Royal Hearts escrita por Cams, Tamires, nat


Capítulo 28
Celeste - Criando problemas


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! O capítulo está gigante e atrasado (é o maior que eu escrevi)! Vcs realmente devem estar com raiva mas espero que tentem ser compreensivos. A vida tem sido complicada e muito puxada pra todas nós, a faculdade pegou pesado esse semestre. Mas eu escrevi esse capítulo com muito carinho e espero que aproveitem. Está cheio de tretas e mais tretas e futuras tretas kkkk Divirtam-se!! ♥
Beijos, Tamires..



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—Ele ainda quer falar com você Celeste. –Silvia disse mais uma vez enquanto eu tentava ignorá-la voltando a minha aula de violoncelo com Tom, mas ele me olhou ameaçadoramente e eu fui obrigada a olhar para ela e Vic que haviam entrado na sala a mais ou menos uns cinco minutos.

—Quer dizer que vocês duas só se juntam para me convencer a loucuras? –coloquei o violoncelo no suporte e me levantei. –Eu não tenho a mínima vontade de encontrar o Lorenzo. Não é difícil entender.

—Mas ele insistiu muito Celle. Ainda insiste. –Vic falou com o típico tom que ela usa para tentar convencer a todos.

—Não acredito que vocês tem coragem de vir aqui me pedir isso. –aquela conversa já estava começando a me irritar e resolvi apelar para instâncias superiores. –Onde está minha mãe nessa história?

—Ela acha que seria bom pra vocês dois se entenderem. –olhei para Silvia completamente chocada e sem poder duvidar do que ela dizia, aquela atitude era comum da minha mãe.

—Meu pai sabe dessa loucura? –Silvia e Vic se entreolharam. Por um momento eu pensei estar salva, porém me senti vitoriosa cedo demais.

—Sabe. Ele acha que essa decisão só cabe a você, mas disse que não se opõe de forma alguma. –o tom de Silvia era calmo, esperando uma explosão da minha parte, mas eu “apenas” bufei e sai a passos duros até a janela. Talvez olhar os jardins do palácio me acalmasse. Eu só queria acordar daquele pesadelo.

            -Não sei o que dizer. –sussurrei com a minha testa encostada no vidro frio, tentando encontrar uma luz naquilo tudo.

            -Nos escute Celle. Escute as pessoas que te querem bem. Ou você acha que nós te colocaríamos em algo que não achamos que será bom pra você? –emiti um ruído de desaprovação e Vic continuou a falar. –Lorenzo pareceu muito mudado desde que voltou, talvez esse choque de realidade que você deu nele o tenha feito amadurecer. Você viu a maneira que ele agiu na entrevista.

            -Estão todos completamente malucos nesse palácio! –eu gargalhei e me virei para olhá-los nos olhos. –Lorenzo só fez o que fez porque havia muita coisa em jogo para o próprio país. Eu diria até mais, ele se portou adequadamente pensando apenas no próprio umbigo. Obviamente os pais o ameaçaram e se ele fizesse algo errado perderia todas as regalias. Eu não consigo acreditar nele.

            Dizer aquilo em voz alta me fez ter mais certeza do que pensava. A verdade é que parte de mim realmente pensava que Lorenzo poderia ter mudado. Toda a sua atitude antes, durante e depois da entrevista foi incrivelmente madura, totalmente diferente do Lorenzo que eu havia conhecido na seleção. Mas eu também havia acreditado em suas mudanças durante a seleção e ele quase me forçou a beijá-lo. Só me lembrar daquele momento causava náuseas. Eu até poderia acreditar que ele havia mudado, mas acho que seria impossível perdoá-lo. Por culpa dele eu fui obrigada a arruinar a vida daquela garota. Iludida pelas palavras dele, ela percorreu um caminho sem volta, confiando no amor de um mentiroso.

            -Celeste meu bem, pense mais sobre isso. –Tom falava carinhosamente. Não olhei em seus olhos; até ele havia sido iludido pelas palavras de Lorenzo.

  -Não há o que pensar. Vocês perderam o juízo! –eu comecei a caminhar pela sala. –Daqui a pouco meus irmãos também vão entrar aqui e tentar me convencer a aceitar Lorenzo de volta na minha seleção. Espere. –parei no meio da sala e os encarei. –Tem dedo do Julian nisso tudo?

Não esperei resposta e sai em passos rápidos pela porta, ouvindo os gritos de protesto de Tom, Silvia e Vic. Talvez eu estivesse completamente movida pela raiva que sentia por Julian e Lorenzo enquanto caminhava apressadamente pelos corredores, mas a única imagem que me vinha a mente era os dois conversando como amigos e Julian decidindo minha vida mais uma vez, com um total abuso de autoridade. Meus passos logo me levaram até a porta do escritório onde meu pai e meu irmão costumavam trabalhar. Como sempre havia guardas na porta e dessa vez eu não fui entrando como um furacão.

—Julian está ai dentro? –perguntei com uma falsa calma e olhei despreocupadamente ao meu redor.

—Não Alteza, seu irmão saiu, mas deve voltar logo. –alguns segundos depois que ele terminou de dizer isso, ouvimos som de vozes vindo de um dos corredores e pela altura elas estavam bem próximas. O guarda abriu a boca para dizer alguma coisa, mas eu coloquei o dedo indicador sobre a minha boca, em sinal de silêncio.

—Nem uma palavra sobre isso. –havia uma entrada na parede do corredor, provavelmente para acomodar uma mesinha com flores ou alguma obra de arte, isso era comum pelo palácio. Mas naquele dia aquele lugar estava vazio, com apenas uma cortina pesada na parte do fundo. Eu não sabia o que eu estava pensando, mas rapidamente me escondi atrás da cortina; a falta de luz naquele lugar também me ajudaria a não ser descoberta. Era como se eu tivesse oito anos de novo e estivesse brincando de esconder, a diferença é que ser pega com oito anos não seria humilhante. Já se eu fosse descoberta ali... Contudo eu tinha uma desculpa, eu não queria ver Julian, mas ao mesmo tempo algum impulso me fez me esconder ali para saber do que ele conversava. Talvez não fizesse o menor sentido, mas aos meus olhos fazia.

Finalmente me concentrei nas vozes que se aproximavam, uma delas era com toda certeza de Julian, pelo jeito como a voz se projetava e pelas palavras usadas era fácil para mim após tantos anos distinguir as vozes de meus irmãos, mas a segunda ainda era difícil saber de quem era. Eles estavam virando a esquina no corredor em que eu estava e só agora eu conseguia distinguir suas palavras.

—Não sei bem o que pensar sobre tudo que aconteceu, ainda me sinto muito preocupado. –a voz de meu irmão parecia tensa e por um momento fiquei aflita, querendo que ele não tivesse que se preocupar tanto com tantas coisas.

—Ela não é uma criança Julian, precisa confiar nas decisões dela. –eu finalmente consegui perceber o sotaque carregado de Aaron, os dois agora pareciam estar em frente a porta do escritório.

—É muito complicado Aaron. Eu sempre vi minha irmã como uma criança inexperiente. Você viu o quanto ela foi dura naquela entrevista? Tudo que eu conseguia pensar é que aquilo seria péssimo para o palácio e para nossas imagens. –cravei minhas unhas na palma da mão, contendo a vontade de sair dali e gritar com ele. –O que ela estava pensando? Alguém a orientou a falar daquela forma? Vamos entrar aqui para conversarmos melhor.

A porta do escritório abriu e logo se fechou. As vozes cessaram. Afastei a cortina e olhei cuidadosamente o corredor, só os guardas se encontravam ali. Sai do meu esconderijo e descontei minha fúria caminhando rapidamente para longe antes que eu voasse no pescoço do meu próprio irmão. Não podia acreditar que mais uma vez Julian estava duvidando da minha capacidade, ele nunca me veria como outra coisa que não fosse uma criança. Talvez ele estivesse ocupado demais com as próprias coisas para olhar para mim nos últimos tempos, mas eu havia crescido e a cada dia me tornava mais madura e independente, principalmente depois do início da minha seleção. Provavelmente Julian desejava que eu encontrasse um marido que controlasse minha vida e me tirasse logo da vida dele, talvez estivesse até planejando algum jeito de conduzir minha seleção conforme a vontade dele.

Eu não poderia permitir aquilo jamais. Cada dia eu me sentia mais forte e mais dona da minha vida e não deixaria ninguém tomar essas rédeas de mim. Respirei fundo enquanto voltava para a sala de música, tentando não demonstrar o quão brava eu estava com tudo aquilo. Vic, Tom e Silvia ainda estavam lá dentro, com expressões tão horríveis que parecia que eu traria um corpo junto comigo depois de sair daquele jeito da sala. Será que eu já parecia tão mais forte quanto me sentia?

—Onde você estava? –Silvia parecia a beira de um ataque de nervos. –Você, seus irmãos e essa garota –ela apontou para Vic- ainda vão me enlouquecer! Vou providenciar minha aposentadoria para logo depois do final da seleção de vocês!

—Desculpe Silvia, eu não matei ninguém. Ainda. –os olhos deles se arregalaram e relaxaram rapidamente. –Vocês venceram. Aceito me encontrar com Lorenzo, mas tem uma condição. Quero que Shalom me acompanhe.

***

—Isso não vai dar certo. –era a sexta vez que me diziam aquilo só naquele dia e a terceira dita por Shalom.

—Eu também não estou feliz com isso Shay. –meu vestido era verde musgo bem escuro, o mais escuro possível para demonstrar meu desagrado com aquela situação. A intenção era que fosse preto, mas não havia nada mais escuro em meu closet e fiz uma nota mental para pedir a Kat mais vestidos escuros. –Você deveria ver como todos ficaram falando o quanto Lorenzo mudou e como eu deveria dar uma chance para ele. Aposto que me acharam mimada e rancorosa. Mas só eu sei os pesadelos que tive durante noites sobre nosso último encontro e o medo que sinto de ficar perto dele. –essa última parte saiu em um sussurro, quase como um pensamento dito alto demais.

—Como você conseguiu? –eu e Shay caminhávamos pelos corredores em direção a sala onde iriamos nos encontrar com Lorenzo. A postura dele estava tensa desde que eu o encontrei, mas depois do que eu disse seus ombros se ergueram ainda mais e ele se aproximou de mim protetoramente. –Eu vi a entrevista que vocês deram e só ficava me perguntando como você conseguia. –ele engoliu em seco, parecia com medo de dizer algo e eu o conhecia o suficiente para saber que não devia pressioná-lo. –Fiquei tão preocupado com você Celle. Eu queria poder ir lá e ficar ao seu lado. Me culpo tanto por termos permitido que esse maldito fizesse o que fez, mas eu estragaria tudo na entrevista que você conduziu tão bem.

—Eu também não sei como consegui. Tive tanto medo Shay. –me encolhi ao lembrar. –Ficava pensando que não podia ficar sozinha com ele novamente, mas eu sabia que precisava fazer aquilo, precisava dar aquela entrevista. Não sei de onde juntei forças para ir até lá e dizer aquelas coisas, mas eu consegui. E não aceito ouvir você dizer que estragaria tudo. Eu fiz o que tinha que fazer porque nós fomos criados para agir dessa forma e muito do que eu sou hoje vem do que eu vi em meus irmãos mais velhos, você, Julian e Ams. Você sabe o quanto é forte e o quanto já enfrentou a vida para estar aqui ao meu lado hoje. Infelizmente eu vejo o quanto você se cobra e se fecha por viver “à sombra”; eu sei bem o que é isso Shay. Mas você é maravilhoso, eu não mudaria nada em você. Eu tenho muito orgulho de ser sua irmã e te ter ao meu lado. –os olhos dele estavam arregalados e ele havia parado bem no meio do corredor, não pude deixar de rir. –Desculpe, eu queria dizer isso a muito tempo pra você mas só hoje encontrei coragem.

—Não sei o que dizer. –ele voltou a caminhar ao meu lado. –Nunca imaginei ouvir você dizer isso Celle. Você cresceu! –ele passou o braço em volta dos meus ombros e beijou o topo da minha cabeça. Há tanto tempo nós não tínhamos um momento como aquele que eu me surpreendi, mas gostei de receber aquele carinho.

—As pessoas têm dito isso. –nós rimos por um pequeno momento antes de pararmos em frente a porta da sala em que Lorenzo estava.

Um dos guardas que estava ali parado a abriu para que nós finalmente entrássemos. Dentro da sala espaçosa e belamente decorada havia mais um guarda e Lorenzo sentado em um sofá de frente para uma mesa cheia de biscoitos e alguns bules de chá. Ele sorriu e se levantou ao nos ver, mas não foi retribuído.

—Achei que talvez não viessem. –ele fez uma reverência e nós retribuímos por pura formalidade. Naquele momento eu sentia toda a leveza de nossa conversa a minutos atrás se esvair em ondas suaves de Shay.

—Não faltou vontade. –puxei meu irmão para o outro sofá e o fiz se sentar comigo. Eu pude notar suas mãos fechadas em punhos e eu o compreendia, nós estávamos diante de um ser perigoso e repugnante. –O que você quer?

—Celle, não precisa...

—Pra você é Celeste ou Alteza. –a voz de Shay saiu por entre dentes e por um momento eu me perguntei se realmente seria importante o fato de que aquele único guarda não conseguiria segurá-lo em um ataque de fúria. Um sorriso quase despontou em meus lábios ao imaginar o pobre Lorenzo sendo vítima do meu irmão. Pelo que eu conhecia de Shalom eu não duvidaria se ele fingisse um ataque só para descontar toda a raiva guardada, na cabeça dele não havia nada a perder. Mas eu não deixaria isso acontecer, então toquei levemente a mão do meu irmão.

—Celeste, -Lorenzo corrigiu sabiamente –não precisava trazer seu irmão ou guardas. Está tudo bem.

—Da mesma forma que estava no nosso último encontro dentro da seleção? –minha voz saiu articulada exatamente da maneira como eu queria.

—Aquele foi um fato isolado queri...Celeste. –ele sorria sedutoramente e tentava imprimir o máximo de sedução também em sua voz, tentando me convencer a cada palavra. –Não foi culpa minha. Eu fiquei embriagado com a sua beleza e não consegui me conter.

—Lorenzo, por favor. Nada disso serve de desculpa e você nem devia estar tentando se desculpar, muito menos colocando a culpa em mim. —eu suspirei, já cansada daquela conversa. –Mais uma vez, o que você quer?

—Eu queria conversar melhor com você Celeste. Explicar o que houve, tudo o que houve. –ele se inclinou para frente, os olhos brilhando ao falar comigo. –Foi tudo um mal entendido, um errinho bobo que não deveria comprometer a relação maravilhosa que nós podemos construir.

—Você se sente bem? –eu não pude evitar a risada –Você ouve as coisas que diz? Foi um mal entendido você tentar me beijar sem o meu consentimento? Foi um errinho bobo você estragar a vida daquela garota? Na verdade tenho certeza que o único erro que você acredita ter cometido foi ser pego.

—Celeste meu bem, você não sabe o que está dizendo. Deixe que eu te mostre...

—Calado Lorenzo! –ele arregalou os olhos e me olhou nervoso pelo tom que eu usava com ele. Senti Shay rir ao meu lado, mas não me desconcentrei. – Eu sei muito bem o que estou dizendo e não preciso que você me mostre mais nada. Você já me mostrou o quanto é mimado, prepotente e manipulador. Lorenzo, você me atacou, você mentiu e usou aquela pobre garota conforme quis. Você é doente, completamente doente e nós jamais teríamos uma relação maravilhosa para construir, pois eu logo descobriria quem você realmente é. Nós fizemos o que tínhamos que fazer, demos a entrevista e as relações de Illéa com a Espanha estão ótimas. Tudo foi esclarecido e é só isso. Acabou esse encontro idiota que você implorou. Nós dois já dissemos o que tínhamos pra dizer. –me levantei junto com meu irmão e comecei a caminhar até a porta, mas Lorenzo também levantou e veio rapidamente em nossa direção com uma das mãos estendida para mim e a expressão ameaçadora.

Aconteceu tão rápido que eu quase não vi. A mão de Lorenzo passou muito perto do meu rosto, os dedos se curvando em garras, tentando alcançar minha pele e não conseguindo por pouco. O guarda dentro da sala foi rápido o suficiente para prever sua ação e se jogou sobre ele, impedindo que ele me alcançasse. Shalom tremeu de raiva e fez menção de ir até Lorenzo para bater nele, mas ao ver minha expressão parou e veio até mim.

—Celle? –ele se aproximou cuidadosamente e eu o abracei. Só conseguia olhar para os olhos de Lorenzo imobilizado em cima do sofá, a expressão parecendo que queria me engolir. Outros guardas entraram na sala enquanto o espanhol gritava coisas em sua língua materna que eu não queria nem saber o significado.

—Quero sair daqui. –Shay assentiu e começou a sair comigo da sala. Naquele momento mais dois guardas chegavam junto com capitão Leager, que se espantou ao ver minha expressão.

—Fui comunicado pelos guardas que havia mais uma confusão envolvendo o príncipe espanhol e vim pessoalmente verificar. Vocês dois estão bem? –o olhar dele era verdadeiramente preocupado e a presença dele conseguiu me acalmar. Ele havia participado de nossas vidas desde sempre, como um segundo pai.

—Vou ficar. Só quero que ele seja mandado embora do palácio o mais rápido possível Aspen. Por favor.

—Claro querida, vou providenciar. Não se preocupe. –ele beijou o topo da minha cabeça e bagunçou de leve o cabelo de Shay antes de entrar na sala onde Lorenzo ainda gritava.

Shalom me acompanhou até a porta do meu quarto e depois de verificar se eu estava bem seguiu para seus afazeres. Eu ainda estava assustada, mas o modo como meu irmão havia me tratado apagou a maior parte das coisas ruins daquele dia. A cada dia ele parecia conseguir mais mostrar o garoto maravilhoso que ele realmente era. Eu faria o que fosse possível para o ajudar a encontrar a garota certa. Mas por enquanto tudo que eu queria e precisava era relaxar, e foi o que eu fiz pelo resto do dia.

***

—Celeste! –o garoto gritou enquanto se aproximava de mim, os passos aumentando de velocidade até estar correndo em minha direção. Eu também não pude evitar o sorriso que se abriu em meu rosto e meus passos rápidos ao encontro dele. Quando estávamos perto o suficiente, pulei em seus braços e ele me pegou. Eu não precisava sentir medo quando se tratava dele.

—Luca! Eu estava com saudade de poder passar um tempo ao seu lado. –me aconcheguei em seu pescoço e aspirei seu perfume familiar.

—Eu também. Mas hoje nós teremos o dia todo para nós dois. –ele se afastou para olhar em meus olhos. –E a praia também.

Eu sorri e o puxei pela mão até as cadeiras de praia que estavam ali esperando por nós. Ele entrelaçou os dedos nos meus enquanto nos sentávamos sob o sol, nos olhando e sorrindo a maior parte do tempo. Eu sentia algo completamente novo se agitar dentro de mim, mas sem entender o que poderia ser.

—Vou nadar. Quer vir também? –eu nunca havia visto Luca tão alegre e tão à vontade, mas apenas neguei com a cabeça sem deixar de sorrir. Ele se aproximou e beijou minha bochecha longamente, me deixando ligeiramente tremula.

Luca se levantou e tirou a camisa simples que usava, ficando apenas com uma bermuda própria para banho. O sol batia forte em sua pele extremamente branca e seus cabelos negros, mas mais do que isso, o sol iluminava cada traço em seu rosto e corpo, formando um convite para meus olhos. Sem medo ou vergonha observei sua expressão completamente feliz inundada por aquela luz e depois seu corpo. Eu nunca havia olhado Luca daquela maneira. Nunca havia visto os músculos definidos em seus braços e abdômen, nem os das costas e dos ombros, visíveis enquanto ele corria para o mar.

A beleza dele nunca foi invisível para mim, mas ela também nunca havia gritado daquela forma aos meus olhos. Eu agora via o quão harmônico seu interior e exterior eram. Quando ele saiu molhado do mar minhas dúvidas e confusões só aumentaram e eu sabia que só havia uma forma de solucioná-las. Me levantei e fui em sua direção.

—Eu vou contratar uma banda de trompetes para te acordar! Você quer que eu perca meu emprego?! –Kat gritava histericamente. Com um pulo me sentei na cama completamente atordoada. Precisei de alguns segundos para perceber onde estava e me lembrar de onde estive em meu sonho. Corei. –Sonhando com o príncipe encantado é? Pois saiba que hoje você tem um dia cheio e não pode se atrasar. Sua mãe me autorizou a jogar um balde de água em você se necessário, mas eu estou pensando em jogar só o balde.

Amanda e eu explodimos em uma gargalhada e isso disfarçou a vermelhidão em minhas bochechas. Eu realmente estava sonhando com um dos príncipes, mas não queria pensar naquilo. Era bobeira ver Luca daquela maneira. Me levantei para me preparar para um dia cheio, as garotas me lembraram que aquele seria o dia do país de Aaron.

Tomei meu banho, vesti a roupa que Aaron tinha deixado com minhas criadas no dia anterior e me sentei para que elas terminassem de me arrumar. A maquiagem foi a mais simples possível, disfarçando apenas as pequenas imperfeições em minha pele. Amanda dividiu meu cabelo em duas partes e fez uma trança na parte de trás da cabeça com cada uma delas, com fitas do mesmo tom carmesim do vestido. Eu ainda não havia me visto completamente vestida para aquele dia, por isso me levantei e fui até o espelho. O cabelo, a maquiagem e o traje combinavam tão perfeitamente que por um momento me esqueci que era eu refletida ali. O vestido carmesim ia até a altura dos meus joelhos, a saia era cheia de anáguas e com a cintura bem marcada por uma fita rosada. Ainda na saia havia um tecido muito fino e cheio de bordados de flores, como uma espécie de avental. Na parte da frente do corpete também havia uma fita do tom do vestido trançada e uma camisa de mangas curtas e bufantes para ser usada por baixo do vestido, deixando a mostra apenas as mangas e a gola.

—Você parece uma boneca. –Amanda comentou e eu sorri, me virando para elas.

—Graças a vocês duas. –abracei as duas e dei beijos estalados em suas bochechas, Amanda sorriu diante dessa atitude e Kat se esquivou fingindo nojo. –Amo vocês. Aproveitem o dia da Alemanha!

Sai do meu quarto e fui em direção ao salão onde as festividades aconteceriam. Era impossível não ver à distância os guardas com roupas típicas alemãs e a porta toda decorada com flores também daquele país. Dentro do salão não estava diferente, as paredes haviam sido decoradas com flores e tecidos com as cores da Alemanha e bem no meio havia uma bandeira do país em destaque. Uma mesa grande estava encostada em uma das paredes cheia de diversos tipos de pães, geleias, salames e chás. Além disso, também havia mel, queijo e ovos. Praticamente todos os príncipes e selecionadas já estavam no salão sendo servidos por garçons, absolutamente todos com roupas típicas. Meus pais já estavam sentados, comendo, conversando e rindo, mas pelos trajes provavelmente não iriam participar da pequena festa.

Sentei ao lado deles e de meus irmãos e logo fui servida com um grande prato com um pouco de cada coisa que havia na mesa. Corri os olhos pelo salão, sem procurar alguém específico, mas encontrei Luca e dei um pequeno sorriso antes de voltar a olhar para meu prato, tentando não me lembrar daquele sonho perturbador. Não foi preciso muito esforço pois rapidamente a comida tomou minha atenção. Era tudo muito forte e pesado, incluindo o chá que não passava nem perto dos meus favoritos. Os embutidos tinham um sabor salgado demais e eu mal aguentei experimentar um pouco de cada coisa, o sabor realmente não era o que mais me agradava. Diante disso comecei a pensar em como seria se eu me casasse com Aaron e fosse para a Alemanha. Talvez a comida fosse apenas um dos primeiros empecilhos, mas provavelmente não seria o último. Eu e ele não havíamos tido nenhuma conversa amigável nos últimos tempos e a maioria de suas atitudes me irritava profundamente.

Mesmo assim algo nele me atraia de maneira estranha, como se eu soubesse que debaixo daquela pose havia algo de muito bom. Confusa parecia uma palavra simples demais para descrever o meu estado naquele momento. Meus pensamentos foram interrompidos por um toque delicado em meu ombro, quando me virei fui surpreendida por olhos castanhos me encarando com a expressão de animação mais pura que eu já vira.

—Gostaria que a senhorita me permitisse levá-la daqui por uns instantes. –Aaron estava em pé, com a mão estendida em minha direção e um sorriso tão largo que mal parecia caber em seu rosto.

—Claro. –olhei para meus pais e meus irmãos, mas eles estavam muito concentrados em comer para ver o que estava acontecendo. Exceto meu pai, que olhava atentamente para mim e o príncipe a minha frente. Quando nossos olhares se encontraram ele sorriu, me encorajando, sorri de volta e coloquei minha mão sobre a de Aaron. –Mas hoje é o dia do seu país. As atividades vão ser realizadas aqui dentro, logo após a aula de etiqueta das selecionadas.

—Eu sei. Mas tem algo que eu quero que só você veja. –ele começou a me levar para fora do salão, segurando minha mão com delicadeza, mas sem soltá-la. Fiquei surpresa ao sentir a humidade na sua palma e entre seus dedos, ele sempre me pareceu tão seguro e não seria a primeira vez que ele tocava em uma garota. Na verdade nem conseguia imaginar qual número de garotas já haviam passado por sua vida. Mordi de leve o lábio inferior, um hábito que Silvia quase havia extinguido em mim, e voltei a me concentrar no garoto a minha frente. –É especial.

Deixei que ele me levasse pelo corredor, sem me importar muito com os guardas amigos de Daniel me observando atentamente. Finalmente o alemão parou diante de uma porta e se virou para mim. Seus olhos me olharam de cima a baixo com delicadeza e depois se encontraram com os meus.

—Não tenho palavras pra dizer o quão bonita você está. O vestido lhe caiu perfeitamente bem, parece até que você nasceu na Alemanha! –ele sorria tanto que eu não pude evitar sorrir também.

—Obrigada. Eu também gostei muito desse vestido, me senti uma boneca. –nós rimos juntos e aquele momento estava tão leve que eu não tinha vontade de sair dele. –Mas imagino que não tenha me trazido tão longe só para me elogiar.

—Tem razão. –ele adquiriu uma expressão um pouco mais séria. –Eu gostaria de ter esperado para conversar diretamente com você sobre isso, mas aconteceram tantas coisas nos últimos dias que você não teria tempo para esse tipo de coisa. Por esse motivo eu levei o assunto diretamente até seus pais e eles concordaram.

—Aaron o que você tem pra me dizer? Está me deixando curiosa.

—Ele já está aqui a três dias mas eu achei melhor deixá-lo se adaptar e descansar antes de apresentá-lo às outras pessoas. Além disso, eu queria que você soubesse de tudo antes e ele estava ansioso pra te ver novamente. –o suspense estava me deixando curiosa e animada, o loiro agora sorria timidamente enquanto falava. –Marcel está aqui.

—Marcel? Aqui? Onde? Eu quero vê-lo! –eu simplesmente adorava Marcel, irmão mais velho de Aaron. Eu o havia conhecido em uma visita com meus pais à Alemanha; no período o príncipe a minha frente não se encontrava no palácio então eu conheci apenas Marcel. Nós nos demos incrivelmente bem, brincamos juntos quase todo o tempo que eu estive lá. Mas aquilo já fazia muitos anos, nós trocamos postais por um tempo depois da visita, mas fomos diminuindo de frequência até parar completamente. Aaron sorriu diante de minha reação, abriu a porta para mim e pegou minha mão enquanto entravamos naquela sala.

Um garoto mais alto do que Aaron estava sentado em uma mesa cheia de comidas alemãs, acompanhado de outro rapaz em trajes mais simples. Marcel não havia mudado tanto desde quando nos conhecemos, os cabelos eram mais loiros que os do príncipe ao meu lado e os olhos estavam entre o castanho e o verde, além de ser mais alto e mais magro. Mas era incrível a semelhança entre os dois, ninguém poderia negar que eles eram irmãos.

—Bom dia Hanke. Acredito que saiba que esta é a princesa Celeste. –Aaron se virou para mim e apontou para outro rapaz na sala. –Este é Hanke, acompanhante e amigo de Marcel.

—É uma honra estar na presença da senhorita Vossa Alteza. –ele se curvou em uma reverência.

—É um prazer conhecê-lo Hanke. Espero que aproveite a sua estadia em nossa casa. –sorri para o rapaz e depois voltei meu olhar para Marcel, ainda observando atentamente o próprio prato.

—Marcel, Celeste veio aqui te ver. –o garoto levantou os olhos e me olhou com cuidado, mas quando me reconheceu abriu um sorriso tímido e se levantou.

—Olá Marcel. –eu falei em um tom mais baixo do que o meu habitual, sentindo o clima na sala. Pelo canto do olho percebi Aaron sorrindo ao ouvir minha voz, provavelmente feliz por eu ter percebido algo implícito.

—Você... você se lembra de mim? –ele se aproximou lentamente e parou a certa distância de nós.

—Claro que me lembro. Guardo ótimas lembranças daqueles dias em sua casa e fiquei muito feliz quando Aaron me disse que você estava aqui. –eu não sabia bem se minhas lembranças de criança me enganavam ou se o peso de crescer havia tornado as coisas diferentes, mas definitivamente Marcel estava diferente. Ele sempre fora tímido, mas agora eu percebia que havia algo muito maior do que a timidez ali.

—Também estou feliz. –ele sorriu timidamente e eu retribui.

—Nós deveríamos marcar algo, nós quatro. Vai ser legal. –eu percebi o leve susto que Aaron levou, mas ele não deixou que mais ninguém percebesse.

—Eu adoraria.

—Eu providenciarei algo para nós em breve. Estou muito feliz que esteja aqui Marcel, mas você pode imaginar como minha agenda se encheu ainda mais nesses últimos tempos. Eu preciso ir agora, mas nós vamos voltar a nos encontrar. Hmmm.. Eu posso te dar um abraço? –ele pareceu ligeiramente espantado, mas assentiu com a cabeça e eu me aproximei com cuidado. Me levantei na ponta dos pés e o abracei delicadamente. –Sinta-se em casa.

Ele sorriu delicadamente, com o rosto ligeiramente corado enquanto eu me afastava e saia da sala junto com Aaron. Nós caminhamos em silêncio pelos corredores, cada um preso em seus próprios pensamentos. O alemão fez menção de começar a falar algumas vezes até finalmente tomar coragem.

—Durantes esses minutos desde que saímos da presença do meu irmão eu estive pensando em como agradecer você pelo simples fato de ser quem você é. –ele encarava o corredor a nossa frente, mas uma das suas mãos tocou de leve a minha e se encaixou nela quando sentiu minha permissão. Nós passamos a caminhar assim, de mãos dadas, até a porta do salão onde estavam os outros. –Você é simplesmente uma das pessoas mais maravilhosas que eu conheço. –ele se inclinou, com muita cautela e receio, e beijou o topo da minha cabeça.

—Você também tem se mostrado muito mais do que eu esperava Aaron, de uma maneira incrivelmente boa. A cada dia que passa eu me surpreendo mais com você. –eu e ele permanecíamos entre a seriedade e os sorrisos para não despertar tanto interesse dos guardas que já pareciam mais interessados do que de costume. –Não quero que isso pare.

—Muito menos eu! –ele olhou para o relógio em seu pulso com uma expressão entre euforia e preocupação. –Por favor, podemos nos encontrar mais tarde? Eu preciso fazer uma última verificação nas atrações do dia de hoje para que nada dê errado, mas quero mais do que tudo ter um momento com você.

—Podemos sim Aaron, não se preocupe. Faça suas coisas e quando puder venha me chamar. –ele sorriu largamente e fez menção de me dar outro beijo no topo da cabeça, mas desistiu e fez uma reverência antes de ir para o salão.

Resolvi ir até o salão das mulheres para continuar o planejamento de alguns eventos e projetos que minha mãe havia designado que eu cuidasse. As garotas estavam na aula de etiqueta e eu me perdi em meio aos papéis e burburinho de vozes, tanto que não vi quão rápido a aula de duas horas e meia das garotas passou. Logo estávamos todas de volta ao salão onde ocorreriam as festividades alemãs, organizado agora de uma forma diferente de mais cedo. As cadeiras estavam em circulo em torno de um grande espaço vago, entre elas também haviam diferentes espaçamentos e todos nós, príncipes e selecionadas, fomos nos sentando.

Logo uma música animada e festiva começou a tocar, vindo de alguns músicos que estavam em um pequeno palco mais ao fundo do salão. Ao mesmo tempo cerca de vinte e cinco dançarinos, com roupas típicas alemãs, entraram no salão e começaram a serpentear por entre as cadeiras até chegarem ao espaço vazio e ali começarem uma animada dança. Sem que eu percebesse eles nos impulsionaram a bater palmas junto ao ritmo da dança e, um por um, fomos sendo levados por dançarinos a nos levantar e nos juntar a eles. Até os mais tímidos entre nós acabaram se entregando ao ritmo animado e fui surpreendida por pessoas que eu jamais imaginaria dançando e que agora rodopiavam pelo salão.

Mais uma vez sem que nos déssemos conta nossas cadeiras haviam sido levadas para perto do pequeno palco e nós fomos guiados até elas. A banda continuava a tocar, mas agora acompanhada de uma voz feminina pertencente a uma linda garota que acabara de sair de trás da cortina. Ela cantava suavemente em alemão, tornando, de algum modo, a língua um pouco mais delicada. Meu alemão passava longe de ser ótimo, mas eu conseguia identificar algumas palavras de sua canção e ela era de uma pureza indescritível, carregada de amor e quase devoção.

Depois disso a garota continuou cantando por algum tempo, fomos apresentados a diversas festas típicas alemãs e tivemos um farto almoço. Tudo durou até metade da tarde quando os príncipes e selecionadas tiveram que voltar a se dedicar a outros assuntos. Procurei Aaron rapidamente entre as pessoas no salão, mas não o encontrei, então segui para meu quarto para trocar a roupa que apesar de linda era ligeiramente desconfortável. Entretanto antes que eu pudesse chegar ao meu quarto fui interrompida pelo som de passos apressados pelo corredor e uma voz ofegante gritando meu nome.

—Celeste! –Aaron corria em minha direção, com a gravata de seu traje afrouxada e os dois primeiros botões abertos. Eu olhei aquela cena tão incomum e ele seguiu meu olhar, corando levemente ao perceber. –Me perdoe pela situação das minhas roupas. Um dos músicos é um velho amigo meu e ele trouxe uma bebida tipicamente alemã de presente para mim, eu não poderia cometer a falta de educação de não beber um pouco com ele. É uma bebida um pouco mais forte e esses trajes são muito quentes, não foram feitos para esse tipo de temperatura. Me desculpe mais uma vez.

—Não tem que se desculpar Aaron. –eu dei uma risada ao perceber a dificuldade que ele estava tendo para voltar a dar o nó em sua gravata, estiquei minha mão e tirei a dele dessa tarefa. –Não precisa se preocupar com isso.

—Mas eu disse que queria te ver e depois desapareci. –o rosto dele continuava meio vermelho, eu não sabia se por efeito da bebida ou do embaraço.

—Tudo bem, está me vendo agora não está? –nossas mãos continuavam juntas desde que eu tirei a dele da gravata e nenhum de nós fez questão de separá-las. Ele finalmente olhou para mim e sorriu.

—Já devo ter te dito que você está especialmente radiante hoje, mas precisava repetir. –ele respirou fundo e me olhou no fundo dos olhos. –Tem algo que eu quero te dizer, é sobre a primeira música que a cantora, Evellyn, cantou. Eu sei que você sabe razoavelmente alemão e acredito que você tenha entendido pelo menos a essência daquela canção. Bom... fui eu que a escrevi... para uma pessoa que significa muito para mim.

Ele se aproximou delicadamente e beijou a minha mão que estava entrelaçada com a dele. Depois se aproximou mais ainda e tocou meu rosto com a mão livre, fechei meus olhos e senti seus dedos quentes acariciarem minha bochecha. Eu queria que ele me beijasse. Queria que Aaron com sua delicadeza e força, tão misturadas dentro dele, me beijasse. Queria que seus lábios, já tão próximos que eu podia sentir seu calor, tocassem os meus.

—Me desculpe... não posso fazer isso. –ele se afastou balançando a cabeça. –Não posso.

Abri meus olhos e o olhei incrédula e sem reação imediata, o que só durou alguns segundos.

—Vá embora! –ele me encarou surpreso diante de minhas palavras. –Eu entendi tudo, não precisa se explicar. Só saia da minha frente agora. Eu fui idiota por interpretar o que você disse do jeito que era melhor para mim.

Virei as costas e ignorei suas palavras de protesto que logo cessaram com a porta do meu quarto se fechando. Burra. Idiota. Iludida! Pensando que aquela música era pra mim, pensando que eu era a pessoa que significava muito para ele. De uma vez por todas eu tinha que tirar da minha mente o pensamento inocente de que nenhum deles trouxe bagagem junto com eles pra dentro desse palácio. Um tipo de bagagem muito específico, a bagagem emocional, uma bagagem composta por outros amores. Eu não seria a primeira opção de nenhum deles.

Amanda e Kat não estavam no quarto, por isso eu tirei maquiagem e roupa sozinha, guardei cada coisa em seu devido lugar e desfiz o penteado. Não queria me olhar no espelho e me ver daquele jeito que me lembraria o alemão imediatamente. Resolvi tomar uma ducha fria e demorada, a sensação da água fria me era muito familiar devido aos anos acostumada à piscina. Durante o banho decidi que iria dar um mergulho quando saísse, seria uma ótima forma de espairecer, mas fui interrompida por Kat entrando no banheiro.

—Um dos príncipes está ali fora Celle, ele disse que tinha um encontro marcado com você a uma hora atrás mas que você não apareceu então ele veio saber se está tudo bem.

—Qual príncipe? –vasculhei minha memória sem me lembrar qual encontro eu poderia ter e chegando até a pensar que seria Aaron tentando arrumar uma maneira de conversar comigo novamente.

—O príncipe Zaki, da Nova África. –ela olhou minha expressão e fez uma cara desconfiada. –Vocês realmente tem um encontro ou eu posso dispensá-lo?

—Eu havia esquecido completamente desse encontro! –finalmente eu estava me lembrando do encontro que marcamos a cerca de uma semana e que devido aos últimos acontecimentos tinha fugido completamente da minha mente. –Peça-o para esperar.

Ela assentiu e fechou a porta. Rapidamente acabei o banho, que já estava demorando muito mais do que o normal, e sai para me arrumar. Em cerca de meia hora, com a ajuda indispensável de Kat e Amanda, eu já estava pronta e ao lado de Zaki caminhando pelos corredores.

—Sinto muitíssimo por ter esquecido nosso encontro Zaki. Com tantas coisas acontecendo eu quase não tive tempo para pensar em minhas próprias coisas. –minha voz demonstrava com sinceridade o que eu sentia. Zaki era um dos príncipes do qual eu adorava a companhia; ele era sempre tão natural e divertido, eu não sentia como se precisasse fingir algo ao lado dele.

—Não tem problema nenhum Celeste. Eu entendo mais do que você possa imaginar tudo que você tem passado. –nós havíamos chegado ao jardim e nos sentamos em um banco à sombra de uma árvore.

—Entende? –olhei mais atentamente para o príncipe ao meu lado, tentando imaginar se ele realmente tinha os mesmos problemas que eu.

—Sim. Acho que nosso maior inimigo acaba sendo a mídia e as mentiras que ela inventa. O tempo todo especulando e tramando contra nós. Às vezes penso que esse é o maior obstáculo na minha vida, mas só às vezes. –ele respirou fundo e me olhou de lado, meio envergonhado. –Desculpe o desabafo Celeste.

—Não se desculpe, pode continuar se quiser. –eu peguei na mão dele e ele sorriu delicadamente para mim.

—É tudo tão difícil. Eu só estou cansado de todas essas mentiras entende? Gostaria de poder mostrar a verdade para o mundo, mas não é tão fácil pra mim quanto foi para você. Na verdade é milhares de vezes pior. –ele respirou fundo e piscou os olhos várias vezes rapidamente, como se tentasse parar as lágrimas.

—Zaki... –apertei a mão dele levemente. –Nem consigo imaginar pelo que você está passando. E não importa o que seja, se você precisar de mim pode me procurar. Seja hoje, amanhã ou daqui a dez anos. Estarei aqui pronta para te ajudar.

—Obrigado Celeste, você é incrível. É uma honra para mim estar na sua seleção. –ele sorriu e se levantou. –Mas infelizmente agora eu preciso me dedicar a alguns assuntos do meu país. Espero que logo possamos nos encontrar novamente.

Ele beijou minha mão e eu sorri, assentindo com a cabeça. Então ele começou a caminhar e eu fiquei ali sentada, pensando em tudo que ele havia me dito. Depois de um tempo perdida em pensamentos acabei decidindo voltar para dentro do palácio e trabalhar em alguns projetos. Diferente do que muitos pensavam, ser princesa não era apenas posar para fotos. Eu tinha muitos afazeres e obrigações, não exatamente do tipo que eu queria. Meu pai nunca havia me deixado trabalhar de verdade nos assuntos mais importantes do país, apesar de todos dizerem que eu era sua filha favorita.

Enquanto andava por um dos corredores vi uma figura alta e musculosa a minha frente, parecendo meio preocupado em ser visto. Antes que eu pudesse ver seu rosto eu já sabia que era Daniel. Conhecia aquele garoto a tempo demais para me confundir. Por um momento hesitei se deveria fugir sem que ele me visse ou me aproximar, minha vida já estava cheia de complicações demais para colocar meus sentimentos e os de Daniel no meio desse tornado. Mas não consegui me conter e comecei a caminhar em sua direção. Antes que eu chegasse até ele, Daniel se virou com um dos sorrisos mais doces e sinceros que eu já havia visto em toda a minha vida. Aquele sorriso valia toda a turbulência.

—Eu estava procurando por você. –ele parecia querer me tocar, mas olhou em volta preocupado e recuou um pouco. –Bem, mais ou menos. Não podia ir ao seu quarto nem ficar andando pelos corredores, então eu só torci para que você me encontrasse. E aqui está você.

—Acho que o destino quis que nos encontrássemos. –os olhos dele permaneciam atentos a tudo ao nosso redor. –Eu tinha te dito que conversaríamos sobre aquilo que você me disse no meu quarto, mas os dias têm sido tão conturbados.

—Eu sei Celle, não se preocupe com isso. Era por isso que eu queria te ver, mas não queria conversar isso aqui. Você tem tempo? –eu assenti e ele respirou fundo. –Eu preparei algo.

—Sério? O que? Onde? –ele riu do meu espanto e curiosidade.

—Você vai ver logo. Me siga. –ele começou a andar pelos corredores comigo ao seu lado. Em silêncio ele foi nos guiando por corredores momentaneamente vazios; Daniel era preciso e esperto o suficiente para saber todos os horários da guarda do palácio. Ele parou diante de uma porta que indicava ser um depósito de materiais de jardinagem. –Esse lugar não é muito usado e eu o arrumei da melhor maneira que eu pude, algumas coisas ainda ficaram meio estranhas. Bom, veja por você mesma.

Ele abriu a porta e eu entrei. A sala recebeu um pouco da luz do corredor antes que ele fechasse a porta atrás de si e nós dois mergulhássemos em um completo breu. Ouvi ele mexendo em algo que fez um barulho meio eletrônico e então um barulho mais alto começou, vindo da parede oposta da sala. Logo eu percebi que a parede oposta não era uma parede, mas sim um portão que estava sendo içado. A luz do fim de tarde entrou aos poucos no cômodo e cobriu tudo com uma camada de dourado que parecia mágica. Aquele ambiente parecia mágico.

Havia uma mesa pequena e redonda coberta com um forro branco simples. Em cima da mesa havia um vasinho pequeno demais para as flores amarelas de haste longa dentro dele, haviam também duas xícaras simples de louça branca, dois pratinhos que faziam par com as xícaras, uma garrafa de champanhe, um bule azul do qual saia um aroma de chá e uma bandeja coberta. As cadeiras não faziam par com a mesa, eram maiores e de um estilo diferente, tudo isso contribuindo para o ar desproporcional de tudo ali. Mesmo assim eu não consegui não achar tudo perfeito.

—Minha mãe não podia saber disso, então eu tive que pegar coisas que ela não usava mais. E eu não quero que pense que eu trouxe champanhe para te embebedar, eu só me lembrei que você disse da última vez que a sensação era engraçada e...

—Está tudo bem Daniel. –eu peguei em sua mão e ele respirou fundo. –Eu adorei, de verdade.

Eu soltei a mão dele e me sentei em uma das cadeiras. Servi um pouco do champanhe nas duas xícaras e ele finalmente se sentou. Provei o champanhe, com um pouco de medo da sensação ser muito diferente da que eu me lembrava, mas as bolhas e a sensação engraçada na língua ainda estavam lá e eu ri. Bebi mais um gole.

—É tão estranho estar sozinho com você de um jeito diferente. De um jeito que eu não seja seu guarda e você uma princesa. –ele bebeu um gole de champanhe e arregalou os olhos. –Não que você tenha deixado de ser uma princesa! É só que essa situação é diferente. Espero que você tenha entendido.

—Beba outro gole Daniel, e pare de ficar tão preocupado. Isso faz parecer que você não me conhece e você me conhece, fomos criados juntos. –eu sorri e ele fez uma expressão um pouco triste. –Eu disse algo errado?

—Não Celle, é só que nós realmente fomos criados juntos. Eu vi você crescer e você me viu crescer. E só agora eu descobri o que acho que sinto por você. Eu tenho medo. –ele me olhava dolorosamente e eu fui obrigada a desviar o olhar. Me levantei e fiquei de frente para o jardim, observando o sol se pôr aos poucos.

—Eu nunca tinha vindo até essa parte do palácio. É muito bonita a vista daqui. –ele se levantou e ficou ao meu lado. –Eu também tenho medo Daniel. Medo por nós dois.

—Eu sei que amo você, tenho certeza disso. Só não sei até que ponto esse amor é fraternal ou se realmente ultrapassa isso ou se eu só estou confuso. –seus dedos se entrelaçaram aos meus e o calor familiar me reconfortou.

—Talvez estejamos os dois meio confusos... –me virei para ele e me deparei com seus olhos ternos me olhando.

—Este lugar está longe de ser o lugar certo para você. Eu estou longe de ser a pessoa certa para você. –os olhos dele não abandonavam os meus nem por um segundo, umas das suas mãos tocou com delicadeza meu rosto enquanto a outra permanecia entrelaçada a minha.

—Você é umas das coisas mais certas da minha vida. Nunca duvide disso.

Estiquei minha mão e toquei seu rosto, que se inclinou em direção a ela. Os olhos dele se fecharam e a mão que estava em meu rosto pegou a minha mão que estava no rosto dele. Neste momento ele abriu os olhos e deu beijos sutis na minha mão e em meu pulso. Ele voltou a me olhar e eu não consegui mais me controlar. Coloquei minhas mãos em seu pescoço e com a ajuda das suas mãos em minha cintura me icei até estar a altura de seus lábios.

E finalmente a distância entre nós se extinguiu completamente. Sua boca era quente e rígida, assim como eu imaginei. Seus lábios e os meus se tocavam de uma maneira confusa e eu não tinha a menor ideia de qual deveria ser o próximo movimento, apenas me deixei levar pelos meus instintos. Fiquei levemente assustada ao sentir todo aquele turbilhão de sentimentos e sensações. E pele e cheiro e saliva e tudo misturado. Se eu pudesse escolher novamente alguém para o meu primeiro beijo ele ainda seria Daniel, não me arrependia de ter guardado aquele momento para ele.

Nos afastamos depois de um tempo e ficamos nos olhando. Tudo parecia congelado para mim até eu ouvir o barulho de passos perto demais. Quando olhei para o lado de fora vi um garoto correndo na direção oposta. Luca. Me soltei de Daniel e o olhei assustada.

—Eu... Eu preciso ir atrás dele. Sinto muito. –pude ver dor nos olhos de Daniel, mas não pude saber se era a minha refletida nele ou se era uma dor causada por mim. Antes que pudesse pensar melhor me vi correndo atrás de Luca pelo jardim. Eu o havia perdido de vista, mas mesmo assim continuei a correr pela direção que ele tomou. Parei perto de um pequeno coreto rodeado de árvores. –Luca!

—Eu vou embora. –a voz veio de trás de mim e eu me virei para vê-lo, encostado em uma árvore.

—Luca... –me aproximei dele devagar e ele não se afastou, isso era um bom sinal de alguma forma.

—Eu vou embora pra casa. Nós podemos dar aquela mesma desculpa que você deu sobre o Lorenzo. Sobre amizade. –ele encarava fixamente os pés, mas com a voz clara o suficiente para que eu o ouvisse. –Não vai ser mentira no nosso caso. No seu caso.

—Luca, eu não queria que você tivesse que ver isso. Eu... –ele finalmente me olhou e o tamanho do sofrimento em seus olhos me fez perder a voz.

—Não estou com raiva de você Celeste. Não consigo ter raiva de você. –ele fechou os olhos e respirou fundo. –Tenho raiva dessa competição, de mim. Eu só quero parar de me enganar e ir pra casa. Eu nunca tive chance com você Celle. Desde o momento em que eu pisei aqui, você nunca me olhou com outros olhos.

—Por favor, Luca. Você não pode me deixar. Não posso enfrentar isso sem você. –lágrimas escaparam dos meus olhos e rolaram silenciosamente pelo meu rosto.

—Eu nunca tive chance. Eu não posso continuar aqui desse jeito. Eu tenho sido um enfeite nessa competição, eu nunca estive realmente no jogo. –ele me olhou novamente e se espantou ao ver minhas lágrimas. –Não chore Celle. Venha aqui.

Ele me puxou contra seu peito e me abraçou com ternura. Eu não conseguia mais conter as lágrimas e me aninhei em seu peito, sentindo seu cheiro doce e de certa forma aconchegante.

—Não vou deixar de ser seu amigo por isso Celle. Mas eu preciso que entenda que eu não consigo mais ficar aqui desse jeito. –ele respirou fundo. –Ver você todos os dias dedicando seu tempo e sua atenção a esses caras que nem sabem de verdade quem você é. E eu sei. Mas isso não adianta. É frustrante.

—Você não pode me deixar. –engoli o choro por um momento. –Não me deixe. Eu preciso de você.

As palavras sussurradas saíram sem passar por um filtro em minha mente, talvez fosse o champanhe que agora fazia efeito. As minhas ações também não estavam passando por filtros.

Foi por isso que o beijei.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado kkk Acho que a demora valeu a pena! Me contem suas opiniões!
Obrigada por lerem nossa fic!
Até o próximo capítulo, beijos *-*
Tatá..



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