ~pausa para o detalhe que as outras duas não sabem que eu estou dando essa ideia kkkkk